Everlasting escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 3
Capítulo 2: Terra


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas?
Como estão? Espero que esteja tudo beem nesse comecinho de 2012.
Quero agradecer desde já pela recepção de "Everlasting". Como eu já disse, eu não esperava que uma fanfic com esse tema fosse atrair tanta gente e mais uma vez repito: não quero ferir a fé nem a crença de ninguém, isso aqui é só um romance.
Beem... Boa leitura!



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Eu me permiti ficar naquela noite. Não era por masoquismo ou orgulho, mas eu tinha que ficar com Rach ao menos naquela primeira noite, eu sabia o quão frágil ela era e eu me sentia responsável por ela naquela curta amizade que cultivamos. Eu me sentei na poltrona ao lado da cama onde, por tantas vezes, eu me joguei quando dava uma carona para ela e depois, ficávamos escutando música. Observei quando ela chegou e se ajoelhou. No momento, eu achei que ela fosse rezar, mas ela explodiu.

As lágrimas escorreram pelo rosto dela e ela socava o colchão de sua cama com uma fúria intensa, eu nunca a tinha visto naquele estado. Sem noção do que eu fazia, eu me levantei e me agachei ao lado dela, eu estava triste. E não era por não poder tocá-la e sim, por não poder consolá-la.

Rachel soluçava enquanto tentava conter as lágrimas, depois de muitos socos, ela se cansou e seu corpo caiu de na cama. Ela ficou encostada, olhando para o nada enquanto eu repetia o movimento dela e também olhava para o nada. Rachel limpou as lágrimas e suspirou, os olhos dela encontraram a nossa foto tirada depois de cantarmos “We Are Young”, eu sorri diante das lembranças daquele dia e do início da nossa amizade.

Rachel desviou o olhar bruscamente, me assustando. Ela deitou a cabeça sobre a cama e preguiçosamente, acomodou seu corpo embaixo das cobertas. Eu olhei para ela preocupada quando a ouvi murmurar dolorida:

- Por que agora, Quinn? Por que hoje?

Eu abri a boca para responder, quase tinha me esquecido de que ela não me ouvia tal qual era a intensidade da nossa relação, Rachel era o mais próximo do “viver” que eu tinha desde o acidente e apesar de fazer menos de horas que aquilo acontecera, parecia muito tempo para mim, eu não conseguia mais me lembrar de como era viver. Ela suspirou e mordeu a borda da coberta, sufocando mais lágrimas. Eu pude ver o sofrimento passar pelos olhos castanhos dela e eu tive que sufocar as minhas próprias lágrimas. Eu sentei na cama ao lado dela e ergui a mão, indecisa entre tocá-la ou não.

- Eu sei que você ainda está aqui, Q... De alguma forma, eu ainda posso te sentir aqui. – Rachel murmurou baixinho e eu sufoquei a vontade imensa de querer abraçá-la e carregá-la para longe daquele sofrimento. Ela suspirou e seus olhos se encheram de lágrimas novamente. ─ Eu não deveria ter te mandado aquela mensagem, talvez você ainda estivesse comigo.

Agora eu entendia o fruto do choro incontido dela, meus lábios tremeram e eu, inconscientemente a toquei, numa tentativa nula de acalmá-la. Rachel respirou fundo e mais uma vez, eu senti o calor da pele dela em meus dedos enquanto lhe afagava a cabeça. Eu fiquei assim com ela até ela adormecer e velei todo o sono dela. A figura angelical me fez abrir um sorriso enorme e eu acabei chorando quando me dei conta da ironia da situação: era eu quem mais se assemelhava com um anjo ali, ainda mais, protegendo-a da forma como eu a protegia.

Droga. Eu desistiria de ser sua guardiã se pudesse tocá-la mais uma vez.


Rachel adormeceu quando a madrugada já correra. Quando a vi com um semblante mais sereno e mais calmo, eu tive a minha consciência (ou o que restava dela) tranqüila para que pudesse dar uma olhadinha no que os outros faziam.

Minha mãe ainda estava em choque e meu pai tentava consolá-la da melhor forma que podia. De uma forma ironicamente agradável, eu me vi sorrindo quando vi os dois saírem da sala do necrotério onde meu corpo acabara de ser reconhecido. E para minha surpresa, Russel Fabray derramou uma lágrima sofrida ao olhar para meu corpo terreno inerte sobre a maca.

Eu não pude olhá-los por muito tempo, o choro incessante da minha mãe me deixava tonta e sem orientação. Por isso, fui atrás de Frannie. Minha irmã chorava encostada a porta de entrada, mas não era por mim e sim, pelo seu marido que acabara de ir embora de casa... Céus, isso porque ela nem sabia que sua irmã caçula acabara de morrer.

Depois disso, uma dor incrivelmente terrena me ardeu e eu não tive coragem de olhar mais ninguém. Mas eu apenas abandonei meu posto de observadora quando vi o que Puck fazia. Meu punk preferido estava sentado no meio fio da rua de Rachel. Ele olhava desolado para o meu carro capotado e para minha surpresa, não tinha uma lágrima sequer nos olhos.

Eu sorri, admirando a sua força e sua coragem. Eu me aproximei e sentei ao lado dele, olhando para o mesmo lugar que ele olhava. O carro não me surpreendia, mas o que Puck murmurou ao vento me fez ficar pensativa e inquieta.

- Por que agora, Quinn? Justo agora que Rachel estava pronta para te falar tudo.

Falar tudo? Tudo o quê, exatamente? Eu senti que minhas sobrancelhas arquearam e que eu lancei um olhar inquisidor e irritado para ele, queria saber a resposta para os meus questionamentos. Puck deu uma gargalhada triste e continuou a falar sozinho, dessa vez, eu pude notar o tom saudoso em sua voz.

- Tenho certeza que se você tivesse aqui, teria arqueado a sobrancelha e me olhado como uma interrogadora. Ou estaria naquela posição de HBIC me olhando de cima em baixo.

Eu acabei rindo diante da conclusão dele e passei a olhá-lo com uma admiração ainda maior. Aquele garoto podia ter me engravidado, mas ele era meu amigo antes de toda a confusão e ele ficou do meu lado quando eu mais precisei dele, nossa amizade era sincera, eu podia ver e sentir. E se tinha alguém em quem eu confiava, fora Rachel, esse alguém era Puck. Ele se levantou quando o guincho chegou para levar meu carro, achei muito cavalheiro da parte dele ter ficado ali até o final.

Depois, subiu naquele caminhão imenso que ele chamava de caminhonete e voltou para a casa. Comigo devidamente sentada ao seu lado. Foi ali, no escuro da sua caminhonete, ao som de uma música antiga qualquer e incrivelmente triste que eu vi Noah Puckerman chorar a minha morte pela única vez e ali eu entendi que ele estava sendo forte, não por mim, mas pela Rachel.


***


As coisas não melhoraram no dia seguinte. Eu não consegui voltar para Rachel e fiquei com Puck, mesmo querendo fugir da Terra, parecia que tudo estava tornando-se mais pesado para mim. Vi quando ele recebeu a notificação do meu enterro e vi quando ele colocou um terno surrado e se encaminhou para a igreja católica, mesmo sendo judeu. Puck suspirou enquanto dirigia e eu entendi que aquela era a forma dele de sufocar o choro.

Existiam pessoas que eram capazes de me sentir de alguma forma, Puck não conseguia, mas Rachel conseguia... Eu vi os olhos dela diminuírem as lágrimas quando eu me sentei ao lado dela no fundo da igreja, ela respirou fundo e deu um sorriso triste para o lenço que segurava quando eu coloquei a minha mão sobre o ombro dela. Instintivamente, Rachel olhou para a minha imensa foto ao lado do meu caixão.

Ela chorou ainda mais quando seus olhos chegaram ao meu caixão e até mesmo eu chorei quando vi os membros do Glee chegarem pouco a pouco na igreja. Meu coração apertou-se quando eles pareciam incrédulos e tão destruídos: Santana chorava mais do que eu podia esperar sendo amparada por uma Brittany incrivelmente forte e séria, Mike tentava se conter enquanto consolava Tina, Finn estava sério e distante, Kurt limpava as lágrimas abraçado por Blaine e Mercedes, Sam estava isolado dos outros próximo ao altar e Artie tinha estacado próximo a porta... E eu olhando para eles. Era muita tortura! O que eu ainda estava fazendo ali?

Meus pais estavam solitários e encolhidos nos primeiros bancos da igreja. Meu pai estava sério e não permitiu uma palavra sequer sobre mim, para ele, não havia o que dizer sobre uma garota que tivera a vida bruscamente tirada de si. Algo me dizia que a fé dele começava a falhar por causa da minha morte. Minha mãe estava atônita, olhava para o nada com os olhos inchados... Ela parecia estar cansada. Frannie não estava ali e olhando rapidamente, pude ver que ela estava a bordo de um avião.

Irritada com aqueles choros e aquela tristeza inebriante que me perfuravam e me destruíam. Estava decidida a abandonar todo aquele sofrimento e deixar que eles chorassem a minha morte sem eu estar presente, me levantei do lado de Rachel e parti decidida para fora da igreja até que, como um sussurro extremamente baixo e contido, eu escutei a voz chorosa dela, clara como luz em minha cabeça:

- Eu te quero de volta Quinn, sei que é bobeira, mas eu ainda te sinto aqui.

Eu fiquei imóvel em frente às portas de entrada e não consegui me mover. Olhei por cima do ombro e já não via mais a igreja e sim, um local calmo, bem iluminado onde só havia uma figura pequena sentada mais a frente, era Rachel. Eu retrocedi meus passos e me virei, mais uma vez, a voz disse suplicante:

- Seria pedir demais te ter de volta e dizer o que eu sinto?

As palavras embaralharam a minha cabeça e eu fechei os olhos, quando tornei a abri-los, a cena terrena tinha mudado novamente. Estava no cemitério e eu estava parada ao lado de Rachel, meu caixão já descera na terra e alguns jogavam rosas brancas por cima dele. Rachel tirou uma gardênia de dentro do casaco e uma série de lembranças invadiram minha mente como um filme sendo passado muito rápido.

O baile, Finn, a flor, gardênia, “você é a garota mais bonita que eu conheço, mas é muito mais do que isso”, amor secreto... Tudo fez sentido.

Eu olhei para ela e eram os meus olhos que tinham lágrimas e não eram lágrimas de tristeza e sim, um misto de compreensão e felicidade. Meu coração, que estivera calmo, apertou ainda mais em meu peito para depois, disparar descontrolado. Eu estava ofegante quando Rachel jogou a gardênia lá embaixo. Esperei a flor tocar o caixão e instantaneamente, fui invadida por uma energia quente e forte. Olhei para ela à espera de respostas e ouvi quando ela murmurou baixinho:

- Eu te amo, Quinn... Para sempre e era isso que você ia saber ontem. Eu só queria você de volta para que pudesse dizer isso olhando em seus olhos.

E olhando para ela, enquanto a neve começava a cair sobre as nossas cabeças, eu entendi porque ainda estava presa no meio-termo. As pessoas foram deixando-nos sozinhas e eu sorri.

Sorri porque foram as palavras dela que me trouxeram de volta.


***



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Notas finais do capítulo

Acho que ficou bem claro porque apenas a Rachel sentia a Quinn, não é?
Mas, por outro lado, sinto que mais dúvidas formaram-se na cabeça de vocês kkk Calma, ainda tem muito para aconteceer (eu acho).
Reviews, ok?
Beijos e até a próxima...