Everlasting escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 5
Capítulo 4: Rachel


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!
Prontas para mais um capítulo? Espero que sim, porque esse vem CHEIO de respostas e de emoções.
E bem, acho que não fiz isso aqui... Mas gostaria de indicar duas músicas: With Me do Sum 41 e Without You - Glee Cast.
Acho que tudo vai fazer mais sentido, espero que gostem e boa leitura!



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Madrugada. 21 de novembro de 2012. Lima, Ohio.

“I don't want this moment to ever end, where everything's nothing without you...”

  (Sum 41 – With Me)

            Eu permanecia de olhos fechados enquanto as vozes ao meu redor falavam e falavam. Eu podia sentir a agulha em meu pulso e o soro fluindo pelo meu sangue... Da mesma forma que sentia tudo naquela sala. Sentia tudo terrenamente e vivamente,  e eu não me sentia dessa forma desde aquele dia...

            Eu estava viva? Mesmo?

            Parecia tudo tão pesado... Tudo estava tão vivo que me assustava. Meu coração batia em meu peito quando eu lembrava muito bem da hora em que ele parara, minha respiração estava calma e eu só me lembrava do meu ofegar antes de fechar meus olhos para sempre... A dor agonizante e mortal desaparecera.

            Há quanto tempo eu não sentia aquilo?

            Mas, ao contrário do que possa se pensar, eu não estava aliviada. Eu estava com medo de abrir meus olhos, eu estava com medo daquilo ser um sonho, mesmo sabendo que, para onde eu fora, eu não dormia... Mas o medo me perturbava e as lembranças daquela noite também, eu não queria perder o que estava me trazendo de volta à vida.

            - Ela está bem, Russel... Não tinha por quê você aparecer aqui!

            - Quinn desmaiou no meio do corredor, Judy! Como pode me dizer que não é nada?

            - Você ouviu o médico, ela está bem e logo abrirá os olhos!

            - Eu não vou sair daqui enquanto ela não acordar.

            Aquelas vozes não pareciam com os ecos que eu estava me habituando a escutar. Senti quando uma mão tocou meu pulso e acariciou, aquilo não podia ser verdade... Eu não podia tocar e nem ser tocada! Meus olhos abriram-se abruptamente e eu fui brevemente cegada pela claridade de uma luz que não era a mesma luz branca e quente que eu sentira antes...

            - Oh querida, finalmente acordou! – Precisei piscar várias vezes para conseguir ver a minha mãe. Os olhos dela estavam opacos e ela tinha um sorriso inseguro, pelo reflexo em seus orbes, eu pude ver que minha expressão não era das melhores. Meus olhos lacrimejaram, as lembranças voltavam e me tomavam.

            O frio, os cacos de vidro cortando a minha pele, o sangue saindo pelos meus cortes, meu agonizar até Puck chegar... Eu me joguei nos braços da minha mãe e desabei. Imediatamente, uma desconhecida sensação de proteção e abrigo tomou meu corpo. Eu a apertei enquanto ela afagava meus cabelos e cantarolava a mesma canção de ninar de anos atrás... Meu coração explodiu de dor em meu peito, ao mesmo tempo em que eu apertava cada pedaço dela que podia alcançar. Um abraço e a inevitável sensação de perda.

            - Quinn... Está bem? – A voz do meu pai veio das minhas costas e eu me virei abruptamente, soltando-me das mãos da minha mãe. Meu pai, o mesmo que me expulsara de casa e dissera que eu não era mais a sua filha, me olhava todo quebrado... Como se estivesse contendo a dor. Eu apanhei a mão dele que repousava sobre a grade da minha cama e disse:

            - Estou bem, só com uma dor de cabeça... Acho que se deve ao pesadelo.

            - Tem certeza que está bem? – Minha mãe tornou a perguntar com um sorriso, mas eu vi o olhar preocupado que ela direcionou ao meu pai. – Você dormiu por horas, querida... E se debateu o tempo todo.

            Fechei meus olhos e me escorei nos travesseiros. Imediatamente a mesma sensação de vulnerabilidade me invadiu, só que dessa vez, uma cena diferente se colocou diante de mim. Um caixão, lágrimas, terra... Meus braços arderam e eu os esfreguei. Meus pais ainda me olhavam esquisitos, eu respirei fundo, tinha alguma coisa errada ali.

            Barulhos na porta e por ela entrou uma pessoa.

            - Com licença, Sr. e Sra. Fabray... Mas eu ouvi vozes e... – Rachel falava de cabeça baixa e corando furiosamente, eu sorri quando a vi daquela forma, meu coração enchendo-se abruptamente de uma energia forte e... Conhecida? Assim que ela ergueu aqueles olhos castanhos e me viu acordada, a expressão mudou para um imenso sorriso. – Você está bem, Quinn?

            Rachel se aproximou com aquele sorriso brincando nos lábios e eu retribuí, sem jeito. Porém, meu pai se colocou entre nós e eu me lembrei por que estava tão distante dele nesses últimos dias. Minha mãe pareceu perceber o que estava acontecendo ali, porque deu um jeito de tirar meu pai dali e assim que a porta se fechou atrás deles, Rachel me olhou curiosa.

            - Anda, vem cá. – Eu pedi com um sorriso e batendo ao meu lado da cama, ela se aproximou de mim e sentou-se, parcialmente encolhida. Eu afaguei o braço dela e ela ergueu os olhos que novamente, estavam molhados. Tentei dar o melhor dos meus sorrisos e ela corou.

            Alguma coisa em meu peito se manifestou... Uma mistura de saudade e alívio que fez meu coração disparar e meus olhos lacrimejarem junto com os dela. Eu me mexi, entre gemidos de dor e apanhei a mão dela entre as minhas. Imediatamente, uma ponta de dor atingiu minha testa no mesmo instante que uma profusão de memórias me invadia.

            Gardênias, “eu te amo”, neve... O que significava isso?

            Abri meus olhos e Rachel me olhava, preocupada. Olhei para nossas mãos juntas e elas me pareceram ser o mais próximo que eu poderia ter do paraíso. Um sentimento desconhecido se manifestou e eu a puxei para um abraço desajeitado. Eu ouvi o choro dela em meu ouvido, antes de ela apertar meus ombros.

            - Eu achei que você nunca mais fosse acordar. – Rachel murmurou chorosa, ainda apertando meus ombros, como se eu pudesse desaparecer a qualquer momento. De uma forma estranha, o vazio e o frio dentro do meu peito começaram a ser preenchido por cada toque que ela me cedia. – Você desabou no corredor, eu te trouxe para cá e você se debateu e eles te deram uma anestesia e...

            - Shiii... – Sibilei em seus ouvidos e afaguei seus cabelos. Aquele corpo pequeno se encaixava no meu de uma forma que eu nunca tinha visto, as mãos dela massageavam minhas costas e eu tentava consolá-la quando as minhas lágrimas também caíam sem parar. Rachel me empurrou para longe dela e eu limpei as lágrimas dela com um sorriso, Rachel segurou minha mão em seu rosto e a respiração dela arrepiou cada pelo de meu corpo. Ela me olhou profundamente e disse:

            - Você me assustou, eu achei que tinha te perdido.

            - Mas eu estou aqui, não estou? – Perguntei idiotamente e ela acenou afirmativamente com a cabeça antes de soltar uma risada chorosa e se separar, me olhando profundamente enquanto as palavras que eu disseram pareciam queimar em minha boca. Eu a olhei com um quê de admiração, tentando entender aquela preocupação... Mas Rachel se escondia a cada contato mais intenso entre nossos olhos.

            Ela continuou a afagar minha mão e passou o dedo levemente pelas agulhas enfiadas em minha pele, percebi um pequeno biquinho quando ela olhou para o soro e viu o que ainda restava. Novamente, nossos olhares se encontraram e ela pareceu se assustar com o que encontrou ali.

            Eu nem mesmo sabia o que eu estava sentindo. Só sei que era forte e parecia transpassar qualquer barreira que pudesse existir entre nós.

            Rachel se aproximou e eu prendi a minha respiração, a mão direita de Rachel afagou meu rosto enquanto a esquerda permanecia descrevendo padrões circulares com o dedão em meu pulso... Eu olhei para ela e abri a boca para perguntar, mas Rachel colocou o indicador em meu lábio, aquele toque pareceu um sopro de vitalidade no meio daquele ambiente cheirando a remédios. Eu não sabia o que vinha a seguir, só sabia que eu precisava daquilo.

            Tão ou mais do que precisava do ar.

            Rachel se aproximou ainda mais, o cheiro doce de morangos que ela exalava pareceu ser o ar mais puro do mundo. A mão esquerda dela subiu pela minha nuca, me puxando para perto... Quando nossos lábios pareciam se tocar, a porta se abriu e bruscamente, Rachel se afastou.

            Levando os morangos, o calor e a tranqüilidade consigo.

            Minha mãe tinha um sorriso no rosto ao nos ver. Ela se aproximou sem jeito e disse alegre:

            - O médico te liberou assim que esse soro acabar, Quinn.

            - Ah, ótimo... – Eu murmurei desnorteada, tentando colocar ordem em minha cabeça que ainda estava misturando a realidade com a fantasia. Rachel se levantou abruptamente e eu arqueei a sobrancelha para ela. – Rachel?

            - Desculpe, Quinn. Mas eu tenho que ir. – Rachel disse apressada, mas antes, ela se aproximou e beijou a minha testa. Novamente, as lembranças de palavras não-ditas me invadiram... Apertei os olhos, tentando memorizar o toque dos lábios dela em minha pele e do cheiro que ela exalava. Rachel desceu os olhos para mim e me olhou. – Eu te...

            Mas ela não terminou a frase e saiu. Eu respirei fundo e fechei os olhos.

            “Eu te amo.”

            Ela já tinha me dito isso e agora, eu me lembrava.

###

            Eu não estava assustada, pelo contrário, eu estava apressada.

            Eu não sabia como voltara a vida e nem sequer sabia se aquilo era possível ou se não era apenas eu, enlouquecendo... Mas eu estava ali, de volta. O dia 20 de dezembro não chegara e eu ainda tinha um tempo pela frente.

            Se fora sonho, fantasia, surtos, paranóia... Não importava. Eu tinha voltado e se tinha voltado, era por algum motivo.

            E aquele motivo era Rachel.

            As imagens foram clareando em minha mente conforme a madrugada passava. Eu sabia o que tinha acontecido e eu sabia o que eu tinha visto. Mas só uma coisa parecia me doer no meio da euforia de estar de volta: eu ia perder Rachel de novo. Não sei como, eu apenas sabia.

            Mas ao mesmo tempo, eu estava de volta por ela. Ela que dissera que me amava e eu sabia que tinha o que acertar com ela antes de poder desaparecer de novo. Rachel era meu assunto não-resolvido e fora ela que me tirara do meio-termo.

            O dia quase amanhecia quando eu tomei a decisão de sair de casa. Eu corri até a casa dela, sentindo minha cabeça latejar e meus membros doerem em protesto. Cheguei ofegante a casa dos Berry, carregando a minha mochila da escola. Parei em frente a sua janela e atirei pequenas pedrinhas, não obtive qualquer resposta. Apanhei o celular e digitei:

Eu preciso falar com você, AGORA. – Q.

            Olhei para a janela esperançosa enquanto esperava a resposta, mas ela não veio. Pude ver que Rachel acordava no quarto e estava andando em frente a janela, respirei fundo e tornei a digitar.

Eu sei que você está acordada, poderia vir aqui fora? – Q.

            Rachel abriu a janela levemente e a sua cara espantada me fez abrir um sorriso. Em seguida, a expressão se fechou e ela sumiu da minha vista para, minutos depois, abrir a porta de entrada da casa dos Berry. Ela caminhava apressada, envolta em um robe e me olhando irritada, mal chegou e já disparou:

            - O que está fazendo aqui? Não era nem para você estar aqui! Você devia estar de repouso, sua mãe deve estar atrás de você e eu...

            - Para e respira, Rachel. – Eu disse com um sorriso enquanto me aproximava dela, Rachel se afastou e o tique-taque do meu relógio pessoal parecia bater intensamente em minha cabeça. Eu fechei meus olhos e respirei fundo, quando os abri, Rachel me olhava nervosa. – Eu precisava te ver.

            - Sobre o que aconteceu mais cedo, eu não estava em mim e foi coisa do momento. Ok? – Rachel disse séria, mas eu percebi que aquele era mais um de seus números teatrais. Eu não acreditaria naquelas palavras, não depois de vê-la depositar uma gardênia sobre meu caixão e de murmurar ao vento que me amava... Rachel Berry era minha e eu sabia disso. Ela se aproximou hesitante e pegou minha mão. – E eu estou com Finn.

            - Se essa é a sua forma de dizer que está com medo, era melhor ter sido sincera porque foi uma péssima mentira. – Eu estava sendo incisiva, mas eu era assim com aquilo que eu queria. E no momento, o que eu mais queria era Rachel Berry. Podia parecer egoísta, mas eu precisava resolver o que tinha sido deixado para trás. Deus, o destino, o karma... Não sei, eu estava recebendo uma segunda chance e agora, as coisas teriam que dar certo.

            Eu não aceitaria um “não” e não a deixaria mentir para o próprio coração. Eu não sei da onde vinha todo o meu conhecimento e toda a minha certeza, mas nós duas éramos uma da outra e não tinha nada que pudesse nos separar no momento. Eu não desistiria dela, eu não tinha nada a perder depois de tê-la visto dizer que me amava enquanto eu flutuava ao seu lado... Eu não desperdiçaria essa segunda chance. Rachel era meu paraíso, fosse ele terreno ou astral. Eu a amava e fora o amor dela que me trouxera de volta e que me dera uma segunda chance.

            Assim que minhas palavras a atingiram, Rachel me olhou entediada quando eu sabia que o interior dela estava dividido em uma batalha. A cena no hospital passou em minha mente no exato momento em que meus braços tornaram a arder, ele estavam ficando vermelhos e eu sabia que logo iriam sangrar... Tudo era efêmero e eu tinha pouco tempo. E aquele pouco tempo que eu poderia ter era o que me segurava, era o que não me fazia surtar e sair gritando que eu estava louca.

            Rachel parecia a única coisa a qual eu podia me agarrar no meio da dor em se ver viva novamente depois de morrer. Ela estava segurando a minha sanidade, ela estava me fazendo encarar cada minuto como uma dádiva e eu sabia, dolorosamente, que eu não poderia perdê-la de novo.

            Eu estava colocando todas as minhas fichas naquelas palavras, todo meu sentimento descoberto diante da uniformidade da morte parecia mais forte que qualquer negação. Eu sabia que ela me trouxera de volta e sabia que tudo aquilo só teria sentido se ela estivesse comigo.

            Rachel se aproximou mais, a mão dela afagou meu rosto enquanto as minhas repousavam em sua cintura. Nossos corpos terminaram de se aproximar por puro magnetismo, nossas testas colaram-se e eu quase pude ver a batalha de pensamentos que ela travava. Ela fechou os olhos e sua outra mão tomou minha face e fez um carinho em meu rosto. Eu a puxei para perto e rocei nossos lábios, mas antes, disse:

            - Rachel...

            Ela abriu os olhos e quando eles se arregalaram, eu percebi que ela queria fugir novamente. Mas eu não podia, eu não deveria deixá-la viver aquele sentimento todo sozinha. E lutando contra os empurrões dela, eu finalmente conectei nossos corpos.

            Rachel lutou a princípio, mas eu liguei nossas bocas e nossos lábios. E com o beijo, os braços de Rachel relaxaram ao redor do meu pescoço e ela me puxou ainda mais para perto, aprofundando o beijo. A língua dela deslizou sobre a minha e aquilo bastou para que eu pudesse ver que estava mais viva do que nunca e que deveria fazê-la feliz. Eu respirei fundo entre o beijo, o aroma de morangos me invadiu novamente e o toque dela queimou em minha pele quando eu senti suas unhas em minha nuca. Eu apertei a sua cintura e a abracei fortemente, como se quisesse fundir nossos corpos para nunca mais sermos separadas.

            Sem frio, sem sangue, sem carro...

            Só nós, eternamente nós duas.

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Notas finais do capítulo

Me perdoem os erros, mas eu escrevi esse capítulo em 2 horas. Depois de um surto incrível de inspiração.
Espero que tenham entendido a confusão da Quinn e espero que não me abandonem aqui depois da informação revelada.
Mas gostaram? Se sim, comentem e recomendem!
Beijos e até a próxima.