Everlasting escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 16
Capítulo 15: Cicatrizes


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessoas!
Como vocês estão?
Espero que esteja tudo bem com todos vocês.
Bem, cá estou eu com mais um capítulo de "Everlasting". Só posso dizer que esse capítulo saiu completamente diferente do esperado e posso dizer que, enfim, estamos cada vez mais próximos do final, aparentemente.
Boa leitura a todos!



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Madrugada. 31 de novembro de 2012. Lima, Ohio.

“It hurts to breathe, well, every time that you’re not next to me.”

(Santa Monica, Theory Of a Deadman)

            - É a sétima chamada. – Rachel me comunicou com um sorriso sem graça, mas sem deixar meus braços enquanto guardava o celular na bolsa ao seu lado. Eu apenas sorri, sabendo que ela não iria a lugar algum sem mim. Éramos nós duas e mais ninguém.

            Novamente, estávamos no parque em que nos encontramos quando ela veio até mim, depois dos pais a proibirem de me ver. Ao contrário daquele dia, eu estava bem agora e não conseguia parar de olhar para ela, por mais que Rachel me pedisse para olhar as estrelas com ela. Mas como olhar, se os olhos dela pareciam ainda mais brilhantes e muito mais bonitos do que as estrelas?

            - Eu sei, eu comecei a contar depois da terceira. – Respondi com um sorriso de lado e puxando-a de volta para mim pela cintura. Rachel suspirou e fechou os olhos, eu apertei o laço em sua cintura e beijei seu pescoço. Estava frio, mas Rachel parecia ter o calor necessário para eu suportar tudo com ela. – E estou a sua disposição para voltar.

            - Eu não quero voltar, pelo menos, não agora. – Rachel sentenciou, tão séria e tão decidida, que eu não consegui ir contra a ela, apenas respirei fundo. Senti, como se fosse a primeira vez, aquele perfume que me embriagava e me entorpecia. Eu sorri involuntariamente e sufoquei uma pequena risada, Rachel se remexeu e senti seus olhos indagadores sobre mim.

            Arqueei a sobrancelha, apenas por birra e Rachel fez aquele bico lindo, arrancando uma sonora gargalhada de mim. Uma gargalhada que sufocou o tique-taque incessante e que mandou a dor de cabeça e nos braços para bem longe de mim. Era impressionante como ela parecia ser a minha cura.

            Rachel sempre foi, na verdade.

            Era ela quem batia de frente comigo. Era Rachel que trazia o melhor em mim, mesmo quando eu me escondia por trás da imagem de cheerio maldosa. Foi ela que me trouxe de volta e me fez querer ser melhor do que uma simples garota a passar por essa curta estadia na Terra. Rachel era o meu melhor, o meu bem mais precioso que eu guardei tão bem a ponto de trancafiá-lo no espaço mais profundo do meu coração.

            Mas ainda bem que tudo aconteceu e que isso, libertou-a. A sensação de ter seu corpo quente encaixado ao meu e de escutar a sua voz a sussurrar o quanto me amava... Bastava-me. Por mais que o tempo parecesse cada vez mais curto, por mais que Finn insistisse em me atrapalhar... Eu voltei por momentos como aqueles.

            Para viver, reparar erros e amar Rachel com todas as minhas forças, porque aquela era a minha vida.

            - Quinn!

            Pelo visto, eu me perdera em minhas indagações novamente. Pisquei e a expressão indignada de Rachel entrou em foco, eu ri de lado e afaguei a bochecha dela, puxando-a para um beijo. Rach foi relutante no começo, mas depois, sua mão deslizou pela minha coxa e apertou minha barriga. Ela mordeu meu lábio, apenas por maldade. Revirei os olhos e sibilei:

            - Desculpa, pequena. Eu só estava pensando em você.

            - Para que pensar se eu estou aqui contigo? – Rachel questionou com um sorriso convencido, eu fiz uma careta e ela aplicou um beijo em meus lábios, como se fosse um pedido mudo de desculpas. Eu a puxei para perto e juntei nossas testas, fechando os olhos e respirando profundamente.

            Ainda de olhos fechados, pude ver tudo o que enfrentamos passar diante de meus olhos. Meu coração acelerou porque tudo era intenso demais, quase como se fosse um sonho. Nós duas merecíamos um final feliz. Se o destino fora generoso em me trazer de volta, será que seria novamente ao me mantê-la na vida dela?

            Eu não pedia mais nada, não tinha esse direito... Mas eu desejava mais tempo, eu desejava ser tão dela que aquilo durasse para sempre. Não duvidava do que eu sentia, muito menos do quanto ela me amava. Só que o tempo é cruel, pessoas entram e saem das nossas vidas o tempo todo. E eu não queria ser somente uma pessoa para ela, eu queria ser a única pessoa.

            Sempre fui egoísta e não mudaria agora diante da situação complicada e cruel que se mostrava diante de mim.

            - É muito intenso estar com você, Rach. – Respondi séria e abrindo os olhos, eles marejavam agora e eu me foquei nos castanhos de Rach para não chorar. Ela me retribuiu com intensidade, envolvendo suas mãos em minha face e respirando com dificuldade. Coloquei uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha e sorri, corando diante do que iria dizer. – Preciso pensar, sentir, viver... Tudo ao mesmo tempo. Eu quero tudo que você puder me oferecer, Rach. E se esse turbilhão de coisas que você me oferece não é seu tudo, tenho medo de não agüentar.

            - Que conversa é essa, Q? – Rachel questionou confusa e amedrontada, eu tentei responder, mas a voz me faltou. Percebi que falara demais, quase a ferira. Quase deixara que as minhas fraquezas destruíssem o que estávamos construindo. Olhei culpada para Rachel, ela tinha algumas lágrimas perdidas naquele olhar brilhante, meu coração apertou e eu baixei meus olhos.

            Rachel respirou fundo e soltou meu rosto, eu brinquei com a barra de minha camiseta até sentir seus braços em meu pescoço, derrubando-me na grama. Rachel apertou-se contra mim, encostando-se em meu coração e respirando aquele ar quente e reconfortante em meu pescoço. Eu fechei os olhos, uma lágrima rolou.

            Procurei consolo em seus cabelos, aspirando o cheiro doce e feminino que só ela possuía. Afaguei suas mechas morenas enquanto sentia que ela suspirava pesadamente em meu peito, as dores voltaram e eu fechei os olhos, porque o tique-taque parecia ainda mais alto e mais rápido agora. Rachel tocou meu rosto com a ponta dos dedos, abri os olhos novamente e ela movimentou-se de novo para meu peito enquanto dizia:

            - Eu não preciso escutar mais nada, Q. Não preciso de promessas, não preciso que você me diga nada. Seu coração fala por você, Quinn. Eu te amo, não importa o que aconteça agora. Enquanto ele estiver batendo, eu vou acreditar em você.

            Minha garganta pareceu dar um nó, eu perdi a sensação tátil por breves segundos e não tive coragem de olhar para ela. Sentei e Rachel se afastou de mim, coloquei a cabeça entre meus joelhos e apoiei meus braços neles. A sensação nova da vertigem me preencheu, o ar me faltou e Rachel apertou meus ombros, ela falava, mas eu não escutava.

            Por quê?

            Ela queria que meu coração continuasse a bater.

            O que ela faria quando ele finalmente parasse?

###

            - Você não vai me contar o que foi aquilo no parque, não é? – Rachel me questionou mais uma vez, acho que era a quinta vez naqueles 15 minutos que percorremos de carro, do parque até sua casa. Eu apenas acenei negativamente com a cabeça, ela bufou impaciente. – Por que não me diz o que você pensou?

            - Você não merece escutar isso, Rach... São problemas meus. Você já tem o Finn, o Kurt e a Mercedes fazendo da sua vida um inferno, não merece se preocupar ainda mais. – Eu tentei soar mais séria e mais consolada possível, mas dentro de mim, eu gritava para que Rachel viesse me salvar mais uma vez.

            Minha pequena arqueou a sobrancelha daquele jeito que eu costumava fazer, esse gesto me arrancou um sorriso... Nós duas estávamos tão juntas, tão parecidas. Era como se fôssemos uma única pessoa, habitando corpos separados apenas porque suas almas eram assim, já que nossos corações batiam juntos e viviam juntos desde aquele dia que eu pedi que ela ficasse comigo.

            Rachel pigarreou, mais uma vez, meus pensamentos me traíram e me levaram para longe dela. O tempo é curto e eu não posso me dar ao luxo de perder um segundo sequer ao lado dela, afaguei seu rosto e apliquei um beijo em seus lábios. Rachel segurou minha mão próxima ao seu rosto e disse preocupada:

            - Pela primeira vez na minha vida, eu não quero ser egoísta e prestar atenção em meus problemas, Q... Eu quero estar lá quando você precisar e ainda mais, eu quero estar contigo quando você tiver que enfrentar seja lá o que te amedronta.

            Não, ela não devia estar comigo quando a hora chegasse. Era demais. Até para uma pessoa forte como ela. Rachel sofreria demais se me visse partir, eu deveria estar longe o bastante quando chegasse a hora... Rachel deveria saber depois, como já acontecera antes. Tudo era para ela, mas não aquela parte.

            - E eu sei que você vai estar, pequena. É por isso mesmo que eu vou, mas sempre volto para você... – Respondi sincera e esperançosa, porque eu realmente queria que fosse daquela forma. Mesmo quando eu partisse para sempre. Quando chegasse a hora, eu voltaria para ela e ficaríamos juntas de novo. Juntei nossas testas e fechei meus olhos, ela suspirou pesadamente, afagando minha mão. – Por isso que eu tenho que ir agora e pensar nisso sozinha, depois, eu trago meus pedaços para você consertar.

            - Promete? – Rachel perguntou um pouco receosa, mas eu não liguei. Rachel tinha todo o direito de se sentir assim, eu era extremamente defensiva quando se tratava dos meus sentimentos, mas não agora, eu tinha que entregar meus sentimentos a ela enquanto tinha tempo. Eu acenei afirmativamente, respondendo sua resposta. Rachel sorriu e aqueles olhos castanhos brilharam intensamente. – Então vou te esperar para te curar, sempre que você precisar.

            Aquela simples promessa, dita em tom de brincadeira, fez com que algumas lágrimas frágeis transbordassem em meus olhos. Eu sorri tristemente para ela, sentindo meu coração inchar-se como um balão, repleto de alegria e, também, tristeza. Abracei aquele pequeno, mas forte, corpo junto a mim. Beijei-lhe seu pescoço e afaguei seus cabelos, Rachel deu um sorriso e encolheu os ombros, como se desculpasse por ser tão incrível.

            Um pequeno aceno e, ela se virou para porta. Eu afaguei suas costas e Rachel se virou mais uma vez, seus lábios tocaram os meus pela décima vez naquela noite. Correspondi e um sorriso se abriu em meus lábios, Rachel soltou uma pequena risada e saiu do carro. Mas antes que ela se afastasse muito mais, eu a chamei.

            Rachel se virou, o vento frio da noite batendo em seu rosto. Os cabelos bagunçados, as bochechas coradas pelo frio, aquele olhar brilhante e uma expressão confusa no rosto a tornavam a mulher mais linda desse mundo... Meio atordoada pelo poder hipnotizante que ela ainda tinha sobre mim, eu pisquei rapidamente e desconcertada, disse:

            - Obrigada por ser assim... Tão perfeita.

            - É tudo para e só para você, Q. – Rachel respondeu com um sorrisinho audacioso e um beijo lançado ao ar que eu fingi pegar e trouxe para próximo do meu coração. Ela corou e correu para a varanda quando a neve começou a cair sob sua cabeça.

            Observei-a entrar e, depois, aumentei o volume do carro. Apertei minhas mãos no volante e mesmo a voz melancólica de Lana Del Rey no som não me fez fraquejar, meu coração estava imenso em meu peito. Eu tinha todo o amor do mundo dentro de mim e ele só pertencia a uma única e merecida pessoa...

I hear the birds on the summer breeze, I drive fast
I am alone in the night
Been trying hard not to get into trouble, but I
I’ve got a war in my mind
So, I just ride...

            Eu não sei como cheguei em casa, mas quando estacionei na garagem, eu suspirei aliviada um ar que achava não estar prendendo. Andar de carro estava sendo extremamente incômodo naqueles últimos dias... Talvez fosse a aproximação da data ou simplesmente a mudança do clima.

            Dezembro estava chegando, a neve já começara a cair... Esses dois fatos só me recordavam que tudo estava passando muito rápido e eu tinha a sensação de que estava deixando algo para trás. O tique-taque se fazia presente toda vez que eu deixava Rachel, ela parecia me entorpecer de toda a realidade que cada vez mais me acercava e me amedrontava.

            Rachel era a minha força, a minha salvação.

            Desci do carro e brinquei com meu chaveiro de pelúcia do Rei Leão. Sorri para a peça em minha mão, fora um presente de Frannie em nossa primeira ida a Disney. Não me recordo quantos anos tínhamos, mas me lembro que ela me deu aquele chaveiro porque tínhamos brigado e eu dissera que ficaria eternamente sem falar com ela... Mas duas éramos muito unidas, isso jamais aconteceria.

            Subi as escadas que levavam a cozinha, pela porta, percebi que as luzes estavam acesas. Observei a silhueta de minha mãe caminhar de um lado para o outro da janela, sorri para a preocupação dela e abri a porta com um sorriso. Mas não foi a voz dela que me recepcionou.

            - Onde estava, Lucy Quinn Fabray?

            Aquela voz... A mesma voz que me expulsara de casa há 2 anos. A mesma voz que vociferava a todos, em uma rua de Lima, que eu não era a sua filha. A mesma voz que me dissera quão desgosto sentia por ter uma filha promíscua em casa. A voz que amedrontava meus sonhos na casa dos Jones e que, depois de 2 anos, cortava minha alma, mesmo que aquele tom fosse diferente dos demais tons...

            Era meu pai.

            Ergui meus olhos lentamente, querendo poupar-me da dor de ter aquela figura masculina e tão opressora em minha casa. No lar que eu e minha mãe conseguimos reconstruir depois que ele, com suas mentiras e traições, destruíra. Aliás, se ele estava ali, mamãe tinha permitido isso!

            Sem olhar para ele, encontrei minha mãe segurando meus ombros. Eu em desvencilhei dos braços dela, as lágrimas que eu sequer percebera ter nutrido, caíram. Mas não eram as lágrimas de Rachel, sempre tão saudosas e puras. Eram as lágrimas que eu cansara de derramar por Russel Fabray. As lágrimas de fúria, as amargas, as que eram tão impuras quanto aquele homem que estava parado a minha frente.

            Virei para minha mãe e nossos olhos se fitaram, o meu olhar rapidamente fez o dela vacilar e ela recuou, amedrontada. Aquela atitude me enojou, era típico dela, bobagem ter achado que ela iria me proteger agora. Meus punhos se fecharam, a dor em minha cabeça voltou a latejar e o tique-taque parecia gritar em meus ouvidos. Grunhi e disparei furiosa:

            - O que ele está fazendo aqui?

            - Você desapareceu há mais de 8 horas, Quinnie... Eu tive que chamá-lo, ele ainda é seu pai! – Minha mãe se defendeu com tanta força que eu quase acreditei nas palavras dela, nada me tirava da cabeça que ela me enganara nesse tempo todo e que os dois estavam prestes a voltar, novamente.

            Como se nada tivesse acontecido. Como se as cicatrizes que até hoje ardiam em mim não tivessem existido. Como se ele não tivesse destruído tudo o que eu era há 2 anos... Quem eles pensavam que eram? Eles eram meus pais, mas isso não os dava direito! Eles erraram comigo, eles me destruíram! Minha mãe com essa obediência cega que a condenava a fraqueza e meu pai com esse falso moralismo que ele achava que enganava todo mundo, mas que só fazia tornar ainda mais repugnante a sua personalidade.

            - Onde você estava, Lucy? – Russel soou um pouco preocupado aos meus ouvidos, mas eu tentei não me deixar cegar, era alguma coisa da minha cabeça. Russel Fabray jamais se preocuparia com outra coisa fora a imagem de “família perfeita”, me pergunto o que ele fará quando descobrir com quem eu estou namorando. Ergui meus olhos e encarei meu pai com fúria, ele até recuou um pouco e praticamente rosnei quando respondi:

            - Não me chame de “Lucy”!

            - Deixe que eu falo com ela, Russel. – O tom de voz baixo e apaziguador de minha mãe não foi o bastante para que eu não escutasse. Judy Fabray, como se repetisse a cena de minha expulsão há 2 anos, colocou-se entre eu e meu pai, segurando os ombros dele. Em seguida, ela virou-se para mim com uma expressão amena e disse severa:

            - Responda ao seu pai, Quinnie.

            - Ele não é meu pai, Judy! – Gritei desnorteada, em meio a uma dor incessante de cabeça e aos sons altos do tique-taque. Apoiei-me no balcão da cozinha, a tontura me tomou e eu apertei meus olhos, fechando-os. Senti as mãos de minha mãe em meus braços, mas recuei. A fúria tomou conta de mim antes que eu pudesse perceber. – FIQUEM LONGE DE MIM!

            E como um animal ferido, eu fugi. Cega pela dor, cega pela decepção... Carregando um fardo bem maior do que podia carregar.

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Notas finais do capítulo

O que acharam do surto da Quinn?
Acho que quem sofrerá as consequências disso tudo, ainda vai ser a Rachel hein... :/
Espero reviews com críticas, xingamentos, choros e até elogios HUAHUAHUASHUAS
Beijos, até a próxima!



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