Everlasting escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 15
Capítulo 14: Dúvida


Notas iniciais do capítulo

Bom dia pessoal!
Como vocês estão? Sei que já faz um tempinho... Mas voltei com as postagens de 'Everlasting'. Elas podem demorar um pouquinho por causa de algumas outras coisas que ainda tenho que fazer, mas pretendo terminar essa fanfic, fiquem tranquilos.
Esse capítulo é bem intenso e talvez seja um dos que eu mais gostei de escrever, espero que gostem também.
Leiam escutando "Don't Say You Loved Me" da banda irlandesa The Corrs, creio que gostarão.
Boa leitura!



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Madrugada. 30 de novembro de 2012. Lima, Ohio

“But remember, if you need to cry... I’m here to wipe your eyes.”

(Wipe Your Eyes, Maroon 5)


Eu sabia muito bem que estava fazendo papel de boba, permanecendo parada no acostamento de uma rua qualquer há mais de uma hora. Qualquer um me chamaria de louca, qualquer um acharia que o carro estragara. Mas eles não sabiam, eles não imaginariam o que eu tinha dentro de mim e, de certa forma, eles não entenderiam a “mágica” que estava acontecendo comigo.

Eu não podia duvidar mais de nada depois de tudo que acontecera comigo nos últimos dias. Eu fui do céu ao inferno (literalmente, algumas vezes) e voltei a Terra por causa do amor que Rachel sentia por mim, aliás, o amor que ambas sentíamos e que não podia ser interrompido com um acidente de carro.

E eu tinha certeza, ainda mais agora, que o amor realmente existia. O amor, esse sentimento tão nobre e tão avassalador que foi o necessário para me fazer mudar completamente nos últimos dias. Um amor puro, casto, simples... Não diria que era um amor digno de contos de fadas. Mas um amor real, um amor cheio de defeitos, assim como eu e Rach, mas ainda assim... Trazendo o que eu tinha melhor de mim e trazendo o que Rachel tinha mais forte nela.

Um amor que, me desculpe o ar sonhador e apaixonado, mas que era sim capaz de transpor as barreiras entre o celestial e o real. Um amor que podia romper todas as barreiras do terreno e alcançar a eternidade. Eu não tinha mais medo, porque aquela energia quente em meu peito parecia ter recarregado toda a minha alma. Eu estava vivendo porque eu estava amando e amar só me tornava ainda mais humana do que antes.

A “Ice Queen” se fora e agora, a mesma estava derretendo-se de amor por aquele pequeno e adorável Hobbit, de belas pernas, um maldito orgulho e um coração onde caberiam todos os sentimentos mais contraditórios possíveis.

Olhei-me no espelho retrovisor e pude ver que um sorriso diferente estava em meus lábios, um sorriso que dizia muito mais do que apenas felicidade... Ele estava carregado de uma esperança e de um brilho em meus olhos que só me preenchiam ainda mais de amor e crença. Eu estava ali, sorrindo e principalmente, amando. Abaixei a cabeça e pude sentir meu rosto queimar. Maldita seja, eu estava perdidamente apaixonada por aquela baixinha e pela primeira vez desde que toda essa loucura começara, eu estava... Feliz.

No bolso de meu casaco, meu celular vibrou e eu pensei seriamente em não atender. Estava tendo um bom momento ali e não queria que nada terreno e palpável atrapalhasse o que eu estava sentindo. Mas o vibrar do meu celular não parou e impaciente, eu atendi, sem nem mesmo olhar quem ligava.

- Alô? – Respondi mal-humorada e completamente contrariada. A pessoa do outro lado da linha soltou uma risadinha, me fazendo franzir a testa.

– Quinn, mais educação, por favor. Ou eu vou achar que a menina que acabou de me fazer uma serenata não existe. – Ok, agora eu tinha certeza que minhas bochechas amanheceriam doendo diante de tanta felicidade e de tantos sorrisos. Aquela voz repleta de felicidade, novamente. Escutei aquela gargalhada da qual eu sentira falta no outro lado da linha, eu me peguei rindo e os sons do meu riso calaram o tique-taque em minha cabeça. Recuperei o ar e me desculpei:

- Desculpe pequena, é que você interrompeu um momento aqui.

– Ah é? Qual momento? Posso saber? – A voz de Rachel soou divertida e curiosa. Eu sorri diante da ansiedade dela em saber do que se tratava, mal sabia ela que não precisava perguntar, eu estava sempre pensando nela e sempre a sentindo, mesmo quando estávamos separadas.

Olhei para frente e uma fina garoa, com alguns pequenos flocos de neve estava começando a cair em Lima. Respirei fundo e sorri para aquelas gotículas de água e religuei o carro. Eu queria que Rach estivesse comigo, naquele carro, abraçada a mim enquanto nós duas observávamos a neve começar a cair. Sorri diante do meu pensamento bobo e apaixonado e escutei um suspiro do outro lado da linha.

Talvez eu não fosse a única boba e apaixonada ali.

- Estava pensando em como seria bom ter uma baixinha aqui comigo, me esquentando e vendo a neve começar a cair... – Deixei minhas palavras ao ar e pude escutar os barulhos de cobertas. Rachel tinha se levantado da cama, aparentemente. Ouvi o barulho das cortinas de seu quarto sendo afastadas e em seguida, escutei sua respiração profunda. Eu acho que, se fechasse os olhos, podia imaginar o sorriso radiante dela, motivado pelas minhas palavras. Rachel pigarreou e quando falou, soou tão apaixonada quanto eu:

– Eu acho que a ideia de ter uma loira aqui comigo não é nada mal... Mas meus pais a odeiam. Eu tive que espioná-los para descobrir onde eles tinham escondido meu celular só para falar com ela.

– Quer fugir? Eu acho que posso muito bem dar meia-volta e seqüestrar a baixinha. – Eu sugeri em tom brincalhão e escutei as risadas de Rachel, tímidas e contidas, para não acordar os pais, eu acho. Troquei o celular de mão enquanto escutava a respiração tão calma de Rachel. E saber que eu era a causa daquela calma só me deixava prestes a explodir de tanta felicidade.

– Bem, eu não posso. Acho que devo retribuir a serenata amanhã, no Glee. – Eu franzi a minha testa, Rachel Berry ia dedicar um solo a Quinn Fabray? Ok, eu acho que teremos alguns infartos no Glee amanhã. Eu sorri ainda mais (se era possível). Eu me olhei no retrovisor e Deus, eu estava corada. Abaixei a cabeça e brinquei com meus cabelos, desconcertada com o poder que aquela baixinha tinha de me deixar ainda apaixonada. Suspirei e disse envergonhada:

- Obrigada, Rach. Eu te amo, sabia?

– Sabia, porque eu também te amo, sua boba. – Rachel respondeu séria e, pelo que eu pude perceber, cansada. Acho que eu estava transformando Rachel Berry e estragando o ciclo do sono dela. Eu ia dizer para ela dormir, mas ela foi mais rápida. – A propósito, eu preciso das minhas horas de sono para te retribuir a altura. Posso ir dormir?

– Claro que pode, Berry. Só quero minha música amanhã. – Disse brincalhona e arrancando algumas risadas sonolentas dela. Ouvi as cobertas sendo remexidas e o afundar do travesseiro de penas de ganso dela. Estava prestes a desligar o celular quando Rachel me surpreendeu mais uma vez:

– A propósito, eu queria ver a neve cair com você e, principalmente, eu queria estar te abraçando agora. Boa noite, Quinn. Te espero amanhã.

– Boa noite, Rach... Vou estar lá amanhã, como sempre. – Respondi em tom de promessa e pude escutar um suspiro antes da linha cair. Joguei o celular no banco do carona e, finalmente, pisei no acelerador e engatei a marcha. Rumo para minha casa.


###


É um mistério para mim como consegui chegar ao Glee, no último tempo, sem ter cruzado com minha mãe ou com Santana ao longo do dia. Claro que tive que realizar algumas fugas épicas, incluindo um salto das arquibancadas e uma pequena maratona pelo campo de futebol (com os garotos treinando) e tendo uma Santana sedenta por respostas atrás de mim, me xingando em espanhol. Mas acho que a sorte me ajudou, no fim das contas.

Porém, eu também não consegui alcançar certa morena durante as aulas. Rachel deu um jeito de desaparecer, inclusive na aula de Física que tinha comigo. Desconfiei de que estivesse no auditório ensaiando, mas quando fui até lá depois de fugir de alguns problemas físicos envolvendo força centrípeta e coisas do tipo, estava tudo trancado. Eu estava preocupada.

Ainda mais preocupada agora.

Finn acabara de entrar todo sorridente na sala do coral com Kurt e Mercedes me olhando ameaçadores. Dei de ombros e retribuí os olhares, corajosa. Mas não precisei de muito porque no segundo seguinte, Puck entrou empurrando Finn em cima da bateria e Santana entrou esmurrando as costas de Kurt enquanto esbravejava:

- Se olhar dessa forma para Q mais uma vez, eu sumo com seu estoque de hidratantes, Hummel!

- Você não ousaria, Lopez! – Kurt respondeu um pouco agitado, mas quem o conhecia sabia que ele estava morrendo de medo. Depois que passou por Kurt, Santana caminhou até Mercedes e eu engoli em seco, porque sabia que minha melhor amiga e pavio curto estava descontando a raiva destinada a mim naqueles pobres coitados (tudo bem, eles não eram tão coitados assim). Sant apontou o dedo na face de Mercedes e ameaçou:

- E você, Aretha... Não me faça desaparecer com os bolinhos da cantina!

Eu contive uma risada enquanto observava Santana levar uma bronca de Brittany e em seguida, marchar até mim com um sorriso vitorioso. Santana sentou à minha esquerda, Puck a minha direita e Brittany na fileira superior. Senti uma onda de calor quando Brittany me abraçou pelos ombros, Puck apertou minha mão e Santana revirou os olhos, cruzando os braços.

Não havia explicação, meus anjos da guarda estavam ali, me guiando. Eu olhei para os três e sorri satisfeita, Puck levou isso como uma deixa para bagunçar meus cabelos e Brittany beijou minha bochecha. Santana bufou e disparou:

- Parem com a viadice!

Nós três rimos e Santana apenas me olhou, dando o recado de que deveríamos conversar quando o Glee acabasse. Eu sorri para ela e acenei, tinha entendido e eu sabia que devia uma explicação. Santana era daquele jeito... Explosiva, intolerante, chata e por vezes, até irritante. Mas ela era fiel e, principalmente, tinha um coração enorme. Eu podia ver agora.

Santana colocou-se para me proteger, assim como Puck. Aliás, os olhares trocados entre Puck e Finn estavam inflamáveis. Os dois sairiam no tapa novamente, eu era capaz de prever isso. Não deixei de gostar da ideia, Finn quase me agredira... Mas não queria mais que Puck se metesse em problemas, meu super-herói não era invencível e ele precisava de um pouco de descanso.

Deitei minha cabeça nos ombros fortes de Puck e ele sorriu surpreso, antes de afagar meus cabelos e beijar o topo de minha cabeça. Fiquei ali, envolvida naquela aura tão pura e tão boa que até me esqueci das dores e do tique-taque. Era clichê, mas meu mundo parava quando eu sentia o quanto aqueles três me amavam.

Santana do jeito louco e irracional de sempre, sempre colocando os pés pelas mãos e sempre dando razão às suas emoções do que a razão. Puck do jeito mais ameno e discreto, evitando demonstrar, mas sempre pronto para agir. E Brittany do jeito sonhador, demonstrando em cada gesto, olhar e ato que me amava. Aquele trio com componentes tão destoantes era o que me mantinha em pé quando tudo desmoronava. Inclusive, eu mesma. Não estava excluindo minha mãe. Mas aqueles três... Eles erraram comigo em tantos pontos, mas acertarem em outros essenciais. Eram meus irmãos, não de sangue, mas de coração.

Minha divagação foi interrompida com a chegada de Rachel. Ela estava cabisbaixa e não olhou para mim quando caminhou até Mr. Schue e sussurrou algo no ouvido do professor. Eu fiz menção de me levantar, mas Puck me puxou para baixo e me deu um olhar reconfortante antes de dizer calmo:

- Rach discutiu com Finn pouco antes do Glee quando saímos da aula de Biologia, mas fique tranqüila, ele só foi rude com ela.

- Só? Puck, eu vou partir a cara daquela orca! – Santana deu voz aos meus pensamentos e já estava estralando as juntas dos dedos quando Brittany a puxou de volta para o lugar e apontou para frente. Todos nós olhamos para onde B apontava e Rachel nos observava com um sorrisinho tímido nos lábios.

Eu pisquei para ela enquanto sorria e ela inclinou a cabeça, ligeiramente envergonhada. Rachel pigarreou e brincou um pouco com os dedos enquanto suspirava. Finn a devorava com o olhar e eu apenas tentava não surtar e fazer uma besteira ali. Minha cabeça voltou a doer e eu temi pelo que poderia vir a seguir.

Eu a ferira, será que Rachel realmente me perdoara?

Será que a conversa mais recente com Finn não a fizera mudar o que prometera para mim?

Será que eu merecia perdão?

Eu estava surtando, novamente. Dei sinais de que estava pensando bobeira e senti quando Santana apertou minha mão e fez um sinal para que eu me acalmasse. Eu respirei fundo e fechei os olhos, meu coração batendo acelerado de encontro as minhas costelas, machucando. O silêncio tornou a pesar na sala, mas eu só conseguia escutar a respiração pesada de Rachel e aquele som me sufocava.

Mais um pigarro e, dessa vez, escutei a voz insegura de Rachel declarar:

- Ontem, eu duvidei do que sentia. E eu, como uma futura artista, não posso duvidar do que eu sinto... Porque são meus sentimentos que determinarão minha atuação. É a minha paixão e o meu amor que desencadearão uma explosão de emoção. E ainda ontem, eu voltei a acreditar. Mas sabe o que é pior do que duvidar do que sentimos? É perceber que outros duvidam e que querem que você duvide também.

Rachel parou o monólogo ofegante. Seus olhos voaram para Finn que se encolhia na cadeira. Eu entendi, naquelas poucas e misteriosas palavras, a natureza da conversa entre os dois. Finn ousara, mesmo, plantar a dúvida na cabeça de Rachel? Realmente, ele não tinha noção do perigo. Quem era ele para falar de dúvidas quando ele fora o primeiro a mentir e enganar? Finn a cada dia provava que não a merecia e mesmo eu não sendo o melhor exemplo de ser humano, eu ainda era melhor que ele.

Rachel, então, olhou para mim. Esperei a frieza, a dúvida, o medo... Mas não encontrei nada disso naquele calor descomunal que emanava daqueles olhos castanhos. Rachel sorriu para mim e eu pude ver algumas lágrimas cintilando em seus olhos, ela suspirou e, olhando em meus olhos, disse:

- Eu não estou duvidando do que eu sinto. Mas eu preciso que você prove o quanto me ama e o quanto me quer. Eu preciso mostrar, para todos nessa sala, que nós não somos fruto do acaso. Nós nascemos uma para a outra e por mais que eu tenha negado, você foi forte e compreendeu. Eu peço, mais uma vez, para compreender. Eu sei que você me ama, mas eu preciso acreditar em nós...

Eu não consegui entender o que ela me dizia. Rachel precisava provar a todos que eu a amava? Qual era a razão daquilo? Percebi quando Puck olhou confuso para mim e vi pela visão periférica que Santana franzira a testa, tentando entender. Eu respirei fundo e me segurei nas bordas da cadeira. Rachel desviou os olhos opacos de mim e fez um sinal para Brad. Ele tocou as teclas novamente, o violino o acompanhou e a bateria também.

Rachel fechou os olhos, colocou as mãos sobre o coração. Eu fiz o mesmo e senti a energia dela passar para mim, eu senti o sentimento dela me tocar. Eu a senti dentro de mim. Rachel cantou e eu vi tudo explodir, em cores, amores e flores... Ela me amava e a prova que ela queria, era simples.


I’ve seen this place a thousand times

I’ve felt this all before

And every time you call

I’ve waited there as though you might not call at all

Eu não podia abrir os olhos, não agora que a voz dela estava tocando cada pedaço de mim de uma forma tão intensa e celestial que sequer assemelhava-se com qualquer coisa que eu já tinha sentido. Rachel estava elevando-me a um nível que eu jamais conhecera... E que prova que nada, eu só precisava dela.


I know this face I’m wearing now

I’ve seen this in my eyes

And though it feels so great, I’m still afraid

That you’ll be leaving anytime

As palavras me atingiram e eu tive que abrir os olhos. Eu ia desaparecer a qualquer momento. Eu ia deixá-la. Rachel sofreria de qualquer forma e por minha culpa... Eu a observei se envolver ainda mais na música, as lágrimas estavam começando a escorrer do meu rosto. Mas ela abriu os olhos. Rachel me encarou e sorriu. Eu olhei para ela sem entender, ela entoou a estrofe seguinte com uma força inabalável.


We’ve done this once and then you closed the door

Don’t let me fall again for nothing more

E ali eu entendi que ela não estava exigindo nada. Rachel estava cantando todas as promessas que eu fizera a ela. Rachel não estava cantando para mim. Rachel estava cantando o que eu fizera para ela. Minha morena estava cantando o que percorremos para chegar ali... Não eram pedidos, eram realizações. E quando ela se aproximou de mim e apanhou minha mão... Eu conheci um novo adendo a palavra amor. E esse era: perdão.


Don’t say you love me, unless forever

Don’t tell me you need me, if you’re not gonna stay

Don’t give me this feeling, I’ll only believe it

Make it real, or take it all away

Rachel me puxou para perto dela, me rodou em seus braços e me recebeu com um sorriso que eu não sei se era digna de receber. Os demais na sala ficaram bastante surpresos, eu pude escutar suas incontroláveis exclamações de surpresa. Mas meus olhos estavam presos nela e naquele brilho que era único dela. Eu sorri quando ela se afastou e ainda permaneceu segurando minhas mãos. O sorriso brincou em seus lábios enquanto ela cantava:


I’ve caught myself smiling alone

Just thinking of your voice

And dreaming of your touch, is all to much

You know, I don’t have any choice

Sorri diante da fofura dela. Rachel corou e se afastou de mim, ficando na outra extremidade da sala, ela balançava no ritmo da música. Mas quando o refrão veio, novamente, ela virou-se para mim e entoou os versos com ainda mais força do que anteriormente. Ela estava proferindo palavras que eu já dissera e já a fizera acreditar e ela queria que aquela sala entendesse isso.

Não precisávamos provar nada a ninguém se tínhamos uma a outra.


Don’t say you love me, unless forever

Don’t tell me you need me, if you’re not gonna stay

Don’t give me this feeling, I’ll only believe it

Make it real, or take it all away


Rachel voltou a se aproximar e me trouxe para perto novamente. Seus braços envolveram meu pescoço e eu apertei a sua cintura, me escondendo entre seus cabelos, escutei quando sua respiração falhou e seu coração disparou em seu peito. Ela ficou na ponta dos pés só para continuar a cantar e eu, imersa em todo aquele calor, só me deixei embriagar naquela pele dourada e naqueles cabelos escuros.


We’ve done this once and then you closed the door

Don’t let me fall again for nothing more


A música estava acabando. Rachel me puxou para olhá-la e séria, harmonizou a música com sua voz enquanto afagava a minha bochecha. Eu franzi a testa, tentando entender o porque dela ter ficado tão inexpressiva agora. Mas ela suspirou e terminou a música olhando em meus olhos:


Don’t say you love me, unless forever

Don’t tell me you need me, if you’re not gonna stay

Don’t give me this feeling, I’ll only believe it

Make it real, or take it all away


Não era só uma prova, era uma promessa.

Quando a música acabou, ela se encolheu em meus braços e eu senti a umidade em minha camisa. Beijei-lhe o topo de sua cabeça e fui até sua orelha apenas para sibilar as palavras que, desde o começo, regeram a minha vida e eu tive que “morrer” para percebê-las:

- Eu te amo, Rach... E é para sempre.

Um pequeno ruído e, o corpo dela se apertou ainda mais com o meu. Eu a envolvi e forneci o melhor abrigo que poderia dar. Ergui Rachel do chão e rodei com ela em meus braços, pude escutar uma risada rouca e chorosa e depois, o rosto dela erguer-se mais calmo e mais sereno. Beijei a ponta de seu nariz e abracei os seus ombros, levando-a para nosso lugar.

Santana pulou para a fileira de trás e tentou esconder as lágrimas, mas eu vi quando ela as secou disfarçadamente no casaco de Brittany. Puck suspirava pesado e batia palmas com os demais da sala. Rachel se sentou e deitou em meu peito, eu afaguei seu braço e remexei em seus cabelos. Imersa na minha aura de felicidade, não percebi quando o ogro levantou, até escutar sua voz amarga dizer:

- Então é isso, Rachel?! Acha que uma música vai te convencer de que ela é o certo para você?

- Acho que isso não está em discussão agora, Hudson. – Eu me ergui fria, colocando-me em frente a Rachel. Minha pequena puxou a barra de minha camisa, mas eu ignorei. Meus olhos focalizaram Finn e eu estava quase enxergando em vermelho, ele cruzou os braços e riu falsamente. – Se tem um pouco de decência, espere para conversar comigo depois do Glee. Ninguém merece ouvir seus resmungos infantis a essa hora.

Finn tornou a se sentar, sem antes me lançar o melhor ameaçador que achava que podia. Eu arqueei a sobrancelha para ele e simplesmente sorri com sarcasmo. Santana me cutucou e nós duas batemos um high five antes de eu me sentar. Rachel me puxou para baixo pelo braço e sorriu para mim, aconchegando-se em meu ombro.

Com ela ali, eu era a pessoa mais corajosa do universo.


Não foi muito difícil me conter durante o Glee. Por mais que Finn fizesse de tudo para me tirar do sério, olhando descaradamente para a minha garota e dando sorrisinhos repletos de escárnio quando podia, Rachel era o meu calmante. Enquanto a mão dela estivesse apertando a minha e enquanto ela me sorrisse, sem lágrimas, eu podia lidar com aquilo.

- Bom pessoal, eu acho que por hoje é só isso. – Mr. Schue anunciou com um sorriso cansado e levantando-se do banquinho, ele acenou para todos nós em seguida. Levantei-me da cadeira e estendi a mão para Rachel, minha morena sorriu e apanhou antes de se levantar também e deixar um beijo em minha bochecha. Nós duas nos demos as mãos e esperamos Puck e as meninas. – Espero que estejam mais calmos amanhã.

Discretamente, revirei os olhos quando Mr. Schue disse isso. Rachel sufocou uma risadinha e me deu um cutucão nas costelas, estirei a língua para ela e ela mordeu meu queixo, para revidar. Santana nos separou com um gesto mal-educado e quando eu estava prestes a xingá-la, ela fez sinal para que eu me calasse e disse severa:

- Depois continuem com a fofura. Você tem um trasgo para matar agora, Fabray.

- Uow, Santana nos acha fofas! – Rachel repetiu extasiada, depois jogou-se me meus braços e me abraçou. Santana revirou os olhos e mostrou o dedo do meio para a minha pequena e eu fiz cara feia para ela. Rachel arqueou a sobrancelha e eu a olhei de esguelha, surpresa pela familiaridade do gesto. – E aparentemente, é nerd o bastante para ler Harry Potter.

- Esqueça o que eu disse, eu vou matar o hobbit! – Santana anunciou ameaçadora e esticou as mãos perigosamente em direção a minha garota. Coloquei-me em frente a Rachel que ria, acompanhada de Puck. Brittany era a única que parecia ainda estar prestando atenção em Finn que nos esperava do lado da porta do coral, os olhos azuis dela encontraram os meus e Brittany sorriu levemente, mesmo parecendo preocupada.

Eu separei as duas morenas e pude ver Rachel mostrar a língua para S. Esperei todo o Lima Heights baixar com fúria sobre a minha pequena, mas Santana apenas riu dela e me puxou em direção ao Hudson. Completamente confusa, observei-a tornar-se bitch de novo conforme nos aproximávamos de Finn.

Pigarreei quando chegamos perto o bastante dele. Finn desviou sua atenção de Kurt e Mercedes e nos olhou com desprezo, cruzei meus braços sobre o peito e Santana me flanqueou, com a postura incrivelmente relaxada. Eu estava me sentindo pequena diante de Finn, mas Santana parecia me fazer crescer com toda aquela energia ameaçadora e protetora. Finn olhou de esguelha para S e perguntou sarcástico:

- Precisa de apoio para me enfrentar, Quinnie?

Mau ato, Hudson. Santana odeia ser ignorada.

- Eu sou a retaguarda dela, caso, você sabe... Queira bater em mulheres de novo, acéfalo! – Santana retrucou com a voz carregada de maldade, a expressão de Finn tornou-se confusa e ele pareceu pensar no significado do recente apelido. S riu em meu ouvido e eu quase não conseguir conter a minha risada. Finn olhou por cima dos nossos ombros e seus olhos faiscaram antes de responder:

- Você não é lá grande coisa, Santana.

- Mas pode crer que sou mais que você, “pequeno” Hudson. – Santana contra-atacou com uma habilidade incrível, eu tinha que me orgulhar da capacidade que minha melhor amiga tinha de insultar Finn. O rapaz ficou absurdamente vermelho e olhou para as próprias calças enquanto apertava os punhos. Dessa vez eu o observei com afinco e entendi, perfeitamente, que tipo de “homem” ele era.

Finn era o tipo que se vendia pela embalagem, mas deixava a desejar no conteúdo. Ele dizia que tinha mudado, mas continuava homofóbico e machista, eu me surpreendia com Kurt o apoiando. Finn não era nada além do quaterback do time perdedor do colégio. Seus ataques de raiva revelavam a pessoa derrotada e infeliz que ele era. E, aparentemente, Rachel era o que ele mais possuía de valor (e que não valorizava) naquela cidade. Só que Rachel era demais para ele, Finn precisava destruir o brilho de minha estrela para conseguir viver. Ele não podia ser iluminado, ele não queria viver à sombra de Rachel... Era por isso que a sufocava e a maltratava. Finn sabia que Rachel seria grande um dia, mas não era assim tão burro para saber que o colegial era o máximo de grandeza que ele alcançaria na vida.

Finn não tinha nada de especial. Não era um bom quaterback, não era um bom aluno e deixara, há tempos, de ser a melhor voz masculina que tínhamos no Glee. Assim como deixara de ser o líder que, um dia, inspirara Artie e os demais com a ideia de que os populares podiam ser diferentes. Finn nos vendeu os convites e nós adentramos em seu baile, mas agora as máscaras caíam e eu ficava extremamente feliz de ver que o meu mais novo eu era melhor do que o verdadeiro Finn. Eu sabia que não era o melhor para Rachel, mas sabia que eu poderia mudar a vida dela, para sempre.

Na verdade, eu e Finn tínhamos esse poder. Eu a impulsionava para frente, da forma que deveria ser, do jeito que ia ser. Enquanto ele a puxava para trás e fazia surgir uma Rachel apagada e desiludida, a morte de uma estrela, um buraco negro. De certa forma, eu era exatamente o contrário do que Finn era para Rachel: eu a erguia quando ela caía, Finn a chutava quando ela já estava no chão.

Parece muita coisa, mas isso tudo me passou na cabeça quando eu olhei de verdade para os olhos de Finn. Não havia nada além da frieza dentro deles. As faíscas eram fracas e irreais, eu senti o meu estômago revirar. Uma energia muito negativa emanava de Finn... Algo que me fazia tremer e fazia o tique-taque alucinante bombear em minha cabeça.

- Finn, nós vamos resolver isso logo. – Anunciei com a voz fraca e abrindo os meus olhos lentamente. A pontada em minha testa era intensa e estava quase me cegando de dor. Finn cruzou os braços e escorou-se na parede atrás de si, aquele mesmo sorrisinho torto e nojento nos lábios, ele suspirou dramaticamente e sugeriu malicioso:

- Ótimo, me dê Rachel e assunto resolvido.

- Primeiro: não fale dela como se fosse uma mercadoria. – Anunciei furiosa e caminhando em sua direção, ele se encolheu de encontro à parede. Covarde. Podia sentir cada pedaço de mim tremendo de raiva e podia sentir meu sangue sendo bombeado direto para minha cabeça. Santana segurou meu pulso delicadamente, mas não consegui ficar calma. – Segundo: eu não vou entregá-la a você. Rachel se entregou a mim e eu não vou tirar de nós duas o direito de sermos felizes. Quer você queira, ou não, Finnútil.

- Sabia que ia dizer isso, Fabray. Mas eu ainda não estou me dando por vencido. – Finn murmurou um pouco trêmulo, mas sem tirar a sagacidade e a arrogância de sua voz. Eu arqueei a sobrancelha, estava curiosa agora. Finn nunca tinha me enfrentado, mesmo que parecesse assustado no momento. – Rachel me pertence e eu vou tê-la de volta.

- Ela pode te pertencer, mas o bem mais precioso que ela possui, o coração dela... – Vacilei um pouco, as lágrimas chegaram aos meus olhos e eu tive que crispar os lábios para retomar o fôlego. As palavras eram intensas demais. Finn me lançou seu melhor olhar desafiador, Santana me deu forças através de um afago em meu pulso. Limpei as lágrimas e sorri. – O coração dela é, sempre foi e sempre será meu.

Finn recuou ferido e saiu da sala do coral praticamente quebrando a porta. Eu atingira seu ponto fraco. Eu fizera a mesma coisa que ele fizera para Rachel... Eu fiz que ele duvidasse de seus sentimentos e que duvidasse de tudo que tinha vivido com Rach. Era cruel? Sim.

Mas uma crueldade ainda maior era me expor aquele sentimento todo, sem chance de ficar mais tempo com Rachel. Um mês parecia pouco demais.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam do capítulo?
A visão que Quinn adota sobre Finn é o que eu acho em relação ao personagem, concordaram em alguma coisa?
Espero que tenham gostado *-*
Beijos e até a próxima!



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