Everlasting escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 12
Capítulo 11: Fuga


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessoas lindas!
Sim, Glee acabou e com todas as lágrimas derramadas na season finale (principalmente quando vi a Dona Quinn Fabray linda de beca e segurando o diploma, orgulhosa) era mais do que óbvio que eu ficaria inspirada para escrever "Everlasting" não é?
Já aviso que esse capítulo tem uma mistura de emoções bastante forte... Espero que gostem.
Indico as músicas da trilha sonora do filme "Apenas Uma Vez". Por mais que nem todas se encaixem na fanfic, elas tem um ar melancólico que sempre me ajuda a escrever.
Enfim, boa leitura!



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27 de Novembro de 2012. Lima, Ohio.

“I would runaway with you.”

(Runaway, The Corrs)

            Eu olhava para o dia que amanhecia, completamente desperta depois de uma noite de insônia regada a algumas lágrimas teimosas e a resmungos irritados que não se refletiam aquela sensação quente e desproporcionalmente forte que eu trazia presa ao meu peito. É possível ser feliz e triste ao mesmo tempo? Era possível sentir a eternidade enquanto o tempo corria cada vez mais rápido diante dos meus olhos?

            Eu não sabia a resposta de nenhuma dessas respostas e, de certa forma, eu não queria saber. A dúvida era um benefício saudável para mim, viver sem saber aonde e quando acabaria tornava tudo mais fácil e tudo mais saudável. Porque viver sem saber ou prever o destino fazia tudo mais real e menos doloroso... Quem sabe, se eu me esforçasse o bastante, acreditaria que todo aquele sangue, aquele vidro, aquelas dores e aquele desespero eram apenas fruto de um sonho masoquista.

            Mas eu bem sabia que meu cérebro diferenciava muito bem o que era verdade e o que era mentira. Aquela sensação de vazio que tomava meu peito quando as lembranças cada vez mais vívidas daqueles sonhos chegavam a mim só me faziam crer que tudo era efêmero, passageiro e rápido. Mas e Rachel? Ela era eterna para mim, porque era impossível que aquele misto de vazio e calor fosse morrer quando eu deixasse de existir.

            Cada manhã era uma batalha e agora, tendo-a em meus braços... Eu não senti o alívio que esperava. Foi mais uma sensação de dependência, de vício, de necessidade. Rachel parecia ser o que me mantinha viva agora. Ela era meu sangue, minha alma, minha essência e, principalmente, meu coração.

            Meu corpo pesava milhões de toneladas que só eram extintas quando eu a via ou me lembrava dela. A simples ideia de não abrir meus olhos para vê-la me abalava de tal forma que, imediatamente, eu chorava. Estava tão fraca, tão debilitada... Eu só queria Rachel para sempre ou pelo tempo necessário para podê-la fazer feliz. Era pedir muito?  Era pedir muito por uma “terceira” chance?

            O despertador tocou quando os ponteiros chegaram às oito e meia daquele sábado. Suspirei enquanto chutava as cobertas e massageava minhas pálpebras pesadas, o pijama de mangas longas grudou em minha pele. Agitei os cabelos e deles saiu um cheiro doce que não me pertencia... O cheiro de Rachel que permaneceu impregnado em minha pele depois que nós ficamos deitadas juntas em minha cama.

            Sorri diante das lembranças da noite anterior. Sorri diante daqueles momentos que eram bem mais do que eu merecia... Meu coração foi tomado por uma força tão potente que me fez ficar em pé, lavar meu rosto e correr pelas escadas. A casa vazia não me desanimou, pelo contrário, eu caminhei a passos largos até a caixa de correio, ainda de pijamas.

            Alguns vizinhos me cumprimentaram com sorrisos simpáticos e eu retribuí os “bom dia” e os acenos de cabeça. Apanhei o maço de cartas e me virei para voltar para casa até que escutei barulhos ensurdecedores de pneus cantando no asfalto, seguidos por batidas de portas de carro e um grito histérico:

            - Bom dia, Juno!

            - Por favor, que não seja Santana Lopez. – Supliquei aos murmúrios e olhando para os céus antes de assumir a minha melhor cara de tédio e me virar para a latina que me olhava com uma expressão tão sorridente que até me assustou. – Bom dia, Lopez.

            - Olá Quinn, como foi seu encontro com a Rach? – Foi Brittany quem me falou dessa vez, ela se aproximou e me apertou em seus braços enquanto eu tentava lutar com o rubor que subia em meu rosto e contra a falta de ar proveniente de seu abraço. Santana assumiu aquela mesma postura bitch que amedrontava todos na escola e sussurrou maldosa:

            - Pelo vermelhão no rosto dela e o fato de ela ainda estar de pijama... A noite de ontem foi boa.

            - Não é nada disso que você está pensando! – Procurei me defender rapidamente, tão rápido que até soou histérico. Brittany olhou de mim para Santana com uma expressão confusa, Santana ergueu ambas as mãos em sinal de inocência e respondeu com um tom ingênuo que nem enganava minha mãe:

            - E pelo grau da resposta, a noite foi realmente boa. O que aprontaram? Algo que envergonhe a sua tão amada doutrina católica, Fabray?

            - Eu não vou nem me dar ao trabalho de te responder, quem está com os hormônios incontroláveis aqui é você. – Respondi mal-humorada e dando às costas as duas, Brittany rapidamente acompanhou meus passos e nós duas entramos em casa, seguidas de perto por Santana e suas risadinhas sarcásticas.

            Assim que entramos, as duas imediatamente foram para a cozinha enquanto eu subia ao quarto para tomar um banho e me trocar para ficar apresentável para as duas. Voltei alguns minutos depois e assim que cheguei a cozinha, vi uma Santana maldita Lopez rindo sem parar da minha cara. Arqueei a sobrancelha e me sentei diante do prato de bacon que Brittany tinha feito para mim.

            Qual foi meu nível de surpresa ao ver que os pedaços de bacon estavam dispostos no prato, formando um coração? Nenhum.

            Santana estava histérica e por alguns segundos, eu me esqueci das minhas preocupações mais importantes e cogitei matar aquele maldito satã ali mesmo. Mas respirei fundo, me recolhi aos meus pensamentos e me sentei em frente ao prato. Santana arqueou a sobrancelha, curiosa em relação a minha atitude e perguntou:

            - Não vai dizer nada, Juno?

            - Eu me recuso a me estressar contigo a essa hora da manhã. – Respondi ácida antes de colocar o garfo no prato e tirar os pedaços de bacon de seus respectivos lugares. Santana fez um som parecido com decepção e eu escutei as risadinhas contidas de Brittany ao fundo. A latina pigarreou e falsamente ofendida, comentou:

            - Você anda recusando muita coisa relacionada a mim, a Berry anda te dando bastante, então?

            - Brittany, mande essa latina safada calar a boca ou eu mesma o faço, enfiando esse adorável garfo na garganta dela. – Murmurei ameaçadora, ao mesmo tempo em que dava um sorriso repleto de escárnio para Santana. A minha melhor amiga (da onça, só se for) apenas deu de ombros e apanhou um pedaço de maçã que Brittany comia.

            Ficamos em silêncio enquanto comíamos. Eu não estava brava de verdade com Santana, aliás, agradecia que ela e B tinham se preocupado em vir me ver. Eu nem queria saber o que teria acontecido se eu tivesse continuado naquele rumo de pensamentos.

            - Bom dia, crianças! – Essa foi a minha mãe entrando toda animada na sala, quase tropeçando no carpete diante de tantos sacos de papel que carregava. Brittany rapidamente apressou-se para ajudá-la, com os pacotes sobre o balcão, Judy deu um beijo no topo da minha cabeça e bateu um high five com Santana. – B já te alimentou, pelo visto.

            - Sim, Sra. Fabray... Quinn estava parecendo um leão preguiçoso quando chegamos. Estava de pijamas em frente à casa! – Brittany respondeu excitada, ela estava tirando os mantimentos de dentro dos sacos de papel e os guardava no armário, Santana apressou a ajudá-la, procurando esconder aquelas malditas risadas de mim. Minha mãe arqueou a sobrancelha e perguntou:

            - Por que raios estava de pijama lá fora, Quinnie?

            - Eu fui pegar o correio, só isso. – Respondi entediada e colocando mais uma colherada de bacon na boca e escutando a gargalhada de Santana ecoar na cozinha. Minha mãe assumiu uma postura séria e olhando por cima do ombro (possivelmente verificando do que Santana estava rindo), murmurou baixinho:

            - Temos que conversar, você sabe disso, não é?

            Apenas acenei com a cabeça, afirmativamente. Um leve tremor percorreu a minha espinha quando ela mencionou a tal “conversa”. Eu estaria, mais uma vez, arriscando tudo por Rachel. Eu não conseguia prever o que minha mãe faria quando descobrisse sobre nós... Será que ela me julgaria? Será que seria expulsa de casa mais uma vez?

            Eu estava ansiosa por essas respostas, mas ao mesmo tempo, queria afastá-la de mim. Logo agora que as coisas tinham se acertado entre nós, a vida (ou a cópia dela que eu estava vivendo) me obrigava a ter que escolher entre meu amor e minha mãe. Desde quando eu voltara para sofrer tanto?

            A partir daquele momento, o bacon tirou meu apetite. Depositei os talheres ao lado do prato e respirei fundo, B e S terminaram de guardar tudo e se despediram, alegando que precisavam fazer um trabalho juntas (eu bem sabia que trabalho era aquele). O silêncio reinou assim que a porta de entrada se fechou.

            Eu conseguia escutar até as batidas de meu coração acelerado juntamente com o meu respirar pesado. Tentava pensar em mil e uma formas de começar aquela conversa, mas sem sucesso. Parecia que todas as palavras tinham se perdido e que meu cérebro estava unicamente ocupado por Rachel Berry. Eu queria gritar que ela só era minha, mas alguma coisa me prendia e talvez... Fosse o olhar inquisidor que minha mãe me lançava.

            - E então...? – Minha mãe pigarreou antes de proferir essa curta expressão, ela estava tão ou mais nervosa quanto eu. Ergui meus olhos e a observei enquanto me amparava ao balcão da cozinha, os olhos dela não traziam nada além da neutralidade, ela apertava as mãos em sinal de impaciência calada. – Quinn?

            - Mãe, eu não sei como começar a te contar isso. – Minha voz estava mais fraca do que o normal, eu a olhei por vários segundos, tentando manter minha cabeça no lugar enquanto sentia uma das melhores partes de mim se afastando de minhas mãos. – Isso não era para ter acontecido.

            E não era mesmo.

            Até hoje eu não entendi porque eu tinha voltado e porque aqueles sonhos me perturbavam durante a noite... Mas eu tinha uma vaga ideia de que, de forma clichê, eu tinha assuntos não solucionados ali. Minha mãe, Rachel... Eu tinha que resolver tudo, mas como quando essas duas coisas pareciam não se conciliar?

            - Quinn, eu preciso que você fale. – Minha mãe pediu um pouco suplicante e eu suspirei, passando a mão sobre a testa e sentindo aquela dor incômoda em meus braços arder. O tique-taque começou a bombear em minha cabeça, me impedindo de pensar e a única palavra que eu consegui proferir foi:

            - Rachel.

            - Eu sei, querida. Mas eu preciso saber o que acontece entre vocês duas. – Judy estava sendo bastante compreensiva, pelo tom de sua voz, ela parecia estar esperando a minha resposta. Ergui meus olhos lentamente e respirei fundo, ela tinha um brilho nos olhos que eu jamais disse. – Não é normal ver a sua filha mudar de comportamento por causa de uma garota.

            Engoli em seco, ela tinha tocado no xis da questão mesmo sem querer. Eu estava mudando por causa de Rachel, podia sentir as alterações em meu comportamento em cada atitude que eu tomava. As coisas já se transformaram quando eu acordei há alguns dias com o “eu te amo” dela encravado em meu coração, agora... Ela me transformava a cada dia, com cada pequena ação.

            - Mamãe, por favor... – Eu pedi com a voz falha, sentindo as lágrimas chegarem aos meus olhos. Não era melhor deixar tudo como estava? Com minha mãe desconhecendo parcialmente a natureza dos meus sentimentos por Rachel? Estava tudo se ajeitando, tudo tomando os eixos... Mas a minha resposta podia fazer tudo desabar e sair do controle, mais uma vez. – Não me faça falar.

            - Por que, Quinnie? – Minha mãe questionou mais severa dessa vez, ela se aproximou de mim a passos centrados e colocou-se a minha frente, puxou meus braços e segurou minhas mãos com tamanha força e ardor que me fez temer suas reações seguintes. – Você é minha filha, eu te amo e não vou te julgar.

            - Mãe, nós não temos boas recordações quando tratamos de revelações nessa família... Não acha melhor que eu me cale e você finja não entender nada? – Perguntei com um tom levemente irônico que eu tive certeza que a irritou, pois sua testa vincou-se e os lábios crisparam-se em uma careta de descontentamento. Judy apertou minhas mãos, mais uma vez, e ainda mais séria, disse:

            - Eu não quero fingir que não percebo os olhares que você lança a ela e muito menos o sorriso em seus lábios quando a vê... Eu quero estar dentro da sua vida, Lucy. E parece-me que a sua vida é Rachel Berry. Ela trouxe a minha Quinn de volta.

            As palavras dela calaram todas as dúvidas e todos os meus questionamentos. Como eu pude duvidar do amor que Judy sentia por mim? Minhas bochechas coraram quando a olhei meio envergonhada, minha mãe deu um pequeno sorriso e me puxou para seus braços. Aquele abrigo protetor me envolveu e me levou para longe do tique-taque e da dor. Ela afagou meus cabelos e eu apertei seu corpo velho e fraco junto ao meu antes de murmurar:

            - Eu a amo, mamãe... Demorei três anos para perceber isso e tive que desmaiar para entender que todo aquele sentimento desconhecido e incontrolável era amor.

            - Eu sabia que, em uma hora ou outra, isso ia acontecer. – Judy respondeu com um ar de quem sabia das coisas, assim que ela afastou-se de mim com um sorriso, eu nada pude fazer a não ser olhar para ela com uma expressão confusa. – Mães sempre sabem daquilo que incomoda seus filhos... E Rachel Berry te incomodava demais para ser somente odiada.

            - Mas e agora? – Dei questionamento aos meus medos mais profundos e calados, será que ela ia me expulsar de novo? Mesmo diante daquela aparente compreensão, eu bem sabia quão cruel os Fabray podiam ser em momentos cruciais como aquele. Judy arqueou a sobrancelha para mim em uma expressão confusa e perguntou:

            - E agora o que, Lucy? Eu não vou te abandonar, se é isso que quer saber. Você é minha filha e eu te amo, independente de quem a faz feliz.

            A gargalhada que escapou de minha garganta foi tão espontânea quanto o abraço de urso que derrubou minha mãe no chão da cozinha. Ela ria embaixo de mim quando eu ergui-me nos cotovelos para olhar para ela, só para, em seguida, beijar suas bochechas com felicidade. Judy Fabray gargalhava embaixo de mim e murmurava para eu parar, quando eu bem sabia que ela não queria que eu ficasse tão longe.

            Eu e minha mãe enfim paramos com a brincadeira quando o ar nos faltou. Eu olhei para ela entre lágrimas de riso e de felicidade, limpei as lágrimas que escorriam pelas bochechas coradas e me levantei, puxando-a comigo. Judy me olhou por alguns segundos antes de dar um beijo em minha bochecha e subir as escadas.

            Eu não conseguia parar de sorrir, parecia que nunca mais eu sentiria todos os meus temores afogarem o meu otimismo. Misteriosamente, a aceitação de minha mãe trouxe uma nova vida para mim, eu conseguia enxergar um futuro com Rachel agora... Eu conseguia acreditar no que eu e ela podíamos ter.

            Aquela sensação de efemeridade e do passageiro foi sendo lentamente calada por toda a energia positiva que se instalara em meu peito. O calor do amor de minha mãe preencheu cada pedaço de minha alma enquanto o amor de Rachel se instalara em meu peito sem previsão de saída.

            Eu estava, pela primeira vez, verdadeiramente feliz.

            Sentia como se aquela felicidade fosse eterna e única. Eu estava intocável.

###

            Logo que minha mãe saiu para trabalhar a tarde, eu corri até meu quarto para apanhar o celular e ligar para Rachel. Surpreendentemente, o celular dela estava desligado. Cogitei que, talvez, ela estivesse dormindo. Todos tinham direito a um bom sono no sábado, certo?

            Só que eu comecei a ficar verdadeiramente preocupada quando liguei novamente no fim da tarde e ela não atendeu. Tentei mais duas vezes, mas o celular tocou até cair a linha. Procurei me distrair e não pensar besteira, mas um aperto desconhecido e sufocante estava me fazendo passar mal.

            Começava em meu peito e se alastrava por todo o meu corpo. Era uma espécie de sexto sentido, um sentido que apontava somente para Rachel e que, nesse momento, me dizia claramente que tinha alguma coisa muito errada acontecendo ali. Rachel não me deixaria às escuras, não agora depois de tudo que aconteceu entre nós. Ela seria incapaz de me dar um “não”.

            A noite chegou tão rápido quanto a volta de minha mãe para casa, mesmo trancada em meu quarto, com as cortinas fechadas e escondida entre os cobertores... Eu sabia que Judy tinha voltado apenas pelo cheiro da comida. Ela bateu algumas vezes em minha porta, mas eu não respondi, mesmo que não dizer nada me machucasse.

            Eu estava confusa e impaciente, só queria ter Rachel de volta. Parecia ser a única coisa capaz de me fazer voltar aos eixos no momento.

            Meu celular tocou em algum ponto do meu quarto. Praticamente travei uma luta contra as cobertas antes de encontrá-lo debaixo da cama. Minhas mãos tremiam e meus dedos pareciam incontroláveis quando eu apertei o botão para atender a chamada e a minha voz não estava lá tão tranqüila quando eu disse:

            - Alô?

            - Quinn? É você?

            A voz que eu tanto esperara naquele dia finalmente se manifestou. O aperto em meu peito finalmente afrouxou e eu soltei um suspiro exageradamente aliviado. Em meio a minha felicidade, eu mal pude perceber que Rachel não estava bem. Abri um sorriso e olhando para a janela, respondi:

            - Sim, pequena... Sou eu. Como está? Por que sumiu o dia todo?

            - Eu não posso falar por muito tempo, Q. Meus pais meio que descobriram sobre nós, Finn veio aqui e fez um escândalo. Preciso te encontrar o quanto antes.

            Meu coração veio a boca ao mesmo tempo em que a minha visão ficava vermelha e turva pelo ódio a Finn Hudson. O que aquele projeto de gigante tinha na cabeça para se meter entre eu e Rachel? Apertei meu punho e a mão que segurava o celular, as pontas de meus dedos estavam brancas. Bufei impaciente e disse entre dentes:

            - Rachel, onde ele está?

            - Quinn, isso não importa agora. Não era nem para eu estar falando com você nesse momento! – A voz de Rachel estava apreensiva e amedrontada, eu nunca a tinha ouvido naquele tom. Porém, a bronca que ela me deu, me fez baixar a cabeça envergonhada e esperar pelas demais palavras dela. – Me encontre no parque próximo a sua casa daqui a alguns momentos.

            - O que está acontecendo, Rachel? – Questionei totalmente fora de controle e praticamente berrando ao telefone, eu me coloquei em pé e me virei totalmente pela janela, tentando não pensar no pior. Minha mãe praticamente arrombou a porta no instante seguinte e eu fiz um sinal para que ela se calasse. Rachel suspirou do outro lado da linha e eu quase pude vê-la mordendo o lábio, nervosa. – Fale comigo, Rachel!

            - Eu não posso falar agora, confie em mim e me encontre no...! – A voz de Rachel desapareceu da linha com um som curto e seco, como se alguém tivesse desligado o telefone por ela. Me virei para minha mãe que estava tão confusa quanto eu. Corri para o armário e apanhei uma jaqueta de couro antes de praticamente atropelar a minha mãe e descer as escadas.

            - Quinn? – Minha mãe me chamou quando eu cheguei aos primeiros degraus, sequer olhei para trás e continuei a descer rapidamente, quase embolando-me em meus próprios pés enquanto sentia meu coração pulsar em meus ouvidos e cada pedaço do meu corpo tremer. Eu estava começando a ficar tonta. – Lucy Quinn Fabray, aonde pensa que vai?

            Eu continuei a caminhar rapidamente, apanhei as chaves do meu carro que estava próxima a porta e quando estava prestes a abri-la, minha mãe puxou meu punho fazendo-me virar bruscamente com ela. Os olhos dela estavam esbugalhados, com um brilho de preocupação. A mão dela se fechou bruscamente em meu pulso e preocupada, ela questionou:

            - O que está acontecendo, Lucy?

            - Eu não sei, mãe. – Respondi em meio a uma crise de desespero, me desvencilhei dela e respirei fundo, a náusea me invadiu e eu tive que me apoiar na parede do hall para não cair. – Rachel acabou de ligar e...

            Eu não consegui terminar a frase. A lembrança das palavras afobadas e do desespero da voz dela me calou. Mais uma vez, o aperto voltou.

            - E o quê, Lucy? – Minha mãe estava tão impaciente quanto eu. Ela ergueu meu rosto e me fez abrir os olhos com um carinho delicado ali. Os olhos claros dela e tão parecidos com os meus refletiam toda a preocupação em minha face, ela me sorriu de lado e eu senti um pouquinho do aperto diminuir. – O que foi, Lucy?

            - Rachel parecia fora de si, ela me pediu para encontrá-la no parque aqui perto. Mamãe, alguma coisa aconteceu.

            - Então vá atrás dela e se preciso for, traga-a pra cá. – Minha mãe me surpreendeu novamente naquele dia com aquelas palavras, eu murmurei um “obrigada” antes de sair correndo de casa para a noite fria de Lima.

            Rachel precisava de mim e eu prometi que estaria lá para ela.

###

            O parque estava escuro, eu puxei mais a jaqueta de encontro aos meus ombros e pude ver o ar quente sair pela minha boca quando suspirei mais uma vez. Observei as sombras escuras das árvores e senti o ar frio bater em meus ombros, dei mais um impulso em meus pés e o balanço se moveu, rangendo suas correntes antigas.

            Olhei por sobre o ombro, impaciente e preocupada, procurando Rachel por toda a extensão do parque. Ela estava atrasada alguns minutos, mas aqueles minutos estavam me deixando fora de mim. Eu me coloquei em pé e comecei a caminhar de um lado para o outro, tentando dissipar aquela energia em meus movimentos.

            Sem sucesso.

            Alguns minutos andando de cabeça baixa para enfim erguer os olhos e ver a figura pequena de Rachel caminhar pela entrada do parque. Assim que nossos olhares se encontraram, ela correu em minha direção e quase derrubou-me ao se jogar em meus braços. Eu mantive meus pés firmes no chão enquanto sentia meu corpo reagir a presença dela.

            Meu coração acelerou, meus braços propiciaram o abrigo necessário para o pequeno corpo dela, eu fechei meus olhos e um sorriso enorme apareceu em meus lábios ao sentir o seu cheiro de baunilha invadir os meus sentidos. Senti a mão de Rachel apertar o tecido de minha camisa na base das minhas costas, ela suspirou em meu pescoço e disse chorosa:

            - Eu senti tanto a sua falta...

            - Eu também, pequena. – Eu disse com um sorriso antes de puxar o corpo dela para longe de mim e levá-la até um banco do parque. Nós sentamos ali e eu coloquei um braço sobre seus ombros, Rachel escondeu o rosto em meu peito e suspirou pesado, eu senti como se meu coração se quebrasse em mil pedaços. – O que aconteceu?

            - Finn, ele... – Rachel começou a falar, mas algumas lágrimas teimosas a impediram de continuar. Eu, pacientemente, as sequei. Mesmo que minhas mãos tremessem diante da raiva que eu estava daquele maldito quaterback. Ela me olhou e beijou a ponta dos meus dedos. – Ele foi lá em casa e despejou tudo em cima dos meus pais... Disse que eu tinha o traído e que você estava me seduzindo.

            Uma gargalhada sarcástica e fria saiu dos meus lábios, Rachel se retesou em meus braços e olhou para mim, com um ar decepcionado. Eu me calei sentindo o olhar dela queimar em minha pele, abaixei a cabeça entre minhas pernas e senti ela afagar os cabelos de minha nuca, beijar meu pescoço e abraçar meus ombros com saudade. Deixei que o calor do corpo dela me aquecesse, toquei a pele de sua mão e a envolvi com a minha, depois suspirei e disse:

            - Me desculpe, eu só... Eu fiquei com medo que você fugisse.

            Eu confessei uma coisa que não assumira nem para mim mesma naquele dia. Eu realmente tive muito medo de perder Rachel de novo, a ideia de ficar sem ela mais uma vez era pior do que qualquer sensação de negação. Senti Rachel apertar minha mão e erguer meu rosto, ela tocou nossos lábios rapidamente e murmurou próxima a mim:

            - Eu não vou fugir de você, Quinn... Eu desapareci nesse dia porque meus pais praticamente me trancaram em casa e tiraram meu celular. Eles não querem que eu fique com você, Quinn.

            - Por que? Não é como se eu fosse pior do que Finn... Eu tenho um futuro, ao menos. – Respondi irônica e a senti morder meu lábio, irritada. Eu estava mentindo, não tinha um futuro, mas ao menos,  eu poderia dar um presente melhor para Rachel. A minha pequena me olhou com intensidade e afagou minha bochecha antes de dizer risonha:

            - Eu sei que você é melhor do que o Finn e também sei tudo que você pode me dar. Estamos no começo, mas você já me deu muito mais do que ele foi capaz em dois anos.

            - Mas o que vamos fazer? Eu não quero que você brigue com seus pais por minha causa. – Eu sentenciei séria e a puxando mais para perto, Rachel se instalou no vão do meu pescoço e passou a desenhar símbolos aleatórios no tecido de minha calça. Ela estava magoada, eu podia sentir, só não sabia se era pelo que eu dissera ou se pelo que os pais e Finn fizeram a ela.

            Nós duas ficamos em silêncio, sentindo aquele vento frio em nossos ombros e ouvindo o farfalhar das folhas. A cada tremulação dela, eu a apertava e a cada suspiro pesado ou evidência de choro contido, eu murmurava que a amava. Eu me sentia tão impotente agora, incapaz de protegê-la se eu era a verdadeira razão do sofrimento dela.

            Eu jamais faria Rachel escolher entre mim e os pais. Não era justo, não era certo. Eu não “voltara” para colocá-la em situações como aquela. Eram dois tipos de amor, diferentes, mas ainda assim, eram amor. E não havia sentimento mais forte do que aquele. Não é justo comparar o que eu sinto por ela com o que os pais dela sentem. São dois amores que deveriam estar juntos para fazerem a felicidade dela.

            Logo agora que eu conseguira o amor de minha mãe de volta, Rachel perdia o dos pais por minha causa. Não culpava Finn pelo que acontecera, em algum momento na minha estadia na Terra, nós teríamos que falar aos Srs. Berry sobre a natureza atual do nosso relacionamento. Mas eu estava tentando não pensar nesse tempo.

            Aliás, tudo que se referia a tempo me assustava. O curto tempo que eu tinha com ela, o tempo certo para contar aos pais dela o que sentíamos uma pela outra... Acho que nunca enfrentei inimigo tão cruel e passional. Era a única coisa que derrubava todas as minhas esperanças e crenças. Era a única coisa que me fazia questionar o verdadeiro significado do “eterno”.

            - Nós vamos fugir, é a solução. – Rachel soou séria, mesmo com a careta assustada que eu fiz quando a observei se levantar e me encarar de pé, com a determinação impressa naqueles olhos chocolate. – Sabe quando o casal é impedido de ficar junto na ficção? Eles fogem e escolhem viver o amor longe dos julgamentos e dos olhares de suas famílias que não os aceitam. Foi assim em “Romeu e Julieta”. Eu sei que em algum momento, nós vamos ter que correr atrás de nossas vidas, mas meus sonhos podem esperar e a única coisa que eu quero no momento, é você do meu lado. Vamos fugir assim que amanhecer...

            Eu achei melhor impedir a continuação daquele monólogo, eu me coloquei em pé e a abracei sem que ela percebesse. Rachel afundou a cabeça em meu peito e a respiração quente dela de encontro ao meu coração acelerado realmente me fez pensar em ser egoísta o bastante para fugir com ela, deixando tudo para trás.

            Mas se nós fugíssemos... Quem cuidaria dela quando chegasse a hora?

            Engoli em seco, ainda abraçada a ela e sufocando todas as minhas lágrimas de realidade cruel e absurda, a apertei e afaguei seus cabelos, beijando sua testa ao nos afastarmos. Tentei abrir o melhor dos meus sorrisos, mas o meu coração apertou em meu peito sabendo que eu era passageira e que toda aquela provação a qual ela estava sendo exposta, era em vão.

            Em algum momento naquele mês tenebroso, eu partiria. Deixando as dores e as feridas nela... Eu não estava sendo cruel ao submetê-la a um amor tão doloroso? E por que não, tão doentio?

            - Você precisa descansar, vamos para a minha casa. – Sibilei com um ar pacífico, amparando o corpo pequeno dela junto ao meu, fugindo de todas as respostas que eu deveria dar a ela, mas não tinha coragem.

            Rachel sorriu em meio ao nervosismo e murmurou de encontro ao meu ouvido:

            - Nós não vamos deixar de lutar, não é?

            - Não, jamais. – Respondi culpada, porque quando eu parasse de respirar, inevitavelmente, pararia de lutar por ela.

            Sim, a eternidade me parecia ainda mais distante agora.

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Notas finais do capítulo

Eu sei... Vocês devem se perguntar quando a felicidade vai finalmente atingir essas duas, não é? :/
Mas o tema é difícil de ser trabalhado e eu penso em todos os detalhes quando construo os capítulos de "Everlasting". Que, aliás, é uma das fanfics mais importantes para mim.
Não só porque ela surgiu no grupo "Achele - Lovers" que eu amo tanto... Mas também, porque ela fala da perda inevitável do amor. Algo que é complicado, ainda mais para quem já viveu algo semelhante.
Espero que compreendam minhas razões, espero reviews. Beijos e até a próxima (: