Everlasting escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 11
Capítulo 10: Nós


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoinhas!
Desculpa estar postando tão tarde (são, exatamente, 02:54 de uma segunda-feira), mas infelizmente eu só consegui terminar o capítulo agora.
Aliás, gostei muito desse capítulo.
Boa leitura!



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Madrugada. 26 de novembro de 2011. Lima, Ohio.

Heaven is a place on earth with you..."

(Video Games, Lana Del Rey)

- Rachel, você tem aula amanhã. Desligue agora. – Eu tentei ser autoritária, mas minhas risadas ao telefone estragaram todo o teor de bronca. Escutei o pequeno muxoxo impaciente que ela soltou do outro lado da linha, seguido por um suspiro cansado e um bocejo. Franzi as sobrancelhas e olhei para as estrelas pelo vidro da janela. – Você está cansada, Rach. Vá dormir.

– Eu não quero dormir, eu quero ficar com você.

Ri da insistência dela, eu sabia que ela estava pregando os olhos de tanto cansaço. O dia fora corrido para ela, o término com Finn, a conversa comigo... Rachel precisava descansar, era muita coisa para um dia. Só que eu tinha me esquecido de como ela podia ser teimosa quando não queria algo. Dei uma pequena risada e sibilei:

- Eu sei, pequena. Mas você precisa dormir, já são quase duas da manhã... Prometo que, se você for dormir agora, eu te busco no McKinley amanhã.

– Promete?

A voz manhosa e suplicante dela me fez abrir mais um sorriso, com certeza, eu amanheceria com dor nas bochechas amanhã. Nós duas ficamos em silêncio enquanto eu não conseguia parar de sorrir, ao olhar as estrelas, meus problemas pareceram tão distantes porque eu estava do lado dela. O tique-taque, a sensação de perigo... Rachel estava me reconstruindo em tão pouco tempo, eu estava voltando a viver.

Ouvi seu suspiro na linha, apertei o fone com as mãos trêmulas e pude ouvir algumas risadinhas baixas do outro lado.

– Você está com aquele sorriso lindo, não é?

Imediatamente eu corei. Gaguejei e tropecei nas palavras, sentindo meu coração disparar em meu peito enquanto eu procurava me desvencilhar daquela felicidade imensa e formular uma resposta decente a ela. Diante do meu fracasso, toquei o vidro frio da janela com a ponta dos meus dedos e murmurei baixinho:

- Estou e vou dormir com ele de hoje em diante.

– Acho que essa é a minha deixa para ir dormir também. Quem sabe, eu possa sonhar com esse sorriso agora, não é?

Rachel tinha um sorriso também, mesmo não podendo vê-la, eu podia sentir pela intensidade de sua voz do outro lado da linha. Ela estava com aquela ansiedade natural e aquele ânimo incansável... Ela tinha voltado a ser a Rachel de sempre. Aquela Rachel capaz de reerguer cada um que caía e também, a Rachel que eu sempre amara. Escutei um suspiro pesado do outro lado da linha e depois, escutei ao fundo, os sons de suas cobertas. Rachel realmente ia dormir.

Apertei o fone do telefone, sentindo-me um pouco carente por ter que dar tchau a ela. Depois que ficamos juntas, eu fui extremamente egoísta e só a deixei sair por volta da 1 da manhã. Conversamos, rimos e nos beijamos sempre que possível. Mesmo o tique-taque tendo parado e a sensação de efemeridade estar mais fraca em mim, eu tinha aquela necessidade incontrolável de tê-la para mim.

Isso era amor, não era?

- Tudo bem, pequena... Hora de ir dormir. – Murmurei um pouco receosa e escutei um suspiro sonolento, sorri, tinha como uma pessoa ser fofa até por telefone? Continuei a olhar para as estrelas e fiquei séria. – Boa noite, durma bem. Estarei te esperando no fim das aulas.

– Calma, não desliga ainda! – Rachel pediu antes de eu tirar o fone do ouvido, eu, obviamente entregue e apaixonada, obedeci. A morena respirou fundo na linha por alguns minutos, ela parecia insegura. – Você poderia... Cantar para mim?

Surpreendi-me com o pedido de Rachel, a parte talentosa do casal não era eu. Tornei a olhar para as estrelas a procura de algo que fizesse jus a tudo que eu sentia por ela. Era difícil pensar em palavras e melodias que conseguissem agregar tudo que Rachel era para mim. Uma mistura de dependência com cura, de coragem com covardia, de força e fraqueza... Rachel unia meus extremos e agora, na atual situação que vivíamos, ela meio que me obrigava a ser uma pessoa melhor.

Rachel trazia o melhor em mim e também, o meu pior. Somado ao meu amor inquestionável por ela, também vinha meu egoísmo e meu ciúmes fortalecidos pelo medo de perdê-la a qualquer instante. Meu amor por Rachel era estranho, mas eu não duvidava dele de forma alguma. Mesmo provocando uma bagunça imensa nela e obrigando-a a escolher entre eu e Finn... Eu sabia que, no fim de tudo, só restaria nós.

– Quinn?

Rachel soou um pouco insegura do outro lado da linha e eu dei uma gargalhada rouca, possivelmente, ela estava mordendo o lábio de tão nervosa que estava. Eu pigarreei e escutei os resquícios da risada dela pelo fone, respirei fundo e, inesperadamente, encontrei a música que precisava. As estrelas tinham um significado diferente de agora em diante, elas me lembravam Rachel... Suspirei e cantei:

- “And all the roads we have to walk are winding, and all the lights that lead us there are blinding. There are many things that I would like to say to you, but I don't know how...”

Escutei o suspiro e a pequena risada de Rachel. Meu coração se encheu daquele calor tão familiar e tão necessário... Meu coração se encheu de toda a vida que passava dela para mim e eu continuei a música, sem qualquer medo dessa vez. Porque eu pertencia a Rachel assim como ela pertencia a mim. E nem a situação mais dolorosa do mundo tiraria isso de nós.

- “Because maybe, you're gonna be the one that saves me. And after all... You're my wonderwall.”

A linha ficou imediatamente muda do outro lado e eu sorri, provavelmente Rachel tinha adormecido. Tirei o telefone do meu ouvido e o depositei sobre a cômoda ao lado de minha cama. Me joguei no colchão, com um sorriso que mal cabia em meu rosto. Porque a dor estava calada, o frio se extinguira e o tempo era eterno para o que eu sentia.

Rachel não sabia, mas ela era, realmente, a minha salvadora...


###


- QUINN!

Acordei com um grito extremamente educado da minha mãe, tão educado que eu quase caí da cama devido ao susto. Quando consegui suportar a claridade e abri os olhos, Judy Fabray estava contendo a risada enquanto me olhava. Arqueei a sobrancelha para ela e ela fez o mesmo, realmente, aquilo era coisa de família. Minha mãe puxou minhas cobertas e anunciou:

- Já passou da hora de trocarmos seu curativo.

- Eu até tinha me esquecido dele. – Respondi meio bêbada de sono ainda e olhando distraidamente para minha mão. Ela tinha parado de doer e parecia bastante aceitável depois que os dedos de Rachel tocaram ali. Minha mãe sufocou uma risadinha e eu olhei questionadora para ela, Judy Fabray simplesmente sorriu e murmurou irônica:

- Claro, como se lembrar de um soco no espelho se Rachel Berry ficou até tarde aqui?

Eu quase caí da cama pela segunda vez em dez minutos. Meus olhos se arregalaram e minhas mãos começaram a tremer exageradamente, minha mãe ainda ria enquanto me empurrava para o banheiro. Apanhei meu celular a caminho e assim que fechei a porta, antes de tomar meu banho, chequei o aparelho.

Era uma hora da tarde e eu ainda tinha cerca de duas horas para, finalmente, encontrar Rachel na escola. Mais também havia uma mensagem não lida, sorri pela milésima vez quando vi que era Rachel. Teclei os botões rapidamente e abri a mensagem:


Bom dia! Sei que, provavelmente, você ainda deve estar dormindo. Mas só queria dar um sinalzinho de vida antes de ir para a escola. Estou morrendo de sono, mas isso não importa muito... Bem, é isso. Espero você mais tarde, beijos. – Rach.

Lendo aquela mensagem, Rachel me pareceu um pouco envergonhada com o que acontecera entre nós. Não tiro essa razão dela, nós éramos melhores amigas há menos de uma semana e agora, estávamos... Juntas? Quer dizer, nós ficamos na noite de ontem, mas estávamos juntas de verdade? Eu tinha que resolver essa questão agora. Eu não tinha dúvidas e muito menos, tempo para ignorar tudo que explodia em meu peito.

Era uma sexta-feira e eu precisava fazer algo para ela.

- Quinn? Está tudo bem? – A voz da minha mãe veio abafada pela porta e pelas batidas que ela dava ali. Eu gritei qualquer coisa para mostrar que ainda estava viva e ela saiu gritando algo sobre fazer o almoço. Suspirei e me escorei na pia para digitar a resposta para Rachel.


Hey pequena, desculpa... Acordei só agora, acho que dormir foi a saída para ver se o tempo passava mais rápido. Vou te pegar daqui a pouco e se prepare, nós vamos sair, viu? Espero você no estacionamento, beijos. – Quinn.

Enviei a mensagem e tirei as roupas para tomar meu banho, o curativo fizera um bom trabalho e meus cortes não estavam lá tão ruins assim. Resolvi desconsiderar essa informação quando o coloquei embaixo da água quente e ele ardeu como nunca. Saí do banho com os olhos marejando e a mão doendo mais que nunca. Me enxuguei e saí com meus pijamas, arrastei os pés até a cozinha.

Minha mãe mexia nas panelas enquanto eu sorria, feliz. Parecia que fazia muito tempo desde que vira aquela cena: Judy Fabray cozinhando para mim. Sufoquei uma gargalhada e roubei um tomate da salada que ela fazia, minha mãe bateu em minha mão para rir depois e me apontar para o balcão. Sentei ali e senti meu celular vibrar de novo em meu bolso.


Como vamos sair hoje? Eu sei que é sexta-feira, Quinn... Mas eu não vim devidamente vestida para escola. Você poderia ter me avisado antes! – Rachel.

Eu gargalhei com o desespero dela, mesmo via mensagem, Rachel continuava extremamente fofa. Minha mãe virou-se para mim e fez sinal para que eu estendesse a mão, ela checou meu machucado brevemente antes de começar os curativos. Digitei a resposta para Rachel com apenas uma mão, corava violentamente porque minha mãe olhava sorrindo para mim.


Você é linda de qualquer jeito, Rachel. – Quinn.

Teclei o “enviar” e deixei o celular sobre a bancada, abaixei meus olhos rapidamente, antes que aquela maldita sobrancelha arqueada de minha mãe pudesse me deixar ainda mais envergonhada. Eu ainda podia escutar as risadas descaradas, revirei meus olhos e bufei, isso só a fez rir ainda mais. Tamborilei meus no balcão e observei quando ela fechou os cortes com ataduras e passou esparadrapo ali. Logo em seguida, meu celular vibrou novamente e antes que eu pudesse apanhá-lo, minha mãe lia minha mensagem com um sorriso maldoso nos lábios:

- “Obrigada, Quinn. Mas discordo, a única linda aqui é você. Estarei te esperando no estacionamento, estou contando o tempo até as três horas... Beijo, Rachel Berry.”

- Você não tinha o direito de ler isso! – Respondi com dificuldade e sentindo o calor tomar meu rosto, minha mãe apertou minha bochecha e eu bati com a mão boa nas mãos dela. Judy Fabray ria sem parar, ela virou-se para o fogão e disparou:

- Amor juvenil, tão lindo!

- O fato de estarmos bem não significa que você pode sair por aí tirando uma com a minha cara. – Respondi entre dentes, Judy riu ainda mais e por mais que eu estivesse envergonhada e querendo me esconder dela, o som da risada dela, esquecido e tão distante, fez vibrar algo dentro do meu peito. Ergui os olhos e ela me observava com os olhos a brilhar agora, colocou um prato com macarrão ao molho a minha frente e afagou meus cabelos. Beijou a minha testa e com um sorriso tímido, disse:

- Depois quero conversar sobre isso, tudo bem?

Apenas acenei com a cabeça e ela tornou a bagunçar meus cabelos, arqueei a sobrancelha para ela, mas Judy apenas sorriu e saiu da cozinha, ela apanhou as chaves e saiu de casa. Olhei para meu prato de macarrão, saquei o celular do bolso novamente e reli a mensagem de Rachel... Tinha como alguém morrer de felicidade?


###


Eu estaria mentindo se dissesse que passei os minutos antes das três horas em perfeita calma e tranqüilidade. Eu saí meia hora adiantada de casa após me atrapalhar no banho e ficar em dúvida sobre o que vestiria. No fim, coloquei uma calça jeans simples, calcei minhas sapatilhas e coloquei uma blusa leve antes de jogar a jaqueta jeans por cima. Depois, tropecei no tapete, quase caí no jardim e consegui chegar viva o bastante ao carro.

Dirigi até o McKinley High dentro dos limites de velocidade. Não deixei de notar que, dessa vez, minhas mãos não tremiam e meus braços não chegaram a doer. As minhas dores pareciam um canto obscuro de minha mente, meu torpor e a sensação de efemeridade ficaram perdidas em algum ponto entre meu dilema e Rachel. O frio já tradicional e costumeiro em meu peito estava desaparecendo e algo quente, por vezes morno, estava me tomando.

Parecia que Rachel estava me preenchendo. Parecia que eu estava sendo tomada por toda a vitalidade que Rachel Berry tinha... Ou melhor, eu estava sendo tomada pelo brilho de Rachel que, como qualquer estrela, era quente e repleta de vida. Rachel estava me transformando de um buraco negro em um poço de brilho e esperança.

Eu estava voltando a acreditar.

Acreditar na vida, no tempo, na eternidade e, principalmente, no amor. O que estava estendendo-se entre nós era maior que qualquer obstáculo que se transpusesse entre nós. E mesmo se o mundo acabasse, se eu desaparecesse... Eu ainda continuaria com ela. Porque Rachel ainda permaneceria intocada. No meio da dor, do sofrimento e do medo. Era ela única, ela era intocável.

Meus devaneios consumiram todo o tempo, quando dei por mim, já estava entrando no estacionamento do McKinley. Ainda faltavam poucos minutos até que todos saíssem. Estacionei meu carro e saí, escorando-me no capô enquanto a esperava. E aqueles minutos pareceram não passar.

Olhei para as extremidades do campus, para o campo de futebol. Pude ver algumas silhuetas masculinas correndo por ali, o treino estava começando. Sorri ao me lembrar que, há dois anos, eu estaria esperando Finn nas arquibancadas. As coisas mudavam, a vida mudava e isso era o que fazia a existência tão divertida.

O ciclo de mudanças e transformações nunca parava e talvez, fosse ele que me trouxera para aquele momento. Foram pequenas transformações, suaves diferenças que me fizeram amar Rachel. Mas eu sabia que não teria voltado senão fosse por ela. Sendo assim, eu faria de Rachel a mulher mais feliz do mundo, eu a faria amar de verdade pelo menos uma vez da vida... Eu daria lembranças a ela que nenhuma mudança e nenhuma transformação poderiam tirar. Eu estava dando meu amor eterno e só pedia um pouco do amor dela em troca...

A sineta tocou e eu me virei para as portas de entrada, vasculhando a pequena multidão de alunos. De imediato, não encontrei nenhuma silhueta pequena e morena. Mas encontrei uma latina sorridente, ao lado de uma loira animada e um bad boy entediado. Aquele trio caminhou até mim com sorrisos enormes nos rostos, assim que chegaram próximos o bastante, Santana disse irônica:

- Já virou chofer do Hobbit, Q?

- Não fale assim dela, S! – Brittany bronqueou um pouco brava e Santana olhou culpada para ela, eu apenas sorri porque nenhuma maldição que Satan pudesse me jogar estragaria meu dia. Brittany virou-se para mim com aquele sorriso cheio de dentes. – Veja só, os olhos de Q estão brilhando!

- Pelo visto, minha princesa judia te pegou de jeito, hein Fabray? – Maldito Puckerman com seus comentários maliciosos, eu senti o rubor me tomar pela segunda vez enquanto aquele trio maldito ria de mim. Após alguns segundos de vergonha total, consegui me juntar a eles e sorri também.

Afinal, o que seria de mim sem aqueles três me reerguendo a todo momento?

Rachel não aparecia e por isso, fiquei conversando com o trio. Cerca de dez minutos depois, após muitos muxoxos de Santana, ela e Brittany foram embora. Puck se escorou no capô ao meu lado e me deu um daqueles sorrisos cúmplices que só nós dois tínhamos. Ele pigarreou e disse:

- É bom te ver sorrir de novo, você fica mais linda assim, Q.

Mal consegui escutar o que ele disse porque, nesse momento, vi Rachel aparecer em meu campo de visão. Mas ela não estava sozinha. Kurt, Mercedes e Finn vinham em seu encalço e, pelo visto, eles estavam discutindo. Coloquei-me em pé rapidamente e Puck assustou-se com a minha reação. Fiz um sinal para que ele olhasse para quem vinha e ele, rapidamente, fechou os punhos e assumiu aquela mesma posição defensiva que o levou a bater em Finn.

Rachel caminhava de cabeça baixa, rapidamente e concentrada em seus passos. Mas assim que ela ergueu os olhos e encontrou os meus, um sorriso tomou sua expressão preocupada e ela rompeu a distância entre nós. Também caminhei em sua direção e a meio caminho do carro, a englobei em meus braços e beijei seus cabelos discretamente enquanto dizia:

- Hey, pequena. Senti sua falta.

- Eu também! – Rachel afirmou com aquele sorriso iluminado e que me faria esquecer tudo só por ela. Puck chegou logo depois e beijou o topo da cabeça de Rachel, olhei para ele completamente tomada de felicidade e ele acenou a cabeça, revirando os olhos e rindo de nós. Mas nós fomos interrompidos quando a voz entediante de Finn Hudson disparou ironicamente:

- Resolveu aparecer, Fabray?

- Eu acho que não te devo satisfações, Hudson. – Respondi na defensiva e me virando para enfrentá-lo. Tive que conter a risada diante do rosto de Finn. Ele estava com os dois olhos em um tom grotescamente esverdeado, havia marcas de minhas unhas em sua bochecha e um vermelhão que eu sabia ser do soco de Santana, melhor impossível. Rachel apertou minha mão em um pedido mudo para que saíssemos dali, eu ignorei e coloquei meu corpo a frente dela, protegendo-a. Puck tomou o lugar ao meu lado.

- Eu sempre soube que tinha uma estranha tensão sexual entre vocês duas. – Kurt comentou com um ar entediado e eu me surpreendi ao notar que tanto ele quanto Mercedes estavam do lado de Finn, olhando para eu e Rachel com nojo. – Só não imaginava que ambas fossem tão baixas a ponto de traí-lo.

- Se você não calar a boca, Hummel... Vou me esquecer que sou seu amigo e te moer de pancada! – Puck praticamente rosnou do meu lado e eu dei um passo para trás, levando Rachel comigo, Kurt olhava assustado para meu bad boy. Mercedes revirou os olhos e cruzou os braços, assumindo sua tradicional postura de diva bitch ao falar:

- Você costuma se esquecer de todos os seus amigos, Puckerman. É só ver o rosto de Finn agora.

- Finn deixou de ser meu amigo quando começou a falar bobeira para a minha little mama e para minha princesa judia. – Puck retrucou com ódio enquanto tomava a nossa frente e dava um passo em direção a Finn. O quaterback frustrado se afastou e Kurt e Mercedes tomaram a frente da discussão. – E ninguém fala besteira para essas duas enquanto eu estiver por perto.

- Ah claro, eu tinha me esquecido que, entre os três, a traição é algo praticamente sagrado não é? – Kurt estava ferino em suas palavras e elas me feriram, eu vacilei em minha postura e Rachel percebeu. A pequena atrás de mim encostou a boca em minha nuca e beijou ali, um arrepio gostoso percorreu meu corpo e eu voltei a ter forças enquanto ela murmurava:

- Ignore, o que aconteceu antes não importa.

- Eu não duvido nada se os três estiverem ficando entre si, Kurt. – Mercedes completou com um tom maldoso que me fez ter asco dela. Eu fiz uma careta de ódio e Puck teve que chutar o chão para não bater em ninguém. Procurei me recuperar daquele monte de asneira que foi dito, mas antes que eu pudesse nos defender, Rachel tomou a frente e me puxou pela mão.

Olhei surpresa para ela que, agora, tinha uma expressão obstinada e corajosa. Os olhos castanhos estavam semicerrados e a postura tencionada, um brilho diferente exalava dela enquanto ela lambia os lábios. Rachel fechou os olhos e respirou fundo, depois, virou-se para Mercedes e Kurt. E eu não gostaria de receber o olhar que ela lançara... Porque ele era de pura decepção.

- Vocês dois não tem o direito de falar assim. Todo mundo erra em algum momento da vida e vocês não são alguém e muito menos, são Deus para que possam julgar a mim, a Quinn e a Puck! – Rachel dissera tudo de forma tão furiosa e tão agressiva que Mercedes e Kurt se encolheram de encontro a um e outro. Depois, ela virou-se para Finn e soltou minha mão. Caminhou decidida até ele, Finn tentou se afastar, mas esbarrou na própria caminhonete. – E você, Finn Hudson, perdeu todo o meu respeito ao virar todo o Glee contra mim e Quinn. Você é covarde e eu tenho nojo de, um dia, ter deixado você me tocar. Aliás, eu tenho nojo por ter cogitado amar você. Eu te odeio, ok? E quero que você fique bem longe de mim e Quinn!

Dizendo isso, Rachel deu às costas aos três e tomou a minha mão mais uma vez, ela entrelaçou nossos dedos enquanto caminhava bufando até meu carro. Puck apressou o passo para nos acompanhar, mas desapareceu assim que viu o estado emocional de Rachel.

- Rachel? – Ela sequer me respondeu e continuou a me puxar sem cerimônia até o carro, eu tentei firmar meus pés no chão e não consegui, tamanha a força que ela estava aplicando em me levar até lá. – Rachel!

Tive que gritar para que ela parasse e assim ela o fez. Rachel se virou abruptamente para mim e os olhos dela estavam marejados naquele momento. Eu não fiz nada além de aproximar-me dela e envolvê-la em um abraço. Rachel apertou minha cintura com força e escondeu o rosto em meu peito, afaguei os cabelos dela e beijei sua testa confusa. Rachel separou-se de mim brevemente e me olhando, pediu:

- Me tira daqui, por favor.

- O que foi, pequena? O que Finn fez para você? – Perguntei com um leve desespero na voz, seja lá o que fosse que estava nos olhos dela, estava me machucando e desenvolvendo um sentimento homicida em mim. Rachel afagou meu rosto e beijou meus lábios de leve, aquela energia percorreu meu corpo, acordando até pedaços de mim que eu sequer sabia que existiam. Rachel separou-se apenas um pouco de mim e eu sustentei seu peso quando ela ficou na ponta dos pés para me olhar.

- Lembra quando eu te disse que meu sentimento por você era egoísta? – Rachel me perguntou com um sorriso triste nos lábios, eu acenei com a cabeça e encostei nossas testas, limpando uma lágrima solitária que escorreu por sua bochecha esquerda. – Pois bem, ele é tão egoísta que eu estou disposta a perder meus amigos por você.

- Eu nunca pedi para você escolher entre eu e eles, Rach... – Respondi sôfrega porque, mesmo querendo-a para mim, eu não sabia se minha estada seria longa o bastante. Rachel precisaria dos amigos para se reerguer quando eu não mais estivesse ali. Ela olhou ofendida para mim e eu abri a boca para me desculpar, até que ela me interrompeu e, olhando intensamente em meus olhos, disse resoluta:

- Eles estão me obrigando a escolher, Q... E eu sempre, sempre vou te escolher.

Eu não contive o meu sorriso e o dela veio logo em seguida. Puxei Rachel para perto de novo antes de aplicar um beijo saudoso em seus lábios, apertando meus braços ao redor dela, sentindo aquele corpo pequeno e moreno se encaixar perfeitamente no meu. As mãos dela desenharam meu rosto quando nos afastamos e eu, imersa em meu mundo, nem escutei o carro de Finn sair cantando pneus dali.

Não existiam “eles”, a partir de agora, éramos só “nós”. Porque, dessa vez, ela me escolhera.


###


- Para onde estamos indo? – Era a terceira vez que Rachel me perguntava, ela estava bastante ansiosa e eu só conseguia rir da sua curiosidade. Aquela morena ficava extremamente fofa quando mordia o lábio e olhava desesperada pela janela a procura de um sinal.

Parei o carro ao lado da calçada e saí com um sorriso misterioso dos lábios. Abri a porta para ela do lado do passageiro e ofereci a mão, Rachel aceitou com um sorriso nos lábios enquanto eu a puxava para fora. Seus olhos correram pelas redondezas e encontraram o cinema antigo, com uma pequena fila na frente. Sorri quando vi os olhos dela se iluminarem, abracei a sua cintura pelas costas e o corpo dela veio de encontro ao meu peito. Beijei sua bochecha e murmurei em seu ouvido:

- Aceita ver um filme comigo, Srta. Berry?

- Claro que aceito, Fabray... Mas por que não estamos no cinema mais novo da cidade? – Rachel perguntou curiosa e virando-se para mim, eu sorri para ela e a puxei para que atravessássemos a rua. Entramos na fila com sorrisos no rosto e um casal de idosos a nossa frente sorriu para nós. Entrelacei sua mão a minha e beijei seus dedos antes de responder:

- Porque naquele cinema está passando filmes dos quais eu me envergonharia se te levasse para ver.

- Ah é? Então o que nos traz a esse cinema, Quinn? – Rachel perguntou divertida e eu não me contive, apertei sua mão e a puxei para perto de mim. Rachel soltou nossas mãos apenas para abraçar a minha cintura enquanto eu massageava sua nuca. O casal de idosos a nossa frente continuava a rir de nossa interação. Beijei-lhe o topo da cabeça e murmurei:

- Digamos que hoje estou um pouco romântica. Vamos ver uma história de amor.

- Essa é melhor que a nossa? – Rachel perguntou tímida e eu vi as bochechas dela se tornarem vermelhas... Quer dizer que nós duas já tínhamos uma história de amor? Gargalhei diante do rubor dela e recebi alguns beliscões na cintura em troca, a puxei para ficar em frente a mim e beijei seus lábios levemente, me afastei apenas o necessário para dizer:

- Digamos que é eterna, como a nossa.

- Ser eterna não a faz melhor que a nossa, Quinn. – Rachel respondeu teimosa, mas eu vi que ela brincava quando disse isso, porque o sorriso brilhante mais uma vez veio aos lábios e eu abaixei a cabeça, rindo dela. Rachel me puxou pela mão e peguei nossos bilhetes antes de entrar.

Percorremos um curto corredor até a sala de exibição do pequeno cinema antigo. Passei direito pela pipoca, tinha um ideia melhor para nosso jantar e nos conduzi até as cadeiras mais altas da sala. Rachel se acomodou e eu me sentei logo depois, ergui o descanso para braço que nos separava e logo ela se aconchegou ao meu peito. Eu apoiei meu queixo sobre a cabeça dela e antes do trailer tomar a tela, disse sorridente:

- Nada vai ser melhor do que nós, Rach.

Ouvi o suspiro dela e me aconcheguei na poltrona, logo, o título “Brilho Eterno de Uma Mente Sem lembranças” tomou a tela e eu me preparei para duas horas de um filme que, mesmo tratando de amor, parecia pequeno diante do que eu estava começando a viver com aquela morena em meus braços.



- Eu não acredito que você me trouxe pra ver um filme estupidamente nerd sobre amor, Quinn Fabray! – Rachel estava reclamando enquanto tentava esconder as lágrimas que ela derrubara (e eu fingira não ver) durante o filme. Eu gargalhei e abracei seus ombros, ela não negou contato enquanto atravessávamos a rua e apertou-se junto a mim. Eu apertei seu braço e disse defensiva:

- O fato de ter cientistas, máquinas de esquecimento e voltas no tempo não tiram a beleza do filme.

- Mas também não tiram o fato de ele ser nerd, Fabray. – Rachel murmurou indignada, afundando a cabeça em meu ombro e respirando quente ali. O vento bateu em nós e Rachel tremeu, parei abruptamente e tirei minha jaqueta, jogando-a sobre os ombros dela. – Você vai passar frio, Quinn. Pegue de volta.

- Eu acho que você pode me esquentar, Rach. – Murmurei com um sorriso, antes de escutá-la rir ao me abraçar de novo. Eu nos conduzi para longe do carro, até uma pequena confeitaria que ficava na esquina da rua do cinema.

Aquela era uma rua antiga de Lima, eu costumava vir ali com Santana e Brittany. Nós vínhamos escondidas para assistir filmes antigos no cinema e depois, comer alguma bobeira na confeitaria. Meio que eram nossos encontros onde podíamos ser nós mesmas. Longe da escola e de toda popularidade, eu podia ser a Quinn nerd, Santana podia amar Brittany e Brittany podia perseguir fadas sem parar. E nada melhor do que dividir aquilo com Rachel.

Segurei a porta para que Rachel entrasse na confeitaria, ela sorriu e agradeceu com um aceno, depois, entrei e segurei sua cintura, conduzindo-a até uma mesinha no fundo do local. Era um pequeno estabelecimento, com o mesmo ar antigo do cinema e com um cheiro doce no ar. Puxei a cadeira para que Rachel se sentasse, depois, contornei a mesa e fiz o mesmo. Rachel sorriu para mim e disse:

- Sabe, você não precisa ser tão cavalheira o tempo todo.

- Desculpa, veio no pacote. – Respondi um pouco sem graça e ela apenas gargalhou da minha ligeira timidez. Rachel apertou minha mão por cima da mesa e murmurou envergonhada:

- É que você já me deu flores, abre portas para mim, canta... Sério, Quinn. Posso saber da onde veio tanta perfeição?

- Não sei, é só você que me faz ter vontade de ser cada vez melhor. – Respondi com as bochechas vermelhas e desejando não bancar mais a idiota, meu coração estava quase explodindo em meu peito e eu só conseguia olhar para ela. Rachel inclinou a cabeça e esticou o pescoço para tocar meus lábios novamente, segurei seu rosto entre minhas mãos, não a deixando se afastar.

Só nos separamos quando a dona do local veio anotar nossos pedidos. Rachel sorriu radiante e pediu um chá, eu pedi café e um bolo vegan de chocolate para nós duas. Comemos em silêncio e trocamos sorrisos e olhares durante todo o tempo. Em alguns momentos, eu apenas a observava mastigar com um olhar de adoração.

Tudo que ela exalava era tão perfeito, tão forte, tão real... Eu não queria que aquilo tivesse fim. Naquele momento, com Rachel naquela confeitaria, observando-a deliciar-se com um bolo de chocolate... Eu desejei desistir do eterno por ela. De repente, a eternidade não mais importava porque meu presente estava ali, preso nas mãos dela e em cada toque e beijo que ela me dedicava.

Eu não conseguiria abandonar a força dela, muito menos, a vida que ela trazia dentro de si. Rachel era construída de brilho, luz e esperança. Rachel tinha tudo que eu precisava. Era crueldade demais dar a felicidade a alguém e depois tirá-la, não era? Eu suspirei pesado quando ela ergueu aqueles olhos castanhos perfeitos para mim. Dei meu melhor sorriso e pisquei para ela.

Rachel sorriu e encolheu-se envergonhada, sem deixar de beijar minha mão. Ri da marca de chocolate que ela deixou em minha mão, fazendo-a jogar um guardanapo em mim. Depois, ela limpou delicadamente ali, antes de levantar-se do seu lugar e sentar ao meu lado, beijando minha bochecha e afundando o rosto em meu pescoço.

Aquela respiração quente, aquele toque único e aquele momento só me convenceram que a eternidade era pouco se ela não estivesse comigo.



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Notas finais do capítulo

O que acharam, pessoas?
Perceberam que, mesmo com Rachel, a Quinn sofre não é? :/
Mas mesmo assim, o que acharam de Faberry nesse capítulo?
Comentem, please! *-*
Beijos e até a próxima.



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