Everlasting escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 10
Capítulo 9: Tempo


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!
Antes de falar sobre esse capítulo, peço que me perdoem pela demora. Eu realmente estava me amaldiçoando pela demora nas fanfics, mas eu ando sem tempo algum para escrever. Esse, inclusive, foi escrito em cerca de 2 horas e espero que tenha ficado bom.
De qualquer forma, espero que gostem desse capítulo. Ele não é tão bom quanto o anterior, mas é tão cheio de emoções quanto.
Peço que, por favor, escutem "A Thousand Years" (Christina Perri) quando forem ler, vai ajudar no final.
Boa leitura!



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25 de novembro de 2011. Lima, Ohio.

“And I just want to stay with you, in this moment forever, forever and ever.”

(I Don’t Want Miss a Thing, Aerosmith)

            Mamãe não brigou comigo quando viu o bilhete de Figgins a respeito da suspensão colado na porta da geladeira, ela chegou até a dar risada quando eu disse que tinha arranhado Finn Hudson e que Santana dera um soco nele, logo após Puck moer a cara dele com alguns murros bem dados. Judy Fabray estava me surpreendendo ao apoiar minhas loucuras e as loucuras de meus amigos. Ela simplesmente pediu para que eu não saísse de casa no meu primeiro dia de suspensão, era o mínimo que eu poderia ter de “castigo”.

            E eu não saí, por mais que a vontade e o desespero para sair atrás de Rachel fossem maiores. Por mais que meu coração gritasse e batesse descontrolado com o simples pensar nela, eu fui obediente e fiquei. Na verdade, eu fiquei mais por medo do que por qualquer outra coisa.

            Eu sei... Nós duas vivemos algo muito intenso após a música, mas o simples fato de ela ter saído sozinha e sem dizer uma palavra para mim tinha destruído as poucas esperanças e o pouco conforto que, a muito custo, eu consegui reconquistar. As palavras de Finn foram o golpe de misericórdia para mim. E eu estava começando a me questionar se eu realmente tinha “voltado” por Rachel.

            Nada mais fazia sentido. A cada passo que eu dava, ela caminhava para longe. A cada tentativa de afastá-la de Finn, ela caminhava ainda mais na direção dele. A cada demonstração daquele maldito amor incondicional que eu trazia em meu peito... Ela me dava às costas, pisava em meus pedaços enquanto eu lutava para me manter viva quando sabia que podia morrer a qualquer hora.

            Sim, admitir não estava mais doendo agora. Porque, depois da saída dramática de Rachel do Glee na tarde passada... Eu estava começando a me acostumar com a sensação de vazio que me tomava toda vez que eu pensava nela, era uma dor familiar, tristemente conhecida e reconhecida. Porque, afinal, eu voltei cedo demais. Ainda não era hora para ela admitir que gostava de mim. Rachel ainda estava presa a Finn e não seriam flores, bilhetes e rosas que a separariam dele. Os dois tinha uma história enquanto eu e Rachel nada tínhamos além de um provável “eu te amo” a beira de um caixão.

            Havia um muro invisível entre nós, o medo não permitia que tomássemos a decisão mais sensata para nossos corações. Mas era ainda pior porque o tempo se erguia, amedrontador e sufocante, obrigando-me a desabar toda vez que pensava em passar por aqui sem ela... Novamente. Eu estava vivendo sem ela, sabendo do meu sentimento e mesmo assim, estando sem ela. Era como se nada mudasse, mas a dor aumentasse. Porque agora eu sabia o que sentia e o que o futuro me aguardava.

            Droga.

            Afundei a minha cabeça no travesseiro enquanto o meu celular tocava sem parar, provavelmente, era Santana me ligando pela vigésima ou trigésima vez. Mas por mais que eu a adorasse e a Puck também... Eu precisava ficar sozinha quando a minha mente vagava para aquela porção escura. Naquela porção escura, totalmente vazia em que a única coisa que parecia sobreviver era o tique-taque incansável em minha cabeça, assim como o frio sem proporções que quase congelava meus ossos.

            Meus braços arderam, mais uma vez. Eu os esfreguei com força e me virei de bruços sobre o colchão, com a esperança de que a pressão de meu corpo acabasse com aquela dor chata e desconfortável. Fechei meus olhos, respirei fundo e tentei achar um pouco de coragem. Uma coragem e uma força que eu já não mais possuía.

            Até mesmo o coração mais otimista e o melhor dos sentimentos podiam sucumbir diante da renúncia e do medo. Eu não queria desistir e juro que estava lutando contra tudo, mas eu estava cansada e a bandeira branca parecia ser a melhor opção no momento. Eu estava começando a ver que Rachel sofria, aquela situação não se resumia só a mim. E talvez, fosse justamente por isso que estava dando errado. Estávamos presos em uma armadilha, eu, Rachel e Finn estávamos vivendo juntos um tipo sentimento que só cabia a dois.

            Será que não era eu que estava no lugar errado e principalmente, na hora errada? Se fosse, eu voltei pelo quê, afinal?

            Ah como eu queria as respostas para todas as minhas perguntas... Era melhor do que ficar calada, no escuro, tendo que enfrentar meus medos e minhas dores sozinha. Se antes o amor me dava forças, agora ele sugava cada ponto vital de mim.

            Procurei me entregar ao sono, mas ouvi batidas na porta de entrada. Procurei ignorar, jogando meu edredom por cima da cabeça, mas a pessoa parecia ser incansável. Levantei, após alguns minutos, completamente irritada e com a cabeça girando. Procurei me apoiar no corrimão enquanto descia as escadas e abri a porta de supetão, quase arrancando das dobradiças. Na soleira da porta, meu melhor amigo me olhava entediado e com um sorriso triste. Coloquei as mãos na cintura e perguntei indignada:

            - O que faz aqui, Puckerman?

            - Alguém tinha que ver se você estava viva depois de ignorar todas as nossas chamadas. – Puck estava me bronqueando ou era impressão minha? Ele deu um passo e entrou em minha casa, tomando a maçaneta de minhas mãos e fechando a porta atrás de si. Arqueei a sobrancelha para ele e Puck apenas me puxou, colocando-me sentada na poltrona da sala. – Santana até iria vir, mas eu descobri que ela morre de medo de você quando fica brava.

            Não contive o riso e abaixei a cabeça, com as mãos sobre a testa enquanto tentava diminuir o ressoar da minha risada em minha dor. Ouvi a gargalhada rouca de Puck próxima a mim e quando percebi, meu punk estava sentado no descanso para braços da poltrona, afagando meus cabelos e me puxando para seu colo. Lentamente, fui me rendendo e fechando os olhos. Minha respiração se acalmou e a simples presença de Puck ali tornou as coisas mais fáceis.

            Era como se eu estivesse subindo uma escada com dificuldade e ele, mesmo firme e forte, estava disposto a caminhar ao meu lado, me puxando pelos braços e me fazendo caminhar e subir no mesmo ritmo que ele. Puck estava se revelando uma força descomunal para mim, ele era meu super-herói, de verdade.

            - Santana tem medo das pessoas quando elas perdem a cabeça antes dela... – Murmurei com a voz abafada pelo tecido de sua camisa, Puck riu novamente e a vibração no peito dele me fez aconchegar ainda mais próxima aos seus braços. – Aliás, o Lima Heights Adjacents dela não funciona comigo.

            - Deveria funcionar, a última vez que duvidei das origens dela, quase perdi o grande Puckerman. – Puck respondeu com um leve tremor na voz e novamente, eu tive que rir da referência que ele fez ao seu órgão genital. Puck acabou rindo da própria piada e nós dois ficamos calados enquanto tentávamos recuperar o ar, nossos olhares se encontraram e ele pareceu me ler como nenhuma pessoa conseguia.

            Santana era minha protetora, mas Puck era algo mais... Era como se ele fosse minha força, meu alicerce. Me aconcheguei ainda mais ao colo dele e senti quando os dedos calosos e ásperos deles tocaram minha nuca. Puck remexeu em meus cabelos e respirou fundo, mesmo sem olhar para ele, eu soube que ele estava procurando a melhor forma de se expressar. E quando ele respirou fundo, eu tive certeza que ele ia perguntar algo.

            - Quer falar sobre Rachel?

            - Você quer falar sobre ela? – Joguei a pergunta de volta, ela queimou em meu peito, mas eu ainda não estava pronta para abrir a boca e sair despejando em cima de outra pessoa todos os meus temores e minhas dores. Ergui a cabeça do colo dele e o encarei um pouco fria, Puck franziu a testa insatisfeito e bronqueou:

            - Você precisa começar a falar dela em algum momento.

            - Pelo visto, Santana errou quando disse que você esperaria que eu tocasse no assunto. – Murmurei desconfortável e cruzando as pernas sobre a poltrona, Puck revirou os olhos e bufou impaciente. Ele saiu do meu lado e se jogou no sofá de couro da sala, me encarou com um pouco de raiva antes de retrucar:

            - Eu costumo esperar quando a pessoa está disposta a falar. Mas quando as coisas saem do controle e minha melhor amiga começa a sofrer, eu decido intervir.

            - Eu estou bem, passei por coisas piores e ainda estou viva, não estou? – Sim, eu estava sendo irônica. Eu sabia como esse meu tom irritava Puck e percebi quando os lábios dele se crisparam. O olhar de lado que ele me deu derrotou toda a minha posição ofensiva, ele estava magoado e decepcionado. Mas eu tinha culpa por estar cansada de lutar? Desviei meus olhos dele enquanto o ouvia falar:

            - Quinn, você não está bem e está assim desde o nosso primeiro ano, quando eu te engravidei. Ninguém tentou te ajudar, sempre nos preocupamos com os outros quando você era a mais quebrada ali.

            - O que está querendo com essa conversa, Puckerman? – Eu odiava quando virava um monstro, mas essa sempre fora a minha forma de defesa e não seria agora que ia mudar. Fiquei em pé, posição tensionada, ar pesado e respiração ofegante. Minha cabeça ainda girava, mas agora, era por ter meus sentimentos e minhas dores cuspidos em minha cara.

            Puck sempre me lera melhor do que qualquer um ali. Fora por isso que ficamos juntos no primeiro ano e fora por isso que ele decidiu gritar comigo quando sumi com as Skanks. Puck podia ser um cachorro com qualquer garota do McKinley, mas a sinceridade dele regia seus passos e ele estava sendo sincero comigo.

            Vi meu amigo se levantar pesadamente, com o corpo cansado e as mãos trêmulas. Puck se aproximou e agachou a minha frente, depois, beijou a minha testa e deu um sorriso de lado. Seus olhos castanhos estavam brilhantes e eu podia saber pela sua respiração pesada que ele se esforçava para não chorar. Afaguei seus olhos e ele se levantou. Puck beijou minha mão e com a voz embargada, disse:

            - Por favor, Q... Não deixe a única pessoa que lutou por você ir embora.

            Minha face transformou-se em uma máscara de confusão, o observei caminhar até a porta e acenar para mim antes de sair enquanto minha cabeça pesava e eu me jogava na poltrona, olhando para o teto. Puck estava me pedindo para continuar? Eu até estaria disposta senão estivesse tão quebrada.

            Como juntar os pedaços de um coração?

***

            Fiquei me perguntando isso enquanto o dia tomava fim em Lima, o sol se pôs e eu o observei através da imensa janela da sala. Abracei meus joelhos e balancei meu corpo para frente e para trás. O silêncio da casa, misturado aos sons abafados de minha respiração fizeram com que todas as minhas fraquezas viessem à tona.

            As lágrimas tomaram a minha face enquanto eu respirava com dificuldade. O gosto salgado chegou aos meus lábios, no mesmo instante que a amarga desilusão tomava meu coração. Apertei-me de encontro a minhas pernas, na esperança de encontrar um contato corporal que substituísse as mãos dela em meus ombros. Fechei os olhos, procurando entre as lembranças, a mais forte para que pudesse sufocar aquela sensação vazia e desumana em meu peito.

            Se afastar de Rachel me fazia menos humana. Longe de Rachel, parecia que eu estava vagando sem rumo naquela volta.

            Suspirei, prendi meus braços ao meu redor e tornei a abrir meus olhos. A casa estava escura e, colocando-me em pé, fui ligando as luzes para esperar minha mãe. Estava ao pé da escada, secando minhas lágrimas, quando a porta da frente se abriu e eu ouvi minha mãe anunciar animada:

            - Quinn? Temos visita!

            Arqueei a sobrancelha e parei de caminhar, virando-me em direção a voz de minha mãe. Parei em frente ao espelho do corredor e procurei melhorar minha expressão, secando as lágrimas remanescentes e tentando fazer o vermelhidão de meus olhos desaparecer. Fui até a cozinha joguei um pouco de água em minha nuca e rosto, depois, me virei e caminhei até o hall de entrada.

            Minha mãe estava bloqueando a minha visão enquanto ajudava o recém-chegado a pendurar o casaco em nosso armário ao lado da porta. Revirei os olhos e cruzei os braços, esperando pacientemente. Por fim, minha mãe se virou sorrindo para mim e se aproximou, me abraçando e perguntando:

            - A mão melhorou?

            - Não melhorou, mas tampouco doeu. Só acho que preciso trocar o curativo. – Respondi gentilmente, era impossível tratar minha mãe mal depois de tudo que compartilhamos juntas. Eu a apertei em meu abraço e afundei minha cabeça em seus ombros, ela apertou e me beliscou na barriga, me fazendo rir. Judy Fabray se afastou quando escutou um pigarro atrás de si. O cheiro de minha mãe me trazia tanta tranqüilidade que eu cogitei mandar o visitante a merda e ficar sozinha com ela.

            Mas me calei quando escutei a voz.

            - Me desculpe, Sra. Fabray... Mas eu poderia ficar a sós com Quinn agora?

            Rachel Berry estava pedindo para falar comigo. Abri os olhos abruptamente e quase empurrei minha mãe, porém, Judy Fabray pareceu perceber minha aura agressiva e me segurou antes que eu pudesse avançar contra Rachel. Minha mãe deu um dos seus sorrisos afetados e respondeu:

            - Pois bem, Rach... Troque o curativo de Quinn, eu acabei de lembrar que tenho que ir ao supermercado. Afinal, era para lá que eu ia antes de te encontrar...

            - Mãe, você não vai me deixar sozinha com ela! – Resmunguei indignada enquanto acompanhava os passos de minha mãe, ela pegara as chaves da casa e do carro e voltara a jogar o casaco sob os ombros. Eu tentei segurá-la, mas ela saiu do meu aperto e bateu a porta em minha cara.

            Eu pude escutar o trinco se fechando. Estava sozinha com Rachel e trancada.

            Permaneci olhando para a madeira branca da porta, completamente atônita pelo que minha mãe fizera. Respirei fundo e encostei minha testa na madeira, tentando entender a confusão que se instalara em mim. Deveria me virar e, mais uma vez, tentar falar com ela? Ou simplesmente deveria ignorá-la para me proteger?

            Optei por uma terceira opção. Apenas me virei e encostei meu corpo na porta, olhei atentamente para Rachel que me retribuiu o olhar com intensidade. Ela deu um passo vacilante em minha direção, ergui a mão, pedindo-a para parar enquanto perguntava em um fio de voz:

            - O que você quer?

            - Você andou chorando? – Rachel ignorou a minha pergunta e tornou a dar mais um passo. Fechei meus punhos e dei um pequeno murro na madeira, Rachel assustou-se e recuou. Eu grunhi, sentindo a dor em minha mão latejar, respirei fundo e, com toda a dor transbordando dentro de mim, respondi sarcástica:

            - Claro, Berry. Eu tenho alguns pedaços de vidro dentro de mim.

            - Sabe muito bem que eu não estou me referindo ao episódio com o espelho. – Rachel respondeu de mau grado, pude presenciar sua expressão sair da preocupação ingênua para o ego ferido. Eu não pude me conter, meu lado amargo e negro começou a gargalhar ironicamente. Ergui meus olhos e arqueei a sobrancelha para ela. Rachel franziu a testa, irritada. – E pare de bancar a idiota, Quinn.        

            - Eu não estou falando dos cacos de vidro do espelho, Berry. Achei que fosse esperta o bastante para saber que o meu coração já não é dos mais fortes. – Minha voz saiu mais fria do que eu pretendia, mas não pude deixar de conter aquela agonia e aquela dor destruidoras que me tomaram a vitalidade e a esperança naquela tarde. Eu simplesmente tinha que fazê-la vir para mim e parecia que a dor era a única coisa verdadeira que podia nos unir.

            Rachel agitou a cabeça negativamente, ela se aproximou decidida dessa vez e ignorou meus pedidos mudos de afastamento. Ela apanhou minha mão sadia e com uma força desproporcional para seu tamanho, me puxou para a cozinha. Apanhou o kit de primeiros socorros em cima da mesa de jantar e molhou uma bola de algodão em iodo. Depois, retirou minha atadura e passou a trabalhar.

            Sua expressão saiu da dura concentração para a cruel tristeza quando ela viu o estado de minha brincadeira. Os cortes, apesar de não serem profundos, sangravam e com certeza, deixariam uma cicatriz. Ri ironicamente diante da probabilidade de ter mais uma cicatriz em uma situação como aquela. O som da minha risada fez Rachel voltar a atenção para meu rosto, ela fechou a expressão e murmurou irritada:

            - Você pode, por favor, parar de agir como senão se importasse?

            - Talvez eu já não me importe. – Respondi fria e ela apertou a bola embebida em iodo sem medo em meu machucado, mordi os lábios para sufocar a profusão de xingamentos que viriam por causa da dor, mas não economizei no olhar furioso que lancei a ela. Ela retribuiu e deu um sorrisinho orgulhoso de lado, me contive para não avançar sobre ela. – E não sei porque você se importaria.

            Rachel cessou seus movimentos bruscamente. Em seguida, ela jogou a bola de algodão na pia e virou-se de costas para mim. Eu quase sorri pela fuga iminente dela, Rachel era incapaz de enfrentar as coisas por mim. Porém, para minha surpresa, ela tornou a se virar para mim. Estranhamente mais calma. A aura dela parecia embebida em tranqüilidade quando ela me disse:

            - Eu vou terminar de fazer seu curativo. Depois disso, você pode me expulsar daqui.

            Eu não consegui dar uma resposta a altura para ela, até porque... Seus movimentos mudaram e tudo que ela fez comigo, em seguida, passou a ser envolvido por uma áurea de delicadeza que em nada se assemelhava a crueldade que antes estivera entre nós. Observei quando as pontas dos dedos dela correram sobre meus cortes, o toque dela em minha pele sensível fez meu coração teimoso agitar-se dentro do meu peito.

            Mais uma vez, ela pegou o algodão iodado e passou pelo meu ferimento, foi tudo suave dessa vez. Em seguida, percebendo meus gemidos contidos de dor, ela apenas os assoprou e o ar quente que veio dela pareceu ser o sopro de vida que eu precisava. Nossos olhares se encontraram quando ela ergueu o próprio a procura da gaze para fazer o curativo.

            Inconscientemente, eu dei um passo em sua direção. Rachel era um ímã que me atraía, muitas vezes, me atraía para o desespero e para a insanidade, mas era o que me completava. Eu tentei tocá-la, mas ela se afastou, colocando a gaze sobre o meu ferimento enquanto quebrava, mais uma vez, meu coração. Deixei meu corpo cair cansado de encontro ao balcão de mármore e observei, segurando as lágrimas, ela terminar seu trabalho.

            Assim que aplicou o último esparadrapo e envolveu, novamente, minha mão com a atadura, Rachel alisou as pregas da saia e colocou-se a guardar os materiais que usara. Pude perceber que ela estava nervosa, quase mastigava o lábio de tanto desespero. Dessa vez, me aproximei sorrateiramente e envolvi uma de suas mãos com a minha boa. O olhar que Rachel me lançou quase me derrubou.

            Era puramente amor.

            Ela podia não pronunciar em voz alta, ela podia fugir... Mas seus olhos nunca mentiram e ela me queria tanto quanto eu a queria. Nós demoramos para sair de nosso torpor, mas saímos quando Rachel procurou se afastar de mim e eu a puxei para mais perto. Envolvi a mão machucada em sua cintura e juntei nossas testas. A respiração dela tornou-se ofegante e eu sorri, apertando sua outra mão entre as minhas. Rachel mordeu o lábio e, apertado a sua cintura, murmurei suplicante:

            - Fale comigo, me explique, surte, grite... Mas por favor, não fuja de novo.

            Rachel ainda me olhou por alguns minutos até que conseguiu baixar os olhos. Eu respirei fundo, sentindo o sangue jorrar dentro de mim enquanto eu tentava fazer minhas lágrimas continuarem internas. Foi, então, que senti suas mãos em minha cintura, me puxando para perto. Rachel beijou meu queixo e me olhou séria, separou-se apenas para dedilhar minha bochecha e perguntar cansada:

            - Como eu ainda teria coragem de fugir de você?

            - Rachel? – Chamei confusa, afinal, eu já não entendia mais nada do que acontecia entre nós. A primeira negação me fez duvidar da magia que nos unia, eu tinha dado um tom tão terreno para o que tínhamos... Mal sabia eu que, o amor que eu sentia por ela, era de natureza celestial. Rachel sorriu para mim e inclinou a cabeça, depois, escovou meus cabelos e aplicou mais um beijo, dessa vez, em minha bochecha. Ela separou-se de mim para se apoiar no balcão e disse:

            - Eu não consigo parar de pensar em você, Quinn. E isso não aconteceu de ontem para hoje. Isso vem acontecendo desde aquele dia que você desmaiou... O que você fez comigo, Quinn? Por que eu não consigo mais enxergar Finn como antes?

            Eu não consegui responder, minhas palavras morreram antes de chegar aos meus lábios. Como eu colocaria em palavras tudo que eu via acontecer entre nós? Como eu falaria sobre um sentimento que fora capaz de barrar a morte e me trazer a vida novamente? Como falar de amor sem ser clichê? Rachel continuou a me olhar, ela abraçou os próprios ombros e continuou:

            - Eu só consigo sentir suas mãos envolvendo meu corpo, eu só consigo me lembrar dos nossos poucos beijos enquanto tive muitos com Finn... Eu só consigo escutar a sua voz quando alguém canta, eu só consigo te ver comigo quando estou com Finn. Por que fez isso, Quinn? O que você ainda quer de mim?

            Mais uma vez, sem palavras. Eu observei, inapta para qualquer coisa, quando Rachel desabou em minha frente, derramando lágrimas que eu suspeitava terem sido guardadas há alguns dias. Rachel ergueu os olhos marejados para mim e se desencostou do balcão, ela voltou a invadir meu espaço pessoal e brincou com a barra da minha camisa. Quando dei por mim, ela tinha afundado o rosto em meu peito.

            Rachel me abraçou e bateu em meus ombros. A dor física nada se comparava ao ver que ela chorava inconsolável a minha frente. Procurei segurar seus braços, mas ela se desvencilhou e deu um passo para trás. Ela me olhou, ferida e disparou indignada:

            - Você está me tirando a sanidade, Quinn. Eu terminei com Finn porque eu não consegui olhar nos olhos dele hoje. Meu coração tem estado tão maluco que, neste momento, ele só bate acelerado e quase me sai pela boca. Eu não sei de qualquer detalhe de sua casa porque a única coisa que meus olhos viram desde que eu cheguei, foi você. Aliás, você tem sido a única coisa em minha mente, meus olhos e principalmente... Em meu coração.

            Eu engasguei com minha própria saliva. Rachel olhou para mim, frágil e debilitada e eu, imóvel sem conseguir fazer algo. Ela estava assumindo o que sentia, mas me doía ver que parecia sofrer diante disso. Rachel tornou a se aproximar, ela limpou as lágrimas e envolveu meu pescoço com suas mãos pequenas e quentes. Eu sorri para ela enquanto segurava a porção interna de seus pulsos, ela permaneceu séria ao perguntar:

            - O que acha que pode ser isso tudo?

            - Rach, eu...! – Rachel não me deixou responder, ela simplesmente acenou negativamente com a cabeça e tocou os meus lábios com a ponta do indicador. Meus olhos se arregalaram quando ela abriu um sorriso molhado pelas lágrimas e beijou meus lábios delicadamente. Ela se separou de mim com uma mordidinha em meu lábio inferior e rindo, respondeu:

            - Eu te amo, Quinn Fabray. Por que ainda está parada, sem fazer nada?

            Eu não tive muito tempo para pensar, porque o corpo dela me prensou de encontro ao balcão. Rachel lambeu meus lábios e eu ofereci passagem para a sua língua que me levou ao paraíso só por tocar a minha. Encaixei minhas mãos em sua cintura e apertei, arrancando um gemido de seus lábios antes que ela puxasse meus cabelos e conseguisse o mesmo. Chupei sua língua e depois, mordi seus lábios, separando-me dela com pequenos selinhos.

            Rachel abriu os olhos, ainda sorrindo. Beijei seu queixo enquanto ela corava e gargalhava. Algo desconhecido dentro de mim acordou ao escutar a risada dela. A porção negra foi tomada por uma luz intensa e quente, meus braços tremeram quando enlaçaram o pequeno corpo dela e a trouxeram para perto.

            O tique-taque cessou e, em seu lugar, eu escutei os pedaços de meu coração serem reunidos e montados. Quando a mão dela escorregou pelas minhas costas e meus pelos se arrepiaram, eu sorri de verdade, esquecendo-me de dores e sensações que, agora, pareciam tão pequenas. Rachel respirou fundo em meu pescoço e eu afundei meu rosto em seus cabelos, aquele perfume doce inesquecível me entorpeceu e eu disse entre sorrisos:

            - Eu também te amo, Rachel Berry.

            Rachel apenas se afastou de mim e olhou fundo em meus olhos, antes de colar nossos lábios de novo.

            Depois de tantas palavras, os beijos pareciam falar por nós. Afinal, palavras custavam tempo quando eram mal interpretadas e tudo o que nós não tínhamos, era o tempo. Mas, por alguma razão, os minutos pareciam mais longos agora.

            Rachel estava sendo meu relógio vital e eu sabia que, o meu tempo com ela, seria longo. Ela era minha agora e, enquanto eu escutava as minhas dores serem caladas pelos suspiros dela e o buraco negro dentro de mim ser preenchido por sua estrela dourada, a única coisa que eu sabia era que o tempo estava ali.

            Ainda era o tempo, cruel e impetuoso. Mas era o tempo que eu tinha com ela e depois de extinguido o medo, ele parecia ainda mais longo para nós duas.

            Quem sabe, poderia ser até eterno.

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Notas finais do capítulo

O que acharam? Esperavam isso da Rachel? hahaha
Espero que comentem viu.
Beijos e até a próxima (:



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