Capítulo 13

   Melanie era muito legal. Não fazia ideia de como a irmã de Nick fosse tão diferente dele. É como Gabi é diferente de Luke. Como Ann e eu somos diferentes. Já deu pra entender. E eu podia falar com ela coisas que eu não podia falar com Katie. A festa vai ser bem mais divertida.

   Enfim, o que eu quero dizer é que é ter amigas de outros lugares. Tipo, eu não posso contar com Katie pra tudo o que eu faço. Tá, pra maioria das coisas, mas não pra tudo. E foi realmente muito bom passar um tempo longe de Jeff. Mas, agora eu tenho que fazer o meu dever de história. Digamos que, eu tenho meus métodos pra fazer o Sr. Schmidt me dizer com antecedência os dias das provas surpresa.

   Depois de uma longa noite, o dia não podia ser diferente. O despertador tocou, eu não acordei, Ann invadiu o meu quarto e jogou um copo de água na minha cara. O dia começou bem. Quando ela está irritada, ela joga café quente. Se você nunca foi atingido por um copo de café quente ao acordar, considere-se uma pessoa de sorte. Deixei Jeff bem no fundo da minha gaveta de meias, pois tinha certeza de que não ia querer vê-lo hoje na escola. Eu sei, minha vida tá uma confusão, estou apaixonada pelo namorado da minha melhor amiga, minha mãe está enfeitiçada, dei um fora no cara mais popular da escola e ainda por cima tenho um gênio super irritante morando no meu quarto. Mas, pela primeira vez em muito tempo estou... não feliz, mas quase isso. Mais confiante. Eu estava perdendo muito com uma vida sem riscos. Uma vida sem riscos é uma vida entediante.

   Na escola, aconteceu do jeito que eu previra ontem de noite. Na primeira aula, o Sr. Schmidt anunciou que teríamos uma prova surpresa, mas que bom que eu estava preparada. Porém, eu estava ansiosa para que chegasse o almoço, pois eu precisava ter uma conversinha com Katie.

   Não vi Will nos corredores, mas todo mundo que passava me cumprimentava. Diziam que estavam ansiosos para que chegasse sábado. Se eu soubesse que uma festa assim me deixaria tão popular, teria feito isso há muito tempo.

   Finalmente o almoço. Vi Katie sentada no fundo do refeitório, falando no telefone. Eu conhecia aquela cara, ela com certeza estava falando com Chad. Mas, ao me aproximar, percebi que estava errada.

   – Ah, Nick, não diga isso. Você é tão fofo! – Aquela não era a Katie que eu conhecia. A Katie que eu conhecia jamais falaria com aquela voz com alguém que não fosse o namorado dela. – Só um minutinho. Oi Cath! Achei que você não viria! Espera só um pouquinho.

   – Você está falando com Nick? – Tentei parecer despreocupada. Estive fazendo isso muito bem ultimamente.

   – Sim, estou. Por quê? – Disse.

   – Ah, nada não. – Não podia falar com Nick na frente de Katie. Eu tinha que esperar um momento em que eu estivesse sozinha. – Só pra saber. Como está Chad?

   – Bem. – Então ela desligou o telefone. – Que bom que você chegou. Eu estou com uma dúvida terrível!

   Conhecendo Katie, provavelmente não era tão terrível assim. Mas aquela era outra Katie.

   – Eu não faço ideia de que biquíni usar no sábado. Quer passar lá em casa depois da escola? – É. Aquela ainda era a mesma Katie. – Eu estou em dúvida, não sei se uso o da Calvin Klein, ou... – E ela foi falando um monte de marcas de coisas, mas eu não estava interessada em ouvir. Eu não sei, mas uma parte de mim queria muito encontrar Will, e a outra falar com Nick. E eu precisava contar pra alguém sobre Will. Aquilo estava me matando.

   – Catherine? – Ouvi uma voz atrás de mim. Ah, era só Danny. – Você está bem?

   – Ah, oi Danny. Sente-se. – Ai, droga. Agora complicou um pouquinho.

   – Então, Danny, o que traz você à nossa mesa? – Katie quis saber.

   – Não, eu só vi Cath olhando pro nada, e ela estava tão distraída na aula de história que eu pensei que tivesse acontecido alguma coisa. – Mas, o que ele disse a seguir quase me matou. – Katie, você é da torcida, né? Você viu o treino de futebol ontem?

   – Sim, sou. Não o vi todo, pois eu tive que sair um pouco mais cedo, tinha que resolver algumas coisas. Mas eu lembro de, logo no início, o técnico gritando com os caras por o querterback não estar presente.

   Ai, não. Will faltou o treino por mim. Isso é tão fofo! Não! Isso foi errado! Podemos perder o jogo da semana que vem por causa disso!

   – Bem, Cath, você parecia bem amiguinha dele naquele dia. E eu sinto que tem algo que você não está me contando. Então, ande logo, conte. – Ai, eu odeio Danny! Por que você resolveu falar disso agora?

   – Não sei do que vocês estão falando. Will só me conhece por causa daquela noite na festa, que ele me viu trancada no lado de fora e me ajudou a entrar. Só isso.

   – Ah, mas você tem sido vista com ele algumas vezes aqui na escola. E Fred me contou que você ficou sozinha com ele na sala de música. – Quando Fred ia aprender a fechar a boca? – Sério. Eu conto tudo pra você, Cath. Por que você está escondendo isso de mim? E está na cara tem está rolando alguma coisa entre você e ele.

   – Está? – Perguntou Danny.

   – Caramba, eu nunca vou entender. Como vocês meninos são lentos e idiotas. Ele fala com ela sempre que a encontra, eles foram pegos sozinhos na sala de música, ele faltou ao treino sem nenhuma razão, e Cath já está vermelha de tanto a gente falar nele.

   Eu e Danny encaramos Katie, perplexos e boquiabertos.

   – Nossa Katie, eu sabia que você era boa em sacar esse tipo de coisa, mas, na boa, você tá me assustando. – Eu disse.

   – Na boa? Desde quando você fala "na boa", hein, Cath? – Ela quis saber.

   – Tá bom! Parem com isso! Já passaram pela cabeça de vocês que se, eu deixei de contar algo não foi porque eu não quis? Que, talvez tenha sido porque foi algo estranhamente chocante, e eu não sabia como contar pra vocês? Me deixem em paz! – Explodi.

   Os dois se entreolharam.

   – Desculpe Cath, eu não sabia que você se sentia desse jeito. – Disse Danny.

   – É. E a gente só piorando as coisas, pressionando você. – Disse Katie. – Você ainda quer passar lá em casa depois do meu treino?

   – Ok, foi mal, eu não devia ter explodido daquele jeito. – Então eu vi Fred passando pelo corredor. – Agora, esperem um pouco que eu tenho que resolver umas coisinhas. – E me levantei.

   Quando Fred me viu, ele se virou na direção oposta e começou a andar bem mais rápido do que ele normalmente anda. Agora, eu tinha certeza de que ele havia me visto. Felizmente, eu sou mais rápida do que ele. Sempre fui. Então não tive problema para alcançá-lo.

   – Fred! Venha cá agora! – Disse, mas ele continuava fugindo. Então eu o encurralei.

   – Aah! Eu não fiz nada!

   – E por acaso eu disse que você fez? – Perguntei.

   – O que você está insinuando? Que eu, sei lá, contei a Katie sobre você e Will e parte da conversa que eu ouvi? Porque isso não aconteceu! – Faaaaalso! Sinceramente, eu não fazia ideia de que ele iria se entregar tão rapidamente.

   – É. É exatamente isso que eu estou insinuando. – Tentei manter a calma. – Eu disse para não contar para Katie e você contou.

   Minuto de silêncio.

   – Tá, mas eu não resisti. O que você vai fazer a respeito? – Perguntou, meio que me desafiando.

   – Fala sério, Fred. Você pode desafiar seus coleguinhas idiotas do teatro, mas não eu. Quantas vezes eu preciso dizer isso? – Como Fred é sempre o protagonista das peças da escola, ele sempre se sente superior. E, os caras do teatro que não o conhecem, morrem de medo dele. Mas ninguém que o conhece se sente da mesma maneira. – Eu estou muito ocupada nesses dias, então vou ter que deixar isso pra outra hora.

   – Mas eu sempre pensei que fosse fácil. – Ele disse.

   – Não sei por que aqui algumas pessoas pensam que minha vida é fácil. Está muito longe disso. Aí eles dizem: é que as suas notas são tão boas! Sabe quanto tempo eu passo estudando? Acredite, é o mais do que o tempo que você passa ensaiando. – Credo! Eu estava começando a parecer a minha mãe, reclamando da vida desse jeito. Acho que é melhor eu parar.

   Não tinha mais o que dizer a Fred. Então, simplesmente me virei e saí andando, por mais que ele chamasse meu nome, tentando se desculpar.

   O resto do dia correu normalmente. Se bem que, eu já não sabia como fazer uma definição exata de "normal". As aulas passaram normalmente, e eu confesso que dormi na aula de biologia, mas, fora isso, tudo ocorreu bem. Eu vi Will um tempo depois, mas não fui falar com ele. Tenho quase certeza de que ele me viu, mas teve o mesmo pensamento. Tudo bem. Eu achei melhor esperar para falar com ele. Sabe, até sábado.

   Como havia dito, acompanhei Katie até o treino. Não soube dizer se Will estava lá, pois todos pareciam iguais pra mim. Usando as mesmas roupas com uns negócios estranhos que deixava os caras com os ombros enormes. Estava entediada. Eu tinha duas opções: ver garotas de saia pulando ou ver meninos com ombros enormes tentando se matar para conseguir a bola. Então, peguei os fones e passei um bom tempo ouvindo Green Day no meu iPod. É outra coisa boa para se fazer para passar o tempo. Ouvir música.

   Chegando na casa de Katie, percebi que fazia um bom tempo que eu não ia lá. Mais ou menos uma semana. Para alguém que ia lá quase todo dia, é muito tempo. Não tinha ninguém em casa, então aproveitamos bem o tempo sozinhas. Começamos a conversar, e quase tudo que eu dizia ela perguntava se tinha a ver com Will. E isso era muito chato.

   – Não, Katie, não estou falando sobre Will. – Acho que devo ter dito essa frase umas dez vezes.

   – Vamos lá Cath, me conta, por favor! – Ela implorou. Eu não aguentava mais, então contei a ela. Não tudo, só... o necessário. Como eu o conheci e blábláblá. Claro que eu não disse nada sobre o beijo. Estava cansada, mas nem tanto assim. E isso era algo que eu não estava a fim de contar pra ninguém.

   – Eu não acredito que você não me contou! – Ela disse, no mesmo momento em que Matt chegou.

   – Contou o quê? – Perguntou ele.

   – Isso não é da sua conta, seu intrometido. Agora, vai pro seu quarto e deixa a gente em paz. – Disse Katie, sempre carinhosa com seu irmão.

   – Falou, então. Mas acho que você devia tomar um pouco mais de cuidado com o que fala. – Não faço ideia de como Matt consegue ser tão calmo. Se Ann falasse daquele jeito comigo, eu provavelmente arrancaria as tripas dela. No sentido figurado, é claro. Talvez.

   – E não te contei porque sabia que você ia ter essa reação. E eu não percebi que ele era ele na hora. Foi mal.

   – Tudo bem. Se você diz que não rolou nada, eu acredito em você. – Mas eu percebi que ela não acreditava em mim de verdade. Eram só... palavras. Mas eu não ia dizer mais nada pra ela. – Mas ainda não acredito que você contou isso pra Danny primeiro.

   – Eu já disse. Foi porque... – Como eu podia dizer pra ela? Ela não lembra da briga. – Ah, Danny é meu amigo também. E você estava ocupada, e eu precisava muito falar com alguém.

   Minha voz não soou muito confiante, mas isso foi suficiente para convencê-la.

   O resto da tarde foi tranquila. Conversamos mais um pouco, e depois voltei pra casa. As melhores partes foram as que Matt interrompia a gente e Katie surtava. Foi divertido.

   Em casa, eu percebi como pode ser normal um dia sem Jeff. Devia deixar ele trancado na gaveta de meias mais vezes.