Mediadora 7 escrita por Kyuubi Sama


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

P.O.V. SUZANNAH = Ponto de Vista Suzannah
P.O.V. JESSE = Ponto de Vista Jesse



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P.O.V. SUZANNAH

E ele simplesmente saiu.

Saiu andando pela praia sem que eu ao menos pudesse reagir. Fiquei ali, imóvel como um totem.

Ele já estava longe de mais para eu gritar. Sim, realmente eu havia desistido de tudo. E também já tinha decidido que iria voltar para o meu presente no dia seguinte. Por mais difícil que fosse.

Fitei Jesse que ia sumindo no horizonte. O que será que havia com ele?

Ok, tudo bem. Ele podia estar querendo chamar atenção. Ótimo! Que coisa mais madura, Jesse. Eu senti que ele havia se sensibilizado na hora em que o abracei. O inegável modo com que ele tentou se desprender do meu abraço denuncia ele.

Resolvi que não iria dormir mais. Poderia passar a noite em claro. Ver o sol nascer. Qualquer coisa, mas antes eu precisava colocar os meus pensamentos – e sentimentos, nem me fale – em ordem.

P.O.V. JESSE

Deixei Suzannah na praia. Evitei olhar para trás e por alguns segundos, hesitei em continuar.

Entrei na charrete e dirigi até a estalagem dos O'Neill. Aos pedidos do meu pai, teria uma despedida de solteiro, mas acabei por não ir. Misteriosamente, adquiri uma doença rara em que só me importava em dormir.

E Suzannah? Dormiria na praia? Voltaria para o seu presente? Iria impedir o meu casamento?

Provavelmente iria embora. Com certeza estava com raiva de mim.

Queria poder voltar tudo aquilo, para que nunca tivesse acontecido. Desde a minha fútil idéia de vir para 1850. Dios! Para quê?

O que eu menos esperava era que o sol nascesse. Iria ter de passar por todos preparativos do maldito casamento.

Mas o que eu menos desejava aconteceu. O sol agora brilhava forte e confiante lá fora. Senhora O'Neill bateu a porta do quarto me chamando.

-Senhor De Silva, servimos o café.

Virei-me na cama e respondi:

-Estou indo, senhora O'Neill. Obrigado.

-Tudo bem com o senhor?

Ah, claro. Tudo perfeitamente bem, iria me casar com a mulher que desejo, não magoei ninguém por isso e amava meu pai mais que tudo.

-Eu tô legal, senhora O'Neill, já vou sair.

Os passos nas escadas representavam a desistência de senhora O'Neill de me tirar do quarto mais cedo.

Levantei e fui para a sala. Enquanto tomava café, bateram na porta da estalagem. Senhor O'Neill atendeu a porta e depois me chamou.

-Senhor De Silva, é o seu pai.

Ah, Dios!

Andei até a sala e vi meu pai sentando-se no sofá.

-Bom dia, Hector. – disse ele largando o chapéu ao seu lado - Posso saber o motivo de não ter ido a sua despedia de solteiro ontem?

-Fiquei doente. – respondi impaciente.

-Bom, vim lhe buscar para arrumarmos as coisas para o seu casamento. Maria já está lá.

Excelente. Estou realmente emocionado com a última informação.

-Bom, vamos então. – disse andando até a porta e entrando na charrete do meu pai, que estava estacionada na porta. Ele entrou e fomos ao sítio.

Maria estava parada na porta. Havia um monte de gente correndo para os lados e arrumando as coisas para o 'casamento'.

Assim que ela me viu, veio correndo e sorrindo. Não correspondi a ela.

-Hector, querido! – disse em uma voz esganiçada que quase fiquei surdo. Ela me abraçou e esperou a minha reação – Estou arrumando as coisas para o nosso casamento. O que acha?

Dei uma olhada para a cena. Friamente resmunguei:

-Tanto faz. – larguei-a e fui ao encontro das minhas irmãs.

-Hector! – Mercedes falava brava – Não acredito que concordou a casar com essa doida da Maria!

Antes de responder, Marta falou estupefata.

-Nenhuma de nós, nem mesmo mamãe, concordamos com esse casamento estúpido!

Não eram só elas.

-Como você pode? – Josefina resmungou.

-Calma, - falei como se eu ainda tivesse alguma – eu não quero me casar com ela. Papai me obrigou.

As cinco me olharam pasmas.

-Como é que é? – indagou a minha mãe – Ele te obrigou?

Dios! Excelente.

Mexi a boca um pouco e hesitei na resposta.

-Hm... sim...

Elas continuaram pasmas.

-Eu não acredito! – berrou Mercedes. Ela saiu andando em direção ao meu pai, quando a segurei pelo pulso.

Feministas. E já em 1850!

-Você não vai lá.

-Por que não? – relinchou

-Respeito ao papai. – disse Josefina.

-Isso é insano... Não faz sentido... – resmungava Marta.

É mesmo?

-Pessoal... – a minha mãe nos chamou – Se é o desejo do seu pai...

-NUNCA! – Mercedes berrou mais alto ainda.

Tive a impressão de que ela estava mais indignada do que eu.

-Mercedes! – advertimos em uníssono.

-Jesse vai se casar com Maria. Isso é um fato. Um desejo do pai de vocês. Ele quer o melhor para nós...

Blá. Blá. Blá.

-Mãe... – comecei – Sabe o meu real desejo, não é?

-E a Suzannah? – indagou Marta.

Ótimo.

-Ela... – baixei o meu olhar – Não sei...

-Sabe que foi Maria que sumiu com ela, certo? – Josefina pôs a mão no meu ombro – Suzannah não sumiria assim do nada.

-Eu sei... – eu ia contar. Mas nessa hora, os olhares se deslocaram de mim e correram até uma figura que se aproximava.

Maria.

-Hector, meu amor... – disse ela passando a mão no meu peito. Arregalei os olhos e lancei um olhar de 'socorro' para Mercedes – Muito ansioso?

Nossa, você não imagina o quanto...

No entanto, não respondi. Mercedes atendeu o meu pedido de socorro.

-Acho que você deveria cuidar das flores, Maria. Olhe como elas estão murchas! E aquelas lá perto do portão?

As duas foram se afastando. Senti um alívio por dentro.

-Que abuso foi aquele? – disseram Josefina e Marta juntas.

Balancei a cabeça e entramos na casa. Ótimo, o homem do alfaiate estava lá.

Iria começar uma grande maratona para escolher o terno para o casamento.

P.O.V. SUZANNAH

Na verdade, eu não vi o sol nascer. Na verdade, eu não tinha mais perspectivas de vida depois que descobri que a minha chave de volta ao século XXI estava com Jesse.

Acordei com uns pássaros chatos grasnando do meu lado. Levantei e vi o sol próximo ao horizonte. Deveriam ser 9:30. Hoje seria o dia em que Jesse arrumaria todo o casamento com Maria.

O casamento no qual eu não estava na lista de convidados.

Andei até o centro, dei uma olhada para dentro da igreja e entrei. Logo vi o padre ali na frente do altar.

-Padre, - disse me fazendo de boa moça. Ora, porque não? – Gostaria de saber qual será o próximo casamento realizado por aqui...

-Bom dia, moça. – disse ele ao notar a minha presença – Bem, teremos uma amanhã, mas não será realizado na igreja e sim nas terras do maior fazendeiro de Carmel.

Como é que é? Maria não iria fazer um casamento na igreja? Logo ela que é, tipo, toda beata?

-Ah é? – disse sarcástica pondo as mãos na minha cintura – Posso saber de quem é o casamento?

Ele me olhou desconfiado – Sim, mas qual o motivo de tanto interesse?

-Hm, é que eu... – comecei a vasculhar uma desculpa na minha cabeça. Daí que saiu uma genial, digna de filme – É que eu preciso me dedicar mais a igreja, gostaria de poder ajudar o senhor, padre, em alguma coisa que envolvesse mais a minha fé, como... um casamento!

Aham, essa foi muito boa.

-Ah, que coisa boa! – exclamou o padre. É claro que sim. Nesse momento eu percebi que ele tinha um sotaque carregado. Sim, esse mesmo de padre, que eles parecem fanhos e coisa e tal – Uma jovem tão bonita assim e dedicada à igreja. Obrigado senhor... – e começou a falar algumas coisas em latim, eu acho.

-Bem, eu posso?

-Sim, sim, sim, é claro... – ele começou a andar de um lado para o outro – Mas antes precisará ensaiar um pouco e de roupas adequadas.

Perfeito, esse com certeza foi um dos meu melhores planos. Agora eu tinha tudo garantido até amanhã. E um plano que só não daria certo se eu não fosse tão esperta.

-Obrigada, padre. – e o segui para onde apontava a sala.

Depois descobri que os 'ensaios' de casamento na verdade são muito chatos. O padre ficou repetindo um trecho da bíblia umas 50 vezes e o meu único papel seria virar as páginas e ficar ao lado dele. Excelente, mas pelo menos iria conseguir o que queria.

E o meu plano não dependia só de mim, à noite, daria um pulinho na casa dos De Silva e iria falar com Mercedes, já que ela me parece ser a mais disposta a me ajudar.

P.O.V. JESSE

Foi uma tarde exaustiva.

E tudo o que fiz foi vestir ternos e... Pensar em Suzannah.

Será que ela tinha mesmo ido embora?

Pedi para que Josefina me emprestasse a sua charrete para ir à estalagem, já que a minha não estava comigo. Embora ela não parasse de falar sobre o casamento.

-Você está louco, Jesse! Não deve casar com ela!

-Eu sei, você sabe que eu não quero, mas se eu disser que não eu serei morto, no mínimo.

O que não era mentira.

-Ah é? – ela falou provocativa – Bom, você tinha que ver ela hoje experimentando o vestido. Ridículo. Você não faz idéia de o quanto ela se sentia importante enquanto trocava de vestido e ela escolheu o mais bizarro que tinha lá. Um cheio de babados que até parecia com um bolo.

Tive que rir dos detalhes contados por Josefina.

-É verdade. Bem que poderia ter uns arames ali perto que enganchassem no vestido dela, não é mesmo?

Josefina e divertiu. Por um momento, os sons dos cascos dos cavalos fizeram a trilha sonora de parte da viajem.

-E Suzannah? – disse ela tranqüila.

Fiquei em silêncio por alguns instantes.

-Ela me traiu, Jose... – baixei o olhar – Com um cara que nem conhecia direito.

Josefina me encarou surpresa.

-Te traiu? Ah, Jesse, eu aposto que não. Ela não parece ser tão tola de trocar você por qualquer um que não conhece direito.

-É o que todo mundo diz. Mas eu vi com os meus próprios olhos.

Detalhes dos quais não queria me lembrar.

-Você tem certeza de que viu tudo? Até mesmo o que pode ter acontecido por trás?

Olhei para ela confuso. Ela prosseguiu.

-Sabe que a Maria seria capaz de fazer tudo mesmo para se casar com você, até mesmo raptar Suzannah e armar tudo isso, mesmo que fosse preciso um cara para beijá-la e fazer você pensar que ela havia lhe traído realmente. E você concordando com esse casamento, só fez com que ela se sentisse cada vez melhor, que ela conseguisse conquistar o que queria. Ela também usou papai para o seu plano maligno. Sabe, uma dupla dinâmica do mal, que Deus me perdoe. Por favor, Jesse, se você não pensou nisso, duvido que sejamos irmãos.

Então, seria verdade? Quero dizer, Suzannah me disse, mas ela havia passado por aquilo. Ela sabia realmente o que havia acontecido. Josefina mal conheceu Suzannah e chegou a uma conclusão imbatível e a mesma que Suzannah.

-Tem razão. Mas, tudo isso sozinha?

Ela me olhou exausta.

-Ela não é tão burra quanto parece. Digamos que ela seja o gênio perfeito. Bem, se conseguiu te enganar, tudo o que ela queria. – ela pausou e então me olhou desesperada – Você não é doente mental, certo?

Rimos.

-Mas então por que ela liberou Suzannah? – falei voltando a seriedade do assunto.

-Porque ela seria inútil. Maria queria tirá-la do caminho, e fazer você sentir raiva dela. Conseguiu fazer isso quando você a viu nos braços do outro.

Dios! Como eu sou burro. Josefina explicando tudo fazia muito mais sentido. Como eu não consegui ver? Suzannah mesmo tentou me abrir os olhos.

Mas isso tudo agora seria sem sentido. Em vão eu saber agora. Já estava de casamento marcado. O que Suzannah poderia fazer? O que eu poderia fazer? E Josefina?

Talvez a essa hora ela nem estivesse mais aqui.

-Jesse, chegamos... – disse ela apontando para a estalagem que nem vi.

-Ah, sim. – entramos no pátio, mas eu não desci da charrete.

-Entendeu o que eu disse? Não faria sentido ela ter concordado em vir aqui se não fosse por amor. Não teria como ela te trair se ela veio aqui por sua causa...

Balancei a cabeça.

-Até mais, Jesse. – ela me abraçou – Mesmo não querendo, amanhã você tem um compromisso inadiável.

Suspirei e contribui o seu abraço. Desci da charrete e entrei na estalagem.

-Jesse! Não tente se matar, por favor! – ela brincou.

Ah, por que não? Suzannah não me quer mais e eu vou me casar com a pessoa mais insuportável deste século.

Ergui a mão e Josefina saiu com a charrete. Entrei na estalagem.

Tudo que Josefina havia me dito estava circulando na minha mente. Senhor e senhora O'Neill não estavam na sala. Subi e fui direto para o quarto. Fazendo uma pequena prece para que Suzannah ainda não tivesse ido embora.

Quando me trocava, ouvi um barulho de que algo havia caído no chão. Olhei em direção a cadeira onde pus as minhas roupas e vi um pequeno objeto caído ao lado das calças. O peguei na mão e o levei para a claridade.

Era um chaveiro que eu havia dado à Suzannah dias antes de nos deslocarmos. E que ela havia dito que serviria como chave para voltarmos ao presente.

Então isso queria dizer que ela ainda não tinha ido embora? Ela ainda estava aqui?

Mas a pergunta que me incomodava era: o que ela ainda sentia por mim?

Ela viria me ajudar?

Dios, maravilha.

Deitei-me e tentei dormir, afinal, já era bem tarde.

P.O.V. SUZANNAH

Depois da janta que o padre me serviu, disse que iria para o 'quarto' que ele me arrumou - que na verdade era uma salinha inútil atrás da igreja.

A noite caiu e ouvi o barulho de padre ir para os seus aposentos. Saí da igreja e segui – a pé mesmo – até a casa dos De Silva.

Um longo caminho, devo dizer. Mas era por uma causa nobre.

Nobre?

Deixe para lá...

Chegando lá – e agradecendo por usar sapatos sem salto – entrei no pátio e vi uma decoração que era uma mistura de coisas bizarras e sinistras. Dei a volta por trás da casa e entrei pela porta da cozinha, cuja Jesse me contou que costuma a ficar aberta. Dei passos leves para ninguém perceber a minha presença.

No entanto, percebi uma falha no meu plano incrível.

Não sabia onde ficava o quarto da Mercedes. Mas logo tive uma idéia genial de outra pessoa que poderia me ajudar.

Sarah.

Opa, também não sabia onde ela estava.

Legal, o belo 'plano infalível' fracassou. Quando estava a sala, ouvi um barulho na cozinha. Me escondi atrás do sofá apressada. Então vi que o meu desespero foi em vão, por que a 'invasão' era amiga, e muito bem vinda para mim.

Era Josefina.

Levantei devagar para não assustá-la, mas não obtive sucesso.

-Josefina, calma! Sou eu, Suzannah! – cochichei.

-Suzannah? – exclamou – Como você? Espera aí... Acho que entendi tudo...

Arregalei os olhos e sorri sarcástica.

-Muito bem, Josefina, o seu macaquinho está batendo os pratinhos na hora certa! – mas acho que ela não entendeu, pois ela ficou me olhando espantada – Deixe para lá, preciso da sua ajuda e da ajuda de Mercedes.

-Certo, venha aqui... – ela apontou para as escadas e subimos. Fomos ao quarto dela.

-Seu quarto? O da Mercedes é o da frente? – sentei em uma cadeira aos pés da cama.

-Sim, mas agora, me conte. Há alguma coisa a ver com o casamento amanhã?

Assenti.

-Mas não seria melhor chamar-mos Mercedes? Afinal, precisamos da sua ajuda.

Ela concordou e fez sinal para continuar no quarto. Voltou alguns minutos depois com Mercedes na maior cara de sono.

-Tá legal, vamos ajudar a nossa amiga Suzannah e o nosso hermoso irmão Jesse a ficarem juntos, acabando com a moral daquela Maria! – exclamou Mercedes super empolgada.

-Isso! – eu e Josefina falamos juntas.

-Vamos, Suzannah, conte-nos o seu plano. – as duas se sentaram na minha frente, ansiosas para escutar o plano em que passei a tarde trabalhando.

E para variar, a tecla exibir-informações foi acionada e as duas ficaram a me olhar inertes por longos minutos.

Acho que os macaquinhos delas não sacaram essa. Parados, ou então caíram de lado e estavam girando com os pratinhos.

-Acho que esse foi o melhor plano que já ouvi em toda a minha vida! – disse Mercedes empolgadíssima. Sorri e ficamos a planejar tudo para o fim do casamento.


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