Mediadora 7 escrita por Kyuubi Sama


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

P.O.V. SUZANNAH = Ponto de Vista Suzannah
P.O.V. JESSE = Ponto de Vista Jesse



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P.O.V. JESSE

A chuva gélida caia em cima de mim. Eu tinha feito uma coisa totalmente errada. Eu tinha deixado Suzannah na chuva, sozinha. Eu podia ouvir ela me chamando, mas sabia que se eu olhasse para trás, não iria resistir aos encantos da hermosa e voltaria a beijá-la.

Mas isso era mais errado ainda.

Pensei nas palavras que Suzannah proferiu para mim: "Juanez e Maria armaram tudo isso." e "Todos viram. Todos perceberam que era isso. Por que só você não vê?". Fazia sentido o que ela havia falado, mas eu não podia acreditar mesmo assim.

Fui andando sem pressa em direção ao portão. Não havia nada melhor para combinar com a situação do que uma tempestade de verão.

Raiva. Que raiva.

Depois de muito andar naquela chuva impiedosa, olhei para trás.

Não vi nada.

Suzannah estava muito longe.

-Belo idiota que eu sou. – falei para mim mesmo. Voltei a andar em direção a charrete. – A garota que mais ama você tenta abrir os seus olhos e você se enche de orgulho. – falei novamente. Abri a pequena porteira e entrei encharcado na charrete. Fui para a casa dos meus pais.

P.O.V. SUZANNAH

Banho de chuva. Mesmo com a água gelada, é bom. Deitei em cima de uma pedra solitária – como eu, diga-se de passagem - e apreciei cada pingo que caia sobre a minha face. Ainda sentia o calor de Jesse, quando ele havia me pego em seus braços e me beijado.

Alguns minutos depois – talvez, uns vinte -, a chuva acalmou e agora, um céu nublado estava pairando sobre a velha Carmel. Fiquei admirando o belo céu cinzento acima de mim. Eu sabia que ninguém – nem mesmo Juanez! – sentiria falta de mim.

Mas quem sabe, Jesse...

Me sentei. Meu coração não dava jeito para se acalmar. Cada vez que me lembrava de Jesse, meu coração batia mais forte. Mas por quê? Ele não me ama mais, mas eu sei que eu sempre vou amá-lo. Era para nós dois ficarmos juntos. E nós vamos ficar juntos.

Olhei novamente para o céu. Agora, ele estava meio alaranjado em direção a praia.

Praia.

Fiquei olhando – com certo deslumbre, devo dizer – em direção a praia. Queria ir para lá... Mas não. Mesmo querendo, isso não faria bem para mim. Eu deveria ficar longe da praia. Senão eu iria me lembrar do Piratas do Caribe e ia chorar, porque...

Eu não tenho mais o meu Jesse.

Eu tinha que entender isso. Mas eu não entendia.

Levantei e andei em direção o pôr-do-sol. Estava tão fraco, opaco, sem vida. Como eu.

Senti uma lágrima correr pela minha bochecha. Hã? Por qual motivo eu estaria chorando? Sequei a minha lágrima e falei para mim mesma.

-Se ele tiver que ir, deixe-o ir. Se tiver de ser seu, ele voltará para você.

Mais ou menos isso.

Mas no fundo, eu sabia que não podia simplesmente deixar as coisas acontecerem. Eu não iria desistir de Jesse tão fácil. Parei de andar e fechei os olhos. Senti a sensação dos raios de sol esquentando o meu corpo, numa falsa sensação de um abraço amável de Jesse. O vento correu e mexeu nos meus cabelos, como se ele passasse a mão por eles.

-Jesse. Eu te amo tanto. – falei ao vento.

Mas, se ele sentia o mesmo por mim. Se ele ainda me odiasse pelo que Juanez fez? Abri os olhos e acordei do meu devaneio. Doce devaneio.

-Quero você de volta. – continuei falando, como se conversasse com alguém. Passei a mão pelos meus cabelos que haviam sido desarrumados pelo vento. Quando senti que estava seca, me lembrei da mala que Jesse havia trazido para mim. Peguei-a e voltei a casa.

Quando entrei, vi Juanez estirado em um pequeno sofá que mal caberia a mim deitar.

-Bem onde eu deixei. – falei com um pequeno sorriso.

Entrei em um pequeno quartinho, onde eu troquei de roupa e fiz a minha higiene. Achei uma calça – sim, uma calça - na minha mala. Parecia ser uma calça de Jesse. Ei, espera aí... O que a calça do Jesse estava fazendo na minha mala? Dei de ombros e vesti a calça. Mais uma blusa branca - essa era minha – e saí da casa. Em direção à praia.

O vento, novamente, veio ao meu encontro, brincando com o meu cabelo. Aquilo, honestamente, não me incomodava. Eu nem sei, exatamente, o que eu estava sentindo. Era muito estranho.

Segui o caminho em direção a porteirinha. É claro que eu tinha tomado alguns cuidados, Eu tinha prendido o meu cabelo e posto dentro de um chapéu de pirata – sim, de pirata. O que foi? Era moda, tá legal? – para caso alguém me visse, ninguém desconfiasse que fosse eu. Mais umas botas que, gentilmente, peguei emprestado de Juanez. E eram bem confortáveis, até porque, eu tinha muito que caminhar.

Quando eu estava passando pelo centro, estava quase vazio. Claro, por causa da chuva, mas era bem melhor assim. Chegando a orla da praia, senti um arrepio. Sentei em cima de uma das pedras – eu estava do lado rochoso da praia – do lado mais escondido de uma das pedras.

O céu estava mais lindo visto dali. Ele estava laranja, vermelho e roxo. Só quando eu estava sentada ali, eu pude me sentir tranqüila. Eu sabia de tudo que estava acontecendo, mas eu não dava a mínima. Fechei os meus olhos e tirei o meu chapéu de pirata. O som das ondas era totalmente relaxante.

Queria passar o resto dos meus dias assim. Abri os olhos e vi um navio distante no horizonte. Algumas gaivotas pousaram perto de onde eu estava. Fora elas, não havia mais ninguém ali além de mim. Parecia que as pessoas do século XIX não gostavam muito de praia.

Depois de alguns minutos, ouvi uns passos se aproximando de onde eu estava. Abri os olhos e fiquei de pé. Eram duas crianças.

-Moça, você pode dar licença? – disse a garotinha de vestido azul – Esse é o nosso esconderijo.

-Esconderijo? – murmurei. Para quê crianças daquela idade precisavam de um esconderijo? Será que os pais deles abusavam deles? – Ah... Sim. – saí meio contrariada, poxa! Eu tinha chegado ali primeiro. Mas tinham mais pedras por ali resolvi sentar em uma perto de umas palmeiras sem graças.

-Obrigada, moça! – gritou o garoto magricelo para mim.

-Não há de quê. – falei sem boa vontade. Sentei na pedra e fiquei pensando em tudo que havia acontecido naquele dia louco. Quando me dei por conta, já era noite, e ao invés de cores laranja, vermelha e roxa estarem no céu, havia um manto longo e denso de azul escuro, salpicado de algumas estrelas e a gigante lua aparecendo lá atrás. Resolvi voltar para a "fazenda", afinal, lá tinha comida, e eu estava precisando disso.

Voltando para a casa, eu vi algumas pessoas na rua. E então me lembrei de um pequeno detalhe:

Juanez iria me matar.

Mas espera aí. Ele quebrou a perna e um braço. Ele não vai poder me matar.

A escuridão era pavorosa, eu não me lembrava direito de onde era o caminho para a casa. Mas a luz da lua já era uma grande ajuda. Fui pelo instinto de onde era a casa, e acabei chegando ao lugar certo.

Abri a porta devagar, para evitar o barulho, mas Juanez estava sentado na sala.

-Onde você estava, Suzannah? – perguntou olhando para as botas – Essas botas... São minhas!

-Eu peguei emprestado. – tratei de tirar as botas e devolver para Juanez – Eu estava na praia.

-Hm... – Juanez me assistia, aliás, era a única coisa que ele podia fazer – E pra quê pegou a minha bota?

Boa pergunta.

-Por que eu quis.

Juanez assentiu com a cabeça. Andei em direção o meu quarto, mas Juanez falou uma coisa meio bizarra.

-Ei! Não vai fazer a minha janta?

Minha?

-Hm, não – falei voltando para a sala – Eu vou fazer a minha.

-Ah, é assim? – Juanez pareceu ofendido – E quando eu fiz a sua janta? Para você não morrer de fome?

Sério? Eu sei me virar, eu não precisava da ajuda dele. Ele que quis fazer a minha janta. Fiquei olhando para Juanez, até que ele quebrou o silêncio.

-Por que você não fugiu?

Ah, essa nem eu sabia.

-Onde eu ia ficar? Eu não tenho casa. – isso soou muito "coitadinha!".

-Ah.

Tudo isso: Ah.

Fui preparar alguma coisa para engolir e dormir. Fiz um pão com alguma coisa que estava em cima da mesa e dei um pedaço para Juanez. Boa idéia aquela. Eu ia fugir e morar na beira da praia. Legal.

Fui para o quarto. O problema era: não tinha luz. Mas eu a fugir mesmo. Foi quando ouvi Juanez me chamar. Voltei para a sala e perguntei fingindo sono.

-O quê foi? – bocejei.

-A Maria disse que você é inútil.

Ah, sério? Era tudo que eu precisava! Juanez dando recados de Maria para mim. Mas, para aí, ela esteve aqui antes?

-Ela esteve aqui? – falei assustada. Ser chamada de inútil não me ofendia. O que mais me assustava era Maria ter vindo aqui.

-Sim. E ela disse inútil no sentido de eu te manter presa aqui. Ou seja, você pode fugir. Vá! – Juanez apontou para a porta – Ah, sim. E ela disse que vai se casar com o... Hector, hm, depois de amanhã.

Casar? Meu coração parou. Depois de amanhã? Jesse nunca concordaria em casar em cima da hora assim.

-Hm... – falei tentando esconder a minha decepção – Eu já vou cair fora. Só preciso das suas botas. – apontei para elas e ele me olhou com medo.

-Ah, não. As botas... – mas eu o interrompi, pegando as botas e caindo fora, literalmente, levando as minhas malas. Bati a porta e saí a passos em direção a porteira. Não me pergunte para onde eu tinha a idéia de ir, mas eu sabia que eu ia embora. Senhora O'Neill? Não. Ela teria um chilique se me visse vestida de "pirata". Vai saber o que ela vai falar se me vir assim...

P.O.V. JESSE

Onde estaria Suzannah?

Eu tinha acabado de fazer a maior besteira (e dessa vez, incorrigível) da minha vida.

Casar. Com Maria. Daqui a dois dias.

Estava na estalagem, fazendo uma das coisas que, desde pequeno eu gosto de fazer.

Desenhar.

Eu ainda não conseguia acreditar que ela faria uma coisa desse tipo. Me trair.

As cenas de hoje á tarde passavam pela minha cabeça. As coisas que ela tinha me tido ecoavam na minha mente. Mas não estava surgindo efeito nenhum.

De repente, senti uma vontade de ir à praia. Inexplicável. Eu simplesmente queria ir à praia. Abri a porta do quarto e saí. Desci as escadas e fui para a rua. Totalmente escuras, a não ser pela luz da lua. Peguei a charrete e dirigi ate a praia.

Chegando lá, fui recebido pelo som das ondas, pela brisa salgada e o cheiro agradável do mar. Andei descalço pela areia macia da praia. O reflexo da lua no mar era incrível. Fui até a parte rochosa da praia e vi alguém que eu não imaginava encontrar ali naquela hora.

Suzannah estava ali.

Voltei e me sentei longe. Estava confuso demais para mim. Nada parecia estar no lugar. Eu não deveria ter concordado com Maria sobre o nosso casamento.

Nombre de Dios! Por quê eu ajo por impulso?

Não parecia que ela estava me vendo. Tive sorte. Eu não sabia se queria mesmo me esconder dela.

Mas como eu iria falar para ela que eu ia me casar com Maria? Não tinha como eu não contar, eu precisava. Talvez ela não fosse fiel, mas eu era. Eu sabia que eu precisava da ajuda dela, mas e se ela se negasse a me ajudar? Dios! Me ajude.

Levantei e andei normalmente, como se eu não tivesse a visto ali. Percebi que ela me viu. Meu coração bateu mais forte.

-Jesse? – ela perguntou como se não acreditasse no que via. Eu também não acreditaria – É você?

Olhei casualmente para ela.

-Suzannah. – parei de andar e esperei ela tomar alguma decisão. Mas ela se sentou. E eu reconheci a calça que Suzannah estava usando como se fosse minha. Tentei agir normalmente. Apesar de ser difícil. Ela se levantou e desceu da pedra onde estava e veio em minha direção.

-E aí, como você está? – ela estava magoada – Muito ansioso para depois de amanhã?

Dios! Ela sabia.

-Você sabe que eu odeio ela.

-Não foi o que me pareceu, para você se casar com ela.

Eu me odeio.

-Quantas vezes vou ter de falar, Suzannah? – falei impaciente, passando a mão nos meus cabelos – Não vou ficar repetindo.

-Eu sei. – ela olhou para o mar – Então, qual é o motivo de você não voltar ao século XXI comigo?

Legal. Ela realmente não entende.

-Eu tenho que ir, Suzannah.- me arrependi de ter vindo tentar conversar com ela. Dei meia volta e saí da praia.

-Jesse! Espere aí. – ela me pegou pelo ombro e me virou – O quê você me diz sobre hoje mais cedo? Hein?

A minha vontade era de fazer tudo de novo. Mas eu sabia que eu não podia. Olhei para ela sério.

-Suzannah...

-Não, Jesse. – falou me largando – não quero que você me dê as suas explicações. Eu sei o quê você sentiu.

Fiquei em silêncio.

-Sabe?

-Sei, acho... –ela desviou o olhar – Jesse, a única coisa que eu menos quero é brigar com você. Você não quer entender que tudo aquilo que você viu foi uma armação que Maria aprontou para conseguir o que queria: Casar com você. E agora que ela conseguiu, ela me libertou. Eu queria tanto que você entendesse...

Fiquei pasmo. Olhando para o rosto perfeito de Suzannah. Fazia sentido, mas era uma besteira. Uma besteira que eu fiz, e que eu não poderia corrigir.

Olhei para o mar. Eu estava sem coragem de falar. Esperei ela dizer alguma coisa, mas ela fez o imprevisível.

Me abraçar.

Fiquei olhando surpreso para ela. Me abraçar?

-Suzannah, preciso ir... – larguei ela e sai da praia.


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