Era Uma Vez, no Natal escrita por Valquíria Homero


Capítulo 1
O PRESENTE




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A maçaneta girou quase sem fazer barulho quando ele a experimentou. Já era tarde, bem mais tarde do que ele gostaria – embora o horário que ele fosse voltar não tenha lhe preocupado minimamente quando saiu de casa naquela tarde. Na verdade, sua idéia era não voltar nunca mais. O plano deu certo por algumas horas, em que ele vagou sem rumo, sem dinheiro, sem pretensões. E por algumas horas, ele se sentiu livre, livre de absolutamente tudo.


Mas então a noite foi caindo e as portas foram se fechando. O garoto de repente se viu sem nenhum amigo, nenhum conhecido ou mesmo um estranho com quem pudesse jogar conversa fora, exteriorizar tudo o que sentia. Sentia tantas coisas, sentia de tantos jeitos. Não havia nada além do som de música e sorrisos através das janelas, zombando dele. Dizendo-lhe que a felicidade que todos sentiam lhe era negada. Era uma felicidade artificial, ele dizia para si mesmo. Mas mesmo a felicidade não-verdadeira escapava por entre seus dedos.


O bom filho à casa torna, afinal. Se era um bom filho tinha sérias dúvidas. Muito provavelmente não o era e nunca seria, mesmo que algumas vezes se flagrasse com o desejo de ser. Apenas um pouco mais conveniente, um pouco mais normal, um pouco mais aceitável. Um pouco mais ignorante. Queria pensar menos, às vezes. Queria sentir menos. Mas seja como fosse, estava de volta... e não havia ninguém para recebê-lo. A casa estava vazia, e ele encontrou apenas um pacote e um bilhete no lugar da mãe.


“Uma amiga me convidou para cear com ela e eu aceitei. Vou dormir lá e provavelmente almoçar também. Ainda tem um pouco de comida congela na geladeira, deve dar até eu voltar. Feliz Natal.”

Breno engoliu seco, esforçando-se para não amassar o pedaço de papel. Os olhos se demoraram na última frase, amargurados. Talvez sua mãe realmente se importasse, ou talvez nem tenha reparado no que tinha escrito – era o que a ocasião pedia, independente da situação em que estava a relação dos dois. Talvez as últimas duas palavras só estivessem ali para zombar dele também, para se juntar a todas as ironias da sua vida. Não sabia nem se queria saber, realmente. Colocou o embrulho debaixo do braço e foi para o quarto, sentindo-se especialmente miserável.


Não saberia dizer quanto tempo ficou no escuro, ouvindo música. Mas em algum momento ligou a luminária e puxou o pacote que estava em baixo da cama. O relógio marcava apenas alguns minutos para a meia noite. – Feliz Natal, Breno – o papel de presente cheio de papais noéis sorridentes foi rasgado, revelando um volume grosso de capa dura. Letras estilizadas no topo formavam as palavras “A Saída do Labirinto” , e abaixo do título estava a figura solitária de uma pena – do tipo que era usada para escrever antigamente – e o padrão de um labirinto no fundo. O garoto franziu as sobrancelhas e folheou o livro. Páginas amarelas com letras meio arredondadas, que curiosamente não tinham cheiro nem do novo, nem do velho. Havia algo de estranho naquele livro. Com um pesado suspiro, Breno começou a ler as primeiras linhas.


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Notas finais do capítulo

Capítulo visivelmente introdutório. Ele era um pouco mais longo, mas não tenho intimidade suficiente com você para me sentir confortável/segura com as coisas que tinha escrito antes.



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