Bitter Revenge escrita por Fadaf


Capítulo 22
Capítulo Vinte e Dois - The Ghost Of You




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O céu estava nublado, como se derramasse sua tristeza sobre nós, encolhidos sob guarda-chuvas pretos e escondidos dentro de caros casacos.

Parecia mais uma feira de vaidades do que o real evento que era. Não entendia como tinha tanta gente ali, com lágrimas nos olhos, sendo que nem deviam saber o porquê de estarem aqui.

Cerrei dentes e fechei os punhos, com raiva.

Essa sociedade que faz alguém ficar louco, essa disputa por riquezas, por grandezas, sem motivos nobres, apenas pelo bel prazer de ver o outro humilhado, no chão.

Essas madames com cãezinhos na bolsa e lenços pretos secando os olhos não durariam nem um segundo em Newsletter.

– Acalme-se. - disse Samuel para mim, cutucando minhas costas com o dedo fino.

Estremeci novamente, de raiva, de nojo. Ele ainda ousava vir aqui.

Mas hoje eu não faria nada, fingiria que sua presença era apenas um produto insano de minha mente.

– Oh, por quanto tempo mais isso irá demorar? - perguntei, cruzando os braços sobre o peito.

– O padre já chegou. Comporte-se, pelo amor de Deus. - respondeu Sam, rispidamente.

Olhei por cima do ombro pra ele, com o tipico olhar cinico.

"Comporte-se", ele disse. Como se eu fosse mais um de seus bichinhos de estimação.

Eu não conseguia, porém, comporta-me. Não estava preparado quando o padre chegou e postou-se diante da mesa, cuja a bíblia encontrava-se em cima.

Mexi nas abotoaduras do terno que peguei emprestado de um enfermeiro, ajeitei o cabelo, alisei a parte da frente da roupa, tentando em vão me acalmar.

Não escutei quando o padre começou a falar. Você aprende a ignorar certos sons quando mora em um hospício e eu havia dominado com destreza essa técnica. Nada que ele falará significará algo pra mim ou pra ela.

Nenhuma dessas pessoas aqui conheciam seus olhos doces e envergonhados, que sempre viravam pra baixo quando ficava constrangida. Ou como eles mudaram após mandarem ela pr'aquele lugar. Ficaram mais ferozes, mais desconfiados.

As coisas horríveis que sofremos faz você ficar assim.

Porém ela era tão interessante, tão vulnerável. Precisava de mim.

Mas eu não sabia que seria substituído por um monstro que se mostrou pior que seus pacientes.

Ah, as loucuras.... Ninguém seria capaz de entender. Afinal, não é a coisa mais simples de entender a mente humana, ou o ser humano em geral.

Eles tem sempre o dom de conseguir arruinar tudo. Eles conseguiram arruinar ela.

Ela, que sempre viu o mundo cheio de cores e oportunidades, o teve reduzido a apenas cores mórbidas e sonhos despedaçados, cobertos de pesadelos.

Retiraram sua liberdade sobre falsos pretextos, e ela teve que engolir tudo calada simplesmente porque não queria pertubar ninguém.

Chegou como um bichinho assustado, olhando para todos os lados, com medo até da sombra. Entretando, ela foi vendo que não era tão ruim.

Confesso que tenho parte na culpa por ela ter se despedaçado. Agi por impulso, contra minha antiga profissão, e alguém se aproveitou disso. Alguém que a desejava como ou até mais que eu.

E isso ia me corroindo, toda vez que eu via um sorriso seu se transformar em um grito de dor, e seus olhos antes tão vivos virarem opacos, desligados para o mundo.

Foi assim que ela teve que sumir, se reinventar, para conseguir aguentar aquela realidade nova, cheia de ódio e medo, sentimentos que não estava acostumada.

– Em nome do pai, do filho, do espírito santo, amém. - disse o padre, tirando-me de meus devaneios.

Observei ao redor, pessoas se aproximando dela, jogando flores, murmurando algumas palavras, chorando convulsivamente.

Por que estão chorando? Não conheciam ela. Não sabem nem nunca vão saber como ela gostava de borboletas e queria ver o amanhecer com os irmãos quando eles ficassem mais velhos.

Nunca vão saber que queria salvar vidas.

Vocês não sabem de nada. Vocês não a conheciam. Por que estão chorando?

Ela nunca vai poder fazer nada disso. Vocês são os culpados. Culpados por serem tão cegos a ponto de escolherem uma vitima inocente para pagar pelos pecados do outro.

Revoltante, sinceramente. Nenhum de vocês deveriam estar derramando essas lágrimas sujas de hipocrisia por ela.

Senti uma mão em meu ombro, e quando abaixei o olhar, lá estavam os dois, encarando-me com desconfiança. O de cabelo azulado murmurou alguma coisa para o loiro, que balançou a cabeça em discordancia.

– Tome. - disse, o que supus, ser o mais velho. Ele me passou algo e depois saiu apressado, com o loiro em seu encalço, sem dirigir um olhar sequer pra trás.

Abri a mão, esperando qualquer coisa menos o objeto que de fato estava ali. Um anel.

– Se quiser falar com ela, a hora é essa. - disse Samuel, dando tapinhas nas minhas costas. - Estarei esperando aqui.

Assenti, calculando possiveis rotas de fugas, porém Sam foi mais rápido. Haviam vários enfermeiros de seu plantão misturados na multidão.

Soltei um suspiro relutante e caminhei até ela, estalando os dedos e contando quantas mulheres de salto alto passavam por mim.

Quando cheguei perto dela, e a encarei, arranhei a palma da minha mão para não chorar. Eu ainda tinha que ser forte. Por ela.

– Olá, minha querida. - murmurei, abaixando, como se fosse um segredo que eu compartilhava com ela. - Sinto muito. Eu não devia ter feito você fazer isso. Eu simplesmente não aguentava mais te ver presa, ali. Você... Você me perdoa?

Passei os nós dos dedos em seu rosto delicadamente, que mais parecia a pele de uma boneca de porcelana. Ela estava tão fria.

– Se não me perdoar, eu entenderei. Não apenas por isso, mas por não ter cuidado bem de você. Por deixar meus sentimentos falarem mais alto e arruinar qualquer chance de um futuro onde "nós" podiamos existir.

Nesse ponto, eu já não podia me segurar e senti uma lágrima descendo por minha bochecha.

– Se eu tivesse esperado mais um pouco, talvez... Mas você sempre disse que meus plano eram grandes demais para possibilidades muito pequenas. - segurei em sua mão, trazendo-a aos meus lábios. - Eu sinto tanto, minha querida.

Observei-a, vendo o traço de um sorriso zombeteiro em seu rosto. Se não tivesse acontecido o que aconteceu, eu podia dizer que ele tinha surgido agora.

Seu cabelo curto e cacheado estava arrumado com várias flores em vermelho, para combinar com um vestido da mesma cor, que caia perfeitamente em seu corpo. Porém, nenhuma maquiagem apagou as manchas roxas em seus braços e pernas, ou cobriu totalmente suas cicatrizes.

Virei seu pulso e lá estava, ainda escondida sobre bandagens, o motivo dela estar aqui.

– Desculpa, meu amor. Eu vou sentir sua falta pra sempre e mais um pouco. - sussurrei, pegando o anel que seu irmão tinha me dado e colocando em seu dedo. - Vou me encontrar com você logo, eu prometo. Apenas espere por mim.

– O tempo de despedida acabou, Chad. - disse Sam, um pouco alto, em algum lugar atrás de mim.

Beijei novamente seus dedos e passei a mão por seu rosto, seria a última vez que eu faria isso.

– Adeus, minha querida Helen. - murmurei, virando-me na direção de Sam.

E, então, uma borboleta preta vermelha passou por mim, voando ao meu redor para depois sumir na direção do sol.


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Notas finais do capítulo

Não sei se ficou do jeito que quero, mas eu gostei. Bastante.
Emocionei-me escrevendo esse capítulo.



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