Amor De Pai escrita por Little Flower


Capítulo 2
Instinto paterno


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem...


Capítulo atualizado em 02/03/21



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/182404/chapter/2

 [Edward]

Todos nós saímos em direção a floresta, estávamos curiosos para vê-la caçar. Pelo menos Alice havia esquecido totalmente a ideia insana de jogar boliche. Meus pensamentos ainda estavam nas pesquisas que ainda faremos por Renesmee, mas de acordo com os resultados, teríamos que ir a Denali, o que não me agradava em nada.

A família estava radiante com a chegada da pequena, eu em especial que estava encantado com sua inteligência, comecei uma conversa apenas para ouvir sua doce voz e acompanhar seu raciocínio, era fascinante.

— Então... — comecei enquanto a carregava no colo, os outros estavam passos mais a frente, mas atentos ao nosso diálogo — Quantos anos você tem Renesmee?

— Tenho um, vou fazer dois nesse ano — ela respondeu me mostrando os dedinhos. É claro que eu sabia, dois intermináveis anos em que deixei minha Bella, um perfeito idiota que achava que estava fazendo o melhor. Agora percebia que não havia sido a escolha mais sensata.

— Estou ansiosa para vê-la caçar. — Confessou uma Alice inquieta.

— Eu também estou. — Fiz eco ao que ela disse, ávido para presenciar o momento e com uma preocupação inexplicável.

— Ela é tão pequenina.

— Você não mede mais que 1 metro e 50 Alice! — o escarnio cintilou em minha voz e ela fechou a cara emburrada.

Renesmee e eu rimos dela, o que a instigou a ficar mais irritada, todos por fim acabaram rindo pela atitude nada madura da baixinha.

Finalmente chegamos num lugar afastado o suficiente, encontramos um bando de alces ali, incentivei Renesmee e ficamos todos na expectativa do que ela faria. Ela parecia que estava escolhendo um deles, quando de repente levantou a cabeça, farejou o ar e correu em direção ao cheiro, fomos atrás o mais discretamente possível para não a atrapalhar e fiquei apreensivo e ao mesmo tempo orgulhoso. Ela sequer parou, correu diretamente para um leão da montanha e o atacou.

Ela era muito forte, não contive meu sorriso orgulhoso.

“Tão convencido...” pensou Emmett "Renesmee puxou a você.”

Eu dei um tapa em sua cabeça e ele me xingou. Eu ri e começamos a nos bater numa brincadeira infantil.

Depois de ela terminar com o leão, perguntei-lhe se ainda estava com sede e ela disse que sim, então depois ela derrubou mais dois alces e um coelho que passava por ali, nós rimos muito quando ela o pegou, acariciou o bichinho apavorado e tomou seu sangue. Chegamos a pensar que ela o levaria como bicho de estimação, o que não seria nada bom para a saúde mental do pobre coelho, além de não durar muito numa casa cheia de vampiros.

Voltamos para casa depois da caça, Renesmee cansada dormia em meu colo e pude ver, maravilhado, seus sonhos. Apenas uma profusão de cores alegres e depois cenas de nossa família, fiquei surpreso quando meu rosto apareceu mais do que os outros... Sorri.

Depois de chegarmos em casa a deitei na cama do meu quarto, embrulhando-a, foi bom ter decidido comprar uma cama apesar de não precisar, ao menos podia ficar ao lado da minha princesa, o que também me fez lembrar que precisava acertar acomodações de acordo com as necessidades dela.

Desci com relutância, quando Renesmee dormia as lembranças me assaltavam e com elas vinha a dor de ter perdido minha Bella para sempre. Lembrei-me de quando velava seu sono, era encantador e ao mesmo tempo frustrante, pois para ter uma ideia do que ela sonhava, precisava esperar que ela começasse a falar. Com Renesmee não havia esse problema, ela dormia tranquila e não falava dormindo, mas me dava acesso a todos os seus sonhos, tão puros quanto ela.

— Edward, amanhã eu quero levá-la ao shopping, você deixa? — perguntou Alice, seus pensamentos agitados entre decorações, roupas e closet. O de sempre.  

— Claro Alice, Renesmee precisa de muitas coisas, mas temos ainda muito o que pesquisar sobre sua vida, seu crescimento, precisamos saber o máximo possível. Depois iremos.

— Maravilha. — bateu palmas animada — Eu não acredito que Edward Cullen vai a um shopping!

— Claro, eu não sou louco de deixar você sozinha por aí com a minha filha— eu disse para provocá-la e para me deliciar com a minhas duas novas palavras favoritas. Na verdade, eu não queria perder essa experiência com ela, não queria perder mais nada da vida dela. Ainda a provocando disse que não a deixaria ir sozinha com Renesmee, porque sabe-se lá o que ela faria por não ter juízo, isso a deixou em dúvidas se eu falava a sério ou não.

Depois de um tempo escutamos uns barulhinhos lá em cima, subi, e lá estava Renesmee sentada na beira da cama balançando os pés e olhando em volta do quarto confusa, me aproximei e ela se assustou por ser pega de surpresa.

— Não está mais com sono, Renesmee? — perguntei me aproximando e sentando ao seu lado.

Ela piscou muitas vezes, eu li em seus pensamentos antes mesmo de perguntar o por que ela estava olhando assim, tão Bella...

— Eu pensava que estava sonhando - confessou ela.

— Não querida, isso é real e está realmente aqui, comigo.

— Sabe, ainda é difícil acreditar, eu sempre sonhei em ter uma família além de Lara e agora eu tenho. Eu sei que minha mamãe morreu e pelo que Lara me disse você não estava com ela, por quê?

Ela era muito pequena para saber os motivos que me levaram a deixar sua mãe, motivos que pareciam tão certos, mas agora... Então apenas disse:

— Você é muito pequena para saber de certas coisas Renesmee, mas eu lhe prometo dizer tudo quando for mais velha, quando você puder entender.

— Tudo bem — ela assentiu e eu me senti aliviado pelo assunto ser deixado de lado. Percebi sua roupa agora, ela vestia uma saia jeans de pregas, uma blusa polo cor de rosa por cima de uma camisa de manga branca e usava sapatos pretos com uma meia calça branca. Mas, estava um pouco suja. O que eu devia fazer agora? Ela precisava de um banho.

— Renesmee, você quer tomar banho?

— Sim, não troco de roupa faz algumas horas — disse ela, tão parecida com Alice, eu ri. Alguma coisa me dizia que elas não demorariam para ser inseparáveis. Tinham mais em comum do que imaginavam.

— Então onde estão suas coisas? — perguntei um pouco perdido.

— Na minha mala.

Fui até a cabeceira da cama me agachando e procurei na mala o que iria precisar, encontrei uma toalha rosa das princesas da Disney, os respectivos potes de shampoo e condicionador e depois me levantei e voltei para perto dela.

— Então pode ir. — eu disse apontando para a porta do banheiro.

Ela me olhou confusa.

— Mas eu não sei tomar banho sozinha. — disse ela, um vinco entre as sobrancelhas, como se fosse óbvio.

Paralisei. Talvez fosse melhor chamar Esme, ela se sentiria mais à vontade.

— Você quer que eu chame a sua avó Esme para te ajudar?

Sacudiu a cabeça. Eu não sabia dar banho. Bom, não devia ser diferente de tomar um.

Suspirei um pouco temeroso.

— Tudo bem, vamos lá! — eu disse pegando a toalha e a mão dela. Eu comecei a despindo, depois peguei o sabonete e passei por todo seu corpinho, massageando-a, seus lindos cabelos foram lavados com o shampoo e condicionador e pôr fim a enxuguei.

Ela parecia mais relaxada, eu procurei uma roupa para ela, escolhi um pijama, ainda eram umas dez e meia da noite, mas já devia ter passado de sua hora de dormir. Vesti nela seu pijama, era de ursinhos cor-de-rosa, encontrei umas pantufas de coelhinho em sua mochila e disse para ela calçar. Ainda estávamos no banheiro e terminava de pentear seus cabelos com muito cuidado, certamente. Aí! Ela pensou quando eu acidentalmente puxei com certa força os cachos para desembaraçar o nó em seu cabelo.

— Desculpe. — encarei o reflexo do seu rosto numa caretinha de desagrado. 

Mas depois ela riu, compreensiva. 

— Ficou uma gracinha, Nessie! — eu disse orgulhoso do meu trabalho e ainda mais encantado com sua beleza, ela sorriu.

— Nessie? — o sorriso aumentou, os olhos chocolates brilhantes. Emocionada.

— Você gosta de Nessie?

— Eu amei, papai! — agora foi minha vez de sorrir largamente. Era possível já estar loucamente apaixonado por aquela garotinha? — Meu nome é bem grande.

— Então, você está conseguindo me aceitar?

— Sim, o senhor é legal... — e ela quis saber minha resposta, ansiosa.

— Bom, eu não fazia ideia de que tinha uma filha, mas você é uma menininha muito especial. E mais, você me aceitou mesmo eu ter abandonado sua mãe... — eu acabei revelando sem filtro algum, ao perceber meu deslize ela já havia corrido e se trancado dentro do meu quarto.

“Eu não acredito nisso, ele não me queria! Não queria minha mamãe” ela pensava tristemente. A angustia me corroendo por dentro por vê-la mal.

— Nessie, abra a porta, por favor. — eu pedi após bater uma única vez na madeira polida, os outros notando a movimentação no andar de cima se aproximaram.

— O que está acontecendo Edward? — perguntou Alice, categoricamente. Ela já sabia.

— Eu acidentalmente disse para ela que eu havia abandonado Bella e ela se trancou no quarto.

— Mas que burrice! — exclamou Rosalie, eu a fuzilei com os olhos num aviso e ela correu escada abaixo. Às vezes eu acreditava que Rosalie não tinha noção do perigo.

— Ah Edward, entenda... Ela não compreende perfeitamente, espere que ela se acalme — argumentou Esme, tocando meu ombro. Meneei a cabeça.

— Meu amorzinho deixe-me entrar, por favor. — pediu Alice baixinho, Nessie abriu um pouco a porta para ver a dona da voz, ela assentiu e deixou Alice se aproximar, sem nem me olhar uma única vez. Me remexi incomodado. Eu não conseguia passar sequer um dia com minha filha sem estragar tudo? Eu poderia facilmente entrar na lista de pior pai.

Depois de meia hora, Alice saiu do quarto dizendo que Renesmee queria me ver... Eu entrei devagar de cabeça baixa, não conseguia encarar Nessie depois do que havia dito. Me sentia um completo idiota.

— Nessie... — iniciei sem realmente saber como começar a me explicar.

— Não, eu peço desculpas, tia Alice me ajudou a ver que não é justo que eu me comporte assim... — Alice havia dito apenas partes da história de Bella e eu, de acordo com que eu pude verificar nos pensamentos de Renesmee, o que me deixou de certa forma aliviado.

— Nessie minha querida, se eu soubesse que você crescia na barriga de sua mãe eu jamais teria me afastado dela, de vocês, e quem sabe ela estaria viva agora. — fiz uma pausa, eu li em seus pensamentos o que ela pensava a respeito e abaixou a cabeça — Não, eu não iria ficar perto dela só pelo simples fato de ela estar grávida, não pense assim nunca, jamais — eu ergui seu queixo com um dedo para ela olhar para mim — eu a amo, mesmo depois de receber a notícia de sua morte. Sempre amei e sempre amarei, e eu jamais me afastaria de vocês, não sabe quanto eu estava sofrendo longe dela...

Ela sorriu e pulou no meu colo me abraçando.

— Desculpa. — disse ela com lágrimas nos olhos.

— Sempre, meu anjo.

— Eu perdi a mamãe e não quero perder o senhor também, papai... — continuou chorosa, as bochechas já molhadas.

— Hey, Shiiiu. Não se preocupe com isso. Você jamais irá me perder. Não chore. — sua dor se transformava na minha própria dor.

Ela e eu ficamos abraçados um bom tempo. Como um pai que queria acalentar sua garotinha e transmitir seu carinho, e uma filha que necessitava dos braços do pai para ter certeza de que tudo ficaria bem e que estava segura.

— Então quer ir lá em baixo um pouco? Sinto informa-la que todos querem conquistar você a qualquer custo.

Ela sorriu radiante. Queria conhecer mais a fundo sua nova família de vampiros.

A peguei no colo e desci as escadas correndo, segundo Nessie ela amava a velocidade. Atendi ao seu pedido, porém com cautela.  Todos nos olharam e sorriram, Alice estava satisfeita, sua intervenção havia surtido efeito. E se aproximou de nós.

— Renesmee, eu falei com seu pai mais cedo e ele permitiu que fôssemos ao shopping, que tal? — perguntou Alice.

— Sim, sim!

— Ótimo, vamos amanhã, precisamos renovar seu guarda roupa! — disse Alice em êxtase.

— Ela não tem guarda roupa, Alice. — Eu a lembrei.

— Ela terá um, assim como um quarto decente. Aquelas cores mortas do seu são pavorosas, Edward. — esboçou uma expressão de desaprovação — Irei preparar tudo para você, minha bonequinha. — afagou a bochecha rosada de Nessie carinhosamente.

— Legal tia! — disse ela fazendo Alice olhar emocionada com a palavra, colocando a mão no peito.

— Tudo certo então. O que quer fazer? — eu indaguei.

— Eu posso assistir desenho?

— Sim, é claro que pode, meu anjo.

Sentamos com Renesmee no sofá maior, diante da TV, no Disney Chanel onde passava o filme da Branca de Neve. Enquanto isso Esme deu um pulo na cozinha para preparar um copo de leite quente para a única pessoa que se alimentava ‘normalmente’. Rosalie se mantinha em uma distância razoável, ainda se remoendo com as palavras ditas por mim mais cedo, frescas em sua memória. Eu não a impediria de ter alguma aproximação com Renesmee, porém tomá-la para si estava fora de cogitação. Não permitiria aquilo.

Renesmee estava amando toda a atenção.

Durante a exibição do clássico infantil, Nessie fazia perguntas aleatórias, assim como qualquer ali naquela sala, até mesmo a vampira loira retraída. Os dois lados num jogo de entrosamento e conexão. Carlisle teve que retornar para o plantão no Hospital e se despediu da neta com um abraço apertado e beijos molhados, e ele mesmo foi quem limpou seu bigodinho de leite.

Finalmente nossa existência havia ganhado sentido. Era nítido para qualquer um ali. Embora todos estivessem engajados em alguma atividade que os distraísse, era como se a chegada da pequena hibrida, minha filha, tivesse colorido aquela casa de vampiros mortos vivos.

Quando começou a bocejar seguidamente e o sono alcançar seu pequeno corpo, a peguei no colo e ela deu boa noite para todos. Subi as escadas no ritmo normal e a coloquei na minha cama. Deitei de frente para ela e me pus a observá-la.

— Você é tão lindo, papai! — ela disse suavemente.

Eu sorri.

— Linda é você, meu anjo. Estou feliz que esteja aqui... — sussurrei.

— Preciso mostrar uma coisa...  

Ela encostou de leve seus pequenos dedos em meu rosto e vi surpreso diante de meus olhos as palavras ‘Eu te amo’. Olhei incrédulo e admirado para a pequena garotinha. Ela tinha um dom assim como eu, ou Alice e Jasper.

— Eu também, meu anjo, eu a amo. — meu susto não passou de alguns segundos e não hesitei em responde-la adequadamente. Seu sorriso em resposta foi ofuscante. Belo e angelical.

Ela podia ter mostrado seu dom para todos lá embaixo, mas esperou até estarmos sozinhos para se revelar. Aquele fato foi tão especial para mim. Contei a ela que tinha um dom também, sua caretinha de surpresa foi engraçada ao descobrir que eu podia ler mentes.  

Deus! Era tão inacreditável tudo isso. Tinha uma filha com a mulher que eu mais amei. Até mesmo isso Bella conseguiu me proporcionar, a dádiva de ser pai. Eu sorri mais uma vez, agora com meu coração queimando e ardendo por dentro. Estava perdido naquele mar de chocolate tão encantadores, além de sua voz sutil e contos. Após alguns minutos de conversa continuando com a brincadeira de perguntas e respostas notei suas pálpebras pesarem, ela subiu ficando toda esparramada em cima de mim antes que elas fechassem completamente e murmurou com a voz arrastada: Boa noite, papai. Não me dando chance de respondê-la e apenas depositei um beijinho em sua pequena testa... Estava absorto em pensamentos quando alguém disse meu nome.

— Edward! — me virei encarando uma Esme emocionada na porta. Fiz sinal para se aproximar... — Ela é tão linda, se parece tanto com você e Bella...

— Sim, não é? — eu disse com o sorriso na voz — infelizmente Bella não poderá ver por si mesma. — o rumo da conversa havia mudado assim como a emoção contente em minha voz.

— Edward, filho, não se entristeça. Veja o lado maravilhoso, temos uma criança! Eu sou avó! — ela cantarolou e deu uma risadinha no fim.

— É, a senhora é vovó! — olhei para a linda menininha dormindo em meu peito. Ela estava tremendo e deduzi que estava com frio. Fiz menção de tirá-la de cima de mim, mas parecia que ela sabia e se agarrava mais em mim. Antes de Esme se retirar pedi um cobertor que graças aos céus tínhamos, fiz um tipo de casulo em sua volta para ela parar de tremer.

— Eu queria te agradecer por me preparar, Alice.

A baixinha se aproximou e sentou na beirada da cama, revirando os olhos.

— Entenda, Edward. Eu não queria te deixar no escuro, mas foi preciso. Cá entre nós, você pode ser muito exagerado.

Agora foi minha vez de revirar os olhos, porém acabei sorrindo e agradeci de certa forma apertando sua mão. Alice retribuiu ao sorriso.

— Podemos superar, com Nessie aqui. Ela é a nossa esperança. — disse ela com os olhos brilhantes.

E assenti.   

Não percebi que o sol já nascia, no andar de baixo, Esme preparava com afinco o café da manhã especial para Nessie para quando ela despertasse. Já tão rodeada de mimos. Um tempo depois percebi algo se movendo em cima de mim e Nessie abriu seus olhinhos cor-de-chocolate.

— Bom dia papai! — disse ela sorrindo e mostrando seus dentinhos de leite.

— Bom dia, meu amor. Dormiu bem? — perguntei fazendo carinho em seus cabelos.

— Sim. — nesse momento seu estômago roncou, rimos e peguei-a no colo. Descemos a escada sorridentes e cantarolando. Fui na velocidade humana, para desfrutar desse novo sentimento pela minha filha. Doeria fisicamente se a perdesse, ela como Bella eram minha vida. Uma eu havia perdido e a outra nunca me perdoaria se a perdesse também...

Jamais me distanciaria de Nessie, jamais repetiria a burrada novamente. Quando passamos pela porta da cozinha sentimos um cheiro de dejejum, provavelmente atrativo para humanos, um tanto enjoativo para mim.

— Vejo que minha netinha e meu filho estão animados! — disse uma Esme entusiasmada por ver nossa bolha de alegria e por cozinhar para alguém, terminava de deslizar uma omelete para um prato de porcelana e usava um avental cinza.

— Sim vovó, o papai é muito legal e eu o amo muito! — disse Nessie sorrindo para mim.

Senti meu peito se aquecer com sua declaração. E uma leve vontade de chorar. Controle-se, Edward. Seria possível estar com sentimentos tão intensos e bagunçados em um curto período de tempo?

— Eu também a amo Nessie. – dei-lhe um beijo terno na testa.

— Hora de comer! — disse Esme.

Nessie sentou-se no banco redondo do balcão da cozinha. Começou a comer todo o café da manhã de vez em quando ela olhava para mim e sorria. Depois de terminar eu a deixei assistindo desenho na TV, ela gostava demais. Assim nem parecia que ela vivia num mundo sobrenatural. Fui até meu quarto e separei uma roupa bonita dela para irmos ao shopping. Não me recordava se já havia ido em um.

— Nessie, vamos tomar banho? — perguntei a ela que estava sentada ao lado de Emmett, com as pernas em cima do colo dele, assistindo aquele dinossauro roxo que ele amava. Renesmee correu até onde eu estava e estendeu os bracinhos para mim, que a peguei no colo.

— Vamos mesmo ao shopping papai?

— Iremos sim, se arruma que espero você aqui embaixo. – respondeu Alice por mim. Nessie assentiu e corri escada acima com ela. Sua toalha já estava no banheiro e eu disse para ela tirar seu pijama enquanto eu enchia a banheira. Depois a coloquei dentro com alguns patinhos de borracha que encontrei em sua mochila.

Lavei seus cabelos, seu corpinho e depois a enxuguei. Ela não insistiu quando eu disse que era hora de sair. Talvez porque a lembrei da ida ao shopping e ela só faltou me arrastar. Coloquei um vestido de algodão florido com babados.

Tentei evitar o mesmo episódio da noite passada e com muito cuidado passei a escova mecha por mecha até tirar os nós formados e os deixei soltos, os cachos bem definidos.

— Hum... Até que está bom. — aprovou ela.

Eu sorri. Disse-lhe para me esperar na sala de estar enquanto me arrumava. Coloquei uma blusa de manga comprida azul um pouco justa, uma calça jeans escura, tênis esportivo e arrumei meu cabelo num topete com um sorriso torto. Não me reconhecia, há tanto tempo não me sentia “vivo”, feliz.

Enquanto descia as escadas ansioso por ver minha filha novamente, pensava em como seria minha vida daqui para frente... Viveria um dia após o outro com tamanha alegria desfrutando da companhia de minha filha. Nessie estava sentada no sofá ao lado de Rosalie.

— Nessie, vamos! — eu disse. Ela correu em minha direção estendendo os bracinhos. A peguei com gosto.

— Está bonito papai.

— Obrigado. Você está muito mais bonita anjo. — disse a ela e gritei: — Alice! Ande! — A baixinha num instante descia a escada radiante e saltitando, parecia uma gazela. Vestia calça jeans, uma blusa de mangas amarela com flores pretas e sapatilhas cor creme.

— Edward é tão impaciente! — resmungou ela.

— Impaciente nada. Disse que esperaria aqui embaixo. O que tanto fazia dentro daquele quarto com Jazz? — perguntei sorrindo maliciosamente.

— Nada que seja de sua conta. — disse ela irritada.

Nessie se despediu de todos, inclusive Rosalie e caminhamos para a garagem ao lado da baixinha.

— O que a tia Alice faz dentro de um quarto com o tio Jasper papai? — perguntou Nessie curiosa, suas sobrancelhas unidas. Alice levantou uma sobrancelha e sorriu sarcasticamente, deliciada pelo momento embaraçoso para mim.  

— Nada de importante, meu anjo.  — tentei soar o mais casual possível, me odiando por dentro por ter feito aquela piada que não parecia tão engraçada agora.

Alice começou rir.

Foi você quem começou com isso”, pensou ela em deboche.

Eu semicerrei os olhos.

Entramos em meu Volvo prata. Eu no banco do motorista, Alice no banco traseiro por estar com Renesmee em seu colo. Fiz uma nota mental para comprar uma cadeirinha, mesmo ela sendo meio imortal não queria dizer que ela não poderia se machucar. Eu sabia que se ocorresse algum acidente minha filha seria prioridade, eu não hesitaria em protege-la com meu próprio corpo, mas era necessário providenciar as medias de segurança.

A viagem inteira foi silenciosa. Pelo menos para as duas, eu escutava os pensamentos delas. Alice, como sempre, estava pensando em um novo projeto: fazer um closet para a sobrinha. Revirei os olhos.

[...]

Estacionei o carro na vaga, desci e abri a porta para Nessie e Alice. Ela pulou para fora do carro e olhou para tudo encantada. Peguei sua mão e andamos lado a lado. Alice não parava de falar, estava me deixando “zonzo”.

— Alice, por tudo que é sagrado, não dá para decidir logo em qual loja vamos? – perguntei irritado. Ela mostrou sua língua e eu revirei os olhos. Nessie ria de nossa briga imatura.

Então nos arrastou para todas as lojas. Ela não podia ver uma coisa fofa — palavras dela — que ia entrando. Compramos roupas para Nessie, a cadeirinha que foi a primeira coisa que fui atrás, sapatos, brinquedos, bonecas diversas, mochilas, ursos de pelúcia, e etc.

Estávamos saindo da trigésima quarta loja quando esbarramos numa garota branca, de cabelo castanho-claro e olhos azuis escuros: Jéssica Stanley. O que aquela menina fazia em Los Angeles? Quando me viu arregalou os olhos.

— Edward Cullen? — perguntou ela.

— Sim. É Jessica Stanley, não é? — perguntei.

— É sim, estudamos na mesma escola em Forks! — disse ela com um sorriso embora estivesse desapontada no fundo. Eu sabia quem era, claro, mas fiz pouco caso. Eu nunca achei que ela fosse uma boa amiga para Bella, diferente de Ângela Weber, na qual seria um reencontro muito mais agradável. 

— Eu me lembro, claro.

— Alice Cullen! — saudou Jessica, ao notar a presença de minha irmã postiça. 

— Hum, oi. Que surpresa, Jessica. O que faz aqui? – perguntou Alice. Aproveitei pra sair dali, não queria perguntas, não queria nada que me ligasse ao passado, sabia que começaria a sentir aquela dor debilitante novamente.

Dei uma olhada significativa para Alice, ficaria monitorando seus pensamentos de longe, não a queria perto de minha filha. Antes de nos afastarmos completamente Jéssica alternou o olhar para Alice depois entre Nessie e eu, que segurava minha mão, mas não dei chance de ela dizer nada. Num rápido “Eu preciso ir. Até mais” fugi de lá com minha Nessie para uma loja qualquer, para manter o disfarce.

— Eu estou aqui fazendo faculdade de teatro. — disse ela sorrindo e logo seu radar “informativo” apitou. — E quem era aquela garotinha fofa?

Alice forçou um sorriso e disse que era nossa sobrinha, Jéssica pareceu aceitar, mas estava intrigada com algo que não conseguia definir.

Nossa vida ainda parecia ser muito interessante aos seus olhos, não era segredo sua fama de fofoqueira e poderia muito bem levantar suspeitas, mesmo não estando em Forks.

— Nossa, ela é tão linda, eu percebi que ela se parece com Edward. — "E curiosamente com Bella", pensou. "Não, não pode ser... disseram que Bella está morta... mas... e se... não, não é possível... mas em todo caso..."

— Eu soube o que aconteceu com Bella, sinto muito... — Enrijeci ao ouvir aquilo.

— É, ficamos sabendo. — Alice suspirou triste.

— Oh, vocês ficaram sabendo?

— Sim, ficamos.

— Que coisa, não? Ser morta por ursos, muito triste, mas ela vivia entrando naquela floresta, não sei o que tanto ela fazia lá, só poderia acontecer algo desse tipo, não? Eu não vi, mas disseram que acharam o corpo dela todo ensanguentado, e com cortes profundos... — disse ela e eu vi em sua mente como tudo se passou. Ela fora no enterro de Bella, ela não foi velada e seu caixão não foi aberto. Vi a expressão de dor no rosto de Charlie... e de Jacob Black, Ângela Weber, o insuportável Mike Newton e toda uma cidade curiosa e fofoqueira como Jéssica, especulando o que poderia ter acontecido.

Aquelas lembranças estavam me matando, mas como o maldito masoquista que sou, continuei atento a suas lembranças. Os Quileute também estiveram presentes e trocavam olhares significativos, eles sabiam a verdade. Já estava me consumindo em minha dor, quando uma pessoa me chamou a atenção: era Lara.

Nessie balançou minha mão e sorriu me tirando do quase transe em que me encontrava.

“Papai, estou com fome!” Pensou sorrindo com olhos pidonhos.

— Realmente Jéssica, muito triste. Não comente na frente de Edward, ele ainda não superou, não se conforma.

— Aahh... eu compreendo. — "Puxa... esse tempo todo ele ainda está sofrendo? Será que se eu me aproximar dele... quem sabe agora eu não cons... "

— Bem Jéssica, foi um prazer revê-la, mas preciso me encontrar com Edward, até mais. — Alice se afastou rapidamente assim que percebeu suas intenções. Logo ela estava comigo e Nessie numa loja do McDonald's, ela nunca tinha visto uma e estava encantada.

Saímos de lá para ir embora, quando Nessie que caminhava sorridente parou em frente a uma vitrine de uma loja de brinquedos, que tinha um enorme bicho de pelúcia em forma de lobo marrom. Seus olhos brilharam.

— Papai! Compra para mim, por favor! — suplicou com as duas mãozinhas juntas. Era engraçada a cena. Como era um fraco, ao ver o sorriso de minha filha, assenti e ela quicou no lugar como Alice. Os pais humanos eram assim tão rendidos aos encantos de sua filhinha, ou isso era um outro dom meu?

Entrei na loja e comprei o lobo, tinha a plena certeza que tinha valido a pena, Renesmee abriu o mais luminoso sorriso de covinhas que eu já tinha visto e abraçou minhas pernas com força.

— Obrigada papai. Eu te amo muito! — disse ela em sua voz doce de criança.

Uau. Tantos brinquedos, papai! Aquilo é um playground, meu anjo. Eu lhe informei quando passamos em frente a um. Maravilhada pediu para ir até lá e experimentar a novidade. Um pouco hesitante e temeroso, acabei cedendo após Alice dizer que não haveria problema.

Sentados no banco Alice e eu observávamos Renesmee brincar; como ela era deslumbrante, a criança mais bonita que já vira na vida. Ela podia ser a mais bela criança existente no mundo. É, eu definitivamente era um coruja.

Acenou para mim e acenei de volta, estava completamente empolgada pela diversão que os brinquedos lhe proporcionavam e pela adrenalina. Subiu no escorregador e deslizou na rampa lisa, bagunçando seus cachinhos. Eu estava um tanto preocupado com ela se expondo assim... poderia se machucar. Ou então...

— Edward, sei o que está pensando. Pare com isso, ela está bem. — Quando Alice terminou de falar eu vi uma menina com aparência de uns dez anos se aproximar de Nessie e empurrá-la. O ato me causou uma raiva tão insana que fui andando em passos largos, senão correndo no ritmo humano, até onde estavam. Renesmee estava sentada desajeitadamente na areia chorando, quando me viu estendeu os bracinhos.

— Quem é você para empurrar minha filha? — eu disse entre dentes, quase num rosnado. A garota que se atreveu a empurrar Nessie arregalou os olhos, as amigas que estavam atrás dela também. Alice pôs a mão em meu ombro para me controlar, e no processo me puxando para longe.

— Venha Edward! — chamou Alice e Renesmee ainda chorava, a pressionei contra meu peito. Inalava e soltava o ar, numa forma de tentar recobrar minha sanidade. Se meu coração pudesse bater, ele estaria martelando descompassadamente naquele momento.

“Continue andando”. Pensou Alice ainda agarrada a mim, me impedindo de refazer os passos até a menina.

Eu ainda não conseguia raciocinar perfeitamente devido a cólera queimando por todo meu corpo, eu podia sentir o vampiro dentro de mim querendo tomar conta, pisquei freneticamente e encarei a linda garotinha de olhos achocolatados úmidos.

— Shiiiu! Está tudo bem, meu anjo. — Eu murmurei contra seu cabelo ao mesmo tempo em que o afagava. Uma parte de mim ficou aliviada por ela estar bem e pelo fato passar despercebido pelas pessoas ao redor, não seria bom.

— Pa.. Pai. Meu... Meu bracinho está doendo! — disse ela entre soluços. Eu peguei delicadamente seu braço e vi um arranhão sagrando. Tentei espantar a raiva novamente.

— Vamos para casa. — eu disse e Alice meneou a cabeça, um pouco atordoada. Depois de lavar o machucado de Nessie no banheiro e fazer um curativo na farmácia caminhamos até meu carro e colocamos as últimas compras no porta malas lotado, me perguntei como ainda não havia explodido.

Eu respirei profundamente. “Desculpe, Edward...” pensou Alice, pesarosa.

Sacudi a cabeça como se dissesse para que ela não se preocupasse. O insano ali era eu. Quase feri uma criança, e suas visões podiam mudar a qualquer momento afinal.

Acomodei Nessie no banco do passageiro e a mesma deitou se encolhendo como uma pequena bolhinha de cachos. Vê-la aconchegada ali afastou meu pensamento de instalar a cadeirinha. Eu me encostei no Volvo esperando Alice terminar de pôr a última sacola. Ainda me remoendo e expelindo os vestígios de raiva. 

— Edward não se culpe. — disse Alice, percebendo meu estado de espirito, se pondo ao meu lado.

— Eu quis machucar uma criança, Alice. Ainda estou tendo dificuldades para controlar a raiva que senti, se eu tivesse chegado a esse ponto, não conseguiria me perdoar, além de nos expor, não sei o que aconteceu... só me lembro de ter sentido toda essa raiva quando...quando...James. — lembrar do que aconteceu só me fez sentir pior.

— É o instinto de proteção, Edward, você é pai, sabemos como funciona agora. Vamos? — disse e entramos no carro em direção de casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Mandem reviews. Isso me incentiva...Bjinho carinhosos