Amor De Pai escrita por Little Flower


Capítulo 1
Conhecendo o papai


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem...



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[Edward]

— Vamos logo, Edward. —  insistiu Alice, é uma baixinha irritante.

— Eu já te disse Alice, não quero ir.

— Você é um chato!

Deu língua.

Ela estava tentando convencer toda a família ir ao boliche a noite e apenas eu estava do contra. Eu não sentia vontade de fazer nada, me sentia morto, apenas caçava e voltava para casa. Minha vida, ou melhor, existência, já não tinha mais sentido, era sem cor, monótona como sempre foi. Pior, antes eu não sabia que Bella existia, agora nada fazia sentido, cada dia, cada hora, cada minuto era gasto com um esforço sobre humano para não voltar a Forks para ver se ela estava bem, se seguiu em frente, se me esqueceu... Alice, melhor do que ninguém, sabia da minha vontade de me isolar do mundo, o que realmente fiz no primeiro ano, eu não queria ver ninguém, eu não falava com ninguém, apenas fiquei num lugar escuro, tão escuro como minha existência sem sair até para caçar, até Jasper aparecer e praticamente me obrigar a me alimentar e me convencer a voltar para casa. Sentia que agora Alice estava escondendo algo de mim, não sabia ao certo o que era, mas não tinha mais ânimo para suas charadas, devia ser algo irritante ou importante. Só não havia entendido o motivo de me deixar de fora.

Era um daqueles dias em que questionávamos nossa existência e antes daquele momento — de Alice retornar com o assunto boliche — estávamos em silencio. Todos em seus afazeres para camuflar seus pensamentos e sentimentos verdadeiros. Alice e Rose folheavam revistas para mais ideias de adaptações dos cômodos da casa, pois estavam se enjoando da decoração atual. Emm assistia a um jogo qualquer de beisebol. Jasper ao seu lado, de vez em quando olhando de esguelha para sua amada Alice, que o fazia sorrir de canto. Quando percebia seus olhares, ela também sorria e direcionava uma piscadela. Esme planejava encomendar mais artefatos antigos, marcava no tablet as opções, começara a pouco tempo a colecionar objetos arcaicos, que a fascinavam.

E eu próximo a janela, observando de braços cruzados o tempo mudar drasticamente, ameaçando chover em breve. Imerso em minhas dores costumeiras e escolhas erradas. Tudo sempre era direcionado a ela.

  Tão masoquista. Minha mente acusou.

O som da campainha preencheu o silencio. Não conseguia imaginar quem fosse, não era um fato comum recebermos visita. Raramente acontecia. O designado a atender tinha sido eu, já que ninguém fez algum movimento que indicasse que iriam se mover ou se levantar, nem mesmo Esme. Automaticamente todos olharam para mim e eu revirei os olhos.

Alice mais uma vez bloqueou seus pensamentos. Franzi a testa.

Abri a porta, mas de início eu não vi ninguém, apenas senti um cheirinho muito doce e diferente, quando abaixei o olhar me deparei com uma garotinha de aparência de uns dois anos de idade mais ou menos, ela era encantadora e quando seu olhar cruzou com o meu, pude ver a cor de seus olhos, tão familiares para mim, seu cabelo castanho-avermelhado de um tom estranho era brilhante e caía em graciosos cachos nas suas costas, suas bochechas rosadas davam mais vida ao seu rostinho perfeito. Ao seu lado havia uma pequena mala.

Agachei-me na sua altura.

— Oi, quem é você? — perguntei suavemente para não a assustar, embora eu tivesse a plena consciência que não tinha uma aparência intimidadora. Por alguma razão eu não conseguia deixar de encarar seus lindos olhos chocolates nem por um segundo, lembravam os da minha Bella.

Será que eu tinha o direito de ainda a chamar de minha? Definitivamente não.

Já começava a sentir aquela dor conhecida apunhalar meu coração com aquele simples fato. Será que eu estava piscando?  

— Oi, meu nome é Renesmee – disse ela timidamente, mas firme e também sustentando o contato. Seu coração pulsava forte, os lábios entre abertos demostravam seu nervosismo, mas nada indicava algum medo ou pânico. Ela não podia saber o monstro que eu era apesar de tudo. Para ela eu era aparentemente apenas um “garoto”.   

— Bem, eu posso ajudar em alguma coisa Renesmee? – perguntei educadamente. Não sabia o que uma garotinha poderia querer na porta da minha casa, sua mente era um turbilhão de imagens confusas, nervosas.

— Disseram que eu devia vir para cá. – disse ela baixinho torcendo os dedinhos.  

— E quem disse isso a você? – perguntei com o cenho franzido totalmente perdido.

— Tia Lara, ela cuida de mim. – respondeu e sorriu minimamente.

— E onde está sua mãe?

—  Eu não tenho mãe, tia Lara disse que ela morreu. — sua voz soou triste e eu senti uma leve pontada em meu peito com aquilo. Achando esquisito o efeito que aquela garotinha causou em mim.

— E onde está a tia Lara? —  ela virou para trás e apontou uma mulher do outro lado da rua, que acompanhava nossa conversa apreensiva.

Consegui identificar sua natureza, senti o cheiro doce de vampiro vindo dela. Aquilo estava cada vez mais estranho.

— Ela disse porquê te mandou aqui? —  ela assentiu e os cachos grossos balançaram ao redor da sua cabecinha com o movimento. Encantadora.

— Ela disse que eu vou morar nessa casa agora, porque meu pai vive aqui. — respondeu suavemente, com uma felicidade genuína e um sorriso de olhos esticados em expectativa. 

Pai! Pai? Ninguém nessa casa podia ter filhos. Balancei a cabeça numa negativa. Olhei indignado para a mulher que nos observava.

—  Você tem certeza disso, criança? — Renesmee assentiu. Ainda que eu achasse tudo aquilo um mal-entendido eu não me contive em perguntar por impulso e certa curiosidade — E como ela disse que seu pai se chama?

— Ela disse que o nome dele é Edward! – disse a garotinha com expressão pensativa parecendo se esforçar para se lembrar. Mas ainda sorria com o fato de encontrar seu progenitor.

Ela disse que o nome dele é Edward. Suas últimas palavras ecoavam em minha cabeça sem parar, como um disco riscado. Fiquei paralisado como uma estátua, não conseguia me mover um centímetro qualquer, simplesmente meu corpo não obedecia aos comandos de meu cérebro. Tudo o que eu meus olhos captavam eu não enxergava de fato, os sons externos eram longínquos. Isso era entrar em choque?

— Você está bem? — quis saber a criança num murmúrio doce.

Meneei a cabeça automaticamente.  

— Quem está aí, Edward? – perguntou Alice num tom alto desnecessário, despertando-me da paralisia. Imaginei se não era isso que ela estava prevendo. Pisquei os olhos e foquei novamente no rosto marfim da criança. Que me encarava de volta, maravilhada.

A ideia daquela constatação era tremendamente sem cabimento. Vampiros não podiam ter filhos. Não podiam gerar crianças. Nosso corpo não mudava nunca. Não da maneira correta para acomodar uma criança. Se houvesse alguma forma de ter filhos, Rosalie saberia. Ou até mesmo Carlisle. Mas contraditoriamente, no fundo uma intuição assombrosa me dizia que a garotinha estava falando a verdade.    

Curiosamente a garotinha a minha frente parecia compreender e entender quem era o homem que estava ali, no fundo ela já sabia quem eu era antes mesmo de Alice gritar meu nome. Ela parecia ser muito inteligente. Foi quando ela sorriu novamente com aqueles olhos castanhos brilhando intensamente.

— Você é ele, não é? — murmurou suavemente. Não consegui demonstrar nada quando ela perguntou, simplesmente não pude reagir de acordo com suas expectativas ou como eu realmente gostaria, continuava um pouco fora de mim.

Ainda em choque eu perguntei num sussurro. Ávido pela resposta:

— O nome de sua mãe, qual era? — se meu coração pudesse bater, ele estaria num descompasso alarmante.

Um brilho diferente atingiu seu rosto de anjo. Seu queixo tremeu, seus lábios formaram um beicinho e lágrimas cintilaram naqueles olhos chocolates que caíram com pesar. Sua dor era palpável. Resisti ao impulso de abraça-la e tentar consolá-la. Quase me esqueci do emaranhado de sentimentos que corriam dentro de mim.

— Tia Lara me disse que ela se chamava Isabella...Bella... — ela piscou, duas pequenas gotículas descendo lentamente pelas bochechas. Choque atravessou novamente meu rosto ao mesmo tempo que meu coração se contorcia mais ainda dentro de mim.

— Isa- Isabella?! A minha Bella? — novamente minha indagação não passou de um sussurro.  Ainda que não esperasse resposta alguma, não era necessário. De repente as cenas de meus últimos momentos com Bella passaram diante de meus olhos, seria possível? Ela concebeu uma criança minha? De um vampiro? Era tão surreal.

Eu não tenho mais mãe... Tia Lara disse que ela morreu. Minha Bella morta. Não! Eu não queria acreditar. Mais uma vez fui excruciado. A ferida se abriu ainda mais. Terminantemente eu tinha me tornado uma estátua de gelo. Não existia definição melhor para mim.

Estava numa espécie de frenesi, pois uma parte do meu cérebro não captou a aproximação cautelosa de uma figura até onde estava com Renesmee.

— Desculpe pela forma nada sutil de abordagem, Edward. — pisquei os olhos novamente focando na face da mulher que antes estava distante, observando de longe. — Prazer, sou Lara. — ela mantinha uma expressão passiva, se limitou a sorrir compreensiva ao se apresentar.

— Isso é verdade? Ela é realmente minha filha? — ainda era difícil de acreditar. Alternei os olhares entre a mulher de olhos dourados e a pequena garotinha agora silenciosa, com o rosto vermelhinho e seco. Mantinha uma mão pressionada em um dos braços de Lara, e olhava para o chão, me privando de ver seus olhos castanhos. Estava receosa. Com medo de uma possível rejeição.

Lara interrompeu meus pensamentos a respeito da criança.

— Sim. Bella, sua ex-namorada, é a mãe da criança.

— Edward? — pediu Alice novamente, dessa vez um tanto impaciente.

— Hum... Entrem, por favor. — gesticulei para a porta escancarada.  

Sem dizer nada ela me seguiu com Renesmee segurando sua mão. Peguei a pequena mala da criança. Entramos juntos em minha casa e todos estavam na sala com os olhos arregalados em expectativa e descrença. Confusão. Era o que todos estavam sentindo. As conduzi até o sofá onde ela se sentou com Renesmee ao seu lado ainda quieta, que corria com os olhos curiosos todo o cômodo. Todos a fitavam interessados. Eu me sentei de frente para elas em uma poltrona.

— Edward? Isso o que essa moça falou...– Esme se pronunciou.

Fiz gesto para que ela esperasse e voltei a olhar para Lara que estava com a postura reta. A conversa pode não ser saudável para a pequena. Franzi a testa. Bella me contou sobre seu dom. Por favor, não quero vê-la chateada. Surpreso meneei um pouco a cabeça em sua direção. De fato, o dialogo envolvia assuntos que Renesmee ainda era pequena demais para entender. Ou iria magoa-la. Olhei novamente para Esme.

 — Mãe, você poderia mostrar sua coleção de artefatos à Renesmee? — sugeri, fazendo um apelo para retira-la da sala.  A mulher sorriu com a ideia concordando com um balançar de cabeça.

— É claro, querido.

— Ou podemos achar algo mais divertido para fazer! — Alice interveio, recebendo um olhar reprovativo de nossa mãe postiça. A baixinha irritante estendeu sua mão para a criança incerta e acanhada, mas parecendo já gostar de Alice, Renesmee aceitou e caminharam juntas para o escritório, sendo seguida por Esme e Rosalie.

Assim que não foi mais possível tê-las a vista, me direcionei a Lara. Eu sabia que ainda que estivessem longe, as mulheres poderiam escutar perfeitamente. 

— Você pode, por favor, me explicar porque eu estou sabendo agora que tenho uma filha? — Ignorei a reação de incredulidade de minha família através de suas mentes, bloqueei seus pensamentos para me concentrar aquela conversa.

A mulher a minha frente vacilou com sua expressão neutra. Antes de responder tinha um brilho faiscante na forma como me encarou durante um tempo.

— Simplesmente porque Bella não sabia onde você estava — seu tom de voz soou um tanto ríspido — eu até tentei seguir algum rastro, mas falhei nessa busca. Fui eu quem a ajudei durante a gestação e nascimento de Renesmee. Ela não contava com mais ninguém — novamente fora seca, demostrando certa indiferença ao se dirigir a mim e continuou — desde que Renesmee nasceu há um ano e pouco estou tentando localizá-lo.  

— Bella perguntava por mim? Quis me encontrar?

— Todos os dias.

Aquilo foi um baque. Senti um peso a mais sobre minhas costas. Eu poderia ter estado com ela mais do que eu imaginava. De uma forma ou de outra eu havia destruído a vida de Bella. Trazendo a baixo seus sonhos, planos.

Eu me odiava. Se isso fosse possível. Eu já me detestava o bastante.

— Foi torturante para mim vê-la decepcionada por não conseguir encontra-lo. Até que um dia ela aceitou que não iria achar você e desistiu... Mas me deixou um uma missão.

— Entregá-la a mim. — afirmei me referindo a Renesmee.

Lara assentiu. Seus sentimentos para comigo eram indecifráveis. Sua mente era estranhamente silenciosa, deixava com que eu lesse o que ela queria e permitia. E notasse seus reais sentimentos se assim desejasse. Eu não a culpava por querer me desmembrar. Era até mesmo compreensível tal vontade. Era visível a doçura com que se recordava de Bella, como cuidou com cautela e zelo das duas. 

— Ela sabia que não iria sobreviver. E só contava comigo — novamente ela enfatizou o fato — para encontrar o pai de Renesmee e entregá-la a ele. Ela não queria que sua garotinha crescesse sem os dois. Era cruel demais, embora Bella confiasse na minha capacidade de cuidar de sua criança.

— Obrigado por isso. Por cuidar de Bella e de Renesmee.

— Eu não fiz isso por você. Fiz por elas. — cortou ela, cruzando os braços.

— Eu sei disso. E agradeço mesmo assim.

Ela assentiu e puxou o cantinho de seu lábio num sorriso mínimo.

Mesmo com todos os esclarecimentos eu ainda estava tentando digerir. Eu precisava de mais detalhes sobre aquela pequena criança que estava no escritório de Carlisle fazendo desenhos, a garotinha de olhos chocolates que, na verdade era minha filha. 

— Eu compreendo que você queira saber mais, mas sei tanto quanto você sobre o caso de Renesmee. Ela é uma hibrida, metade vampira e metade humana — começou como se ela tivesse o dom de ler mentes — ela pode sobreviver com os dois. Se alimentar normalmente e beber sangue.

Minhas sobrancelhas se arquearam em resposta.

— Eu não tinha a mínima ideia que poderiam existir crianças híbridas.

— Ela é especial, Edward, e a compressão sobre híbridos é muito vaga, quase nada se sabe. Sinto muito não possuir mais detalhes a respeito.

— Não se preocupe, iremos a fundo para tentar achar mais respostas.

Ela meneou a cabeça e esfregou as mãos.

— Bom, eu não poderei ficar, embora quisesse muito. — era visível que a separação era dolorosa, afinal Lara tinha cuidado de minha filha tempo demais para criarem um laço — E realmente espero que cuide dela da melhor forma possível. Bella iria querer isso. — novamente sua face tranquila foi substituída por uma expressão angustiada, ela tinha medo por Renesmee, de acontecer algo similar ao que aconteceu a sua amiga.

Isso não iria acontecer.  

— É, claro. Eu não a desampararei. — era uma promessa mais que verdadeira.

Ela assentiu minimamente.

— Renesmee? — Lara chamou se levantando e a garotinha apareceu caminhando em passos apressados até os braços já estendidos da sua guardiã. As três mulheres Cullen surgiram em seu encalço. Lara a segurou na altura de seu rosto — você vai se comportar, não é minha florzinha?

A pequena assentiu com um sorriso tristonho contendo o choro. Seu lábio inferior tremia. Lara havia preparado Renesmee não só a instruindo de acordo com sua peculiaridade rara, mas era explicito que ela sabia que em algum momento se separariam. Novamente o impulso de querer consola-la me tomou. Eu estava incomodado com as dores daquele pequeno ser.  

— Vou sentir tanta falta de você. Mas agora o seu pai irá cuidar de você tão bem quanto eu, ou talvez melhor. Você esperou tanto por esse momento não foi? — aquela pergunta me pegou desprevenido. Renesmee também queria me conhecer? Tive minha resposta quando ela sorriu com os olhos me encarando por sobre o ombro para depois retornar sua atenção a Lara. Ela parecia feliz em finalmente me encontrar.  

Foi ali que me desarmei por completo.

Naquele momento todos os resquícios de dúvidas, mínimas que fossem, que eu ainda tinha se fora. Como uma chama se apagando num sopro inesperado. Meu olhar incerto se transformou em devoção e admiração por aquela garotinha.

Lara depositou um beijo carinhoso na testa de Renesmee e antes de firma-la delicadamente no chão, a abraçou apertado, como se quisesse mantê-la ali, falou de forma doce: Adeus, florzinha. Se despediu formalmente dos demais membros de minha família que acompanhavam tudo em silencio e a conduzi até a porta. Enxergava nossas próprias costas nos pensamentos de Renesmee enquanto nos afastávamos.

— Obrigado mais uma vez por trazê-la para mim, Lara.

— Não repita o erro de deixa-la como fez com Bella.

— Eu não pretendo fazer isso.

— Você deve prometer a ela que não irá machucá-la. Ela precisa de você mais que tudo. Sempre precisou. — mais uma vez senti o peso de suas palavras.

Assenti.

— Cuide dela, por favor.  — ela apelou novamente.

— Eu irei, não se preocupe. Darei minha própria vida se for necessário. — não passava da mais pura verdade.

Com a promessa de que jamais deixaria a criança, Lara se foi floresta a dentro num correr quase silencioso.  

Quando fechei a porta atrás de mim, um temor, um terror incomum me atingiu. Eu tinha uma criança minha, uma filha — a palavra soou como um balsamo diferente dentro de mim. Como se fosse capaz de curar a ferida que demoraria a cicatrizar, se isso chegasse a acontecer um dia.

Ao retornar a menina estava encolhida no sofá acanhada, ainda que estivesse satisfeita por finalmente assumir seu lugar por direito. A analisei novamente, os olhos definitivamente eram copias fieis aos de Bella, sua pele branquinha e levemente corada, mas seus cabelos... eram... da cor dos meus? Era minha imaginação ou ela realmente se parecia comigo?

— Edward. — Renesmee quebrou o silencio e senti uma pontada de incomodo com o tratamento — Tia Lara disse para ler a carta que minha mãe escreveu para você.

— Bella me deixou uma carta? E onde está, pequena? – perguntei com um misto de emoções.

— Está na minha mochila. – ela apontou para as costas. Então puxou para frente e sua mãozinha capturou um envelope sujo e amarelado indicando quão antigo ele era.

Entregou-me a carta sorridente, revelando seus dentes branquinhos e quadrados. Como não retribuir? Me vi sorrindo para ela também. Abri a ponta com os dedos trêmulos... O papel estava manchando talvez pelas gotículas que Bella possivelmente tenha derramado por um monstro como eu. Que não merecia uma lágrima que caísse de seus olhos sentidos.

Edward...

Sei que deve estar chocado, acredite eu também fiquei no começo, mas a criança é sua filha. Nossa filha. Quando me deixou novamente achei que não aguentaria, a dor era demais para mim, mas então descobri que estava grávida e foi isso que me ajudou a seguir em frente, o bebê que me deu forças para ir adiante. Eu não podia contar ao meu pai que tinha ficado grávida, como dizer a ele que estava grávida de você? Não pude contar com os lobos, tive medo do que poderiam fazer com ela e muito menos procurar um hospital, o que diria a eles? Eu não sabia o que esperar. Consegui alguém que cuidaria dela até encontrá-lo. Você é o único que poderia me ajudar, sei que não vou sobreviver, não sou forte o bastante, fico mais fraca a cada dia, sou apenas humana, você precisa cuidar dela, você tem que cuidar dela Edward. Por favor, eu te imploro. Saiba que mesmo você indo embora pela segunda vez, mesmo sofrendo tudo que sofri, ainda te amo. Eu te amo e o bebê é o símbolo do nosso amor, do meu amor por você. Cuide dela, pois ela é um pedaço de nós dois, de mim... Sabe, não sei o sexo do bebê, mas minha intuição me diz que é menina... uma linda menininha parecida com você.

Eu estava soluçando... Chorando sem lágrimas. Meu peito parecia que ia explodir, a dor que sentia era insuportável. Tudo o que tinha reprimido dentro de mim vindo a se externar terrivelmente para minha família e a Renesmee. Esme se pôs ao meu lado e segurou meu ombro direito com sua mão como uma mãe consolando seu filho... Continuei lendo a carta do meu amor.

Por favor, Edward, não a rejeite, dê todo amor a ela como daria a mim se me amasse, queria tanto que estivesse ao meu lado agora, compartilhando desse momento mágico. Ainda assim eu o sinto comigo enquanto te escrevo, como se pudesse sentir seus braços ao meu redor, nos protegendo, a mim e a nossa filha... Sei que não vou conhecê-la, mas você vai, eu o invejo por isso, por poder vê-la enquanto eu só posso imaginar. E se um dia ela tentar se culpar por minha morte, por favor, diga a ela para jamais repetir isso, porque eu morri por amá-la, para salvá-la, foi minha escolha. Diga que eu a amo mais do que minha própria vida...e não me arrependo de nada, nada mesmo.

Eu te amo tanto... nunca deixei de amá-lo, e morrerei te amando...

Para sempre sua,

Isabella Marie Swan.

Não aguentando mais. Sentindo aquele mesmo impulso de antes, fui até a garotinha e lhe abracei soluçando sem vergonha nenhuma, e percebi que seu corpinho também tremia por estar chorando. Passei a mão em seus cabelos acariciando carinhosamente. Ela era tão pequena, tão frágil. Senti seu esforço para me abraçar mais forte... podia jurar que meu coração estava batendo novamente em sintonia com o de Renesmee. Ao mesmo tempo em que queria morrer por saber que jamais veria minha Bella novamente, sentia que precisava ser forte por essa menininha, minha filha.

— Papai... – ela sussurrou. Meu coração que não era feliz há tanto tempo encheu-se de uma alegria intensa... desconhecida... Todos observavam a cena calados, mas com brilhos nos olhos.

Minha Bella não estava mais aqui, mas Renesmee estava. Era nisso que precisava me concentrar, nesse pequeno ser inocente. Ela era um pedaço de nós dois. Jamais passou pela minha mente que poderia algum dia ser pai, nem perto disso, julgava impossível, mas teria que aprender agir como tal e exercer a minha paternidade.

— Posso chamá-lo de pai? — indagou ela esperançosa.

— Ficaria honrado. — eu lhe respondi sorrindo.

Ela enlaçou os bracinhos em meu pescoço, e a abracei ainda mais forte, porém tendo todo o cuidado do mundo. Seu perfume era doce como o de vampiro em contraste com o floral de sua parte humana.

Ninguém se atreveu a interromper nosso espaço. Mas os olhares de todos estavam sobre nós.

Passado o momento fraternal e totalmente sensitivo. Ficamos nos encarando como quando atendi a porta, ambos lado a lado no sofá. Parecendo encantados um com um outro. Guardando na memória o encontro. Renesmee me esperava, sabia sobre mim, seu fascínio talvez fosse esperado. Mas eu? Totalmente por fora do fato. Era um misto de emoções.

Esme se aproximou de nós.

— Você deseja alguma coisa, querida? — perguntou em seu tom maternal. 

— Bom... — segurou o queixinho numa expressão pensativa muito adorável e continuou em um tom tímido: — eu queria caçar, estou com sede.

— Você é das minhas, pequena monstrinha! — Emmett sorriu largamente agitando o corpo em satisfação, fazendo Renesmee corresponder ao seu sorriso.

— Edward, querido, comuniquei Carlisle sobre isso, ele estará aqui assim que puder.

— Obrigado, mãe.  — pedi sua mão e depois de apertá-la deixei um beijo no dorso. — Vamos esperá-lo voltar para casa antes de qualquer outro passo. — Todos concordaram num aceno breve de cabeça e retornei minha atenção a Renesmee — Você acha que pode esperar um pouco mais, pequena?

— Posso. — Ela sorriu.

— Enquanto Carlisle não chega, porque não nos apresentamos formalmente à criança? — sugeriu Rosalie numa animação estranha. Estava mais maravilhada que todos ali. Consegui detectar uma pontada de cobiça. Não gostando daquilo.

Assenti atento aos seus pensamentos. Renesmee vacilou um pouco, nervosa.

— Não se preocupe, anjo. Todos já amam você. — Tentei tranquiliza-la e notei com certa satisfação em como eu tinha a capacidade de acalmá-la. Ofereci minha mão e nos coloquei de pé. — como todos presenciaram hoje, inesperadamente, porém não deixa de ser um fato gratificante, ganhamos mais um membro à família Cullen. Nossa Renesmee.

Todos comemoraram e pude ver a face radiante de Renesmee e sorriso puro estampado em todos os pensamentos de cada um que faziam dela o centro do universo naquela sala, até mesmo Jasper.

— Renesmee. Essa aqui é sua família. — gesticulei enquanto os apresentava — Suas tias Alice, Rosalie. Seus tios, Jasper, Emmett. Sua avó Esme e Carlisle, aquele que estamos esperando, seu avô.

— Prazer em conhece-los.  

Cada um a cumprimentou de forma individual.

Alice a esmagou em seus braços e beijou ambas as bochechas da criança. Esme espremeu suas bochechas. Rosalie beijou sua testa. Jasper beijou o dorso da pequena mão e a chamou de ‘senhorita’, Renesmee respondeu segurando na barra de sua saia de pregas para fazer uma reverencia de leve e chama-lo de ‘cavalheiro’ o que os divertiu, para minha tremenda surpresa senão de todos ali. E por fim, Emmett, que me deixou inquieto ao rodopiar com ela numa delicadeza única, Renesmee gargalhou deixando evidente seu contentamento.  

— Então, seu nome é R-E-N-E-S-M-E-E porque Bella uniu o nome da mãe dela com o meu? — perguntou Esme, com a voz embargada repleta de emoção depois da revelação da origem do seu nome, até aquele momento, desconhecida por mim. Uma novidade atrás da outra.

— Foi sim. Quando Carlisle chegar eu vou dizer qual é o meu nome do meio. Posso chamá-lo de vovô?

— É claro que pode. Ele irá se derreter por você assim como nós, tenho certeza. — disse Esme e Renesmee sorriu triunfante. Aos poucos ela fazia a conexão conosco se aprofundar. Quase se esquecendo que nos conhecia a pouco tempo.

— Tia Alice, podemos buscar os desenhos que eu estava pintando?

— Claro! — Alice respondeu e pegou sua pequena mão para conduzi-la até o escritório para buscar as resenhas. Não pude deixar de encará-la com os olhos faiscando numa acusação escancarada. Pois agora eu sabia do que se tratava o mistério que escondera de mim. Depois conversamos ela pensou após ter notado a afronta. Soltei um suspiro. E me concentrei na vampira loira enquanto Renesmee não estava presente na sala. 

— Rosalie... — comecei num tom cauteloso.

— Ah Edward, eu sempre quis ser mãe. — rebateu ela já sabendo o assunto que eu iria abordar. Ela não tinha como esconder suas reais intenções. Não de mim.

— Não Rosalie, ela é minha filha com Bella, Bella ouviu? Renesmee vai crescer sabendo quem foi sua mãe de verdade, que foi amada por ela. E não quero tocar nesse assunto novamente.

Ela se calou saindo para o jardim inconformada.

— Renesmee! — cantarolou Alice enquanto as duas retornavam — Tenho infinidades de ideias para um novo closet, decorações de quarto! Qual sua cor favorita?

Rimos ao mesmo tempo. Alice sendo Alice.

— Eu amo rosa!

— É uma cor adorável e combina muito bem com você. — ela sorriu com meiguice.   

Não demorou muito e ouvimos o carro de Carlisle se aproximar e logo estacionar na garagem de casa. Vê-la daquele jeito tão feliz, rodeada por nossa família, fez com que me lembrasse que ela era ainda tão pequena e já havia sofrido tanto, prometi a mim mesmo que iria compensá-la, faria o impossível para que aquela felicidade tão sincera se perpetuasse. Bella na carta mencionara o receio de que Renesmee pudesse se culpar por sua morte, se dependesse de mim não aconteceria, não permitiria. Como culpar um ser tão puro e inocente por uma escolha de Bella? Isso não queria dizer que o buraco em meu peito não existia mais, ele está ali e mais doloroso do que nunca, eu apenas o estava deixando de lado temporariamente, pelo bem-estar e amor que já estava sentindo por minha filha... Nossa filha... Nossa filha. Era agradável repetir isso em minha mente, gostava de como soava — e a saudade novamente foi apenas abafada pelo carinho que sentia por essa menininha.

Quando entrou em nosso campo de visão Carlisle arregalou os olhos, porém sua confusão não passou de um vislumbre. Ele trocou um suave beijo com Esme e a mesma pegou sua maleta preta de trabalho de suas mãos. Carlisle alternou o olhar entre a criança e eu, possivelmente espantando com a semelhança gritante que compartilhávamos.

Antes de qualquer coisa, tomei a palavra:

— Ela é minha filha, pai. Com Bella.

— Esse é o vovô? — perguntou Renesmee em expectativa e eu balancei a cabeça. Ele sorriu gentil para ela.

— Acredito que sim, pequena. Eles falaram sobre mim?

— Sim. Mas não de mim é claro. Eu sou a Renesmee, vovô. A mamãe juntou o seu nome com o do pai dela sabia? — informou sem respirar, e surpreendendo novamente — meu nome do meio é Carlie.

Carlisle não esperava por aquilo. Ficou redondamente emocionado assim como Esme. Ele sempre nutriu um carinho gigante por Bella e constatar que até mesmo longe ela se recordara dele não tinha uma palavra sequer para externar o que sentia diante da surpresa.

— Eu adorei saber disso, Renesmee. E você gosta desse nome?

— Sim, gosto muito.

— Se importa se eu abraçasse você agora?

Renesmee sacudiu a cabeça e permitiu que ele a tirasse do chão num abraço apertado e sentimental. Antes de deixa-la ele beijou sua bochecha. Tão encantado como nós com sua amabilidade. Se virou para mim.

“Que incrível, Edward.... Mas acredito que tenha perguntas a fazer, estou certo?”   

— Você sabia que isso era possível? — indaguei sem delongas.

— Bem, Edward, eu estava fazendo algumas pesquisas um tempo atrás e me deparei com umas lendas brasileiras, agora vejo que talvez não sejam tão lendas assim.

— Lendas? Como o que exatamente?

— Elas basicamente falam de um demônio que se aproveitam de mulheres, sugam seu sangue e as matam. Falavam também de algumas que engravidavam e morriam no parto. Vamos até o escritório depois e tentaremos nos aprofundar nas pesquisas. Talvez Eleazar possa nos ajudar também.

— Vamos manter isso entre nós por enquanto, pelo menos até sabermos mais sobre isso... A pessoa que ajudou no parto de Renesmee, Lara, ela mesmo a trouxe e mencionou o que talvez possa ser o ponto chave. 

Repassei o pouco que Lara havia informado para Carlisle. Todos concentrados na conversa, interessados no assunto. Renesmee ao meu lado ouvia atenta.

— Ela come normalmente e também bebe sangue. Mas o que será que predomina? O coração pulsa ainda que em ritmo diferente, sua temperatura é quente, mas e quanto ao crescimento dela? — questionei. Um terror quase palpável em minha voz. Eu chegaria a perdê-la?

— Começaremos a verificar já. — disse ele, subiu as escadas, pegou instrumentos para medi-la e em um segundo estava de volta.

Seguindo as instruções, Renesmee ficou imóvel em meu colo enquanto Carlisle tirava suas medidas.

— Bem, ela está com 83 centímetros. Mediremos diariamente para ver se há alterações significativas. — anunciou Carlisle e assenti.

— Papai? Podemos caçar agora? — pediu Renesmee num ressoar baixinho, com as mãos alisando a barriga.

— É, claro. Já que a princesa quer caçar, vamos caçar.


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Notas finais do capítulo

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