Se Der, Deu; Se Não Der, Fudeo! escrita por apataeavaca


Capítulo 3
To fodido!


Notas iniciais do capítulo

Divirtam-se! o/



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Fodeu, fodeu, fodeu, fodeu, fodeu, fodeu, fodeu, fodeu!

- Até mais, Junior! – disse o filho da puta do Duff quando me deixou na porta do colégio com uma mochila pesada pra cacete – Não se meta em encrencas, estude bastante, tire boas notas e qualquer outra coisa que se faça na escola.
Me limitei a mostrar o dedo do meio para ele e me virar para o meu inferno. Comecei a andar em direção ao primeiro prédio e senti que estava sendo observado; eu não gosto quando isso acontece, mas dessa vez não tinha explicação, porque eu tinha vestido uma roupa normal. Pelo menos o Steven disse que estava normal... pensando bem, quem confiaria no Mr. Steven Pop Corn? Ah, meu Deus, eu sou uma mula!
- Ei, gracinha! – gritou uma voz masculina atrás de mim enquanto ouvia-se assovios – Ei, olha pra cá!
Certo, hoje eu estou extremamente paciente, educado e de bem com a vida, não vou me irritar com o time de futebol me chamando de menina logo nos primeiros cinco minutos de escola.
Eu estava até levando na esportiva, sabe como são esses caras de dezessete anos com esse cérebros minúsculos e cheios de proteína pra aumentar a condição física, são engraçadinhos por natureza, mas um deles cometeu o erro de me tocar. É, colocou a mão no meu ombro e ainda perguntou se eu era surda. SURDA!
Me virei nos calcanhares e parei para analisar o brutamontes. Dois fatos: ele tinha o dobro do meu tamanho e parecia um armário, mas eu sabia o que fazer, porque afinal eu sou um estrategista nato. Foi aí que eu acertei em cheio a dignidade dele e constatei que, mesmo com só a metade da minha, eu tinha mais dignidade que ele. É isso ai.
O cara caiu de joelhos, é claro, ficou meio fora de orbita, que foi quando eu acertei um soco bem no olho esquerdo dele, o que fez com que ele desabasse de vez aos meus pés. A única coisa que a minha mente brilhante se esqueceu de esquematizar era o que eu faria com o resto do time de futebol, que jogaram as suas mochilas para o lado e começaram a estalar os ossos ameaçadoramente. Suspirei, me virei de costas e corri.
Fodeu, fodeu, fodeu, fodeu, fodeu, fodeu, fodeu, fodeu!
Corri com o meu máximo, entrei em portas que eu nem sabia que existiam, esbarrei em pessoas que eu nem sequer olhei na cara, tentei até me disfarçar, mas todo mundo estava vestido com o uniforme vermelho e branco da escola, enquanto eu estava de calça jeans e camiseta preta. Eu só conseguia pensar que estava fodido, sendo seguido de perto por cinco caras metidos à atleta, até que vi em um corredor aparentemente vazio. Continuei correndo em direção a ele e vi uma porta sendo aberta; de lá, saiu uma garota com uma bandeja cheia de frasquinhos com líquidos coloridos - aquelas coisas estranhas de cientistas, sabe como é – e aquela sensação estranha se apoderou de mim. Uma sensação que dizia: FUDEU DE VEZ!
Claro que a sensação não podia estar mais certa, porque eu esbarrei na menina, que derrubou a parafernália dela e saiu rolando comigo no meio do corredor. Olhei para ela, encolhida em baixo de mim, com olhos arregalados e pensei por um momento que talvez não tivesse sido tão ruim ter esbarrado nela. Até, é claro, ouvir o doce som do time de futebol virando a curva do corredor em que nós estávamos, então fiquei de pé e percebi o que estava atrapalhando a aerodinâmica perfeita do meu corpo e me fazendo correr como o Steven; me livrei da droga da mochila e tenho a leve impressão de que devo ter acertado na cara da garota, porque ela me xingou.. pra cacete.
A questão era que eu não tinha tempo pra me desculpar – e mesmo que eu tivesse -, por isso eu deixei a mochila lá e sai correndo outra vez; claro que com a minha aerodinâmica acertada, eu conseguia correr muito mais aerodinamicamente, de modo que fiz o time de futebol comer poeira! E acabei dando de cara com a diretora, também.
- Dona! – gritei, parando a tempo – Me salva!
- O que aconteceu, menino?
- É que o time de futebol está atrás de mim. Lembre-se do que meu... pai... disse, eu sofria bullying! Está acontecendo tudo outra vez! Eles talvez tentem iludir a senhora com uma história maluca de que eu nocauteei um cara e o impedi de ter filhos, mas a senhora com certeza não vai acreditar. Dona, - não acredito que estou dizendo isso – olha esses bracinhos!
Foi o tempo dos caras chegarem. Me escondi atrás da diretora e esperei pra ver a bronca.
- Muito bonito! – disse ela – O senhor McKagan acabou de chegar à nossa escola, isso é recepção que se faça?
- Mas, diretora, ele...
- Não, não tentem me enganar com essa história sem pé nem cabeça!
Parei de prestar atenção no que eles disseram a seguir e me concentrei apenas em ficar lá, rindo da cara dos brutamontes e mostrando o dedo do meio para eles, em meio a uma dancinha da vitória triunfante.
- ...vocês estão na detenção. Felizes agora? – Ah, eu com certeza to! – Todo o time de futebol está na detenção por uma semana!
A diretora então voltou para sabe-se-lá de onde ela tenha saído e os caras me olharam com aquela cara típica de “vai ter troco”, mas nem liguei. Qualquer coisa era só dizer “olha esses bracinhos” e eu me livrava. Fácil.
Voltei a caminhar calmamente pelos corredores – que graças à corrida agora eu já conhecia – e senti falta de alguma coisa. Mas eu sabia que era algo que eu não ia usar muito, do contrário, eu não teria esquecido.
Mal terminei de concluir meu pensamento e alguma coisa extremamente pesada me atingiu. Cambaleei por um momento e me virei para xingar quem quer que fosse, mas foram mais rápidos.
- Te achei, sua coisinha laranja! – gritou a menina; aquela, na qual eu tinha esbarrado e depois tacado a mochila. Ah, a mochila! Credo, o que diabos o Duff colocou naquela mochila? – Você, seu filho da puta miserável, criaturinha desprezível, você estragou meu projeto de química de duas semanas! Eu vou...
- Michelle! – exclamou a diretora. Caralho, de onde essa mulher surgiu?
- Sim, querida diretora! – respondeu a garota. Mas hein? Assim, como se fosse educada!
Essa é das minhas!
- Você é a minha melhor aluna! – continuou a diretora, depois virando-se para mim – E eu tenho um pressentimento de que você será o meu melhor... fracasso. De modo que, Michelle, ele é sua responsabilidade.
- É o que? – disse ela, claramente abandonando a pose de aluna dedicada.
- Você me ouviu, de agora em diante, tudo o que ele fizer de errado, você recebe metade da culpa.
Mais uma vez a diretora sumiu para o além. Estava me segurando pra não gargalhar.
- Garoto... – começou a tal de Michelle respirando fundo com os punhos cerrados – Vamos deixar uma coisa bem clara aqui: se você apenas respirar fora do compasso eu vou te incinerar. Escuta aqui, seu bagaço...
- O que? – perguntei, parando de rir – Espera, isso foi uma piada de muito mal gosto com o meu cabelo!
- Cala a boca e vem comigo!

Eu nunca fui muito fã de escola, sabe como é. A pior parte, é claro, era ter que ouvir o que os professores falavam, como se a gente fosse burro e eles soubessem de tudo. Puff.
Dessa vez, eu bem que tentei prestar atenção, porque era como se eu tivesse tendo uma segunda chance de dar um jeito na minha vida, mas aí a professora, uma tal de senhora Johnson, feia pra cacete, com bigode e tudo, me saiu com essa:
- Hoje, nós vamos fazer uma revisão sobre os conceitos básicos do Teorema de Pitágoras.
Matemática não era exatamente o meu forte. Na verdade, acho que nenhuma matéria era... Então eu me permiti fechar os olhos, sabe, só pra descansar a vista. A questão é que eu apaguei.
De modo que lá estava eu, arejando a dignidade na praia sob um sol de lascar. Do meu lado, um barril de chope e uma empregada que fazia tudo o que eu queria. Finalmente um pouco de paz sem Duff, Slash, Izzy e Steven pra encher o saco...
- SENHOR MCKAGAN!
Abri os olhos devagar, vendo a praia se desfazer diante dos meus olhos.
- Quem foi o filho da puta desgraçado do inferno que ousou me tirar da praia e WAAAH, visão do inferno! – gritei, quando me deparei com um bigode ambulante. Se fosse só o bigode, beleza, mas é que atrás do bigode tinha a própria personificação do demônio. Ô, bicho feio! – Ah, oi, p’sora!
- Oi, senhor McKagan – respondeu a coisa feia, com a voz cheia de sarcasmo. – Onde estão os seus modos?! Dormindo na minha explicação no seu primeiro dia de aula!
- Onde é que estão os SEUS modos? Tem noção que você acaba de acordar uma criança em fase de crescimento que tem que dormir e se alimentar muito bem pra não ficar anêmico?!
- Quanta arrogância! – a mulher (se é que dava pra chamar, hm, aquilo, de mulher) praticamente gritou – Eu não tenho mais idade pra quinta série! Vamos, vou te levar para uma visita animada para a diretora.
- Com licença, professora – pediu uma vozinha tímida lá do fundo da sala. Assustado, olhei pra trás, mas era só a estressada da Michelle.
- Sim?
- Eu gostaria de pedir que a senhora repensasse seu veredicto e talvez revogasse sua decisão, não em prol do Sr. McKagan, mas em meu benefício, já que a diretora me fez responsável pelos atos dele. – continuou ela. Cara, eu não entendi metade do que ela falou. Ou não prestei atenção, você que sabe.
- Certo – respondeu a professora, depois de um tempão moscando a respeito. – Só dessa vez, porque você é uma ótima aluna. No entanto, serei obrigada a cuidar da situação do Sr. McKagan à moda antiga.
Gelei. Só faltava a mulher querer que eu ajoelhe no milho, reze o pai-nosso e ainda me bata com a régua.

Deu-se que no fim da aula lá estava eu, prostrado de frente para o quadro negro, encarando o giz sob o olhar severo da coisa ruim.
- Trezentas vezes “Não devo falar palavrões” – ditou a professora. Bufei, me controlando para não dar-lhe uma resposta mal educada.
Já estava na décima vez quando o sinal do almoço bateu e a velha saiu, deixando a mim e Michelle – que estava supervisando o castigo – sozinhos na sala de aula.
- O que você está fazendo? – perguntou Michelle quando terminei a décima frase e comecei a escrever outra coisa no quadro.
- Ela é professora de matemática, não é?! Ela vai saber contar – e, dito isso, coloquei ao lado da frase um sinal de chaves, um de vezes, o número 30 e outro sinal de chaves.
Saímos correndo da sala em direção ao refeitório, mas a essa altura, estava mais que lotado.
- Droga, bagaço, por sua culpa vamos ter que nos sentar ao lado do... Kevin! – falou a coisinha estressada. Me perguntei qual seria o motivo de tanto desprezo, mas resolvi esperar pra ver. – Se você não tivesse roncado no meio da aula, isso não estaria acontecendo. Você não podia ter babado em vez de roncar? Assim, a velhota nunca ia descobrir seu soninho da beleza!
Fomos pegar nossos almoços e depois saímos em busca da mesa do tal de Kevin. Coloquei minha pequena bandeja ao lado da da Michelle e parei pra prestar atenção no cara. Pra mim, ele até que parecia um cara legal, se você gosta do tipo nerd. Ainda estava querendo saber qual era a do mal-humor que estava fazendo a Michelle comer de cara feia quando o garoto abriu a boca.
- Então, eu ouvi uns boatos e... – começou ele; demorei um segundo pra perceber que ele estava falando comigo, mas me virei pra ele e até que eu tava sorrindo. – Tipo, você é mesmo um cara? Porque, sabe, você parece muito uma menina.
- Uma menina beeeem feia! – comentou Michelle.
Ignorei os dois, mas comecei a sacar o porquê do estresse que tava rolando.
- Pode ser que você tenha sido enganado, existe quinze por cento de probabilidade de você ser uma menina e não saber disso. – continuou o nerd.
Mano, ta legal, se eu pareço uma menina, a porra do problema é meu, caralho. Se ele abrir a boca só mais uma vezinha, eu juro que espanco ele até a morte.
- Porque se você...
Ai eu irritei. Nem quis ouvir o que o cara ia dizer, simplesmente me levantei e tinha certeza de que estava mais vermelho do que nunca.
- EU SOU HOMEM, CARALHO! – gritei e abaixei as calças pra ele poder ver a minha dignidade. O cara caiu da cadeira e a Michelle engasgou com o iogurte de chocolate que ela estava comendo com todo o cuidado (sabe, pra durar mais ou sei lá o que). É isso ai, minha dignidade é foda! E olha que é só a metade!
- Chocolate é sagrado, seu bagaço do inferno! – gritou Michelle tacando o potinho vazio de iogurte em mim.
Já ia mandar a Michelle ir se catar, mas alguém me cutucou e me interrompeu. Quando me virei pra ver quem era o filho da mãe, eis que me deparo com uma mulher, hm, digamos que daquele tipo que faria o Duff bater o carro. É, lindona mesmo.
Ela ficou me encarando um tempo e eu fiquei lá, pensando qual era a dela... até me lembrar da situação e perceber que ela estava era esperando eu erguer as calças.
- Venha comigo – disse ela apenas, se virando e fazendo sinal pra eu a seguir. Então eu pensei, é lógico: fudeu.
Entramos em uma salinha com uma plaquinha na porta “Giselle Moore – vice diretora”. Eita, não podia ficar pior.
- Muito bem – disse e a tal de Giselle lendo alguma coisa dentro de uma pasta de papel pardo - Willian Bruce McKagan... Você está aqui só há algumas horas e já arranja problema? Maníaco depressivo?!, desnutrição, esquizofrenia?, mas hein?! Sinto muito garoto, mas abaixar as calças no meio do refeitório com essa sua ficha passa de insensatez, você pode ser retardado também! Tenho que chamar a diretora...
Certooo, fodeu, usa a cabeça caralho, pensa, pensa, pensa...
- Er... sabe meu dia foi extremamente estressante... - comecei. Ela me olhou como se esperasse que eu continuasse minha história - Sério, fui perseguido pelo time de gorilas com esteróides por toda a escola, e vejo em seus olhos, honey, você também está cansada...
É, dá em cima da mulher seu grande filho da puta, vai lá, vai se foder mais ainda!
Deu-se que a mulher levantou e deu a volta na mesa, parando na minha frente e me olhando de olhos cerrados; podia mesmo ficar pior?
- O que você quis dizer com isso?
- Não sei direito - respondi. Porque afinal eu não sabia mesmo, então - Sabe, todos dizem que o meu forte são as atitudes e não as palavras.
A mulher abriu a boca - provavelmente pra chamar a diretora, já que ela apertou um botãozinho no telefone - e eu só conseguia pensar que eu estava ferrado e tinha que fazer alguma coisa. Foi com esse pensamento que eu agarrei a mulher.
É agora fodeu mesmo; além de ser acusado de exibir minha digníssima semi-dignidade no meio do refeitório, serei acusado de tentar seduzir a fulana pra ela não foder minha vida com a diretora e a frase “retardado” entrar na minha ficha de problemas mentais... Sem falar que a Michelle não vai gostar muito... é isso ai vou ficar aqui beijando a fulana pra sempre assim não tem como ela sair pra foder com a minha recente vida escolar... fato que to ficando com falta de ar... é isso ai, o ar ta acabandooo...
Larguei a mulher e vi ela sugar todo o ar atmosférico antes de se recompor e olhar pra minha cara como se quisesse dizer “agora você está ferrado”. Mas a questão é que ela foi pra perto da porta e abaixou a cortininha, depois se virou pra mim de novo.
- Hm, dez minutos – disse ela, consultando um relógio de pulso imaginário – Melhor com atos que com palavras... vamos ver!
E então ela estava me beijando outra vez, aproveitando que eu tava de bom humor. E começou a passear com a mão por áreas indevidas, tipo invadir o espaço privado da minha dignidade e foi então que eu percebi: EU IA SER ESTUPRADO! Mas até que eu tava gostando, hehe...

De modo que lá estava eu, em cima da mesa da mulher, tentando pegar o meu cinto que tinha ficado pendurado no ventilador. Melhor nem pensar em como ele foi parar lá. A fulaninha tava brigando com os botões da blusa dela quando a porta abriu. Fala sério, as pessoas tem que aprender a parar de serem BURRAS! Porque, sério, quem acedia um aluno em plena luz do dia sem trancar a porta?
Pra mim tava tudo numa boa, sabe como é, a culpa não era minha nem nada, ainda podia ganhar uma grana por ter sido molestado. Mas a fulana ficou em choque quando a Michelle apareceu, e ficou lá abrindo e fechando a boca que nem peixe fora d’água sem conseguir falar nada.
- Se eu conseguir um passe livre por duas semanas, sou cega surda e muda. - disse Michelle virando-se de costas pra dar mais privacidade pra fulana terminar de abotoar a blusa. Quem vê pensa que é educada.
- Er... garoto, eu vou querer... conversar com você de novo, não ouse perder aula pois eu vou até a sua sala buscá-lo. - disse a mulher quando pulei de cima da mesa e segui Michelle pra fora da salinha.
- Claro - respondi. Até parece, mulherzinha chata!
- Apesar de ter uma vaga ideia... - começou Michelle se jogando num dos bancos do refeitório (agora vazio) - o que diabos você tava fazendo?!
- Eu estava livrando sua barra - respondi.
- Minha barra?!
- Exato! Ela não vai mais mandar um relatório cheio de reclamações para sua querida diretora referente à minha pessoa, eu não levarei bronca e por conseqüência você também não!  - respondi rindo com uma sobrancelha arqueada - Ah, e não se esqueça que graças a mim, você pode circular pela escola no horário de aula por um bom tempo, hein?!
- Sabia que você é um tremendo de um descarado?


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Notas finais do capítulo

É isso ai, diazinho animaaado...