A aula passou lentamente, foi o maior desespero do mundo até chegar o intervalo. Primeiro porque a cada meia hora Michael comentava sobre minhas pernas. Segundo que nesse meio tempo Brian havia quebrado cinco lápis e duas canetas. Matt conseguiu fazer um furo no caderno e os outros tentavam acalmar os dois.

Mandei uma mensagem para Anne pedindo ajuda e ela disse que no intervalo tentaria acalmar o Matt. Não que adiantasse muita coisa, o sentimento de “Vou matar esse babaca” ainda estaria ali, mas perto dela Matt consegue ficar mais melosinho e consequentemente mais calmo.

- Jimmy me ajuda a fugir deles? – apontei com a cabeça para Brian e Matt.

- Desculpa bebê, vou passar o intervalo com a Kate. Pede pros dois ali.

- Johnny? Zacky? – supliquei.

- Se eles forem brigar, vamos junto. – choraminguei. Por que meus amigos precisam ser tão cabeça dura?

- Saco vocês dois mesmo. – revirei os olhos.

No intervalo como prometido Jimmy foi a algum lugar com Kate, Zacky e Johnny sumiram – ambos solteiros porque não conseguiram segurar as mulheres por muito tempo – Matt avistou a Anne e relaxou todos os músculos tensos. Brian sentou em um banco perto da sala e ficou ali sozinho. Suspirei. Lentamente caminhei para perto dele e sentei ao seu lado.

- Pensei que não ia falar comigo.

- Resolvi que foda-se. – dei de ombros. – O orgulho ainda tá aqui, mas não quero te ver sozinho.

Avistei uma garota perto do bebedouro dando em cima do Michael. Torci mil vezes para que ela tivesse sucesso e ele largasse do meu pé. Acho que ele percebeu isso porque mandou um sorriso malicioso pra mim e se atracou com ela. Idiota.

- Arrazando corações. – Brian resmungou ao meu lado, encarando o mesmo ponto que eu. Seus músculos ficaram tensos e o punho cerrado.

- Ei. – puxei seu rosto na minha direção, fazendo-o olhar para mim. – Se acalma tá bom?

- O quero longe daqui. – abaixou o olhar, preferindo encarar meu top (julgo dizer meu decote, mas ok) do que meus olhos.

- Não começa vai... Não quero ninguém brigando com ele.

- Por quê? Vai defender seu amiguinho? – rosnou.

- BRIAN! Chega! – levantei irritada e entrei na sala.

Como ele conseguia ser tão insuportável quando estava com ciúme? Credo. Odeio isso. Sei que já cometi muitos erros por conta do ciúme, como naquela vez que soquei a garota por ela estar jogando uns verdes pra cima do Brian, mas porra.

- Sozinha? – entrou já lançando aquele conhecido olhar pervertido.

- Não agora tá Michael? Me deixa em paz. – resmunguei.

- O que foi que aconteceu? – ele me puxou para mais perto dele pela cintura, colando nossos corpos. Abriu aquele sorriso sedutor que me conquistou em Londres fazendo, mais uma vez, me amolecer perto dele.

- Nada. – suspirei. Ele precisa ficar longe de mim, muito longe de mim. Sempre que as coisas começam a melhorar com Brian ele aparece e estraga com tudo. Não sei se consigo suportar por mais tempo tanto drama, já estou farta.

Lentamente ele foi passando a mão pela minha cintura, descendo até as coxas e voltando para a cintura, sem antes é claro apertar minha bunda. Respirava fundo inúmeras vezes, mas sei que podia terminar com aquilo de uma vez por todas. E não do jeito mais sensato.

Ouvi passos e alguém empurrando a cadeira com força, tive plena consciência de quem era e tentei me afastar de Michael o mais rápido possível. Em vão, é claro. Ele era simplesmente forte demais.

- Me larga. – reclamei. Michael aproximou-se do meu rosto o máximo que pode e me beijou. Em momento algum correspondi, mas ele não se abalou por conta disso.

- Que tal sairmos mais tarde? Posso passar na sua casa. – sorriu e foi se sentar. Os outros alunos começaram a entrar e sentarem nos seus lugares. Matt foi o ultimo a fazer isso, mas antes de finalmente sentar, aproximou-se da carteira de Michael e colocou os punhos fechados ali em cima, batendo-os provocando um estrondo horrível.

- Lá fora, depois que todo mundo for embora. – ao falar isso finalmente dirigiu-se à sua mesa e sentou. Congelei no mesmo instante. Teria briga e seria no final da aula, quando a escola estivesse vazia.

- Conte comigo. – ouvi Brian falar para Matt que acenou com a cabeça. Tudo ao redor começou a rodar, uma ânsia de vomito resolveu aparecer, sem contar na febre que surgiu do nada. Jimmy reparou todos esses sintomas e perguntou se queria sair da sala. Neguei com a cabeça e continuei olhando para frente. Ele passou a mensagem para Zacky e Johnny que estavam atentos a qualquer movimento que fazia. Eles não podem brigar, por favor, eles não podem.

Final da aula.

Lá estavam eles, esperando a escola ficar vazia para finalmente começarem. Estávamos no ginásio, sendo assim nenhum professor ou diretor iria nos ver o que ao meu ponto de vista era a pior coisa do mundo. Eles podia se matar a vontade e ninguém iria saber.

- Por que eles não desistem disso? – choraminguei abraçada com Zacky que tentava me consolar antes da hora.

- São dois contra um Marie, é até injustiça. – falou.

- Acho que não hein. – reclamei. Involuntariamente comecei a chorar feito uma criança e Jimmy juntou-se ao abraço.

- Calma baixinha.

- Não quero briga! – falei com a voz embargada.

- Você sabe que quando Matt põe uma ideia na cabeça é difícil de tirar. – Johnny falou, fazendo carinho na minha cabeça.

- Vocês fiquem perto de mim o tempo todo, não quero ver isso.

Zacky’s POV.

Marie estava sentada ao meu lado, me abraçando e escondendo o rosto no meu pescoço quando eles finalmente resolveram se pronunciar. Ela ficou tensa no mesmo instante, chorando desesperadamente.

- Qual a parte de ficar longe dela você não entendeu? – Brian berrou.

- E a parte de ficar longe de nós? – o Armário se pronunciou.

- Não desisto tão fácil. – aquele imbecil sorriu provocando os dois mais ainda.

- Ele não tem medo de morrer. – Jimmy comentou, concordei com a cabeça. Marie choramingou.

- Que tal você sair da cidade? Ou melhor, que tal sair do país? Volta pra porcaria da Inglaterra e tudo isso vai ter um fim mais fácil.

- Não. – sorriu mais ainda. Quem queria meter um soco na cara dele nesse momento era eu. Aquele palerma ficava provocando cada vez mais! Babaca. – Vocês vão ficar de papinho ou vão direto pra ação?

O idiota se aproximou de Brian e sorriu mais para ele.

- Ei. Sua namorada é ótima na cama.

Foi o que bastou. Brian meteu um soco no olho do idiota que foi lindo de ver. O melhor era o tal do Michael cambaleando pra trás!

- ACABA COM ELE! – Johnny gritou, Jimmy riu e apoiou, não pude fazer muita coisa porque tinha uma coelhinha assustada do meu lado.

- Fica calma. – sussurrei no seu ouvido, não adiantou muita coisa.

Matt farto daquele imbecil resolveu dar um soco no estomago do cara, fazendo-o cambalear mais uma vez para trás. No entanto o cara sabia se recuperar rápido porque meteu um soco na cara do Brian que – se não fosse meu amigo – seria bonito de ver.

- SE RECUPERA BRIAN! – o anão gritou mais uma vez. Marie choramingou mais alto. Fiz carinho no seu cabelo.

O palerma partiu pra cima do Matt e foi ai que a briga realmente começou a ficar feia. Era armário em cima de armário. A única coisa que diferenciava os dois era o cabelo, porque de musculo tava difícil viu. Os dois começaram a distribuir soco um no outro e cada vez que Brian tentava se aproximar, levava um mais um soco ou no estomago ou na cara. Sempre do tal Michael é claro.

- BRIAN DESISTE CARA, TU VAI MORRER DESSE JEITO!

- Cala boca Anão! – Jimmy berrou olhando de relance pra Marie que ficou estática, parou de soluçar no mesmo instante e levantou a cabeça.

- Ele fez tudo àquilo no Brian? – perguntou, encarando agora o ex/futuro/pra sempre namorado. Confirmei com a cabeça. – Ele fez aquilo com o MEU Brian?

Seu semblante mudou. Marie de repente ficou seria e transbordando raiva. Levantou-se num salto e começou a descer da arquibancada.

- Agora chega. – ouvi ela reclamar antes de se aproximar mais da briga.

- Fodeu. – nós três falamos e nos entreolhamos. Agora a coisa ia ficar séria.

Marie’s POV.

Brian estava um caos, era sangue por todos os lados, a blusa suja o rosto um horror. Matt ainda estava se atracando com o idiota do Michael.

- Tudo bem? – perguntei, chegando mais perto dele.

- Sim. – falou com dificuldade.

- Sim uma ova! – gritei.

De repente tudo ao meu redor ficou vermelho, qualquer coisa que olhasse me dava raiva e meu alvo era um cabeludo que ainda estava brigando com meu melhor amigo. Isso iria acabar e era agora. Aproximei-me dos dois. Brian tentou protestar, mas a situação em que se encontrava não foi favorável.

- CHEGA! – berrei. Ambos pararam e olharam para mim. – ISSO AQUI JÁ PASSOU DOS LIMITES, MATT, LEVA O BRIAN PRA ARQUIBANCADA.

- Mas...

- AGORA PORRA, NÃO MANDEI ME QUESTIONAR. – ele saiu de perto e foi ajudar Brian. Quando eles finalmente chegaram lá, virei-me para encarar Michael. – E você. Seu monte de merda, seu imbecil, RIDICULO, IDIOTA, FILHO DE UMA PUTA, VOCÊ! VAI PAGAR PELO QUE FEZ COM ELES. VAI PEGAR PELA BRIGA QUE QUIS ARRANJAR. PORQUE VOCÊ QUIS ESSA BRIGA. VOCÊ QUERIA PROVAR QUE ERA O MELHOR. POIS BEM. VOCÊ NÃO É.

E com uma força que surgiu não sei da onde, soquei-o. Soquei mais uma vez, cada vez com mais raiva. Ele foi pego de supetão porque não teve nenhuma reação apenas apanhava quieto. Seu rosto já estava manchado de sangue.

- NUNCA MAIS CHEGUE PERTO DOS MEUS AMIGOS. –chutei-o no pior lugar possível. – NUNCA MAIS CHEGUE PERTO DE MIM. SE TE VER A CINCO QUILOMETROS DE MIM, CHAMO A POLICIA! JURO QUE CHAMO A PORCARIA DA POLICIA! VAI EMBORA! FOGE, FAÇA O QUE QUISER. NÃO TE QUERO NESSA ESCOLA, NÃO TE QUERO NO BAR EM QUE FREQUENTAMOS, NÃO QUERO NESSA CIDADE E MUITO MENOS NESSE PAÍS. S-O-M-E!

Zacky’s POV.

Marie estava montada em cima do cara, socando-o cada vez mais forte e, de uma coisa sei, essa garota é forte demais. Já competiu uma vez com o Matt pra ver quem era mais forte e... Se ele não treinasse tanto, ela teria ganhado.

O golpe final foi quando ela chutou mais uma vez o ponto fraco de qualquer homem e ele se dobrou no meio de tanta dor. Por um segundo, tive pena do cara.

Ela finalmente se levantou e veio até nós.

- Você tá bem Matt? – perguntou, analisando o grandão que em estado de choque apenas confirmou com a cabeça. Sua saia estava um caos por conta do sangue. – Vamos pra casa. Minha mãe deve estar trabalhando ainda. Só Tom está lá.

Nos dirigimos ao carro, Matt teve que levar o Brian porque o cara estava realmente horrível. Socamo-nos lá dentro, dando espaço pra ele ficar confortável e fomos até a casa dela. Não demorou muito e logo estávamos lá levando Brian até seu quarto, com a ajuda de Tom que abriu a porta espantado. Principalmente com o estado da irmã.

Marie’s POV.

Zacky, Johnny e Jimmy estavam cuidando do Matt lá embaixo enquanto fui tomar um banho rápido. Precisava cuidar daquele caos que estava, nesse exato momento, deitado na minha cama. Coloquei a primeira roupa que vi pela frente, um shorts jeans qualquer e uma blusa do batman e sentei ao seu lado. Brian me encarou por um bom tempo e tentou sorrir, mas era quase impossível.

- Você apanhou feio hein. – falei, sorrindo. Ele tentou rir e acabou reclamando de dor. – Sh. Vou cuidar de você, espera um pouquinho ai.

Fui buscar uma bacia com água morna e uma toalha para limpar todo aquele sangue do seu rosto. Brian reclamava quando o pano fazia contato com as feridas e eu era obrigada a parar por um tempo para acalma-lo.

- Agora você se parece mais com o meu Brian. – ele sorriu. Mesmo com toda a dor que estava sentindo, sorriu.

- Posso me acostumar a ouvir isso? – perguntou lentamente. Sorri e corei ao mesmo tempo.

- Cala a boca babaca, você tá machucado. – passei umas pomadas ali e ele finalmente estava descente. – Agora tira essa camiseta porque ela tá toda suja. Vou lavar isso.

Brian obedeceu prontamente e deitou novamente na cama. Peguei sua camiseta e minha roupa e caminhei lentamente até a lavanderia colocando tudo aquilo na máquina. Dei uma passada breve na sala para ver como estavam as coisas por ali.

- Matt, joga a camiseta na máquina pra lavar.

- Beleza. – sorriu. – Como tá o doente lá?

- Um caos. – suspirei. – Vou cuidar dele.

Ele assentiu com a cabeça e caminhou até a lavanderia, tirando a camiseta pelo caminho. Subi as escadas lentamente e entrei no quarto.

Ele estava lá, daquele jeito, todo machucado e não pude, não consegui evitar. Simplesmente comecei a chorar.

Deitei ao seu lado e chorei tudo o que pude. Brian me abraçou, fazendo carinho no meu braço e me acalmando do melhor jeito que conseguiu.

- Você já foi melhor de briga. – brinquei, ainda chorando. Ele concordou.

- Você me atrapalhou.

- É? Por quê?

- Porque estava lá toda abraçada com o Porpeta, chorando e isso me desarmou.

- Da próxima vez, foco no adversário e não na namorada estupida que estava chorando. – fingi brigar com ele, e ele sorriu.

- Namorada?

- Oh. Escapou sem querer. Quis dizer ex-namorada.

- Aham. Sei.

Ficamos abraçados ali até Brian pegar no sono. De fininho consegui sair da cama e fui até a sala. O pessoal estava vendo TV entediados como sempre e morrendo de sono. Já eram umas seis horas.

- Vocês podem dormir aqui se quiser. O Matt empresta o carro e vocês buscam roupas. – eles assentiram.

- Eu vou! – Jimmy prontificou-se.

- Pega umas roupas pro Brian.

- Pode deixar senhorita.

- Thomas me ajuda a arrumar os quartos de hospedes?

- Claro.

Subimos e rapidamente arrumamos os quartos. Mamãe provavelmente não falaria nada deles estarem dormindo ali, já estava tão acostumada que nem ao menos se importava.

- Fica lá fazendo companhia pra eles que eu vou ver como tá o doente ali.

- Beleza.

Antes de conseguir entrar no quarto, meu celular – que estava no bolso do short – começou a tocar. Estranhei porque geralmente quem me ligava era um dos meninos. Mas podia ser a Anne ou a Kate. Peguei o telefone e sem nem olhar o visor atendi.

- Alô?

- Preciso falar com você. – aquela voz conhecida soou do outro lado, arrepiei-me. – Me encontre perto do cais, daqui a trinta minutos. Esteja lá, ou vai ser pior para você.

Corri até o quarto e coloquei alguma roupa qualquer que no fim foi o short que tinha colocado antes, uma blusa cinza comum, meu vans e um boné pra disfarçar o cabelo bagunçado. Não que me importava com roupa num momento desses, mas ninguém poderia ver muita diferença. Coloquei meu celular no bolso e desci as escadas apressadamente.

Parei na minha mochila que estava em cima da cadeira e peguei dinheiro.

- Gente vou ao mercado comprar alguma coisa pra comer, se quiserem qualquer coisa ou se o Brian precisar de alguma coisa me liguem tá bom? To levando o celular. Vou ao mercado ali do outro bairro porque o sorvete que eu quero só tem lá. – resmunguei. O que não era mentira, meu sorvete preferido só vendia lá. – Volto logo. Fui.

Sai correndo e na esquina longe de casa peguei um táxi.

O taxista reclamou quando o mandei ir mais rápido, mas estava lutando contra o tempo para chegar a tempo no cais.

Estava excessivamente nervosa com tudo isso. Odiava sair às escondidas, ainda mais mentir pros meus amigos. Infelizmente não podia contar o que estava fazendo e, portanto, precisava mentir.

- Obrigada. – paguei o táxi e desci apressadamente. Na ponta do cais uma pessoa já estava esperando, aproximei-me calmamente e quando percebeu minha presença deu uma tragada em seu cigarro. Sorriu.

- O que você quer? – reclamei. Ele apenas continuou sorrindo.