Kira escrita por atalanta


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Segredos serão revelados neste capítulo. XD



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Eu despertei assim que os primeiros raios de sol clarearam meu quarto. Eu observei o teto do meu quarto a luz brincando contra os cristais criava um belo espetáculo. Internamente eu ainda esperava que fosse despertar de um sonho. Que acordaria em minha casa ou num hotel do Cairo, mas agora eu vejo que nada disso foi um sonho e ainda poderia se tornar um pesadelo. Eu me sentei na cama e senti uma leve dor de cabeça, não era exatamente o que eu esperava encontrar quando decidi passar as férias no Egito.

 

 

— Se vista Kira. — disse Derek batendo a minha porta — Lembre-se de que vamos ao templo.

 

 

Eu me assustei, estava tão distraída em meus pensamentos que não me lembrei que havia outras pessoas na casa. Estava realmente presa no Egito antigo, totalmente sozinha e morando com desconhecidos, sendo que um deles era extremamente hostil.

 

 

— Já estou indo, vou trocar de roupa — eu gritei lá de cima, separando uma das túnicas para vestir. Como o dia hoje estava iluminado, decidi usar uma túnica laranja. Pareceu-me adequado escolher uma roupa de acordo com o dia. Meu humor por outro lado não estava tão bom. É uma sensação que eu não conseguia definir, ia além da preocupação.

 

 

Eu corri pelo corredor do segundo andar, passei pelo banheiro só para escovar os cabelos, para sairmos logo.

 

 

— Estou pronta. — disse ainda com a respiração forte, Sed estava parado me olhando da porta.

 

 

— Você demorou muito. — disse Sed com um ar entediado, com um jeito nervoso logo pela manhã. Se minha mãe estivesse ali ela diria que é muito melhor começar o dia com um sorriso.

 

 

— Parece que seu humor fica pior ainda de manhã, mas eu não vou deixar você estragar meu dia.

 

 

— Estávamos esperando por você, tomaremos café na casa de Anath e depois vamos ao templo.

 

 

Eu passei por Sed e saí pela porta caminhando lentamente, eu me sentia alerta e nervosa. Eu não podia simplesmente fingir que o que estava acontecendo comigo podia ser normal, talvez eu nunca me acostumasse. Derek parecia muito tranqüilo com a situação, mas Sed parecia tão desconfortável quanto eu. Derek me seguiu e quando passou por Sed, perguntou baixinho se ele também notara o quanto eu ficava bonita quando usava aquelas roupas.

 

 

— Ela não me interessa. Ela pode até ser bonita, mas é irritante. — Sed fechou os olhos pensando. — Eu a ouvi chorar esta noite.

 

 

— É mesmo? Eu não ouvi nada. Depois falamos disso. — Derek percebeu que eu já estava bem a frente deles — Kira — ele gritou — espere, por favor. Você pode se perder.

 

 

Eu parei e fiquei olhando minha nova família. O vento soprava suavemente e balançava minha roupa, fazendo-a dançar. Devo confessar que até mesmo isso me deixou um pouco feliz. Um grupo de moças passou por mim, rindo bastante, elas me olharam e eu acenei.

 

 

— São moças do palácio. — eu ouvi a voz de Sed atrás de mim.

 

 

— E o que elas fazem?

 

 

— Acredito que ultimamente vem preparando o casamento de Nefertiti.

 

 

— Então é isso. — eu disse pensativa.

 

 

— Isso o quê?

 

 

— O período em que estamos. Eu me perguntei em qual das fases do Egito estamos.

 

 

— Não devia discutir isso com Sed. — alertou Derek — ele não faz idéia de como as coisas vão mudar.

 

 

— Desculpe. Eu esqueci de que poderia interferir na história.

 

 

— Na verdade você veio aqui exatamente para interferir, mas isso será explicado no templo.

 

 

Nós passamos quase uma hora, na casa de Anath e Iaret. Elas estavam muito bem dispostas naquele dia. Os garotos estavam totalmente deslocados em nossa conversa feminina, para mim era como estar em Londres aproveitando algum tempo com minhas amigas, ou passeando pelo museu no qual minha mãe é curadora, sempre havia alguém inteligente para discutir arte ou literatura.

 

 

Era uma conversa entre amigas, mas que mantinha certa distância cordial. Passamos um bom tempo assim e de tempo em tempo experimentando alguma coisa que Anath preparava. Depois disso Anath ficou séria, eu pude perceber em sua expressão. Derek levantou-se e disse que era hora de irmos para o templo.

 

 

A fachada do templo era suntuosa, eu me lembrei de que uma vez meu pai me disse que sobraram apenas ruínas desta construção, mas que antes ela era maravilhosa. Altas pilastras, adornadas com pinturas a mão de símbolos egípcios e cenas do cotidiano do templo, como as oferendas a Bastet, delimitavam a entrada, havia uma escadaria longa antes da entrada principal, essa entrada dava para vários corredores que se estendiam por outras salas e ambientes do templo.

 

 

Eu estava maravilhada, tudo parecia tão durável, tão disposto a resistir ao tempo. Iaret nos deixou para se juntar a um grupo de amigas que conversavam na entrada. Sed também parou e entrou numa das salas de oferendas a pedido de Derek. Somente Anath, Derek e eu continuamos a entrar no templo. Viramos a esquerda e descemos por um curto lance de escadas. Havia uma porta grande e estreita, suficiente apenas para que passasse um de cada vez.

 

 

Eu entrei por último e Derek fechou a porta ruidosamente atrás de mim. Eu me assustei com o barulho, com esse momento de distração, Derek me puxou para o centro da sala, onde havia uma grande mesa de pedra, posicionada dentro de um circulo de tochas acesas, esta era a única iluminação da sala. Eu fui puxada até aquela mesa, mas não me deitei. Por um instante pude divisar silhuetas se movendo no escuro, eu não poderia identificar ninguém, pois todos usavam capas pretas escuras, que lhes cobria completamente o corpo.

 

 

Havia algo errado, aquela mesa me lembrava sacrifício, toda a atmosfera era um pouco sinistra e me deixava nervosa. Derek novamente se aproximou e me entregou um copo com um líquido escuro, ele não me pediu para beber, apenas me ofereceu, eu queria entender o que estava acontecendo ali. Então eu bebi, engolindo rapidamente a bebida de gosto forte, parecia que havia álcool misturado.

 

 

Eu rapidamente senti os efeitos da bebida, eu estava arfando dolorosamente em busca de ar, meu coração acelerado, meu corpo instantaneamente dormente, procurei me apoiar na mesa de pedra, mas já era tarde eu caí no chão e bati fortemente a cabeça, depois eu senti mãos me carregando e me colocando sobre a mesa. As mãos ajeitaram meu corpo e meu cabelo. Aproximou-se do meu ouvido e eu ouvi Derek sussurrar:

 

 

— Silencia Kira. Porque quanto mais te dado é ver, menos pode dizer que sabes.

 

 

Neste instante os vultos cobertos com capas começaram a cantar, no inicio muito baixo para que eu pudesse entender, mas o ritmo foi se tornando mais acelerado e as palavras mais nítidas, mesmo assim eu não tentei entender o que eles diziam, o som era inebriante, a música apenas me empurrava cada vez mais para o meu subconsciente. A sala parecia rodar numa confusão de sons e imagens que eu não conseguia identificar. Eu tentei gritar pedir para que parassem, mas minha voz estava presa dentro da minha garganta. Eu não ouvi mais nada quando as visões começaram.

 

 

Eu presenciava por trás de cortinas uma mulher desesperada que gritava pela dor do parto. Ao longe seus gritos podiam ser ouvidos, eu não sabia quem era ela, mas ela implorava por ajuda, era óbvio que ela não podia me ver ali, mas eram em mim que seus olhares se focavam. Havia uma outra mulher na sala com ela abaixada sobre a cama, amparando a jovem mãe e tentando trazer mais uma vida ao mundo, As duas aparentavam estar cansadas, provavelmente fora um parto demorado.

 

 

Alguns instantes depois, eu ouvi choro de criança era urgente como se também lutasse para nascer, eu me aproximei para observar, era um lindo menino, de olhos verdes esmeralda como os da mãe. A mulher que cuidou do parto entregou a criança a uma serviçal que desapareceu com o bebê pela sala, a mãe agora estava deitada na cama, totalmente fraca e com um sorriso de satisfação no rosto. Era claro que ela pensava em seu filho, que estava bem agora.

 

 

Este momento foi interrompido pelo estridente grito da mulher deitada, ela começara a sangrar e a apertar a barriga em sinal de dor, ela se contorcia, novamente a mulher que fez o parto sentou-se na cama e abriu as pernas da mulher, ela sussurrou que havia mais uma criança nascendo. Os olhos a mãe fecharam em dor e descrença, como de perguntasse a algum de seus deuses por que isso estava acontecendo.

 

 

Ela novamente dava inicio aos seus esforços para ter a criança, depois de algum tempo, toda a sala silenciou, um trovão rápido soou em algum lugar lá fora e eu ouvi um choro fino de criança, ela, evidentemente, estava muito fraca. Depois disso eu vi apenas a escuridão se dissipar e eu acordei lentamente na mesa de pedra.

 

 

— Coloquem incenso. — eu ouvi Derek dizer. Um minuto depois a sala começou a recender a essência de rosas. O incenso é uma invenção egípcia onde eles queimavam as pétalas de flores em brasas.

 

 

— Você está bem Kira? — Anath perguntou docemente. Eu apenas abri meus olhos e acenei que sim com a cabeça.

 

 

— Você foi iniciada Kira, esta é a explicação da sua tarefa no Egito. Deixe-me explicar melhor. — Derek fez sinal para que Anath falasse.

 

 

— Há quase dezoito anos uma rainha deu a luz a seus gêmeos, um menino e uma menina. Naquela época havia uma profecia sobre o nascimento dessas crianças, segundo ela, a criança que não assumisse trono deveria desaparecer para que a outra reinasse absoluta. O rei dividido entre seus dois filhos, decidiu que um deles deveria ser criado longe do reino. Ele optou por ficar com a filha que nascera fraca e debilitada e mandar seu filho para longe. Assim a serviçal que fez o parto assumiu a responsabilidade de cuidar do jovem príncipe, que até hoje não sabe da sua origem privilegiada.

 

 

— Além disso, tudo transcorreu bem, cada um foi criado num lugar diferente, por milagre a pequena princesa recuperou-se e cresceu muito saudável. — continuou Derek.

 

 

— Mas o que eu tenho ver com essas crianças?

 

 

— Pelo bem de todo Egito, Kira proteja-as. — Anath adiantou-se em responder, seu tom de voz ansioso me surpreendeu.

 

 

— Você conhece estas crianças Kira, a menina é a princesa Nefertiti e o menino é Sed.

 

 

— O que? Sed é o príncipe? É sobre ele esta profecia?

 

 

— Precisamente. — respondeu Derek. — Deixe-me terminar de contar a história. Cada um deles cresceu sem saber da existência do outro. Sed foi levado pela parteira até a minha aldeia perto de Esna, ela entregou a criança no templo de Hórus e desde então ele está sob minha guarda. Por outro lado a princesa está noiva e é aí que se encontra o perigo para ela. — ele fez uma pausa e Anath continuou.

 

 

— O noivo, Ramsés, é um jovem das terras do sul, sem dúvida ele será o marido ideal.

 

 

— Então qual é o problema?

 

 

— Ele tem um irmão, Tutmés, ele é ardiloso e trama contra Nefertiti. Alguns membros do conselho já se corromperam pelo dinheiro de Tutmés, em troca de dar-lhe apoio para assumir o trono quando Ramsés e Nefertiti forem mortos.

 

 

— Como vocês sabem de tudo isso? E por que ainda não fizeram nada para impedir? — eu perguntei indignada. Eles se olharam por um instante antes de Derek responder.

 

 

— Você é que está destinada a mudar nosso mundo. Você que é a pena do destino, a única que pode reescrever a história de acordo com os parâmetros corretos. Afinal é você que viaja no tempo e não eu.

 

 

— Não seja injusto, há muito tempo tudo isso poderia ser evitado, não havia motivo para esperar por mim. Vamos contar a Sed a verdade, leva-lo até Nefertiti e prender o irmão de Ramsés.

 

 

— E aí a profecia se cumpre. Um terá que morrer para que o outro reine. — alegou Anath.

 

 

— Está disposta a brincar com a vida de Sed numa aposta em que todos perdem? — Derek acertara em cheio em me fazer escolher, não havia jeito. Eu não brincaria com a vida de nenhum dos dois.

 

 

— O que eu faço? — eu perguntei friamente.

 

 

— Fique conosco o tempo suficiente para ajudar. — ele pediu.

 

 

— Quer ler a profecia? — Anath perguntou. Meu olhar brilhou de curiosidade.

 

 

— Quero.

 

 

“O Nilo marca o tempo e as estações, como o dia e a noite controlam os dias de cada ser. A certa altura, estrela futura rasgará o céu. Com ela o milagre da fertilidade se realizará duplamente. Esmeraldas verão em novo rosto seus olhos brilharem e sua beleza em novo corpo consagrará noutra mulher. Herdeiros do trono, sois protegidos pela terna mãe do Egito. Quando a décima oitava cheia do Nilo trouxer fartura. Grande Akir, escolhe teu governante. Apenas um receberá teu tesouro, apenas um reinará, enquanto o outro em suas lembranças não mais existirá.”

 

 

— Os olhos de Sed e a beleza de Nefertiti. As profecias nunca são claras, mas esta faz bastante sentido para mim. — emendou Anath quando eu acabei de ler o papiro.

 

 

— Kira, Sed está comigo há muito tempo e Anath é próxima de Nefertiti. São pessoas muito importantes para o reino e ainda mais para nós. Eu daria a minha vida por eles e Anath faria o mesmo. — eu não pude olhar nos olhos deles certa de que veria uma súplica.

 

 

— O que eu tiver que fazer será feito e não vamos brincar com a vida de ninguém.

 

 

— Obrigada. — Anath sussurrou.

 


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