12:15h.

O último sinal finalmente tocou e em poucos segundos toda a multidão de alunos já tinha saído correndo para ir embora.

Por último, como sempre, sobrara Gerard, que estava terminando mais um desenho, e aproveitava para guardar seu material calmamente.

– Ahn... Gerard? – Frank apareceu à sua frente, já com a mochila nas costas e braços cruzados.

– Ah! Me descul-

– Para de se desculpar... – Sorriu – É só que... Se continuar assim vamos nos atrasar...

– Nossa! Esqueci totalmente que ia com você! Descul-

– Para! – Riu.

– Okay... Só vou terminar de pintar essa... parte... – Pintava o desenho bem devagar, prestando atenção à todos os detalhes.

– GERARD! Affeeee...! – Colocou a mochila no chão – Termina essa porcaria logo que eu vou te ajudando a arrumar as coisas.

Enquanto Gerard terminava de pintar, Frank pegava seu material e ia guardando rápido.

– Pronto?

– Sim...! – Mostrou o desenho – Gostou?

– Legal... Mas... Quem é?

– Não sei. – Corou e abaixou a cabeça – Não parece familiar?

– O uniforme esquisito do colégio sim! – Frank riu.

– Não te lembra ninguém...?

– Ahn... Talvez... É alguém aqui da sala?

– Sim!

– Hmm...

– Ah... Esquece, vamos logo. – Pegou a mochila da mão de Frank e saiu da sala logo sendo seguido pelo menor.

~Frank POV’s On~

Ele não fez isso né?

Não pode ser...

Ficou idêntico a mim! Todos os detalhes! Até o uniforme ridículo!

Não ia dizer que sabia que era eu... Estava com medo de acabar dizendo algo “inesperado” no momento... Mas estava perfeito.

Chegamos no estacionamento e minha mãe já nos esperava, impaciente mas sorridente, como sempre.

– Olá meninos! Vamos, entrem, entrem!

– Oi mãe!

– Oi Tia!

Deu a partida no carro e logo estávamos no meio do caminho.

– Como foi a aula?

– Chata. Odeio o Kurt! – Cruzei os braços, fazendo Gerard rir de novo.

– Você ainda não entendeu não é!

– Claro que não! Se ele gosta ou não da gente não pode importar! Ele está lá pra dar aula! Não para encher nosso saco... – bufei.

– Melhor conversar sobre isso com o diretor...

– Nada disso mãe! Com certeza ele vai inventar alguma coisa...

– Além do mais, já estamos acostumados mesmo. – Gerard se encolheu olhando para a janela.

– Bem, se preferem assim... – Fez uma cara derrotada. – Ah! Chegamos.

Ela estacionou e saímos correndo para a garagem, sem nem querer saber de almoço.

Peguei meu violão e comecei a afiná-lo enquanto Gerard abria um caderno cheio de letras de músicas.

– Vai ser a mesma de ontem?

– Você está dizendo... Sleep?

– Sim.

– Não sei, tem alguma outra que fique melhor para o Show de Talentos?

– Bom, na minha opinião são todas horriveis!

– Nossa Gerard, para de falar essas coisas!

– Mas é sério, você bem que podia começar a escrever as letras...

– Não! As suas são ótimas! Vamos, me dá esse caderno aqui! – Puxei o caderno de suas mãos – Hmm...

– Viu? Todas ridículas!

– Para com isso! – sentei ao seu lado – Qual dessas é a mais feliz?

– Mais... Feliz?

– Isso. A menos melancólica das letras.

– Acho que nenhuma... – Olhou para baixo.

– Nossa, falando assim até parece que tem uma vida horrível!

– Parece não é...? Ha... Ha... - Deu um riso fraco.

– Ah! Deixa disso! Então... Qual você acha a mais fácil?

– Olha, fazemos o seguinte: Fecha os olhos. Agora coloca passa o dedo pelo caderno. Quando quiser parar abre os olhos e vê em qual musica parou, pode ser?

– Meio idiota, mas serve! – Assim fiz – Deu... Uma tal de The End.

– Atah...

– Não quer essa?

– Agora já foi... Vamos.

– Cara, nunca ouvi essa música!

– Já... Só que estava sem nome e incompleta, olha a letra.

– A sim! Vamos.

– Now come one,
Come all,
To this tragic affair,
Wipe off that make up,
What's in is despair,
So throw on the black dress,
Mix in with the lot,
You might wake up and notice you're someone you're not,
If you look in the mirror and don't like what you see,
You can find out first hand what it's like to be me,
So gather 'round piggies and kiss this goodbye

I encourage your smiles,
I expect you won't cry!

Tudo ficava tão lindo quando tocávamos sozinhos, era incrível como ele mudava totalmente quando estava com o resto do pessoal. Lá, nenhuma palavra queria sair, nenhuma nota... Nada.

Acho até que os garotos querem mesmo desistir dele na banda, mesmo que todas as letras sejam do Gerard e tenho certeza de que ele não as daria pra gente.

Muita gente não sabe, mas muitas das suas letras são segredos, fatos, coisas da vida dele, outras não, talvez algo de um mundo alternativo que ele cria em sua mente e escreve, mas só o conhecendo muito bem para entender isso e mesmo para mim, foi difícil perceber.

– Another contusion,
My funeral jag,
Here's my resignation,
I'll serve it in drag,
You've got front row seats to the penitence, but
When I grow up I want to be nothing at all, I said Yeah!

– Yeah!

– I said yeah,

– Yeah!

– C'mon C'mon C'mon I said Save me!

– Get me the hell out of here!

– Save me!

– Too young to die and my dear!

– You can’t…

– If you can hear me just walk away and...

– Take me!

Cantei com ele nas partes em que era preciso mesmo, nós dois sempre olhando para o caderno.

Eu ainda lembrava o ritmo, as cifras, mas a letra... Não. Eram muitas.

Mais uma vez, tinha ficado lindo, claro.

– Gostou?

– Ahn... Não sei, você toca muito bem e eu ainda não entendi como consegue se lembrar de tantas notas, mas, como sempre, minha voz estraga tudo.

– Gerard, aceita logo isso: Sua voz é linda, pronto!

– Seria melhor se eu soubesse que você não está mentindo... – Cruzou os braços.

– Mas eu não estou!

– Não, imagina... – Revirou os olhos – É só me tirar da banda logo!

– Mas aí vamos ficar sem letras para as musicas!

– Viu? Então é só pelas letras! Minha voz que se ferre, não é mesmo?! – Se irritou.

– N-não foi isso que eu quis dizer!

– Meninos, não vão almoçar não? – Minha mãe gritou da cozinha, literalmente, salvando a pátria.

– Estamos indo mãe! – Gritei e olhei para Gerard, que estava sentado no sofá revirando os olhos – Vamos? – Estendi a mão.

– Hmm... Okay. – Sorriu e segurou minha mão.

Saímos andando um tempo assim, até notar o que estávamos fazendo.

Coramos, soltamos as mãos e desviamos o olhar, indo para a cozinha sem dizer nada.

– Tudo bem meninos? Estão... Vermelhos – Minha mãe olhou curiosa.

– Ahn... E-estamos? Ha ha... – nos entreolhamos e encaramos o chão.

– Tudo bem, deve ser só impressão minha – Riu – Sentem-se!

– O-obrigado Tia.

Almoçamos relativamente bem. Gerard nunca foi de falar muito, é muito tímido. Às vezes minha mãe puxava assunto, todos ríamos juntos e de repente acabava e o silêncio voltava...

Terminamos e fomos para meu quarto.

– Quer jogar algum videogame?

– Sei lá, sou ruim até o Mario Bros! – Riu sem-graça.

– Ah, que isso... Vamos! – Liguei o Nintendo Wii e peguei dois controles.

Sabia que Gerard não conseguia jogar praticamente nada, mas ele não tinha um desses em casa, quando ficava lá, passava o dia todo escrevendo e desenhando, então era sempre divertido fazer algo que ele não estivesse tão acostumado.

Sentamos em um puffe preto no chão e ficamos jogando Mario mesmo.

Tinham vezes em que não aguentávamos e caímos na gargalhada com as coisas idiotas que fazíamos e as formas mais ridículas de morrer no jogo.

Quando deu 2h da tarde a campanhinha tocou.

– Vou lá atender, já volto! – Saí correndo fazendo Gerard rir. Voltei com Ray ao meu lado.

– Oi! – Ele acenou, já olhando para o TV observando qual era o jogo.

– Oi! Quer jogar com a gente? Pode ficar na minha vez agora... – Gerard entregou o controle para ele.

– Mas... Mas a gente não terminou ainda...!

– Tudo bem Fran...k – Se corrigiu – Sou ruim nisso.

– Vou ver se acho outro controle... – Não ia ficar jogando com Ray. Não sei se ele ainda não entendeu.

MAS EU QUERO JOGAR COM O GERARD.

E ESSE MOLEQUE TEM QU ATRAPALHAR TUDO.

AFFE.

– Valeu Gerard! – Sentou no chão. No puffe não tinha mais espaço.

– Frank tá demorando, vou lá ajudar ele.

– Ajudar né Gee...

– É! – saiu bravo.

~Gerard POV’s On~

Ray idiota.

Só vou ajudar ele a pegar os controles no jogo!

Bom, espero que só aconteça isso.

– Frank? – Entrei em um tipo de closet no corredor da casa. Tinha de tudo um pouco ali: roupas, sapatos, CDs, fitas antigas, quadros antigos, álbuns de fotos, e talvez o controle – Cadê você? – não tinha luzes e era um lugar muito escuro mesmo de dia.

– To aqui! – Ouvi sua voz um pouco longe.

– Disso eu sei né! – Cruzei os braços. Mania estranha de fazer isso...

Ele riu.

– Vai mais para frente!

– Qual é! Não dá pra ver nada! Como sabe o que é pra fazer?! – Andei em passos curtos, arrastando os pés.

– Já estou acostumado. Venho aqui sempre que quero alguma coisa! Agora vem, não tem nada no caminho...

– T-tá... To indo...

– Ahá! Achei o controle! – Ouvi ele vitorioso, ficou mais fácil saber onde estava agora. Segui a voz – AAAAAAAAHHHHHH!!!

– QUE FOI? QUE FOI?

– Não sei, me deu vontade de gritar – Não pude ver, mas sabia que ele estava com um sorriso bobo no rosto.

– Avá... Estou no caminho certo?

– Sim, mas não sei porque tá demorando tanto... É SÓ ANDAR!

– Calma! NÃO SOU QUE NEM VO- - Tropecei em alguma coisa e caí, fazendo um barulho estrondoso, como se mais alguém tivesse caído. Não estava no chão. Estava em cima de alguma coisa.

Bati forte e ouvi um estalo e um gemido, logo meus lábios encostaram-se a algo parecido... Ou igual e, embora faltasse claridade, nos entreolhamos e continuamos encostados, meio que em um selinho demorado e... DROGA! ERA O FRANK!

– FRANK! DESCULPE DESCULPE DESCULPE! – Me levantei rápido, tentando esquecer seus lábios... Ah... – Você está bem??

– Ai... Minha... Minha perna... – Ele gemeu. Era de lá que veio o estalo.

– Desculpe! Vem. – O levantei e agradeci mentalmente por não ter luz nenhuma ali, porque estaria da cor de um tomate agora – Consegue ficar de pé?

– Só torci... Já vai passar – Passou a mão pelo tornozelo.

– D-desculpe, não queria... – Olhei para o chão.

– Tudo bem. – Encarou o mesmo.

Agora sim tinha ficado na cara que estávamos as coisas mais sem graça da história.

– E o controle?

– Deixa ele pra lá... Deve ter caído lá longe... E o Bob e o Simon já devem estar chegando, se é que não estão lá...

– Verdade. – forcei um risinho – Quer ajuda para voltar?

– Estou legal... Vamos embora. – Saiu com dificuldade, sem olhar para mim. Quando voltamos à claridade, abaixamos a cabeça, com certeza para que ninguém percebesse o quanto estávamos vermelhos.