POV Matt

"O QUÊ? E PORQUE NINGUÉM ME AVISOU?" gritei já empurrando Jason para o lado mas ele segurou meu braço.

"Matt, você precisa terminar o show."

"Mas.." Respirei fundo escutando os gritos da plateia mais uma vez.

Era difícil ter que escolher entre as duas coisas que mais amava: os fãs ou a minha família. Olhei para os outros no palco que me encaravam confusos, até que The Rev começou a tocar algumas batidas na bateria enquanto Syn tentava o acompanhar fazendo algum tipo de gracinha. Zacky deu uma piscada para mim e também entrou na brincadeira enquanto Johnny tentava achar um microfone. Eles estavam me dando tempo.

"Por favor Jason, a Clary precisa de mim!"

"E os meninos também Matt. Ou você acha que o público vai gostar de escutar essa voz horrorosa do Johnny por mais quanto tempo?"

"Ok. Quantas músicas faltam mesmo?"

"Duas. A Little Piece Of Heaven e Almost Easy."

"Mais o destino só pode estar de brincadeira comigo mesmo."

"Porque?"

Me aproximei de Jason segurando a gola da camisa dele.

"Porque até eu acabar de cantar A Little Piece Of Heaven meu filho já vai tá engatinhando seu idiota!"

Jason me olhava com os olhos arregalados enquanto eu tentava pensar com clareza. Soltei ele que quase caiu no chão.

“Tudo bem, vamos fazer assim, cantamos Almost Easy para terminar o show. Enquanto isso você vai ajeitar tudo pra que a hora que nós sairmos desse palco irmos direto para o hospital. Entendeu?”

“Mas vocês tinham uma coletiva de..”

“Que se foda essa merda. Meu filho não vai ficar esperando pra sempre pra nascer também.”

Virei as costas antes que ele dissesse alguma coisa e apareci no palco dando um grito de “I'm not insane”. Essa foi a deixa para que Syn já mudasse as notas na guitarra para o começo da música. Para quem estivesse assistindo, talvez tudo parecesse muito bem planejado, enquanto no fundo tentava me concentrar na letra enquanto choros de bebês ecoavam pela minha cabeça.

Ao fim da música, dei um breve agradecimento ao público e sai praticamente correndo enquanto escutava os passos e gritos dos outros atrás de mim e via toda a nossa equipe nos encarando e fazendo comentários que me deixaram ainda mais aflito.

Assim que passei pela porta dos fundos encontrei Jason estacionando a nossa van. Não deixei nem que ele desligasse a van, já fui sentando em seu lugar como motorista enquanto os outros se expremiam tentando passar todos juntos pelas portas. Jason gritou qual era o hospital que ela estava e sai acelerando enquanto Johnny fechava a última porta.

“O que é? A Clary? O bebê?” The Rev perguntou enquanto tentava pensar no caminho mais rápido.

“Os dois. O bebê tá nascendo.” Disse meio sem fôlego.

Eles ficaram em silêncio e Syn acabou cortando o ar com um grito.

“PISA MAIS NA PORRA DESSE ACELERADOR!”

“TÔ TENTANDO. Meu pé vai chegar no asfalto se pisar mais.”

Não cheguei a olhar para o velocímetro, tentava manter meu foco nas ruas, em que várias entrei contramão ou passei no sinal vermelho. Pelo menos conseguimos chegar em tempo recorde no hospital.

Assim que passamos pelas portas, vi Papa Gates e Susi conversando com um médico.

“Cadê ela?”

“MATT! Achei que você não fosse conseguir chegar a tempo. Ela já está na sala em trabalho de parto, mas o médico veio informar que eles provavelmente iram fazer uma cesária. Como só pode um acompanhante, imaginei que você iria.”

“Sim, eu vou.”

Comecei a caminhar pelos corredores junto com o médico que me jogava alguns olhares estranhos.

“Você estava em algum...show?”

Olhei para a minha camiseta de caveira e calça jeans, correntes e o óculos escuro pendurado na gola, além de saber que estava provavelmente todo suado.

“Sim.”

“Hum.. e a banda era boa?”

“Acredito que sim. Eu sou o vocalista dela.”

“Sabia que te conhecia de algum lugar. Meus filhos são fãs de vocês. Avenged Sevenfold certo?”

“Yeah.”

“Você me dá um autógrafo para eles?”

“Dou quantos quiser, até foto com todos os integrantes da banda mas por favor, essa sala tá muito longe?”

Ele sorriu e abriu uma porta. “Não, você só precisa colocar essa roupa aqui. Pais... todos iguais.”

Depois de devidamente vestido, entrei em uma sala de cirurgia com várias pessoas em volta da maca. Alguns instrumentos que vi pelo caminho deram arrepios até em alguém como eu.

“Clary!”

Praticamente corri até a maca e parei do seu lado enquanto seus olhos encontravam os meus.

“Matt! Você não tinha que estar no show?”

“Acabei ele antes. Tudo pelo nosso filho.” Como ela conseguia se concentrar nisso?

Fiquei lá parado vendo a movimentação dos médicos e enfermeiros em volta dela até que escutei sua voz me chamando.

“Matt... segura a minha mão?”

“Claro.”

Peguei sua mão que estava fria e olhei para o seu rosto de novo preocupado. Apesar da aparência cansada, ela ainda continuava linda. Ficamos ali nos encarando até que escutei um barulho estranho e resolvi dar uma olhada no que os médicos faziam. Ainda bem que tinha um estômago forte, porque no mínimo ou teria vomitado ou desmaiado. Um bisturi era deixado de lado enquanto a barriga tinha um corte gigantesco e o médico encaixa as mãos dentro dela. Olhei novamente para Clary.

“Tá tudo bem?”

“Sim.”

É, talvez ela não estivesse sentindo nada mesmo. Tentei manter minha atenção em seu rosto e ignorar os sons da sala, até que um choro de criança invadiu o espaço. Olhamos rapidamente para o médico e ali, em suas mãos, estava o bebê todo sujo de sangue, com a mesma cara de joelho que todos os bebês tem, chorando escandalosamente mas ainda assim, meu filho.

Logo após os primeiros cuidados, entregaram o pequeno Ian nos braços da Clary e agora, vendo ele de perto, não tinha mais como dizer que era igual aos outros bebês. Ao lado dela ele se tornou um pouco mais calmo e sem saber direito o que fazer, aproximei minha mão da dele. Assim que fiz isso, sua mão envolveu um dedo meu em um leve aperto mas que fez com que o tempo parasse no ar. Fiquei ali bobo admirando até que a Clary começou a rir.

“Cuidado pra não escorrer uma baba Matt.”

Sorri e depois de mais algumas palavras a enfermeira tirou ele da Clary para que ela pudesse receber os últimos cuidados.

“Você não quer segurar ele?” A enfermeira perguntou parando na minha frente.

Olhei para o pequeno corpinho que se mexia.

“Eu.. posso?”

“Mas é claro!”

Com a ajuda dela, ele ficou em meus braços por breves segundos mas que foram suficientes para que eu soubesse que o amaria para sempre.

–x-

POV Clary

Uma vida em suas mãos. Era assim que me sentia todas as vezes em que Ian estava em meus braços. Não tinha palavras para descrever como parecia perfeito agora. Ian era a luz que sempre faltou em minha vida, algo que a completasse.

É claro que Matt também fazia parte dessa felicidade. Na maior parte do tempo cuidavámos juntos do Ian, e quanto ele estava dormindo e todos diziam que devíamos aproveitar para descansar também, acabavámos ficando horas e horas conversando igual dois adolescentes apaixonados.

Os meninos também eram tios babões, que ficavam mimando e olhando para ele o tempo inteiro, assim como os avôs, que acabaram se tornando ainda mais unidos.

“Repete com o titio: T-H-E R-E-V. Vamo lá, não é tão diíficil assim.”

“Ele mal fica sentado sozinho e você já quer que ele fale o seu nome?“ disse parecendo perplexa enquanto The Rev segurava os bracinhos de Ian que estava deitado no berço o encarando sem entender nada.

“Eu li em um livro que é bom começar a estimular o bebê desde pequeno a falar.” Syn disse.

“Você leu? Nossa.. acho que o Ian está trazendo mais mudanças do que eu imaginava.” Falei irônica e Syn deu um leve tapa na minha nuca.

“Não exagera irmãzinha.”

“Mas sério, deêm algum ar para ele. Fazem só algumas semanas que ele saiu da minha barriga ok? É tudo muito novo. Não é mesmo?” Parei do lado do berço e Ian me olhou abrindo um sorriso mostrando os dentinhos que ameaçavam nascer.

“Cara me ensina como faz isso? Eu quero que ele ria quando eu chegar perto também.” The Rev falou balançando meus braços enquanto eu ria.

“A gente vai ter muito tempo pra praticar. Hoje a noite por exemplo.” Syn disse e olhei confusa para ele.

“Porque hoje a noite?”

“Bem, digamos que a cegonha resolveu dar uma folga para os papais dedicados.”

“Mas o Ian precisa de mim pra..” Syn parou na minha frente enquanto o olhava confusa.

“São só por algumas horas. A gente tem aqui tudo o que ele precisa, e além disso, o Johnny e o Zacky também estão vindo ajudar. Vocês merecem um descanso.” Ele se aproximou mais sussurrando em meu ouvido “E acho melhor você se animar com a ideia também, porque o Matt não foi tão difícil de convencer.”

Syn se afastou dando uma piscadinha significativa para mim. Andei até o quarto e encontrei um bilhete em cima da cama: “ Fui resolver algumas coisas. Esteja pronta daqui a uma hora. Te amo. Matt.”

Um leve friozinho de ansiedade percorreu a minha barriga e sorri tentando imaginar o que aconteceria.