And All Things Will End escrita por Saáh


Capítulo 34
Capítulo 33 - Cartas


Notas iniciais do capítulo

Gentee.. Mil perdões pela demora..sério..
Culpem meus professores.. são provas, trabalhos. Estava quase ficando louca já =X
Fds passado teve chuva de review aqui então queria agradecer a kikiwinchester que comentou em todos os cap. e a lizzy_16 que também está acompanhando a fic ;)
Muitoo obrigada a todas vocês na verdade gatas..
Espero que gostem do cap. um pouco maior que os outros e com um assunto que eu tinha pensado desde que comecei a escrever a fic.. Agora vocês irão conhecer mais sobre uma pessoa... *suspense* kkkk'
Beijoos



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O tempo parecia ter congelado enquanto tudo acontecia em câmera lenta. O som do coração do bebê se propagava pela sala enquanto um sentimento bom me preenchia. Sim, ele estava ali sem dúvida alguma. Os olhos de Matt brilhavam olhando para tela aonde até pouco antes ele achava não ter nada. Peter tinha um sorriso convencido no rosto como se isso sempre acontecesse.

Peter voltou a falar dizendo alguns detalhes técnicos que não prestei muita atenção pois os olhos de Matt estavam agora em mim. Era de tirar o fôlego o sorriso com covinhas e os olhos verdes encantadores que me encaravam. Depois de alguns segundos voltei minha atenção para Peter que continuava falando sem ter percebido nosso momento.

Assim que saímos da sala os meninos correram para perto de nós sem dar tempo para que eu e Matt conversássemos.

“E ai, mini Clary ou mini Matt?”  Johnny perguntou.

“Muito cedo pra saber isso.”

“Ah que pena. Mas porque o Matt tá com essa cara de bobo alegre então?” Syn perguntou e vi Matt revirando os olhos. Comecei a rir.

“É que conseguimos escutar o coração do bebê.”

Eles pararam de andar perto da saída da clínica e olharam com os olhos brilhando quase iguais ao do Matt. Fiquei imaginando o quanto de baba que não escorreria pela boca deles quando essa criança realmente nascesse.

Voltamos para a casa do Matt e assim que chegamos eles já correram para a TV colocando o CD com o ultrassom para rodar.

“Matt, sua TV tá com problema.” The Rev falou e segurei para não rir das expressões confusas de todos eles.

“Não, esse ai é o bebê mesmo.” Matt falou todo orgulhoso.

“Acho que esse médico tá enganando todo mundo ou ele é muito cego. Aonde tem um bebê ai?” Syn falou.

“É, isso dai tá lembrando muito mais o que a gente comeu no almoço.” Zacky falou passando a mão pela própria barriga enquanto eu e Matt riamos.

“Oh meu Deus! Meu neto.. ou neta. Nem acredito. Olha só que lindo a cabecinha já quase formada.. o corpinho. Esse bebê vai ser lindo mesmo.” Kim falou parando na frente da TV e apontando para alguns borrões na tela.

Olhei para o lado e todos eles a encaravam perplexos.

“Porra, eu tô ficando cego?” The Rev falou e todos nós rimos enquanto Kim nos olhava sem entender nada.

Os meninos foram embora logo depois de jantarem e terminarem de acabar com todo o estoque de comida que tinha na casa. Ficamos conversando com Gary e Kim até que decidi ir dormir e Matt levantou dizendo que ia me acompanhar até o quarto.

Subimos as escadas e continuamos em silêncio até chegar na porta do quarto dos hóspedes. Finalmente me virei de frente para ele e ficamos nos encarando por um tempo enquanto pensava no que dizer.

“Quando foi que tudo ficou tão estranho?” Acabei falando deixando meus pensamentos transparecerem. Matt me olhou confuso.

“Estranho.. no que?”

“Entre a gente.”

Matt me olhou por longos segundos e pude perceber que ele sentia o mesmo.

“Não sei mais como agir perto de você.” Ele falou de uma vez e fiquei tentando entender até que uma risada acabou escapando pelos meus lábios.

“MATT! Ainda sou eu aqui, lembra? Aquela pessoa que você enchia o saco fazendo de tudo pra conquistar, que acompanhou cada ensaio e show de vocês. Ainda sou eu.”

Matt também começou a rir. “Me sinto um idiota.”

“Sim, você é um idiota!” Disse dando um leve tapa em seu ombro e ele abriu um sorriso me puxando para um abraço apertado.

“Como senti falta disso.” Senti o sussurro de suas palavras em meu ouvido e abracei ele mais apertado.

“Eu também.” Até que parei para pensar um pouco e reformulei a frase. “Nós na verdade.”

Matt me afastou e vi mais uma vez o sorriso em seus lábios quando ele entendeu a frase. Ele abaixou ficando na altura da minha barriga.

“Ei pessoinha, quando é que eu vou conseguir enxergar você direito na porra daquela TV hein?”

“Você vai enxergar muito melhor quando ver ao vivo e a cores.”

Matt olhou para cima me encarando e levantou novamente.

“Sim, não vejo a hora pra isso.”

Sorrimos feito dois bobos e quando não consegui segurar um bocejo acabamos nos despedindo. Tinha acabado de fechar a porta e seguia em direção a cama quando ouvi o barulho dela sendo aberta novamente. Olhei para trás e só tive tempo de ver que Matt se aproximava quando seus braços me envolveram rapidamente em um abraço mais apertado ainda.

“Obrigado por tudo Clary. Só queria que você soubesse que hoje foi um dos dias mais felizes da minha vida!”

Olhei meio atordoada para ele enquanto se afastava e dava um beijo na minha testa.

“Boa noite.”

Da mesma forma ele saiu rapidamente do quarto e um sorriso bobo surgiu em meus lábios enquanto a porta era fechada.

-x-

Tudo parecia finalmente estar em seu devido lugar. Na escola as pessoas ainda comentavam sobre a gravidez, principalmente quando Matt passou a andar do meu lado, e mais uma vez simplesmente ignorei elas. Ninguém soube o porque do meu sumiço por uns dias e fiquei feliz por ter que me preocupar com algo a menos. Valary e Michelle não tentaram mais nenhuma das gracinhas habituais mas ainda via o olhar assassino de Valary principalmente quando Matt estava por perto. Ás vezes andávamos de mãos dadas pelos corredores ou passávamos um bom tempo apoiados um no outro com as mãos dele em minha cintura, o que atraia praticamente todos os olhares para nós. Quem visse provavelmente acharia que voltamos a ser um casal, mas não era bem essa a realidade.

Logo no primeiro dia que voltei, o diretor me chamou em sua sala e pediu milhares de desculpas pelo que havia feito. Acabei aceitando apesar de não achar certo as atitudes dele, mas estava tentando fugir de problemas ultimamente. A única pessoa que não poupei foi Joe. Assim que estava me sentindo melhor, fui junto com Matt até a delegacia e fiz várias denúncias contra ele e esperava conseguir pelo menos que ele ficasse a uma distância segura de mim e do bebê. Entre tudo o que falei, acrescentei os episódios das brigas entre Joe e Liss e o que ele fazia com ela. Apesar de tudo, Liss merecia uma vida melhor e tentaria ajudar um pouco para que isso acontecesse.

Também entrei com o pedido para não precisar morar mais junto com eles. Expliquei ao juiz toda a situação e ele aceitou que por enquanto eu morasse na casa do Matt, mas ainda precisaria ir em uma audiência aonde seria tomada a decisão. O advogado avisou que talvez eu ainda tivesse que morar com Liss, caso ela e Joe se separassem, e isso não agradou Matt ou algum dos meninos.

Tenho que admitir que até eu não gostei muito dessa ideia. Por mais que às vezes me sentisse como uma intrusa, Kim e Gary me tratavam tão bem e pareciam estar tão felizes com a gravidez que acabava me sentindo como parte da família. Talvez até fosse isso já. E também havia o Matt...

Matt. Sinceramente não sabia mais o que estava acontecendo. O bebê se tornou o centro e tudo da nossa vida e parecia que fora disso não iria conseguir mais nada. Eu amava ele, disso já tinha certeza. Mas todo o tempo que estávamos juntos nossas conversas eram sobre o futuro, como o bebê seria, o que faríamos. Nunca mais foi dita uma palavra sobre nós dois juntos. E ainda assim, havia certos momentos em que achava que ele também queria poder falar sobre nós, planejar, agir, fazer planos..

As semanas foram passando e enquanto as aulas iam se aproximando do fim, os preparativos para a turnê se tornaram ainda mais constantes. Peter me passou uma relação dos médicos que deveria procurar em cada cidade que parássemos, incluindo datas e horários de consultas já marcadas para que pudesse ser feito o acompanhamento correto da gravidez.

Os meninos estavam extremamente empolgados, ainda mais quando começaram a receber pedidos de autógrafos. Os ensaios se tornaram mais frequentes e já sabia praticamente todas as letras. A forma como eles tocavam demonstrava a paixão que tinham pela música. Não era só um fetiche ou hobby. Conseguia ver em cada olhar o quanto tudo isso significava para eles.

Com tanta correria, Matt acabou não me acompanhando em algumas das consultas. Não havia me importado tanto até o dia que, sem nenhum aviso, Peter me falou o sexo do bebê.

Estava andando em direção aonde Gary e Kim iriam me buscar mas só o corpo estava presente. Minha mente pensava ainda mais em todas as possibilidades para o futuro. Será que Matt iria gostar? Menino ou menina.. ele nunca deixou muito claro o que preferia. Entrei dentro do carro e ia respondendo as perguntas de Kim automaticamente. Queria gritar para todo mundo isso, mas Matt não iria gostar de não ter sido o primeiro a saber, disso já tinha certeza.

Ainda no carro liguei para o Matt pedindo para nos encontrarmos, mas ele avisou que iria ter uma festinha no Syn e que era para eu ir para lá também. Chegamos na casa dele e me arrumei rapidamente antes que Gary me levasse para a casa do Syn. Susi abriu um sorriso enorme quando me viu parada em sua porta.

"Clary! Quanto tempo." Ela me puxou em um abraço apertado que correspondi meio sem graça. "E você está grávida mesmo! Meu Deus, nem acreditei quando Syn contou..." E assim começou outro ladainha sobre o bebê isso e o bebê aquilo.

Tentava parecer empolgada também até que Papa Gates apareceu com os olhares enigmáticos de sempre.

"Susi, deixe a Clary entrar pelo menos."

"Desculpe Clary!." Ela falou sem graça.

Conversei mais um pouco com Susi enquanto Papa Gates nos observava até que uma pessoa escandalosa apareceu.

"MAMÃE! VOCÊ VEIO." The Rev me puxou para os seus braços me rodando no ar.

"Sim." Falei rindo.

Encontrei o restante dos meninos, mas Matt estava tão distraído conversando sobre alguma coisa com eles que nem me perguntou como foi a consulta. Qual é Matt, justo hoje?

Sentei em uma cadeira em uma rodinha junto com eles e só observava enquanto eles conversavam, até que o calor começou a me incomodar. Levantei e fui até o banheiro colocando meu biquíni e acabei saindo de lá só com um short e a parte de cima. Minha barriga havia crescido um pouco já, mas nada que algumas blusas mais largas não escondessem.

Porém, assim que voltei para onde eles estavam, todos parecem prestar atenção em mim novamente.

"Meu Deus, não é que tem um bebê ai dentro mesmo." Syn falou sarcástico e revirei os olhos.

"Como foi a consulta?" Zacky perguntou e me senti um pouquinho chateada por não ter sido o Matt a falar isso. Pelo menos ele me olhava parecendo interessado.

"Bem."

"Tudo ok com o bebezão ai néh?" Johnny falou mexendo as mãos em direção a minha barriga, fazendo com que eu risse.

"Sim, mais que bem." Ia continuar falando mas fui interrompida por The Rev.

"Matt, eu vou ser o padrinho dessa criança né?"

"Hum.. lógico que não."

"Sou eu então, óbvio." Zacky falou mas Johnny praticamente pulou da cadeira.

"Quem falou?"

"Eii, vocês acham que vou querer algum bêbado pra padrinho dessa criança? Mais nem fudendo." Matt falou sério.

"Claro. O bebê precisa de alguém bonito, inteligente, que ensine coisas úteis. Tipo eu. Simples." Syn disse e a discussão continuou por um bom tempo.

Quando tudo isso sem motivo algum me deixou estressada, acabei dando um grito.

"EI, CALEM A BOCA!"

Eles me olharam assustados e vi The Rev falando para o Matt "São os hormônios" enquanto ele concordava.

"Idiotas." Comecei a rir e todos eles relaxaram.

"Mas então Clary, quem você acha que seria o melhor padrinho?" Zacky perguntou.

Olhei para os rostos que tentavam imitar os de cachorros sem dono.

"Err... então, acho que deixo essa parte para o Matt."

"Ah, muito bonito."

"Não reclama hein. Não é você que vai ter que carregar por 9 meses alguém na sua barriguinha sarada." Matt riu e eu continuei. "Aliás, o padrinho vai ter que ajudar a trocar fraldas, colocar pra dormir, limpar os vômitos..."

Todos eles fizeram caretas. "Dispenso essa parte." Syn disse.

"Ah é, e que parte você quer?"

"A mais fácil. Ensinar bons modos, boa educação, como ter boa pegada."

"Já estou até vendo você levando o garoto para o mal caminho." Dei uma risada mas logo parei quando percebi que todos eles me olhavam. "Ops.. falei demais." Disse tentando parecer culpada.

"Garoto?" Zacky falou.

"É UM MENINO!" The Rev gritou e levantou da cadeira rapidamente me puxando e rodando no ar. "EU SABIA.. SEMPRE SOUBE!"

Assim que The Rev me soltou, Matt apareceu com o rosto na minha frente com os olhos brilhando.

"É um menino?" Confirmei e ele abriu um daqueles sorrisos de tirar o fôlego me puxando em um abraço de urso. "Por que você não me falou antes?"

"Porque vocês não deixaram oras." Minha voz saiu meio abafada mas escutei a risada deles.

Depois disso a conversa foi somente e exclusivamente sobre o bebê, ou garotão, como eles falavam agora. Ria muito com as besteiras que eles diziam e mais ainda quando tentava imaginar a cena que descreviam, deles com o bebê. Susi apareceu e também ficou totalmente empolgada com a notícia, além de Kim que avisei por telefone , e primeiro me deu uma bronca por não ter falado nada antes, mas depois falou que iria me passar uma lista de nomes que eu iria amar. Ela sim seria uma avó exagerada e extremamente coruja.

Enquanto todos ainda conversavam, resolvi ir até a piscina e sentei na beirada deixando meus pés na água. Olhava o movimento que ela fazia enquanto balançava minhas pernas e sorria imaginando segurar o bebê em meus braços, quando escutei um barulho atrás de mim. Me surpreendi quando percebi que era Papa Gates.

"Posso sentar aqui com você?"

"Claro."

Papa Gates colocou os pés na água também e ficamos ali por um momento em silêncio.

"Então, é um menino?"

"Sim." Falei e vi um sorriso nos lábios dele também.

"Matt também parece estar bem feliz em ser pai."

"Sim... parece mesmo."

Silêncio permaneceu de novo mas decidi tocar no assunto que nunca tínhamos conversado mas parecia estar sempre no ar.

"Então.. você e a minha mãe se conheciam?"

Ele me olhou surpreso, como se estivesse pensando na mesma coisa. "Sim. Éramos amigos."

"Só amigos?"

Ele riu " Vocês duas são tão parecidas... não conseguia mentir para ela também. Bem, na verdade um pouco mais que amigos."

"Hum... nunca soube de nenhum rolo dela fora meu pai."

Me mexi um pouco desconfortável e Papa Gates também parecia não gostar muito dessa parte. "Eu conheci ele também. Na verdade fui eu quem apresentou o Nick para sua mãe."

Fiquei surpresa com isso e meio confusa. "Como assim?"

Papa Gates deu um logo suspiro e começou a falar.

"Sua mãe e eu éramos vizinhos quando crianças e posso dizer que crescemos juntos, mas seu avô resolveu mudar de cidade e com isso ela foi embora. Ficamos vários anos sem ter contato um com o outro, até que um dia acabei encontrando com ela por acaso na rua. Combinamos de sair e Nick, que na época era meu amigo, foi junto conosco. Ele ficou encantado pela sua mãe e eu nesse dia percebi que gostava dela, mas não tive coragem de procurá-la e dizer meus sentimentos. O tempo passou e os dois começaram a namorar. Tentava parecer bem com isso, mas ainda assim gostava dela. Encontrei Susi e pensei que finalmente conseguiria esquecer toda essa história, até o dia que sua mãe me procurou dizendo que iria se casar com Nick. Ela estava feliz, e para mim não importava mais se eu amava ela ou não, contanto que ela estivesse bem. Eles demoraram mais de um ano para se casar realmente e nesse meio tempo, Susi descobriu que estava grávida do Syn. Minha vida se tornou corrida e com isso acabei perdendo contato com ela de novo, mas não passei sequer um dia se lembrar dela, desses olhos, desse sorriso."

Papa Gates me encarava com um olhar triste e podia praticamente sentir a dor que estava sendo contar toda essa história.

"Mas ela nunca soube que você gostava dela?"

"Sim. Quando Syn estava quase fazendo um ano sua mãe me procurou. Eles tinham acabado de voltar da lua de mel mas não era assim que parecia. Ela estava abatida, mais magra e via hematomas por seu corpo. Queria tirar ela de lá, ajudar, mas ela não quis.. disse que tinha medo. E ainda assim, depois de tanto tempo, percebi que ainda amava ela e não podia mais guardar isso comigo. Foi então que revelei tudo para ela e acabamos passando uma única noite juntos. A melhor de toda a minha vida."

Olhei atônica para ele. Ele tinha traído a Susi enquanto o Syn era ainda um bebê? E com a minha mãe?

"Eu sei. Isso foi errado, mas eu descobri que ela também gostava de mim. Pedi para que largássemos tudo para ficarmos juntos e ela falou que iria pensar, mas semanas depois me ligou dizendo simplesmente que não iria e para que nunca mais a procurasse. Nunca entendi o porque disso tudo."

"Sinto muito." Disse quando Papa Gates parecia que iria continuar a falar.

"Não sinta. Você foi a maior felicidade que ela já teve, disso tenho certeza."

Senti que meus olhos encheram de lágrimas e acabei dando um abraço nele. "Obrigada."

"Imagina." Quando nos afastamos ele deu uma olhada para as minhas costas. "Deixa eu ver se adivinho. Seu avô quem desenhou a sua tatuagem?"

Sorri. "Sim. Você conhecia os trabalhos dele então?"

"Conhecia. Eram muito bonitos mesmo. O que está desenhado?"

Expliquei toda a história do anjo, a rosa e o colar com a meia lua e as estrelas, mas por fim seu olhar estava meio estranho. Distante. Quando ele não falou nada por um tempo comecei a ficar preocupada.

"Papa Gates, tudo bem?"

Ele me olhou e não consegui entender muito bem a expressão que ele fazia. Parecia meio.. urgente. "Clary, sua mãe sempre usava esse colar?"

"Sim.. porque?"

Ele engoliu seco e pareceu pensar por um tempo. "Venha aqui comigo um minuto por favor."

"Porque? O que está acontecendo?"

"Só venha ok?"

Concordei e ele me ajudou a levantar. Enquanto seguia ele para dentro da casa, olhei rapidamente para onde os meninos estavam. Eles conversavam animadamente ainda e não pareciam prestar atenção no que estava acontecendo. Na verdade, o que estava acontecendo?

Passamos pelos corredores e Papa Gates abriu uma porta revelando o quarto dele e de Susi. Fiquei parada sem saber muito bem o que fazia.

"Entre por favor."

Meio sem graça, entrei e fiquei em pé no meio do quarto amplo. Ele foi até o guarda roupa e mexeu em um canto aonde havia várias caixas, pegando a última e mais escondida delas, retirando de lá um pedaço de papel.

"Fiquei sabendo que ela estava grávida e depois tudo o que Nick estava fazendo com vocês, mas ainda assim sua mãe sempre me ignorava. Ela estava recebendo ameaças de Nick e alguns dias antes de ela morrer, eu recebi essa carta. Não havia entendido muito bem e fiquei sem saber o que fazer direito, então simplesmente a guardei como uma lembrança de tudo que tínhamos vivido. Mas talvez acho que ela estava querendo me dizer algo e só descobri isso hoje."

Papa Gates entregou a carta enquanto me olhava com expectativa. Desdobrei o papel em minhas mãos e comecei a ler:

"Brian,

Eu sei, você deve estar surpreso e confuso por quem está finalmente conversando com você. Peço desculpas pela forma como o tratei. Você não merece e nem nunca mereceu nada disso.

A verdade é que a vida me enganou enquanto o que achava ser certo se tornou totalmente errado. Eu tinha planos, sonhos, expectativas que foram arrancadas de mim e enterradas.

A que ponto nós chegamos?

Posso te dizer que nunca fui tão feliz como quando estive ao seu lado, mas até isso acabei desperdiçando. Meus próprios erros me levaram por um caminho que não tenho mais como voltar, mas enquanto ainda tenho tempo, decidi que você precisa saber de algumas coisas.

Nossa história talvez nunca fosse para ter dado certo. Você tem a sua família e o seu futuro e não espero em momento algum mais atrapalhar isso. A única coisa que queria era poder ter feito diferente. Ter sido mais sincera, mais tolerante, ter amado mais e demonstrado tudo o que sentia.

Porque sim, eu te amei e ainda amo mas não posso corresponder a isso. É algo perigoso e tenho medo de quem possa acabar se machucando.

A verdade é que nunca sabemos o que a vida nos reserva no futuro, mas no passado posso dizer que fui feliz enquanto tinha você. Não sei mais quantas horas, dias ou meses vou viver, mas saiba que cada um dos meus pensamentos sempre estarão naqueles momentos que não tenho mais.

Lembra de quando éramos crianças e passávamos a noite olhando para o céu contando as estrelas? Eu sempre dizia que queria ser a lua e você falava que a lua era grande demais e que no universo tinha várias iguais a elas, pra que eu desejasse ser uma estrela, que apesar de muitas, cada uma era única e com sua própria forma. Mas ainda assim eu não me contentei.

Então você me deu uma meia lua e eu deixo nossa estrela com você.

Com amor

E."

Olhei para Papa Gates e ele me encarava.

"Depois de um tempo acabei entendendo parte da carta, mas esse final ainda me intrigava. Eu brincava que daria qualquer coisa do céu para ela, mas ela me prometia outras coisas. Porque nossa estrela? Isso nunca fez sentido. Nada do que ela fez tinha sentido. Mas vendo você e repassando mais uma vez a história, acabei percebendo uma coisa. Depois que você nasceu ela sumiu. Ela disse que precisava te proteger e na verdade você sempre foi o que mais importava para ela. E então, o que ela tinha deixado para mim? Eu não sei.. não entendia.. mais eu acho.."

Papa Gates se enrolou com as palavras enquanto eu tentava acompanhar seus pensamento. Aonde ele queria chegar? Com um suspiro ele falou de uma vez.

"Clary, acho que eu posso ser seu pai."


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Notas finais do capítulo

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