Estávamos todos juntos no hospital. Não que eu precisasse, mas não ia deixar eles sozinhos. Johnny era o que estava mais machucado depois daquele soco do grandalhão. Algumas enfermeiras cuidavam deles quando um dos policiais apareceu na porta com uma expressão preocupada e me assustei quando ele parou na minha frente me encarando.

"Desculpe, mas eu preciso saber uma coisa muito importante. Você bebeu alguma coisa daquela casa, principalmente um champanhe que estava na sala?" Engoli seco.

"Não.. Derek queria que eu bebesse, mas joguei em uma planta. Por que?" Ele pareceu aliviado.

"Encontramos drogas em grande parte da chácara. Aquele champanhe tinha um pouco de maconha no meio. Mas em uma taça vazia tinha mais alguma substância que levaram para análise. Com certeza não era coisa boa. Acredito que era essa a sua taça né?" Concordei e ele deu um meio sorriso. "É, mais uma coisa para acrescentar na ficha criminal do rapaz."

Ele saiu e percebi que todos na sala me encaravam. The Rev se aproximou e me puxou em um abraço.

"Aquele idiota. Matt deveria ter matado ele!" Não disse nada, só fiquei ali abraçada com ele. Quando as enfermeiras saíram, The Rev me afastou um pouco para olhar para o meu rosto "Você está bem mesmo?"

"Sim." disse.

"Sabe, tem uma coisa que estou curioso até agora. Quando estávamos perto da sala, Derek falou algo sobre uma hora você ter que perder o seu medo. Do que ele estava falando?" Percebi que os outros também me olhavam curiosos. Não tive como segurar um sorriso.

"Ele achou que eu era virgem." Todos começaram a rir.

"Nossa, e além de tudo é burro. Por que ele pensou isso? Te achou muito santa?" Syn falou e revirei os olhos para ele.

"Não. Eu disse que era. Quando Matt ligou, imaginei que vocês estivessem vindo. Então fiquei enrolando ele." Matt me deu um olhar estranho, mas quando ele abriu a boca, Johnny falou primeiro.

"Mas e se não estivéssemos vindo?"

"Bem, então agora eu provavelmente já estaria dopada ... ou sei lá o que. Só pensei que vocês viriam mesmo. Era a única opção que eu tinha, já que não parecia que iria dar certo fugir dali sozinha."

"Nós sempre estaremos aqui Clary. Sempre que você precisar." Zacky falou.

"Obrigada! De verdade, a todos vocês. Não imaginava que fariam tudo isso por mim."

"E você acha que alguém iria conseguir aguentar o Matt se alguma coisa acontecesse com você?" Syn disse irônico. Matt sorriu mas depois ficou sério de novo.

"Mas então, o que você fez para ficar distraindo o Derek?" Matt perguntou.

"Ah... fiquei perguntando sobre a vida dele.... e o pai que também é um idiota. Conversamos sobre a chácara, a..."

"Clary..." Matt disse quando percebeu que eu estava enrolando. Suspirei.

"Ok. Eu beijei ele." Eles arregalaram os olhos e Matt fechou os punhos. Mas antes que eu pudesse explicar, a porta se abriu novamente.

"Clary! Não acreditei quando me disseram que você estava aqui. De novo!" Tyler se aproximou e eu levantei indo até ele.

"É, pois é. Na verdade os meninos é que precisavam de atendimento" Ele olhou para eles por um instante e depois voltou seu olhar para mim.

"Mas está tudo bem com você? Fiquei tão preocupado quando me falaram." Tyler me puxou em um abraço e escutei uma cadeira sendo arrastada com força.

"JÁ CHEGA!" Matt gritou e antes que eu fizesse qualquer movimento, Tyler foi empurrado para a parede com força. Matt não olhou para mim, só agarrou meu braço e começou a me arrastar para fora do hospital.

"Matt, para!" Disse tentando impedir enquanto todos olhavam para nós. Tentei me soltar e falei milhões de vezes para ele parar mas foi inútil.

Ele abriu a porta do carro e me jogou no banco do carona. Quando fiz que ia levantar, ele empurrou meus ombros e olhou fixamente para mim.

"Fica. Ai."

Matt fechou a porta com força e me encolhi no banco. Os outros alcançaram ele antes que entrasse no carro.

"Matt para com isso. Que que te deu hein?" Zacky falou e vi suas mãos se fechando de novo e indo em direção ao rosto do Zacky, mas Syn segurou seu braço.

"Matt! Para! Raciocina direito."

Matt ignorou todos eles e entrou no carro, saindo a toda velocidade. O celular dele começou a tocar e ele simplesmente desligou e jogou no banco de trás. Segundos depois o meu celular tocou e vi que era o Syn, mas Matt colocou sua mão em cima da minha.

“Não atende. Desliga esse celular.”

“Por que?”

“Porque sim!” Ele falou irritado.

Achei melhor não contrariar. Matt continuou acelerando e percebi que estávamos saindo da cidade.

“Acho melhor você diminuir a velocidade.” Ele não respondeu.

“O que aconteceu hein? Por que você está agindo assim?” Ele apertou mais o volante mais não falou nada.

“MATT DÁ PRA RESPONDER?” Silêncio.

“Ok, pra mim chega. Vou pular desse carro.” Comecei a tirar o cinto de segurança e ele olhou para mim com os olhos arregalados.

“Não” E travou as portas. Ótimo Clary, da próxima vez aprenda a fazer antes de falar.

“Matt, por favor, para esse carro pra gente conversar.”

Ele continuou sem dizer nada por mais alguns segundos e simplesmente desisti. Encostei a cabeça no banco e fechei os olhos tentando pensar nos possíveis porquês desse comportamento. Estava quase dormindo depois de ter passado a noite inteira acordada, quando percebi que ele tinha parado o carro. Resisti ao impulso de abrir os olhos quando o silêncio permaneceu. Depois do que pareceu ser uma eternidade, senti os dedos de Matt passando pela minha bochecha. Olhei para aqueles olhos verdes e ele parecia estar mais calmo.

“Desculpe.” Matt disse em um sussurro.

“Não até você me explicar o porque disso tudo.” Me endireitei no banco e ele tirou sua mão do meu rosto, parecendo ficar um pouco irritado de novo.

“E precisa? Você simplesmente me fala que BEIJOU o Derek e espera que eu aja naturalmente?” Era exatamente o que eu imaginava.

“Matt, mas eu não fiz isso porque quis, foi porque precisei..”

“Precisou? Clary, você não tem noção mesmo. Existem outras milhares de formas de ficar enrolando alguém. Você não precisava ter beijado ele.” Eu é quem estava ficando irritada agora.

"Já foi um custo convencer ele a não fazer sexo, você acha que ia conseguir fazer com que ele não me beijasse?" Matt me encarou por alguns instantes.

"Você poderia não ter beijado de volta, mas parece que não se importou em pensar nisso." Olhei incrédula para ele.

"Matt, qual é? Você acha mesmo que depois de tudo que o Derek havia feito eu iria querer ficar beijando ele? Isso não tem lógica! Eu odeio ele tanto quanto você. Não tem porque toda essa reação exagerada."

"REAÇÃO EXAGERADA! OLHA SÓ QUEM FALA." Ele gritou e depois respirou fundo. "Clary, eu simplesmente sai que nem um louco tentando achar você, preocupado com o que ele estaria fazendo ou como você estava. Não é fácil aceitar o que acontecia enquanto isso."

"Ciúmes tem limites Matt. Não precisava ter saído me arrastando do hospital por causa disso. Não precisava também ter empurrado o Dr. Tyler."

"A claro, porque o doutorzinho se preocupando com você já é algo com que eu deveria ter me acostumado né?" Ele disse irônico e eu simplesmente explodi.

"Quer saber, se você quer continuar aqui sendo um IDIOTA e preferindo acreditar na sua imaginação do que em mim, pois continue. Já disse que te amo Matt, e não vou ficar aqui implorando até você aceitar isso. Não trocaria você por nenhum deles. Nunca! E depois de tudo, você é quem deveria ser o mais consciente disso. Então, continue ai com os seus pensamentos ciumentos enquanto eu vou embora!"

Me virei na minha melhor pose dramática, mas tinha esquecido que ele tinha travado as portas.

"Matt, abre a porta." disse sem olhar para ele, mas não tive qualquer resposta. "Matt. A porta!" Ele continuou em silêncio. Meu sangue começou a ferver e estava mais irritada ainda quando virei na direção dele.

"DA PRA ABRIR A PORRA DESSA PO..." Fui interrompida por seus lábios que se chocaram urgentemente com os meus. Fiquei sem entender nada enquanto ele aprofundava cada vez mais o beijo e vinha pra cima de mim. Ele começou a puxar minha blusa mas parei ele.

"Matt... o que.."

"Fica quieta Clary." Fiz uma careta e ele deu um daqueles sorrisos que eu amava. Seus lábios voltaram para os meus novamente, e dessa vez, nos amamos dentro do carro.

–x-

Joe e Liss não se importaram nenhum pouco com o meu sumiço. Não esperava outra coisa deles mesmo. Até onde sabia, Derek estava na prisão e iria ser julgado, provavelmente pegando alguns anos na cadeia. Seu pai também havia sido preso por toda a droga encontrada na chácara. Meu depoimento dizendo o que os dois fizeram com aquelas garotas provavelmente iria ajudar para que eles passassem um bom tempo por lá.

Na escola, todos ficaram sabendo da má reputação do Derek, mas meu nome não estava envolvido em nenhum dos boatos, o que já foi um alívio. Estava cada vez mais próxima dos meninos e agora eles não me acompanhavam mais porque precisavam, mas sim porque gostavam de estar junto comigo. Ou por falta de opção, vai saber.

A aula estava quase acabando e Syn tinha uma expressão extremamente entediante e enjoada no rosto. Jéssica estava sentada na frente dele e conversava sem parar comigo, fazendo perguntas e mais perguntas sobre o meu relacionamento com o Matt. Nem as minhas respostas vagas desanimavam ela. Quando saímos para o corredor, Syn parecia aliviado.

"Puta merda. Mais um minuto e eu ia dar um berro mandando ela calar a boca." Olhamos um para o outro e demos um sorriso. Digamos que a minha relação com ele estava um pouco melhor a cada dia. Percebi sua expressão confusa quando escutamos um grito vindo pelo corredor.

"SYN!" Olhamos para quem tinha gritado e parei de andar por um momento achando que estava tendo uma alucinação. Sim, porque só isso pra explicar o porque da Valary estar vindo correndo e pular nos braços do Syn. Claro, nada contra, mas não era por causa do Matt que aconteceu toda aquela confusão?

"Michelle." Syn disse surpreso e fiquei mais confusa ainda, até que olhei mais atentamente e percebi que não era a mesma pessoa. Qual é, Valary tinha uma irmã gêmea? Que azar dessa coitada.

"Que saudade de você." Michelle disse e vi Syn a afastando um pouco.

"É... quando você voltou de viagem?"

"Na semana passada. Foi tão bom, mas mesmo longe não consegui te esquecer." Ela disse e vi ele fazendo uma careta. Fiquei me perguntando como nunca tinha ficado sabendo dessa história.

"E como a Val está?" Ela abaixou a cabeça com um olhar triste.

"Agora está melhor, mas fiquei tão preocupada. Ela volta amanhã para a escola, então vim aqui conversar com os professores e ajeitar tudo para que nós duas ficássemos juntas nas aulas."

Não me animei com essa notícia. Syn deu uma olhada para mim e Michelle pareceu perceber pela primeira vez que eu estava ali. Ela me olhou dos pés a cabeça e sua expressão fechou. É, ela sabia quem eu era.

"Prazer, eu sou a Clary" disse com um sorriso.

"Imaginei." Acho que o rancor, a cara feia e o olhar assassino era genético mesmo. Syn parecia um pouco desconfortável.

"Bom, Michelle, se você não se importa, tenho que ir. Depois nos falamos." Ele nem esperou ela responder e saiu me arrastando para longe dali.

Não disse nada até que chegamos no refeitório e sentamos na mesa junto com os outros. Matt passou um braço pelos meus ombros.

"Que foi Syn? Parece que viu um fantasma." Matt falou.

"E acho que viu mesmo." Falei rindo e todos olharam para mim. Syn fechou a cara.

"Depois é esfaqueada no banheiro e não sabe porque."

"Muito engraçado." disse irônica.

"Da pra alguém dizer o que aconteceu?" Johnny disse.

"A Michelle voltou. Vai estudar aqui junto com a Val, que volta amanhã para a escola."

"Isso vai ser tenso" Zacky disse com os olhos arregalados.

"Vai. Ainda mais depois da olhada que ela deu pra Clary."

The Rev ignorou o braço de Matt em volta de mim, e me puxou para o seu lado. "Eu te protejo das vacas psicóticas!"

Comecei a rir. "Tudo bem. Acho que consigo aguentar outra cópia me encarando."

"Só elas não tentarem nada..." Matt disse em um tom meio desconfiado. Tentei mudar de assunto

"Mas então Syn, o que você tem com essa Michelle que ela não conseguiu esquecer você?" Ele me encarou sério e não respondeu enquanto os outros riam.

"Se a Valary era toda obsessiva com o Matt, a Michelle é assim com o Syn." Zacky falou. Fiz uma careta.

"Sério? Boa sorte pra você então."

"É, acho que preciso arranjar uma Clary também pra mim, pra ver se a Michelle larga do meu pé." Syn disse.

"Desculpe meu bem, mas eu não tenho uma cópia." Eles começaram rir.

Observei cada um e me senti confortada com a presença deles, mesmo em conversas bobas. Sim, tudo parecia estar em seu devido lugar agora.