Matt me encarava com os olhos arregalados. Sim, quase todos tinham essa reação quando sabiam.

“O qu.... Você matou o seu pai?” Ele falou por fim.

“Sim. Mas por legítima defesa. Eu sei que não é certo, mas na verdade, não me arrependo. Se coloque no meu lugar. Tudo o que ele fez comigo e principalmente com a minha mãe, não foi algo que eu conseguisse superar fácil.” Matt ficou quieto por alguns segundos.

“Tem razão. Me desculpe, mas é que... mesmo assim... é meio difícil de acreditar.”

“Tudo bem Matt. Não espero que você ache certo o que fiz. Pessoas se afastaram de mim por causa disso. Fui morar com meu avô por ser o parente mais próximo, mas também porque não suportava ver meus amigos me encarando e jogando na minha cara o que eu tinha feito. Já era difícil ficar sem ser julgada por eles. É justamente por isso que não gosto que os outros saibam do meu passado."

Matt estava confuso. Sim, eu não esperava que ele aceitasse mas desejava imensamente que ele fizesse isso. Kim havia me escutado e aceitado. Mas Matt... já não tinha tanta certeza. Não consegui mais ficar ali presenciando sua confusão. Levantei e ele segurou meu braço.

"Aonde você vai?" Sua voz estava estranha e senti um sentimento não muito bom passar por mim. Matt me abandonaria?

"Ao banheiro." Sai andando e quando cheguei ao banheiro não consegui mais me controlar. Desabei no chão chorando descontroladamente. Tentei ser forte enquanto contava isso a ele mas a verdade era que eu estava em pedaços por dentro. Com Kim não havia contado tantos detalhes, somente o essencial. Mas Matt merecia a verdade completa e ao contar ela foi como se eu revivesse tudo aquilo de novo. Toda a dor e sofrimento estavam de volta. Não sei quanto tempo passei ali, mas quando voltei para o quarto, Matt não estava mais lá. Senti meu coração se apertando. Respirei fundo, troquei de roupa e já começava a arrumar minhas coisas dentro da mochila quando escutei um piano sendo tocado a algumas paredes de distância. Abri a porta e fui andando parando ao lado do quarto do Matt. Meu coração se acelerou quando percebi o que ele estava tocando. Eram as notas que ele disse ter pensado enquanto estávamos juntos em Indie Rock. Abri a porta e ao mesmo tempo que via ele tocando o piano, conseguia escutar uma música ao fundo. Percebi que o rádio estava ligado em uma estação qualquer. Estava me afastando quando o som do piano parou. Olhei para cima e Matt me encarava. Ficamos ali, olhando um para o outro e por algum motivo comecei a prestar atenção na letra da música que tocava ao fundo.

[ http://www.youtube.com/watch?v=DzrzB8i-a2c ]

Bem, eu sei como se sente
De encontrar-se do lado de fora na borda
E não há cura
Para um corte com uma lâmina
Eu estou lhe dizendo que
Nunca é assim tão ruim
Tomar alguns tem sido uma viagem estranha
Jogados no chão
E você não tem certeza
Se consegue continuar com isso

Então, basta tentar mais uma vez
Com uma canção de ninar
E aumentar o som disso no rádio
Se você pode me ouvir agora
Estou falando com você
Para que você saiba que você não está sozinho

Matt se aproximou de mim sem dizer uma palavra e me beijou. Um beijo doce e apaixonado. Me envolvi em seus braços enquanto ele me puxava para dentro do quarto e fechava a porta. Quando vi, estava caindo em sua cama com ele por cima de mim. Parei o beijo e olhei para o seu rosto.

"Você não vai me abandonar por causa disso então?" Ele deu um sorriso torto mais lindo.

"Clary.. eu confesso, fiquei um pouco abalado e confuso com isso. Mas como você mesma disse, foi algo necessário. E não é certo julgar por algo que eu teria feito até pior se estivesse no seu lugar. Agora, sabendo de tudo pelo que você passou, eu vejo o quanto você é forte e merece ser feliz mais do que qualquer um. Merece que eu te faça feliz." Eu sorri um pouco.

"Bem, sem mais segredos então." Matt concordou e um pouco depois ficou sério.

"Mas eu prometo Clary, não vou deixar que nada parecido com isso aconteça de novo."

"Não é algo que você possa controlar. Um dia estamos vivos e no outro não estamos mais. A vida me ensinou isso." Matt segurou meu rosto com suas mãos e ficou me olhando.

E se você não consegue entender
E você se assusta
Porque eu não consigo te contatar no telefone
Então, basta fechar os olhos
Meu bem, aqui vai uma canção de ninar
Uma canção de ninar enterrada

"Você tem razão." Matt disse. Dei um sorriso triste para ele.

"Sei que tenho. Por isso fiz tantas besteiras quando ainda morava com meu avô. Não pensava nas consequências. Só achava que se eu fosse morrer de uma hora para outra, então deveria aproveitar o que tinha. Quando você vê como a vida é frágil, acaba tomando essas decisões. Mas, depois que meu avô morreu, acho que perdi esse meu lado e só tentei me tornar invisível tanto para a vida como para a morte." Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e Matt a secou.

"Então, o que você acha de voltar a ser essa pessoa que vive intensamente o que tem? Eu vejo isso dentro de você. Clary, se você já passou por tudo isso e ainda continua aqui é porque merece viver. Merece aproveitar a vida que tem!" O olhar de Matt era tão intenso e ao mesmo tempo cheio de razão. Matt voltou seus lábios para os meus em um beijo mais urgente.

Ele se afastou e sussurou perto do meu ouvido.

"Eu te amo Clary. Amo mais que tudo!" Havia tanto amor em seu olhar que foi como se aquilo preenche-se qualquer vazio que estivesse dentro de mim. Suas palavras eram como se fossem tudo o que sempre fiquei na escuridão esperando escutar.

Por favor, deixe-me levá-lo
Para fora da escuridão e para a luz
Porque eu tenho fé em você
Que você conseguirá atravessar outra noite
Pare de pensar no caminho mais fácil
Não há necessidade de soprar e apagar a vela
Porque você não está acabado
Você é muito jovem
E o melhor ainda está por vir

Com um suspiro acabei me rendendo a ele.

Matt podia parecer forte mas cada gesto seu era gentil e carinhoso. Ele passou as mãos debaixo da minha blusa e começou a subir ela, tirando e a jogando em um canto qualquer.

Em poucos segundos o restante das roupas estavam espalhadas pelo chão e nossos corpos se uniam em cima da cama. Era como se um completasse o outro.

A única coisa que eu via e sentia era Matt por todos os lados. Seus beijos eram lentos e demorados enquanto seus movimentos dentro de mim eram delicados, fazendo com que eu me sentisse só dele. Não era um ato feito por diversão ou atração física. Era amor, simples, fácil e único.