Conversei bastante com Gary e Kim e eles realmente pareciam estar gostando de mim. Também estava começando a simpatizar com eles. Os garotos foram almoçar lá e eu vi o que Gary quis dizer sobre ter que abastecer a dispensa. Cada um comia praticamente o triplo do que eu e em poucos minutos, toda a comida que Meredith havia feito tinha acabado. Eles ensaiaram a tarde inteira e eu resolvi que era hora de voltar para casa quando estava anoitecendo de novo. Kim me fez prometer que voltaria lá mais vezes.

Matt não perguntou nada mas insistiu em ir junto comigo até o apartamento. Quando chegamos lá, só Liss estava e ela me ignorou como vinha fazendo nos últimos dias. Eu agradeci internamente por só estar ela e Matt pareceu tentar acreditar quando disse que estava tudo bem.

A noite, sozinha na minha cama, comecei a pensar em Matt de novo. Nas poucas vezes em que ficamos sozinhos eu tentei criar coragem para dizer a ele o que estava sentindo, mas simplesmente não consegui. A hora que via aqueles olhos verdes me encarando, simplesmente perdia a fala e desistia de tentar contar alguma coisa. Mas eu sabia que estava perdendo tempo com isso.

A semana passou voando. Derek não apareceu na escola em nenhum dia. O boato que surgiu era de que ele tinha sofrido um acidente de carro, mas ninguém sabia da verdadeira história. Como prometido pelos professores, tivemos várias provas e eu tive que me desdobrar tentando encaixar todo o conteúdo que havia sido dado antes que eu chegasse lá. Os meninos me ajudaram um pouco, mas também ficaram ocupados todos os dias. Eles tinham enviado a algum tempo um CD a um produtor que eles estavam interessados, mas só agora ele realmente escutou as músicas e foi atrás da banda, logicamente adorando o som deles. Eles regravaram algumas músicas e estavam tentando contrato com uma gravadora. Com isso, só estava vendo eles na escola.

Até que na sexta-feira toda essa correria pareceu esfriar um pouco. Estávamos todos juntos no intervalo sentados em uma mesa, como sempre.

“Sabe o que acho? Todos nós merecemos um descanso. Já está tudo encaminhado, então agora é só esperar. E a gente podia muito bem se divertir um pouco. O que vocês acham de irmos para Indian Rock?” Zacky disse.

Todos ficaram animados com essa ideia, mas eu fiquei sem entender.

“Uma tia do Zacky tem um Hotel Fazenda em Indian Rock. Nós costumamos ir para lá passar um tempo juntos.” Matt falou.

“Tem cachoeiras e algumas montanhas por perto. Nós adoramos essas coisas ao ar livre.” Johnny falou e todos eles começaram a rir.

“Claro, sempre acontece alguma coisa memorável por lá.” Syn disse sorrindo.

“Você vem com a gente né Clary?” The Rev perguntou e todos eles me olharam.

“Hum, não sei. Vocês provavelmente devem querer ficar sozinhos.”

“A qual é. Tem muito homem nessa bagaça. E nós realmente gostamos da sua companhia.” Syn admitiu.

“O que você vai ficar fazendo aqui? Tem o feriado na semana que vem e só vamos ter aula de novo na quarta.” Zacky disse e isso me lembrou de que sem eles eu ficaria mais em casa. Mais chances de encontrar com Joe.

“E o Matt provavelmente não vai se você não for.” The Rev falou fazendo com que todos eles concordassem e Matt me lançasse um sorriso.

“Ok ok. Eu vou.” Eles começaram a comemorar atraindo a atenção das pessoas que estavam por perto.

“Saimos as 3 da tarde então.” Zacky falou e todos concordamos.

Comecei a pensar que talvez essa viajem fosse realmente boa: estaria longe dos meus problemas, junto com os garotos e principalmente, com Matt. Quem sabe ali eu conseguia conversar com ele. Mas quando estava indo embora, senti como se um balde de água congelada fosse jogado em cima de mim.

Quando virei em uma rua, que passo todos os dias para voltar para casa, me deparei com a cena de um pesadelo acontecendo bem na minha frente: Matt e Valary se beijando. Eu parei aonde estava e Matt olhou para o lado. Quando me viu, seus olhos se arregalaram.

“Clary, não é o que você está pensando” Ele tentou se afastar de Valary, mas ela continuou agarrada nele, passando uma mão em seus braços e sorrindo para mim.

“Nunca é Matt. Mas sabe o que eu penso: você é um mentiroso idiota que só quis brincar comigo, como todos os outros.”

Sai correndo e não parei até que chegasse no meu quarto. As lágrimas escorriam pelo meu rosto e eu não conseguia fazer com que parassem. Coloquei meus fones de ouvido no último volume tentando fazer com aquela cena saísse da minha mente. O interfone ficou tocando insistentemente por uma meia hora, mas eu não me dei ao trabalho de atender. Sabia muito bem quem era. Desliguei meu celular depois de 3 chamadas não atendidas.

Fiquei olhando os ponteiros do relógio rodando e decidi que mesmo depois do que tinha visto, iria nessa viajem. Comecei a arrumar minha mala e deixei um bilhete avisando que iria viajar. Como se alguém naquela casa fosse de importar com isso, mas achei melhor avisar do que eles acharem que eu tivesse fugido.

Liguei meu celular e depois de passar pelas mensagens que mostravam quantas vezes Matt tinha me ligado, encontrei uma do Zacky avisando que ele estaria indo me buscar. Desci e fiquei no portão aguardando, até que uma van preta parou e The Rev e Zacky apareceram para pegar minhas malas. Entrei na van por último e percebi que todos já estavam lá. Zacky dirigia enquanto Johnny estava do seu lado. Atrás estava Syn e Matt em um banco, e The Rev e eu em outro. Para minha infelicidade, estava de frente para o Matt. The Rev puxou meu rosto com uma mão.

“Andou chorando Clary?” Senti que todos os olhos estavam em mim mas continuei olhando somente para o The Rev.

“Talvez.” Virei o rosto para a janela.

“Então Clary, estava falando para os outros que liguei para a minha tia avisando que estávamos indo para lá e ela reservou dois quartos para nós. Você se importa de ter que dormir junto com 2 de nós?” Zacky perguntou.

“Não. Tudo bem.” Eu quase pedi que não fosse no mesmo quarto que Matt, mas fiquei quieta.

Eles voltaram a conversar sobre a banda e eu peguei meu MP3 sentindo minha pele formigando com um certo olhar cravado em mim. Não resisti e acabei olhando para frente, encarando aqueles olhos verdes por alguns segundos. Matt abriu a boca para começar a falar mas virei o rosto e fique olhando para a paisagem colocando meus fones de ouvido. Por um momento pensei ter visto dor em seu olhar antes que eu desviasse.

Pareceu durar uma eternidade, mas quando finalmente chegamos, fiquei maravilhada com a paisagem. Havia verde em todo lugar e respirei profundamente por alguns segundos sentindo o ar limpo entrando em meus pulmões. Aquele lugar realmente parecia mágico.

Fomos recebidos pela tia do Zacky que era super simpática e nos encaminhou para fazer o check-in. Desanimei um pouco quando vi que ficaria no mesmo quarto que Syn e Matt. Isso só piorou quando chegamos no quarto e nos deparamos com uma cama de solteiro e outra de casal. Syn foi logo jogando suas coisas em cima da cama de solteiro.

“Vocês dormem juntos.” Ele disse tranquilamente.

“E porque eu dormiria junto com o Matt?” disse irônica. Syn parou e ficou me olhando por longos segundos. Matt não disse nada, mas continuou me encarando igual fez a viagem inteira.

“Muito simples. Eu não vou dormir junto com o Matt nem que me paguem. E eu adoraria ficar de conchinha a noite inteira com você, mas provavelmente seria morto no dia seguinte por um certo armário.” Ele olhou sugestivamente para Matt.

“Tudo bem Clary. Eu arranjo um colchão e durmo no chão ou qualquer coisa do tipo.” Matt falou. Suspirei e fui até a cama de casal colocando minha mala em cima.

“Deixa Matt. Eu durmo junto com você.” Não olhei para nenhum deles mas minha voz demonstrou toda a raiva e tristeza que eu estava sentindo.

Peguei minhas roupas e fui tomar um banho sentindo os olhos dos dois me acompanhando. Demorei um bom tempo e quando sai eles já tinham ajeitado suas coisas e estavam conversando. Matt foi tomar banho em seguida e eu comecei a desocupar minha mala colocando algumas roupas nos cabides.

Syn ficou quieto o tempo inteiro até que me aproximei da minha mala e ele puxou meu braço fazendo com que eu sentasse do seu lado.

“Você nunca aprende mesmo né?” Falei mas sorri um pouco para ele. Foi a mesma coisa que ele fez quando nos conhecemos. Ele sorriu também mas logo em seguida ficou sério.

“Clary, eu queria conversar com você. Todos nós sabemos o que aconteceu mas eu acho que você deveria ouvir o ...” Levantei da cama e comecei a caminhar em direção a porta, mas Syn me seguiu e me encurralou na parede. Eu tentei sair, mas seus braços me seguravam. Isso estava acontecendo com muita frequência ultimamente.

“Syn, eu não quero saber o que você tem pra me falar ou qual desculpa o Matt mandou você dizer, então me solta!”

“Não até você me escutar. Só escute Clary, por favor. Você não precisa concordar com o que eu vou dizer, só me escute. E pode ter certeza que não foi o Matt que me mandou falar nada. Na verdade, ele até insistiu pra que eu não fizesse exatamente isso.” Eu parei de tentar afastar seus braços e ele me soltou. Syn abaixou um pouco e ficou me encarando com os olhos na mesma altura que os meus.

“O Matt contou que você viu ele e a Valary se beijando, mas acho que você deveria saber o lado dele nisso antes de concluir qualquer coisa. Você não viu como foi quando ele descobriu que estava gostando de você. Eu vi, eu que fiz ele enxergar isso. Tem alguma coisa em você que simplesmente atrai ele. Quando você não está por perto, igual essa semana em que ficamos gravando, ele simplesmente ficava encarando o nada e eu sabia que ele estava pensando em você. Eu não sei quais são os seus sentimentos por ele mas de uma coisa eu tenho certeza: Matt pode ter ficado com várias garotas, mas quando ele estava com alguém, ele nunca traia. E ele já teve chances de ficar com alguém depois que te conheceu, mas ele não fez. Então porque faria isso assim agora? E ainda mais com a Valary? Só pense nisso.”

Ele se afastou justamente na hora que Matt abriu a porta do banheiro. Matt ficou parado nos encarando e Syn aproveitou para pegar suas coisas e ir tomar banho. Simplesmente não conseguia pensar com Matt me olhando. Sem dizer nada sai do quarto e comecei a andar pelo hotel. Fui até uma porta que tinha nos fundos do restaurante e me deparei com um quintal todo decorado com um chafariz e várias flores.

Devia fazer uns 5 minutos que estava ali, até que a porta se abriu e vi Matt vindo na minha direção. Respirei fundo e continuei aonde estava. Ele parou do meu lado e não disse nada. Ficamos assim até que não consegui mais aguentar o silêncio.

“Matt por que você fez isso?” Ele me encarou mas eu continuei olhando para frente. Sabia que se encontrasse seus olhos não conseguiria me manter inteira.

“Eu não fiz Clary. Eu juro. A Valary me arrastou para fora da escola dizendo que tinha acontecido uma tragédia e ela precisava da minha ajuda. Eu fui e sabia que você passava por aquele caminho. Até que ela simplesmente parou e me agarrou bem na hora que você apareceu.” Bem conveniente não? “Por favor Clary, acredita em mim.”

“Simplesmente não sei o que pensar Matt. Uma hora você diz que está apaixonado por mim, faz mil e uma coisas pra no final eu ver você beijando outra.” Ele puxou meu braço com força fazendo com que eu olhasse para ele.

“Clary, quantas vezes você vai ter que escutar que eu realmente gosto de você? Será que não percebe que eu não faria essas mil e uma coisas se não estivesse apaixonado de verdade? E já te disse: eu NUNCA gostei da Valary. Isso foi tudo uma armação dela para que acontecesse toda essa briga entre a gente. O que me surpreende é que você prefira acreditar nisso do que em mim.” Matt parecia estar com raiva. “Sério Clary, eu não sei mais como agir com você. Eu não sei mais se você gosta de mim ou se me odeia. Você simplesmente não demonstra! Só me fale quando você decidir o que quer pra que assim eu pare de perder meu tempo.” Ele saiu andando sem dar chance para que eu respondesse.

Sentei em um banco e senti as lágrimas escorrendo novamente pelo meu rosto. Matt tinha razão. Eu deveria acreditar nele. Ele fez tudo para que eu estivesse bem e eu não tive a capacidade de conseguir admitir que também estava gostando dele. Eu é que era a idiota mentirosa que estava deixando com que a felicidade fosse embora sem ter dado uma chance.

Depois de alguns minutos sozinha, The Rev apareceu e me abraçou. Ele não disse nada, só ficamos ali enquanto eu pensava em cada erro que havia cometido com o Matt. Por fim, ele se levantou me puxando junto com ele.

“Nós vamos fazer uma roda em volta da fogueira. Ficar tocando um violão e comendo marshmallows. Você vem?”

“Não sei. Acho que prefiro ficar sozinha.”

“Não prefere coisa nenhuma. Você vem e ponto final.” Ele começou a andar segurando a minha mão. Eu sorri um pouco. “A propósito, foi o Matt quem pediu para eu vir ver como você estava. Ele ficou preocupado.”

Sim, apesar de tudo Matt ainda se preocupava comigo. Eu sentia como se estivesse escrito na minha testa: IDIOTA. Como eu fui tão estúpida esse tempo todo? Decidi que não iria mais perder tempo.

Chegamos em volta da fogueira que alguém tinha ascendido e o único lugar vago era entre The Rev e Johnny. Matt ficou me olhando e eu encarei ele de volta. Queria tanto poder conversar com ele a sós. Eles começaram a tocar várias músicas. Matt e Syn eram os que mais cantavam e eu comecei a apreciar todo esse momento. Matt era um cara incrível que não merecia tudo o que eu estava fazendo com ele.

“Então Clary, você sabe cantar também?” Syn me perguntou.

“Sei.” Olhei para o violão que Zacky segurava e uma ideia me ocorreu. “E tocar também.” Estendi os braços para o Zacky e ele me passou o violão.

Sem pensar duas vezes, comecei a tocar e cantar uma música:

[ http://www.youtube.com/watch?v=DqP8BWxua8w <- link da música original acústica / http://www.youtube.com/watch?v=mdxxCxTYtMY&feature=related <- link de um cover que uma girl fez e eu gostei, só para vocês imaginarem ;)]

Eu queria que você soubesse que eu adoro o jeito que você sorri
Eu quero te abraçar bem forte e levar sua dor pra bem longe
Eu guardo sua foto, e eu sei que ela me faz bem
Quero te abraçar bem forte e roubar sua dor

Porque eu fico em pedaços quando me abro
E eu não me sinto como se eu fosse forte o bastante

Porque eu fico em pedaços quando estou solitário
E eu não me sinto bem quando você vai embora

O pior já passou e nós podemos respirar de novo
Eu quero te abraçar bem forte, você tira a minha dor
Há muita coisa deixada de aprender, e ninguém contra quem lutar
Eu quero te abraçar bem forte e roubar sua dor

Porque eu fico em pedaços quando me abro
E eu não me sinto como se eu fosse forte o bastante

Porque eu fico em pedaços quando estou solitário
E eu não me sinto bem quando você vai embora

Cantei a música inteira olhando para aqueles olhos verdes. Quando terminei me lembrei de que havia mais gente escutando. Eles começaram a aplaudir e eu me senti um pouco envergonhada.

“Uol, porque você não disse que cantava bem assim antes?” Zacky falou.

“É. Assim a gente trocava o Matt por você. Bem mais bonito.” Syn disse fazendo com que eu risse.

Matt não disse nada mas continuou me encarando intensamente. Continuamos ali por mais um tempo até que o frio fez com que todos fossemos para dentro. Resolvemos ir dormir antes para acordar cedo e aproveitar o dia. Coloquei uma blusa folgada e um short, como eu sempre dormia, e quando sai do banheiro encontrei Matt e Syn já deitados nas camas. Os dois estavam sem camisa. Resolvi não comentar nada sobre isso e deitei ao lado de Matt, de costas para ele. Apagamos as luzes e ficamos em silêncio.

Depois de um tempo, já estava quase pegando no sono quando senti Matt se mexendo na cama. Percebi que ele se aproximava de mim e sua mão parou no meu braço.

“Clary?” Ele sussurou perto do meu ouvido.

Um arrepio subiu pela minha coluna e eu me virei. Havia uma luz fraca no quarto e eu conseguia ver que nossos rostos estavam a centimetros de distância.

“Sim?” respondi num sussuro. Ele ficou quieto por mais alguns segundos olhando para os meus olhos.

“Aquela música...eu percebi que talvez eu estivesse pensando errado sobre os sentimentos que você tem comigo.” Fiquei quieta por alguns segundos

“Aquilo foi só uma parte do que eu não tive coragem de admitir pra você.” Respondi olhando em seus olhos também. Matt pareceu parar de respirar por alguns segundos, até que ele passou seu braço em minha cintura e eu me aconcheguei em seu peito.

“Me desculpe por ter falado daquele jeito com você.” Eu sorri um pouco.

“Tudo bem. Você não tinha como adivinhar.”

“Mas então.. você está realmente gostando de mim?” Afastei um pouco e olhei em seu rosto.

“Sim. Mais do que gostava antes. Na verdade... acho que eu também estou me apaixonando por você.” Disse e senti como se um peso fosse tirado das minhas costas. Os olhos de Matt pareciam brilhar e eu fiquei admirando como ele era lindo. Ele apertou mais seus braços ao meu redor e deu um beijo na minha testa.

Matt afastou e ficou me encarando. Eu sentia a necessidade de beijar ele queimando dentro de mim.

“Só pra vocês saberem, eu ainda estou acordado tá.” Syn falou

"Porra Syn, logo agora! Quer que eu te ajudo a dormir? Faço isso rapidinho." Matt falou sério.

"Não obrigado. Só não gosto dos outros se agarrando do meu lado enquanto eu estou sozinho." Eu comecei a rir.

“Boa noite Syn” falei um pouco mais alto.

“A obrigado por lembrar que eu existo. Boa noite Clary, durma bem” Ele falou em um tom irônico.

“Boa noite Syn. Vê se não deixa a sua imaginação ir muito longe.” Matt falou rindo.

“Você também.” Syn respondeu e eu vi Matt pegando uma almofada em algum lugar e jogando nele.

Acabei durmindo protegida nos braços de Matt.