O Teatro escrita por GabrielleBriant


Capítulo 24
Festejando Entre Comensais




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XXIV

FESTEJANDO ENTRE COMENSAIS

Linda, naquele fim de tarde, caiu num sono inesperado. Fazia muito tempo que aquele tipo de coisa não acontecia com ela – nos últimos tempos, desfrutar de um sono pesado, sem sonhos e renovador era um luxo indisponível para aquela mulher. O sono dos justos... era essa, a expressão?

Mas o fato é que quando a luz repentina invadiu o quarto em que ela dormia já passavam das dez da noite. O cheiro do jantar preparado por Cécile invadiu as suas narinas, fazendo-a perceber que estava com fome.

Lentamente, preguiçosamente, Linda se levantou. A mesa de jantar estava posta com perfeição – inclusive enfeitada com flores e velas que, Linda tinha certeza, não existiam em sua casa algumas horas atrás. Cécile emergiu da cozinha, despindo o avental que continuava impecavelmente branco.

- O que---? Foi você quem ligou as luzes do meu quarto, mamãe?

Cécile rolou os olhos.

- Só estamos nós duas nessa casa, Linda Marie. Quem mais poderia ter ligado as luzes? Eu achei que estivesse na hora de você acordar.

- Por que você não me acordou mais cedo?

- Não vi motivos. Você parecia um anjo, dormindo.

Linda assentiu, ainda muito sonolenta para descobrir se as palavras de Cécile tinham um carinho incomum, ou apenas o sarcasmo habitual.

- Para quê tudo isso? – Perguntou, tomando o seu lugar na mesa.

- Eu quis agradar você – Cécile riu-se; mais uma vez, não deu para distinguir entre carinho e sarcasmo. A mulher se encaminhou para a cozinha e logo voltava com dois pratos em suas mãos. Colocou um na frente de Linda. – Tabule Tropical.

- Entrada? Mamãe, não precisava!

- Eu sei que não... mas eu estava com humor para cozinhar. Nesses dois dias você não conversou direito comigo, e eu adoraria ter um tempinho entre mãe e filha.

Linda ergueu uma sobrancelha.

- Tudo bem – ela disse relutante. – Como você e papai estão? Tiveram notícias de Henry e Oswald?

- Seus irmãos estão bem e Marco continua o mesmo. E você? Por que saiu do Castelo, se está pronta para trocar beijos com o seu marido?

- Eu saí do castelo porque era preciso, mamãe. Você mesma me aconselhou a não me separar!

- Acontece que você está separada, Linda Marie. Se não estivesse, o seu marido estaria jantando com você, não eu!

Linda lentamente pousou o seu garfo.

- Eu pensei que você quisesse ter uma conversa amigável.

- E não estamos tendo uma? Eu não estou discutindo. Estou apontando um fato – A mulher também pousou o seu garfo na mesa. – E eu fui bastante suave com você... Tem muita coisa que eu queria dizer sobre essa sua situação, mas me mantive calada para não lhe magoar. Você é sensível demais, Linda Marie; não sei a quem puxou.

- Mesmo? Cécile Boyer medindo as palavras?

Cécile não pareceu se importar com o tom agressivo da filha.

- Não seja dramática Linda Marie. Você sabe que, se eu aponto os seus defeitos é porque eu sei que você pode melhorar.

Linda bufou.

- Mamãe, eu nunca disse uma só palavra sobre o seu casamento com papai, certo? Então, por favor, deixe-me cuidar do meu!

- Você não se mete no meu relacionamento por que não é da sua conta. No entanto, você é minha filha, e eu preciso saber se você ainda ama o seu marido o suficiente para passar por cima do que aconteceu!

- Por quê?! Por que você se importa!?

- Porque se você não o amar o suficiente, ficarei feliz em lhe ajudar com a separação! – Linda olhou para a mãe quase em choque. – Não me olhe assim! Você pode me acusar de muitas coisas, Linda Marie, mas eu sou a sua mãe; sempre quis a sua felicidade! Eu sugeri que você continuasse com Severo porque realmente achava que você não seria feliz sem ele. Mas, se você deixou o castelo, isso quer dizer que você ficará bem sozinha! Eu sei que você tem a Marca Negra, mas eu mandarei o seu pai explicar a situação ao Lorde das Trevas. Como Marco é o responsável pelo financiamento dessa guerra, o Lorde costuma ser muito compreensivo com ele. Você seria dispensada e iria para longe... já soube que compramos uma casa em Côte d'Azur?

- Mamãe...

- Mas – Cécile a interrompeu. – Se você acha que ainda vale à pena ficar ao lado dele, eu não me intrometerei. Fique claro que eu prefiro a segunda opção; será péssimo ter uma filha divorciada!

Linda suspirou, tentando não levar em consideração a oferta da mãe. Decidiu que seria melhor terminar com aquele assunto.

- Não vamos falar sobre isso.

Cécile crispou os lábios.

- Bien sûr.

Um breve e tenso silêncio se instalou na mesa de jantar. Se Linda bem conhecia a mãe, ela terminaria a refeição sem dizer uma só palavra e a ignoraria pelos próximos dias. Foi para evitar aquilo que, apesar de ter a mais absoluta certeza de que se arrependeria, Linda tentou quebrar o gelo:

- A salada está deliciosa, mamãe. Obrigada.

- Eu sei. Aliás, sabe aonde vai ter uma refeição deliciosa, hoje? – Linda ergueu uma sobrancelha. – Na Mansão! No aniversário do seu marido!

Finalmente irritada, Linda levantou-se.

- Ok. Eu desisto. Se você não consegue falar em outra coisa, mamãe, sinto muito, mas a senhora vai ficar falando sozinha!

E começou a se encaminhar para o quarto. Mas foi impedida pela voz da sua mãe, num tom que ela dificilmente ouvia: um tom maternal.

- Marie, por favor... – Ela virou-se, assustando com o vinco de preocupação que se formava na testa da sua mãe. – Por favor, pare de me enfrentar e tente entender o que eu digo.

- Você apenas está---

- Tentando fazer com que você compreenda! Marie, na única vez que... Severo – ela falou com certo asco – lhe traiu, ele lhe contou e se mostrou arrependido! Ainda assim, você o deixa! Agora ele está sozinho, solitário, e indo a uma dessas festas! Você sabe muito bem o que acontece nessas festas!

- Mas você---

- Eu quero que você veja que ainda tem escolhas, Marie! Você pode não fazer nada, e ir comigo para Côte d'Azur, ou você pode lutar pelo seu casamento! Trésor, você enlouqueceu apenas porque ele passou uma noite fora! Como você pode permitir que ele vá a essas festas, agora?!

- Eu não mando nele!

Cécile sorriu maliciosamente.

- Manda, sim; especialmente agora, que ele ainda está com a consciência pesada. Mas, claro, os amigos dele não podem saber disso!

- Então o que você sugere que eu faça?!

- Bem, Linda Marie, hoje é o aniversário do seu marido. Nada mais justo que a esposa dele compareça à festa. – Linda abriu a boca, mas logo foi interrompida. – Se alguém perguntar, eu apenas vim à sua casa para conversar e lhe ajudar a se arrumar; e não estarei aqui quando vocês voltarem.

XxXxXxX

Linda se abraçou ao pesado casaco de peles ao aparatar nos fundos da Mansão Malfoy, perto da piscina.

Aquela noite de janeiro estava particularmente fria, mas não nevava. A piscina havia se fechado numa grossa camada de gelo, e já não se podia mais ver o belo jardim cultivado por Eleanor Malfoy – avó de Linda – e agora mantido por Narcissa. Todo o cenário que outrora fora pacífico para a mulher, parecia quase assustador. Com passos largos, Linda passou a se encaminhar para a frente, afim de entrar na festa.

Um grande homem guardava a porta; Linda imediatamente reconheceu-o como Ygor – um vampiro romeno que sempre trabalhava como segurança nas festas dos Malfoy em troca de sangue humano vindo direto da fonte. Linda deu um meio-sorriso ao encará-lo.

O vampiro apenas ergueu uma sobrancelha ao vê-la.

- Desculpe-me, não creio que a senhorita esteja na lista de convidados.

Linda olhou-o ultrajada.

- Ygor, você está me reconhecendo?

- Sim, Srta. Malfoy. E também conheço a lista de convidados; a senhorita não está nela. Desculpe-me.

- Mas--- Eu sou a dona dessa casa!

- Não, a senhorita é uma das herdeiras. E, quando o Sr. Marco morrer, eu jamais poderei impedir a sua entrada. Enquanto ele estiver vivo, no entanto, apenas ele e o Sr. Lúcio são donos. A ordem que recebi foi para permitir a entrada dos convidados, somente. E eu já disse quem são os únicos que podem mudar essas ordens.

Linda bufou exasperada. Pensou em ameaçar o vampiro; tornar público que ele trabalhava pela oportunidade de assassinar alguém e não ser pego. Mas não precisou. No momento que começou a falar, a porta se abriu. Era o Lorde das Trevas.

Os lábios quase inexistentes do homem curvaram-se num sorriso assombroso.

- Linda Marie. Isso será interessante. Entre.

O vampiro visivelmente tentou conter a sua fúria e não olhou para o Lorde, enquanto afastava-se e dava passagem a Linda. E, assim que ela chegou o hall de entrada da Mansão, a música alta encheu os seus ouvidos. Ela tentou sorrir, tirando o casaco e entregando-o para um dos elfos que a esperava.

O Lorde analisou-a dos pés à cabeça.

- Acho que você superestimou a nossa reuniãozinha, Linda Marie.

Linda olhou com os lábios crispados para a sua roupa – um longo vestido de cetim vermelho. A cor do tecido era tão viva, e contrastava tão fortemente com a sua pele branca, que até mesmo Cécile dispensou o uso de jóias – exceto, naturalmente, a grossa aliança de ouro que Linda jamais tirava. A metade dos seus cabelos estava presa por um broche caro emprestado por Cécile, que também tratou de cachear os fios dourados.

- A culpa é de mamãe – Linda respondeu com sinceridade. – Ela ajudou a me arrumar... e o senhor sabe como ela fica quando está organizando algo.

- Sim... Cécile não aceitaria nem mesmo uma opinião minha. No entanto, ela geralmente acerta. – O Lorde deu um sorriso maléfico enquanto abria a porta. – O seu marido certamente apreciará a produção.

E gesticulou para que Linda entrasse.

A música na sala dos Malfoys era ainda mais alta – música de trouxa, Linda pôde perceber.

Apesar de ela saber que Narcissa Malfoy não perderia uma festa por nada no mundo, não parecia estar ali – apenas via-se um mar de elegantes vestes masculinas, quase todas negras, e algumas mulheres de vestidos curtos e vulgares. Pela falta de expressão em seus olhos, certamente sob a influência da maldição Império.

Linda imediatamente sentiu o impulso de voltar, antes que visse algo que não gostaria. Mas a mão fria do Lorde colocou-se em suas costas, empurrando-a brevemente para o centro do salão.

- Milorde!

Era a inconfundível voz de Bellatrix.

Apesar de apenas ter homens na festa, a presença da Lestrange não era uma surpresa para Linda – afinal, o caso amoroso que ela mantinha com o Lorde das Trevas não era segredo para ninguém. Linda olhou para a sua esquerda, vendo a mulher se aproximar e rapidamente e tomar o braço do Lorde, talvez marcando o seu território. Bella estava bonita: os cabelos muito arrumados e um vestido negro que traçava bem as suas curvas, além de jóias, que ela usava tão raramente.

- Bella, minha querida, olhe quem veio nos fazer companhia.

A morena torceu o nariz.

- Linda Marie. Não acho que este seja um lugar apropriado para ela.

O Lorde deu de ombros.

- Ora, Bella, vamos nos divertir um pouco. Onde está Severo?

Um brilho maldoso apareceu nos olhos da mulher.

- No sofá.

Sem esperar por mais, O Lorde das Trevas colocou novamente as mãos nas costas de Linda e a guiou pela sala. E, ao chegar ao sofá onde estava Severo, Linda sentiu o seu coração parar por um momento. O seu marido sentava-se muito confortavelmente, ao lado de uma mulher que em nada se parecia com as trouxas enfeitiçadas: ela era muito bonita, muito elegante... tinha cabelos curtos castanhos e olhos verdes que não pareciam se desgrudar dele. O vestido longo cinza marcava cada parte do seu corpo perfeito.

Linda sentiu o sangue subir ao seu rosto, corando-lhe, ao ver a mão da mulher passear pela perna esquerda de Severo, até muito perto da sua virilha.

Rezando para que não fosse vista, Linda deu meia-volta. Mas a mão do Lorde das Trevas logo se fechou em seu braço, impedindo-a de sair.

- Já vai, Linda Marie? – A voz perigosa do Lorde soou perigosa em seu ouvido. – Não vai falar com o seu marido?

Linda deu um meio-sorriso, voltando para encará-lo. O rosto dele estava muito próximo do dela e o hálito sepulcral bufando em sua boca, exatamente como ocorrera meses atrás. Sendo que, daquela vez, ela não estava com medo. A raiva dominava qualquer outro sentimento que quisesse invadir o seu corpo.

- É o aniversário dele. É melhor deixá-lo se divertir. Eu prefiro voltar ara casa e esperá-lo.

- Mas você já está aqui... tenho certeza que ele ficará feliz em lhe ver – O Lorde se aproximou mais, de forma que os seus lábios chegaram a roçar nos de Linda. – No mais, você não está nem um pouco curiosa para conhecer a amiga dele?

Linda respirou fundo, lutando contra a sensação ruim em seu estômago.

- Não, para ser sincera – Respondeu, sem se afastar. – Deixe-me ir, Milorde. Por favor.

- Ela é Evelyn Montgomery. Tem apenas 22 aninhos e pretende se tornar uma Comensal da Morte. Era amante de Aleto, mas já visitou a cama de quase todos os nossos companheiros. Está obstinada a fazer de Severo a sua próxima vítima... Eu posso dar um presente a você. Você sabe muito bem que Ygor precisa de um pagamento. Você gostaria que ela fosse a nossa moeda de troca? – O Lorde recuou um pouco, com um sorriso malicioso formando-se em seus lábios. – Não me decepcione, Linda Marie.

Linda fechou os olhos, vendo por trás das suas pálpebras a bela mulher acariciando o seu marido. Sentiu-se tentada a aceitar a oferta do Lorde das Trevas... ela certamente teria uma morte dolorosa, nas mãos de Ygor.

Balançou a cabeça, afastado aqueles pensamentos.

- Não.

- Você prefere que ela continue vindo a todas as nossas reuniões? Será que nem essa motivação é suficiente para trazer à tona a Comensal que eu sei que existe em você?

Ela suspirou.

- O senhor sabe quem deve ou não morrer – respondeu polidamente, politicamente. – O senhor sabe quem aqui é dispensável ou não. Eu devo seguir os seus planos, Milorde; não traçá-los.

O Lorde das Trevas finalmente a soltou, voltando a impor entre eles uma distância apropriada.

- Então você não decide sobre a vida ou a morte? Isso deixa a sua consciência um pouco mais tranqüila, saber que pode me culpar? – Linda não respondeu. O Lorde, então, continuou. – E se eu ordenasse que você a matasse? Você o faria?

- Não seria a primeira vez que eu assassinaria alguém por ordens suas, Milorde.

O Lorde suspirou satisfeito. Dando o assunto como encerrado, ele disse:

- Vamos cumprimentar o seu marido.

Sabendo que não tinha saída, Linda suspirou e se virou. Tentou não olhar diretamente para o marido, mas não conseguiu escapar da sua visão periférica – a mulher agora estava mais perto dele, acariciando-lhe os cabelos. Severo parecia absorto na conversa, enquanto bebericava um copo de uísque de fogo.

- Severo.

Linda, então, não pode mais evitar. Os seus olhos acinzentados recaíram sobre o seu marido, sem conseguir disfarçar a decepção. Severo, no entanto, não pareceu envergonhado pela proximidade da outra mulher. Apenas olhou inexpressivo para Linda e lentamente afastou as mãos da outra de si e levantou-se. Uma breve curvinha sarcástica começou a aparecer em seus lábios.

- Linda – Ele disse, fingindo surpresa. – Eu pensei que você ficaria em casa, com a sua mãe.

Ela o olhou friamente.

- Surpresa!

O Lorde ergueu uma sobrancelha, provavelmente decepcionado por Linda não ter demonstrado a personalidade geralmente rebelde.

- Eu vou deixá-los a sós.

E afastou-se. O brilho nos olhos de severo imediatamente mudaram – agora eram urgentes, temerosos. As mãos dele fecharam-se fortemente nos braços de Linda.

- O que você está fazendo aqui?! – Severo perguntou com os dentes trancados. O cheiro forte de uísque era evidente.

Ela suspirou.

- Nós nunca ficamos separados nos nossos aniversários.

Severo fechou os olhos e respirou fundo.

- E eu voltaria para casa, como combinado! Você não pode ficar aqui!

- Por quê? – Ela ergueu uma sobrancelha. – Porque se eu ficar estragarei a sua diversão? Não se preocupe, eu não quero ficar aqui para presenciar---

- O quê?! O que exatamente você presenciou aqui?!

Linda abriu a boca para responder, mas se calou quando viu a mulher levantar-se. Ela se aproximou, colocando uma mão carinhosamente no ombro de Severo.

- Algum problema, Severo?

Linda sorriu sarcasticamente e tentou dar meia-volta, mas a mão de Severo se fechou com mais força no braço de Linda, enquanto a outra pousou na cintura da esposa, mantendo-a parada.

- Não – Ele disse lentamente, com a voz macia. – Evelyn, essa é a minha esposa.

- Oh! – A mulher imediatamente tirou a mão dos ombros de Severo e deu um passo para trás. – Bem, é um prazer lhe conhecer, Sra. Snape. Severo, meu bem, eu vou falar com Lúcio.

Severo apenas assentiu, sem olhá-la, e a mulher se afastou. Linda bufou, enquanto ele a trazia para mais perto.

- Você não deveria ter vindo.

Linda desviou o seu olhar pela primeira vez.

- Deveria, sim, Severo. Foi bom que eu tenha visto isso!

- Você não viu nada de importante. É isso o que acontece nessas festas, Linda – ela abriu a boca para protestar, mas foi calada pela boca de Severo; pela língua que a invadiu, trazendo o gosto amargo do uísque de fogo e fazendo o seu corpo estremecer de raiva e prazer. – Isso não quer dizer que eu iria para a cama com ela!

Linda pôs as mãos sobre o peito dele, tentando afastá-lo, mas ele a segurou com força. Severo deu dois beijos na base do pescoço dela, e Linda teve que lutar para não... reagir ao ódio ou às necessidades do seu corpo.

- Você bebeu demais, Severo. Solte-me!

- Bebi, sim. Sua mãe tem uma mania irritante de estar sempre certa – Severo deu outro beijo no pescoço de Linda e afastou-se, olhando-a nos olhos. – Eu perdi você, não foi?

- Deixe-me ir, Severo.

- Responda! – Ele a olhou duramente.

Linda engoliu seco. De repente – talvez pela menção à sua mãe – Linda lembrou-se da oferta que há pouco ela lhe fizera. Agora, passar um período na Riviera Francesa parecia tentador.

Aquilo queria dizer que a resposta para a pergunta de Severo era "sim"? Linda sinceramente não sabia. E Severo percebeu a dúvida nos olhos dela.

- Por favor, Linda...

O coração dela disparou – Severo estava implorando. Quantas vezes ela vira Severo implorar por algo? Angustiada, ela apenas disse, tentando parecer sincera:

- Não, Severo – ela disse relutantemente. – Você ainda não me perdeu.

Severo respirou fundo e os lábios dele se chocaram contra os de Linda novamente, ainda com mais urgência. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, antes que pudesse sequer pensar em reagir, Severo soltou a sua cintura e intensificou a força com que segurava o braço dela, arrastando-a pela escadaria da mansão, sob o olhar curioso de alguns Comensais.

- Severo!

Ele não respondeu, acelerando o seu passo. Linda logo reconheceu o caminho que eles estavam fazendo: a biblioteca. E não demorou a que chegassem ao seu destino.

Severo abriu a porta da biblioteca e a arrastou rudemente para dentro. A porta fechou-se com um baque surdo, e logo o corpo dele pressionava o dela contra a parede. A sua língua a invadiu violentamente e as suas mãos passeavam pelo seu corpo sem nenhuma suavidade.

Linda não queria... Aquilo não estava certo.

- Eu senti tanta saudade... – Ele disse baixinho, entre beijos, e Linda sentiu os olhos queimarem.

- Eu...

- Eu amo você – A boca sedenta migrou para o pescoço e colo de Linda. – Por favor, Linda, apenas... volte!

Linda gemeu – e não foi de prazer – quando ele tocou os seus seios sem carinho.

- Pare!

Severo parou – os beijos, os toques e até mesmo a sua respiração. Ele se afastou lentamente, olhando para a esposa com apreensão.

- Você tem razão – Ele disse finalmente. – Você não precisa voltar ainda. Vamos devagar. – Ele acariciou o rosto dela, finalmente retomando a sua suavidade. – Apenas... me deixe visitá-la de vez em quando. Eu posso me contentar com isso... Afinal, depois que passei todo esse tempo me contentando com as cartas de Rosmerta...

Linda piscou duas vezes, segurando a mão dele, forçando-o a parar a carícia.

- Que cartas?

Severo riu-se, dando de ombros.

- Eu pedi que Rosmerta me escrevesse diariamente, sobre você.

- Você pediu?!

- Eu posso ter deixado a entender que fecharia o Três Vassouras, se ela não o fizesse.

Linda ofegou.

- O que você disse?!

- Não foi nada demais, Linda! Eu não faria nada e---

- Você ameaçou Rosmerta? Você a obrigou a me espionar? – Linda imediatamente se lembrou que, ao visitar Rosmerta no dia no natal, vira uma carta sobre o balcão do Três Vassouras... uma carta com uma caligrafia idêntica a de Severo, e que a garçonete dissera ser de um antigo namorado. – Desde quando?!

- Desde sempre! Eu não podia deixar você só e... e espionar é uma palavra muito forte! Eu apenas queria...

- ...que você me deixasse só! Foi isso o que eu pedi, depois que você---

Linda bufou, tentando sair dali, mas Severo a prendeu com os seus braços.

- Você deveria me agradecer! Se não fosse por essas cartas, você jamais teria conseguido aquele empreguinho---

- Foi você?!

- Sim, Linda! Fui eu!

Ela desviou o olhar, furiosa. Furiosa com ele, por não tê-la deixado sozinha. Furiosa, porque a única coisa que ela fizera por si nos últimos anos e que ela acreditara ter merecido era uma mentira. Furiosa por ter sido enganada, controlada...

Tentou empurrá-lo, mas Severo era forte demais... e quanto mais ela tentava se afastar, mais ele diminuía a distancia entre os seus corpos.

- Deixe-me sair daqui!

- Linda, escute---

Mas Severo foi interrompido pela porta sendo aberta.

A escuridão da biblioteca foi invadida pela luz fraca dos archotes do corredor, que delineavam a inconfundível silhueta de Marco Malfoy.

- Pai? – Linda disse, com o coração martelando.

- Vá ao quarto de Narcissa e desça com ela – Ele disse, autoritário. – Snape, você vai descer sozinho. Eu estarei morto antes de permitir que a minha filha se porte como uma prostituta trouxa perto do Lorde das Trevas.

Linda corou, sabendo que todos tinham visto os beijos que Severo dera nela, antes de arrastá-la para o andar de cima da mansão.

- Ela é a minha esposa, Marco – Severo disse.

- Eu lamento esse fato diariamente. Mas não é por isso que você vai tratá-la como uma qualquer; com vulgaridade. Linda Marie, me obedeça.

Linda suspirou e afastou-se de Severo – não pelas ordens do pai, mas porque queria, de fato, ficar longe do marido. Não se encaminhou ao quarto de Narcissa, no entanto – ao invés disso, atravessou o salão principal da Mansão Malfoy e, sem falar com ninguém, rumou para a sua casa.

XxXxXxX

 


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