O Teatro escrita por GabrielleBriant


Capítulo 23
Cécile Boyer-Malfoy




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XXIII

CÉCILE BOYER-MALFOY

O inverno parecia estar mais rigoroso que nunca. Severo colocou as mãos nos bolso do casaco – apesar de protegidas pelas luvas grossas, ele sentia as pontas dos seus dedos gelarem dolorosamente. Suspirou aborrecido, sentindo o vento forte cortar-lhe o rosto enquanto tentava caminhar pelas calçadas escorregadias de Hogsmeade.

Estava... difícil.

Era difícil estar ali, andando por aquelas ruas na esperança obsessiva de se encontrar com a sua esposa. Severo passara a última semana fazendo aquilo... era doentio.

Apesar da freqüência das suas visitas, ele não encontrou com Linda – pelo menos não no vilarejo. Ele a vira há alguns dias, quando visitava um colega Comensal no hospital St. Mugus. A sua mulher estava trabalhando lá como voluntária, ironicamente cuidando de crianças... e com Andrew Weiss.

No momento, Severo estava com Lúcio, Bellatrix e Rodolphus. Eles se ofereceram para ensinar ao "Sangue-Ruim imundo" que ele deveria se manter longe da esposa de um Comensal da Morte, mas Severo recusou. Muito embora, na verdade, ele quisesse aceitar a oferta e ajudar na lição.

Passando pelo Três Vassouras, Severo viu Madame Rosmerta empilhando as cadeiras do bar enquanto cantarolava uma música qualquer. Ela estava bem vestida, o que denunciava que ela iria para uma festa de Réveillon. Aquela mulher deveria lhe avisar de todos os passos de Linda; certamente não estava levando a sério a ameaça de ter o bar fechado.

Depois conversaria seriamente com ela. Não estava com cabeça naquele momento.

Os flocos de neve começaram a cair do céu, salpicando as vestes e os cabelos negros de Severo. Era melhor que procurasse um abrigo – e não existia melhor local para se esconder do frio do que a taverna de Aberforth Dumbledore.

Como esperado, O Cabeça de Javali estava praticamente vazio. Alguns bêbados, algumas prostitutas, alguns infelizes... e duas figuras incomuns para o local, que imediatamente chamaram a atenção de Severo: numa mesa escondida, estavam Yaxley e Linda.

Mais curioso que alarmado, Severo se aproximou.

- Boa noite.

Linda o olhou nos olhos e sorriu. Um sorriso sincero, apesar dos últimos acontecimentos.

- Severo! – Ela disse, animada. – Pensei que você ficaria na escola, hoje.

- Eu também – Yaxley disse, levantando-se e cumprimentando Severo. – Eu ia levar a sua esposa para festa dos Malfoy... mas é claro que você já sabia disso, não?

- Claro – Severo mentiu, forçando um sorriso a aparecer em seu rosto. – Apenas não entendo o motivo dessa visita ao Cabeça de Javali. Não é um local onde eu queira que Linda seja vista.

Yaxley passou as mãos pelos cabelos loiros.

- Eu tinha... assuntos oficiais a tratar com ela.

- Claro que sim. Obrigado pela atenção, Thomas, mas eu mesmo levarei Linda à casa dos pais dela.

Yaxley olhou para Linda, com um sorriso aparecendo em seus lábios.

- O que você acha disso?

- Eu... – ela começou, relutante. – Eu acho melhor ir com o Severo. Mas obrigada.

- Você que sabe, Linda. Pense no que eu lhe falei.

Linda sorriu, assentindo. Severo sequer percebeu quando a sua mão deslizou até o bolso das suas vestes em que ele guardava a varinha.

- Boa noite, Thomas – Severo disse asperamente.

- Para você também, Severo. Espero vê-los mais tarde.

O Comensal começou a se encaminhar para a saída da taverna. Assim que ele estava longe o suficiente, Severo tomou a cadeira que ele há pouco ocupava e ergueu o copo de uísque usado, fazendo um claro sinal para que Aberforth trouxesse-lhe um limpo.

Linda apenas o olhou, com uma sobrancelha erguida.

- Desde quando os Comensais da Morte te chamam de "Linda"?

Ela sorriu, marota.

- Ao que eu sei, Severo, os únicos Comensais que me chamam de Linda são você e, agora, o Thomas. Não dá para generalizar.

Severo pigarreou, ajeitando-se desconfortavelmente na cadeira.

- O que ele estava fazendo aqui?

- Nada demais... Aparentemente o Lorde das Trevas queria saber por que eu tinha saído do castelo, ou algo assim.

- Só isso?

Linda riu-se.

- Claro que não! Papai contou ao Thomas que nós nos separamos. Ele apareceu no hospital nos últimos dois dias e está encontrando qualquer oportunidade para se aproximar de mim.

- Por que ele faria isso?

- Não sei, Severo. Por que será que um homem sentiria vontade de se aproximar de uma mulher como eu...? É um mistério!

- Não foi isso que eu quis dizer!

- Eu sei, só estou te provocando – Linda sorriu timidamente, tomando um gole da sua bebida. Ela abriu a boca, mas foi impedida de falar quando Aberforth finalmente apareceu com o copo limpo. – Obrigada. – Ela disse, enquanto o dono da taverna enchia o copo de Severo e, mal-humorado, deixava-os só novamente. – Eu namorei o Thomas quando era adolescente.

Foi a vez de Severo erguer uma sobrancelha.

- Você nunca me contou isso.

- Você nunca perguntou. Foi um namorico bobo, Severo. Só durou um verão. Mas foi o meu relacionamento mais aprovado pela família, porque nunca tivemos um casamento Yaxley-Malfoy. Por isso Thomas foi o primeiro a saber da nossa separação. Papai correu para contá-lo.

Severo franziu o cenho.

- Eu pensei que você manteria os nossos... problemas em segredo.

- Eu só contei a mamãe. E eu acho que ela não imaginava que papai ficaria tão eufórico com a notícia. – Linda suspirou. – É uma pena que eu terei que decepcioná-lo novamente...

- Mesmo? – Severo disse duramente. – Porque você parecia bem feliz, conversando com ele.

Linda abriu a boca e o olhou – olhos acinzentados que transmitiam choque; mágoa. Severo teve de lutar para manter a sua máscara indiferente.

- Que tipo de mulher você pensa que eu sou? Você realmente acha que eu seria capaz de me jogar na cama de outro na primeira oportunidade?! – Severo não desviou o olhar, fingindo não ter entendido a óbvia alfinetada. – Há apenas seis dias eu estive com você, Severo. Eu não tirei a minha aliança de casamento, tirei?

Ele olhou para o anelar esquerdo de Linda. A grossa aliança de ouro ainda estava lá.

- Mas você deixou claro que---

- O quê? Eu disse que te amava, nós dormimos juntos e---

- E você foi embora mesmo assim, Linda. Eu pensei que não havia mudado nada.

Ela sorriu tristemente.

- Novamente, que tipo de mulher você pensa que eu sou?

- Eu não sei, Linda. Ultimamente você está mudando de personalidade com uma freqüência absurda.

- A culpa disso não é minha, Severo; é sua.

Severo respirou fundo, esvaziando a sua primeira dose. Linda o serviu quase imediatamente.

- Então...?

- Eu acho que nós podemos fazer esse relacionamento dar certo.

Ele engoliu seco, sentindo o seu coração dar uma guinada.

- Volte comigo, então. Vamos para Hogwarts.

- Não, Severo. Eu preciso de tempo... Não para esquecer; porque isso nunca vai acontecer! Mas eu tenho que estar distante de você para me lembrar porque eu me apaixonei. Me lembrar que vale a pena estar ao seu lado.

Ele assentiu.

- Eu posso vir te visitar?

Linda suspirou.

- Eu prefiro que não. – Sorriu. – Eu estou retomando a minha vida... refazendo o que eu interrompi pelo nosso casamento. Estou estudando, trabalhando, passando mais tempo com os meus amigos... Eu gosto disso! E eu queria recuperar totalmente a minha vida antes de deixar que você volte para ela. Eu queria sentir saudades de você.

- Quando você sentirá?

Linda mordeu o lábio inferior.

- Eu já sinto, Severo. Mas eu quero que fique mais forte.

Severo assentiu, ligeiramente aborrecido.

- Então o que você vai fazer? Mandar-me uma carta quando estiver pronta? Deixar-me esperando nesse meio tempo, enquanto você refaz a sua vida ao lado de amiguinhos como Andrew e Thomas?

- Sim, contanto que você não espere com a sua amiguinha Narcissa! – Linda fechou os olhos e respirou fundo. – Está vendo? Eu não posso ficar perto de você agora! Por que você não vem no seu aniversário? Eu farei um jantar e nós tentaremos conversar sem ofensas ou insinuações.

- Daqui a nove dias, então?

- É pouquíssimo tempo.

Severo crispou os lábios quase involuntariamente.

- Tempo é relativo.

Linda rolou os olhos, levantando-se e jogando sobre a mesa algumas moedas.

- Eu já vou, Severo.

Ele negou com a cabeça, esvaziando a sua dose e se levantando também.

- Eu disse que te levaria para a festa dos Malfoy.

- E quem disse que eu vou para a Mansão? O meu amigo Andrew vai dar uma festa; será muito mais divertida do que a dos Malfoy, onde eu teria que passar a noite escutando os meus parentes me perguntando por que diabos eu ainda não engravidei.

Severo desviou o olhar, sentindo-se ainda mais irritado. Ainda assim, o seu bom senso lhe alertava que Linda não reagiria bem a proibições naquele momento. Desta forma, ele apenas disse, com os dentes cerrados:

- Divirta-se.

- Eu irei.

Sem olhar para trás, Linda deixou a taverna.

XxXxXxX

Distância era bom; mas Linda tinha que admitir que estava animada para rever o seu marido. Claro que ela ainda estava magoada. Claro que ainda não sabia se conseguiria voltar completamente para ele. Mas, ainda assim, Linda sentia que estava fazendo a coisa certa – não jogaria os últimos dez anos pela janela sem lutar. Mais.

Ela sorriu, caminhando por Hogsmeade com a sua grande sacola de compras. Encomendara para Severo, na Livraria Bruxa da Universidade de Washington, o novo livro da professora Gabrielle Spector – Novos Efeitos Colaterais e Atualização Terapêutica no Uso de Poções Tradicionais – em edição especial; além de um novo set de caldeirões e algumas roupas que ele estava precisando, e foi pegá-las no correio local. Ainda acrescentou às suas compras alguns doces da Dedos de Mel que Severo gostava, embora jamais tivesse coragem de ir à loja comprar – tinha medo que algum dos seus alunos descobrisse que ele gostava de comer esse tipo de coisa.

Assim que entrasse em casa, Linda colocaria tudo numa embalagem bonita e o presente estaria pronto para, no dia seguinte, ser entregue.

Satisfeita, Linda abriu a porta da sua casa... e sobressaltou-se. Sentada em seu sofá estava Cécile Boyer-Malfoy, tomando calmamente uma xícara de chá.

- Mãe?

Cécile quase não se moveu; apenas ergueu os seus olhos azuis para a filha e tomou mais um gole do seu chá. Graciosamente, colocou a xícara sobre a mesa de centro e levantou-se.

- Linda Marie. Eu já lhe disse um milhão de vezes que é rude deixar qualquer pessoa esperando do lado de fora da sua casa. Se você não pode estar sempre cuidando da sua casa, pegue um dos elfos-domésticos da família do seu pai! É absolutamente injusto que Lúcio tenha oito lhe servindo, e você não tenha nenhum!

Linda suspirou, colocando as suas compras sobre o sofá e encaminhando-se para a sua mãe.

- Como você entrou aqui?

Cécile cumprimentou a filha com um breve beijo no rosto.

- Na última vez que você me visitou, eu roubei a sua chave e fiz uma cópia. Se você não fosse tão desatenta, certamente teria percebido – Cécile olhou com um pouco de asco ao seu redor. – Essa casa está uma bagunça; não foi assim que eu lhe ensinei a cuidar do seu espaço.

Linda rolou os olhos.

- Mamãe, está tudo organizado.

- Os móveis são de mau gosto e estão dispostos de uma maneira que me dá nojo. Você quase não tem objetos de decoração e essa cor nas paredes é simplesmente entediante. A limpeza poderia ser mais bem executada e, para todos os efeitos eu não moro aqui; sou uma visita. O que eu sempre lhe disse sobre jogar as coisas que você tem nas mãos na frente das visitas?! Custava ter pedido licença e levado essas sacolas para o quarto?

- Mamãe, essa não é a sua casa. Para todos os efeitos, a senhora é uma visita. O que a senhora diria se uma visita começasse a colocar defeitos na sua casa?

Cécile deu um sorriso maldoso.

- Minha casa não tem defeitos – Linda teve de respirar fundo para conter o impulso de dar à mãe uma resposta malcriada. – E, Linda Marie, por Merlin, por que você insiste em andar quase sem jóias? Eu sempre lhe disse: nós duas temos que tomar posse das jóias dos Malfoys, ou Narcissa ficará com tudo! Lembra-se daquele colar de rubis cujo fecho é o brasão da família? Abraxas sempre disse que seria da primeira neta dele, mas, como Narcissa não conseguiu ter filhas, tomou posse do que é seu!

- Mãe, as jóias dos Malfoy não me interessam!

- Eu sei que as da minha família são mais bonitas! Mas você tem que pegar logo as dos Malfoy, querendo ou não! Elas são suas, já que você é a única mulher da família!

- Mãe...

- Lúcio ficava com a Mansão, você ficava com as jóias! Esse foi o acordo que seu pai fez com o irmão quando você nasceu! Aquela Black teve de entrar para a família e tentar bagunçar tudo...!

Linda fechou os olhos. Decidiu mudar de assunto.

- Mãe, você veio me dizer alguma coisa importante, ou essa visita foi apenas para me lembrar das nossas intermináveis conversas sobre os mesmos assuntos?

A mulher crispou os lábios.

- Eu vim lhe fazer companhia. Achei que o aniversário de Severo seria uma ocasião difícil para você.

- Isso é muito carinhoso... e surpreendente. Mas Severo vem jantar comigo, mamãe. Eu queria estar sozinha com ele.

- É muito feio mentir para a sua própria mãe! Você sabe que ele não vem para jantar nenhum!

Linda franziu o cenho.

- Como não?!

- Vai me dizer que você não sabe? Vai ter uma festa na Mansão, Linda Marie! E as mulheres não foram convidadas.

XxXxXxX

"Caro Professor Snape,

A sua sogra dormiu em sua casa ontem. Linda não comentou nada sobre isso comigo. Sinto não ter mais nenhuma informação.

Atenciosamente,

P. J. Rosmerta."

Severo bufou, incendiando a carta, como de costume. A falta de informação nas correspondências de Madame Rosmerta estava começando a deixá-lo muito irritado – e, se Linda não voltasse com ele para o castelo naquela noite, Severo não hesitaria em cumprir a sua promessa e fechar o Três Vassouras.

Ele não pensou naquela vingança por muito tempo; logo a sua mente divergiu para aquela noite; e o que poderia acontecer... finalmente.

Duas batidas na porta fizeram-no esquecer o assunto. Severo logo deixou a porta se abrir, permitindo a passagem de Aleto Carrow. A mulher apressou-se para a cadeira em frente ao gabinete de Severo, acomodando-se sem pedir licença.

- Cheiro de queimado – ela pontuou.

- Estava me livrando de alguns papéis inúteis. – Severo explicou displicentemente; não deixava de ser verdade. – O que posso fazer por você?

Aleto deu um breve sorriso.

- Bem, o seu aniversário é hoje.

Severo ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços e recostando-se à cadeira.

- Parabéns para mim. E daí?

- Bom, haverá uma festa. Narcissa pediu que eu lhe avisasse; não me pergunte por que.

A lembrança de ter pedido que Narcissa o deixasse em paz, feito durante a festa de natal, voltou à sua cabeça. Felicitou-se em saber que a mulher estava cumprindo a sua promessa.

- Eu não gosto de festas de aniversário.

- Entendo perfeitamente, Severo. Mas, aparentemente, este é um presente de Lúcio. O Lorde estará lá, então, se você não quiser ser convocado a aparecer em sua própria festa, sugiro que vá.

- Bem, você pode falar para Narcissa, Lúcio e para o Lorde que eu pretendo passar o meu aniversário ao lado da minha mulher.

Aleto ergueu uma sobrancelha, divertida.

- Mesmo? Vai ter um jantarzinho romântico, apenas você, Linda Marie e Cécile?

Severo fechou brevemente os olhos – aparentemente, a notícia da chegada da sua sogra já se espalhara.

- Cécile não passará muito tempo conosco.

- Nós sabemos! – Aleto disse, revirando os olhos. – Foi o Lorde quem pediu que ela fizesse companhia a Linda Marie durante a festa!

Severo crispou os lábios. Aparentemente, não teria escapatória... só não sabia exatamente como dizer aquilo à Linda.

- Muito bem, então... nos vemos na festa.

XxXxXxX

Linda, pelo que parecia ser a décima vez naquele dia, passava o pano no chão da sua sala. Aparentemente, não importava o que ela fizesse, como dispusesse os móveis ou quanto os lustrasse – nada parecia agradar a sua mãe. Nem mesmo os quadros que ela confiscara da Mansão Malfoy para colocar nas paredes antes nuas.

- Você está se portando como um elfo.

Linda bufou, ajoelhando-se.

- Eu apenas estou tentando lhe agradar!

Cécile olhou a filha com um pouco de desprezo e empunhou a sua varinha. Com um breve menear, a cera espalhou-se sozinha pelo chão, deixando a madeira muito mais lustrosa do que Linda jamais conseguira. Irritada, ela se levantou. Cécile, no entanto, não pareceu se intimidar pela expressão da filha.

- Muito simples. Feitiços limpantes são fáceis, não sei por que você insiste em não usá-los!

- A senhora sabe que eu nunca fui boa neles!

- Uma mulher que não consegue cuidar da própria casa... Essa não foi a educação que eu lhe dei. – Cécile cruzou os braços e sorriu maliciosamente para a filha. – Não me admira que o seu marido tenha ido procurar outra...

E aquela foi a gota d'água que faltava para Linda. Lentamente, a mulher respirou fundo e olhou para a mãe com uma frieza que apenas uma verdadeira Malfoy seria capaz de ter. Pela primeira vez, Cécile via a sua filha realmente irritada... e temeria a explosão, não tivesse ela sido salva pelo acaso: assim, assim que Linda abriu a boca para dizer o seu primeiro desaforo, foi impedida pelo barulho da porta sendo aberta.

Era Severo.

- Atrapalho? – Ele perguntou, percebendo de imediato o clima frio entre mãe e filha.

- Não, Severo! – Cécile respirou fundo, desviando-se de Linda e se encaminhando para o seu genro. – De fato, você chegou na hora certa!

Linda suspirou, um pouco mais irritada com a chegada do marido.

- Oi, Severo.

Ele entrou.

- Eu apenas--- Eu posso falar rapidamente com você, Linda?

Linda apenas deu de ombros e se aproximou. Cécile, entendendo que a conversa seria particular, encaminhou-se para a cozinha.

- O que foi?

- Surgiu um imprevisto.

- Eu já soube. Você tem uma festa mais interessante, na casa de Narcissa. Espero que você se divirta muito.

Severo bufou, buscando paciência.

- Eu não posso faltar.

- Eu não estou reclamando.

- Linda, eu ficarei lá apenas algumas horas. Depois eu virei para casa... Apenas... Me espere para o jantar. E se livre da sua mãe.

Linda desviou o olhar.

- Eu vou esperar por você até a meia noite.

Severo sorriu. Quase por um impulso, pôs rapidamente a sua mão na nuca de Linda e a trouxe para um beijo. No entanto, mal os lábios se tocaram, a voz dura de Cécile soou por trás deles.

- Não é apropriado que uma mulher troque beijos com um homem na frente da mãe dela.

Severo crispou os lábios, frustrado, enquanto se afastava de Linda.

- Nós estamos na nossa casa, Cécile.

- E eu também estou nela – Cécile sorriu friamente, puxando a filha pelo braço. – Você quer mais alguma coisa, Severo?

- Mamãe, por favor...

- Sim, eu quero. Vim pegar uma roupa para ir à Mansão hoje. Com licença.

Severo começou a se encaminhar para o quarto de imediato, tentando fugir das palavras da sogra – hoje, aparentemente, mais desagradáveis que normalmente. No entanto, Cécile fez questão de impedi-lo:

- Espere, Severo! – Ele parou, voltando-se para a sua sogra. A mulher já tinha os olhos fixos em sua filha. – Linda Marie, qual foi a última vez que Severo guardou as próprias roupas?

Linda bufou.

- Não sei, mamãe.

- Então não seria o seu papel ir procurar uma roupa apropriada para a festa desta noite?

Linda rolou os olhos e, sem dizer uma palavra, obedeceu. Aparentemente, Cécile estava destilando o seu veneno em sua filha, também.

Antes de Linda adentrar o corredor que a levaria para o quarto, Cécile ainda acrescentou:

- E, Linda Marie, certifique-se que a roupa está limpa, sem fiapos e bem passada; não quero que as pessoas digam que eu não lhe eduquei bem para o casamento.

A porta do quarto bateu num baque ensurdecedor. Cécile apenas sorriu friamente e olhou para Severo.

- Ela parece chateada.

- Bem, Cécile, você passou a noite aqui.

Cécile ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços.

- Passei. Sabe, Severo, eu não gosto de deixar a minha filha sozinha. Esse era o seu plano, não?

- Linda sabe muito bem---

- Que você mente para ela o tempo inteiro? Que você nasceu como um verme, cresceu como um verme e assim vai morrer? – Cécile crispou os lábios. – Eu conheço a minha filha, Severo, e conheço muito bem os homens da sua laia. E, ao contrário do que você pensa, eu sei o que você fez. Eu disse a Linda Marie que não era suficiente para deixar um casamento, e ela concordou; então, se a minha filha lhe deixou, foi porque outra coisa você aprontou!

A expressão de Severo ficou sombria e, naquele momento, milhões de respostas atravessadas cruzaram o seu pensamento; mas aquela era a sua sogra. Ele não se sentia no direito de lhe faltar com respeito.

- Cécile, eu não acho que o que acontece no meu casamento seja assunto seu.

- Mas o que acontece com a minha filha é. Você acha que Linda Marie gosta de passar os dias sozinha, sendo tratada como uma elfa-doméstica? – Cécile riu, sarcástica. – Esse casamento foi o pior erro que a minha filha já cometeu! Você é apenas um professorzinho barato, pobre e sem berço; minha filha é uma Boyer-Malfoy! Eu permiti a união de vocês porque Linda Marie achava que você poderia fazê-la feliz. Você não pode.

Severo respirou fundo, controlando-se.

- Você já me falou inúmeras vezes o que pensa sobre mim, Cécile. E eu tenho certeza que você também falou à Linda. Isso nunca mudou a opinião dela. E nós não nos separamos.

- Querido, você pode não ter percebido, mas eu apenas finjo não perceber o que ocorre ao meu redor. Eu não me importo que Marco pegue a metade do ouro que tem nos cofres da minha família e entregue ao Lorde das Trevas; não me importo que ele freqüente essas festinhas cheias de prostitutas; e finjo nem ver quando ele pega uma jóia quase sem valor para dar a uma das suas amantes. Mas eu sei que isso acontece. – Ela deu um passo em direção ao genro. – E jamais pense que, só porque eu não me importo que meu marido faça isso comigo, eu vou permitir que você aja assim com a minha filha!

- Eu---

- Vocês estão separados; e, por mim, que continuem assim. Mas, se você ainda quiser a minha filha, eu sugiro que mude os seus atos e que mereça o perdão dela.

- Eu estou tentando.

- Não, não está. Ao invés de viajar com Linda Marie, você está se preparando para ir a uma festinha imoral no dia do seu aniversário. Eu não vou permitir isso, Severo.

- E o que você vai fazer, Cécile?

- Você já deveria saber que eu posso encomendar a sua m--- – Cécile parou e respirou fundo. – Linda Marie está voltando. Vamos fingir que essa conversa jamais aconteceu, certo?

Mas o clima frio não passou despercebido por Linda, quando ela retornou à sala trazendo as roupas que Severo deveria vestir naquela noite.

- O que houve?

Cécile não tirou os olhos de Severo.

- Nada. O seu marido apenas estava dizendo como está ocupado e que por isso tem de regressar à escola agora.

Sem nenhuma palavra, Severo apenas pegou as roupas e saiu.

Linda voltou-se para Cécile.

- Mãe?

- Eu disse que não aconteceu nada! Vá descansar, Linda. Eu prepararei um bom jantar para nós duas.

- Eu posso muito bem---

- Eu não vou confiar em você na cozinha, minha filha. Vá descansar.

Pensando que o seu dia estava acabado, Linda foi para o seu quarto e decidiu deitar-se.

Mal sabia ela que aquele dia estava apenas começando.

XxXxXxX


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