Nem dez centímetros abertos e meus olhos quase saíram das orbitas!

                Com toda minha certeza eu nunca antes havia visto tal deslumbrante instrumento em tão assombroso lugar! Assombroso de lindo!

                O primeiro a se ver foi o carpete cor de perola, em cima deste um tapete, de pelos sintéticos, preto. E então... Um par de pés...

Os dois juntos não somavam dez centímetros de largura... Os detalhes eram impecáveis... As unhas, as veias, os músculos, tensos como se estivessem carregando muito peso... Então acompanhando a silhueta dos referidos pés... Olhando-a completamente, somente a ela e nada mais...

                A forma, dona da silhueta, era um anjo.

                Todo o corpo ereto com os músculos tensionados, os braços levantados acima da cabeça, as asas totalmente abertas, estendidas como se o ajudassem a carregar o peso da caixa que se apoiava em apenas suas mãos. Todo o anjo tinha pouco mais do que cinqüenta centímetros de altura.

Estava vestindo uma toga. A cabeça com o queixo erguido tinha os olhos vendados por um lenço. Seu corpo e cabeça pintados em azul, aquele azul quando céu esta totalmente sem nuvens, ao sol do meio dia, suas vestes eram brancas como as nuvens mais leves.

                Somente quando eu ampliei o meu foco de visão consegui distinguir mais duas silhuetas idênticas à anterior. Foi quando vi o composto inteiro.

                Meu coração bateu tão forte que consegui senti-lo em todas as pontas dos meus dedos.

                O que as angelicais silhuetas estavam fazendo todo o esforço para segurar acima de suas cabeças.

Era um piano.