Terrified escrita por asasdecetim


Capítulo 3
As conversas perdidas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/180455/chapter/3

Enquanto o trem não aparecia, a conversa entre eles ia fluindo aos poucos. Logo, estavam cientes de que ambos haviam chegado à cidade no dia anterior e tido a mesma ideia de tentar retomar o emprego no McKinley antes do vencimento da licença não-remunerada. Will contou de sua experiência na Broadway, para onde se mudou após ter levado seus alunos do Glee ao primeiro lugar no campeonato nacional de 2011.

O trem chegou, e Emma estava tão envolvida pelo carisma de Will que não se recordou dos rituais de limpeza que sempre fazia em locais públicos, e se sentou no banco, despreocupada. Ele se abria, contando as situações que havia enfrentado com o Glee club até o campeonato nacional, as idas e vindas da amizade com a treinadora Sue, a aventura alcoólica que tivera com Beiste... Emma parecia se projetar para o passado, experimentando aqueles momentos novos que lhe eram contados e rindo de uma nostalgia que ela construía naquele momento.

Em dado momento, a conversa foi interrompida pelo aviso da estação em que Will desceria.

- E então, vai aceitar meu convite? – ele sorriu para ela, estendendo a mão enquanto se levantava.

O trem parou, e assim parecia acontecer também com seu coração. Era a oferta para uma valsa, a mão estendida para erguer um caído, a oferta de sentimentos a uma alma estraçalhada, tudo naquele singelo convite para um lanche no Breadstix.

Os lábios rosados se converteram em um terno sorriso, que sob a luz dava ainda mais realce ao rosto alvo e aos longos cabelos vermelhos. A imagem perfeita de Emma sorrindo fez Will se lembrar do porquê de ter se apaixonado por ela, e de como ela era capaz de fazê-lo desejar sempre a mesma pessoa, a única que parecia valer apena em um mundo cheio de erros.

E, quando ela se segurou em sua mão, olhando no fundo de seus olhos, e se ergueu, a mágica se completou. Will sabia que estava disposto a lutar por tudo o que tinha perdido em Lima.

- Eu, hm... Posso pedir umas frutas. – disse, tentando convencer a si mesma de que enfrentar o Breadstix valeria a pena pela companhia.

Já havia anoitecido. No curto caminho da estação ao restaurante, Emma contou sobre o tratamento anti-TOC que iniciara há um ano e meio, e de como se sentia melhor após ter se convencido a procurar ajuda profissional.

- Boa noite, bem-vindos ao Breadstix – a garçonete os recepcionou na entrada – Todas as mesas estão ocupadas; vocês poderiam aguardar um pouquinho? Temos bancos ali, e se vocês quiserem já podem fazer o pedido; eu deixo uma senha com vocês e chamo pra entrarem quando surgir uma mesa vaga, tudo bem?

Will conferiu a expressão de Emma, que retribuiu o olhar com um aceno afirmativo.

- Tudo bem, pode ser. – concordou, direcionando Emma para um banco próximo.

Após terem escolhido uma das poucas opções aceitas por Emma no menu, eles se despediram da garçonete e voltaram a trocar experiências vividas nos últimos dois anos. Will discorreu sobre as polêmicas de que foi alvo por culpa das atitudes questionáveis da colega de palco April Rhodes. Confessou todas as reflexões a respeito do futuro e dos sonhos que considerava alcançáveis. Em alguns momentos, ambos riam; em outros, a condolência pela situação do professor era suficiente para fazê-la abaixar a cabeça em reverência ao desabafo.

- E, bom... – ele concluiu, com uma risada de alívio – É por isso que resolvi voltar e tentar a vida novamente como professor aqui em Lima.

A pausa de Will se fez clara. Emma, de início, limitou-se a soltar um “hm, certo” – mas depois de toda aquela entrega por parte dele, ela sabia que só havia um rumo para a conversa.

- Com licença – a garçonete se aproximou – já temos uma mesa.

- Obrigado – Will se levantou. Emma olhava para as mãos sobre o colo. – Vamos?

- Hm... Ah, sim – ela respondeu, ainda incerta, e com surpresa na voz.

Os dois entraram no restaurante lotado, fazendo um caminho tortuoso de mesas e cadeiras até o local que a garçonete indicou. Emma se sentou no assento acolchoado que acabara de ser limpo, e sentiu o forte cheiro do álcool. O vidro da mesa trazia um rastro de pano úmido, que, para ela, precisava ser exterminado.

Will comentava alguma coisa sobre o local e o sabor inesquecível da comida enquanto Emma sacava um sprayesterilizador da bolsa e um pacote de lenços. Ao passo que Schuester dizia algo, Emma confirmava com a cabeça, sem tirar os olhos da mancha. Ela umedeceu o lenço com o líquido e se pôs a esfregar. Will continuou falando aleatoriamente até notar o som da fricção no vidro, e notar o que estava acontecendo.

- Você está bem? – perguntou, preocupado.

- Sim. – ela disse, ainda fixa na tarefa – estarei quando essa mesa estiver bem limpa.

Will refletiu, pensando na melhor forma de falar.

- Ouvi que os sintomas do TOC ficam piores quando a pessoa se sente pressionada.

Emma pausou a limpeza ao perceber o que estava fazendo. A sigla veio à sua mente, e ela caiu em si. Estava à frente de um grande amigo que não via há anos, e que havia contado tudo sobre sua vida a ela. E ele estava ali, naquele momento, esperando que ela também fosse sincera.

- Carl se foi. – Emma voltou a encará-lo, e observou uma face atônita. – Ele pediu uma anulação (sobre a qual eu creio que ele tenha plenos direitos, considerando que nós não consumamos o casamento).

- Vocês nunca... – Will não se imaginou perguntando outra coisa, mas não teve coragem de continuar. Mesmo assim, ele pôde ver uma Emma envergonhada negando com a cabeça.

- Ele achou que, quando eu melhorasse, talvez as coisas mudassem. Mas... – Emma dizia com a voz embargando aos poucos, sendo interrompida pela sensação de lacrimejar novamente.

Emma não precisava dizer mais nada para que Will compreendesse tudo. Ele estava tocado pela situação, mas grato pelo acaso por tê-los aproximado em um momento que parecia ser tão oportuno. Eram muitas informações para ele, assim como eram muitas emoções para ela.

Mas ele sentia que aquela era a hora.

- Não, Emma – Will sussurrou, colocando suas mãos sobre as dela – você não vê que isso é bom?

Ela o fitou, atordoada, e refletiu por um momento sobre ouvi-lo dizer que aquilo era bom. Will negou para si mesmo com a cabeça, e retomou a linha de raciocínio:

- Quero dizer... Olha só pra nós! Essa coincidência toda de... nós termos nos encontrado após o Carl ter... Bom, talvez ele tenha sido necessário para que você...

Emma ainda o encarava com incredulidade, enquanto ele procurava uma frase ideal:

- Será que foi isso que fez a gente se separar? Talvez esse tenha sido o tempo que você precisava!

- ...Para quê? – Emma indagou, com a voz carregada.

- Não está vendo, Em? Alguma coisa está conspirando para nos aproximar de novo! – Will explicava sorrindo, com uma expressão de obviedade.

A cada frase que Will iniciava, Emma era bombardeada por agonia. Ela estava no limite de suas emoções naquele momento, e não era capaz de se condicionar a pensar a situação por outro ângulo. Pensar que ela teria usado a paciência de Carl durante tanto tempo em benefício próprio, e que Will não parecia preocupado com sua dor...

Emma se levantou e ficou em pé ao lado da mesa, encarando-o com uma expressão desesperada.

- Preciso ir, Will – soltou, partindo na direção da entrada do restaurante.

- Emma! – Will se levantou, conseguindo fazê-la parar e olhar ligeiramente sobre o ombro esquerdo. – A saída do restaurante é por aqui – apontou, mostrando uma porta de acesso muito mais fácil do lado oposto ao que ela ia. Ela confirmou com a cabeça e passou a mão por uma mecha de cabelo tencionada a cair sobre seu rosto.

Will sinalizou à garçonete, fazendo sinais para que ela cancelasse o pedido – e apontou para sua acompanhante chorosa. A senhora deu um sorriso para ele, aquiescendo.

Já do lado de fora do restaurante, Will segurou o braço de Emma para que ela parasse. Ela o olhou com o semblante abatido, e Will entendeu a pena que deveria estar sentindo naquele momento.

- Desculpa se eu disse algo de errado, Emma, eu... Fui um idiota – desculpou-se, sem realmente acreditar no que dizia.

- Tudo bem, Will, eu... – ela havia parado de chorar, e agora procurava a expressão séria que tinha guardado para momentos em que precisava demonstrar confiança – Eu só não consigo ver todas essas coisas como você vê. Eu amava o Carl, de verdade!

- Ele não te merecia, Em. Olha o que ele fez...

- Mas e quanto a você? Você seria essa pessoa a me valorizar como eu mereço? – disse calma, porém ácida. Will massageou a testa com os dedos, tentando esquivar da tensão emocional que, certamente, explodiria em palavras.

Ok, Emma, se é assim que você quer... – Will iniciou, sentindo-se encurralado pelas circunstâncias – Eu realmente preciso dessa chance, mas isso está me fazendo mal, eu não sei se...

O rosto de Emma encheu-se de lágrimas.

- Eu não quero te fazer mal.

Will observou, repleto de culpa, sua amada andar rapidamente, chegando ao ponto de correr, na direção da estação de metrô. Enquanto ela se afastava, até quase sumir do alcance de sua visão, ele recapitulou as últimas horas que havia passado ao seu lado, e se perguntou como algo tão perfeito podia não dar certo. Ao mesmo tempo em que estava feliz por, pelo menos, Emma não estar comprometida, ele não conseguia encontrar nada pior do que vê-la hesitando. Ele estava magoado e incerto quanto ao seu próximo passo, mas sabia que, se ela o deixasse tentar, ele poderia seria tudo o que ela precisava naquele momento.

Foi ali que ele se lembrou de uma antiga promessa feita a ela e a si mesmo. De repente, ele soube o que fazer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Terrified" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.