Terrified escrita por asasdecetim


Capítulo 2
O reencontro


Notas iniciais do capítulo

E depois de muito tempo...



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O outono de 2012 havia começado severo. Provavelmente, os primeiros dias de aula em Lima não seriam movimentados como nos outros anos, visto que o frio e os fortes ventos matinais não eram algo com o qual a população estivesse acostumada. Emma sentia como se Ohio não estivesse muito empolgada em recebê-la de volta à cidade, e, como punição, havia preparado aquela recepção fria e silenciosa.

O caminho até a estação de metrô foi vazio de tudo: de pessoas, de sons, de esperanças... Voltar a Lima depois de tanto tempo e se deparar com uma paisagem que refletia tão bem seu estado de espírito era algo perturbador. Uma pessoa, talvez duas, foi tudo o que ela conseguiu captar de vida em movimento após sair de uma reunião com o diretor Figgins no McKinley High.

Como ela, o centro da cidade estava frio e impregnado de solidão. E, por mais que pensasse ser aquele o seu lugar, nada mais parecia com o que era antes, e o que ainda estava igual, de certa forma, havia perdido significado para ela.

Will, enquanto subia as escadas rolantes que davam acesso à rua, analisou os últimos dois anos e suas escolhas durante esse tempo. Parecia que, após lutar tanto, ele simplesmente entendeu que não estava destinado a seguir os caminhos que, enfim, acabara de abandonar. Iria reescrever suas expectativas, buscando o que se mostrasse mais acessível à sua realidade antiga – sonhos menores, com menos emoções e mais realismo.

Mas Lima parecia estar alheia a tudo. Pela parca movimentação do metrô, ele imaginava o que poderia ser responsável pela reclusão das famílias em suas casas. Ele era o único que subia naquela extensa fila de escadas rolantes, e, no máximo, umas duas pessoas desciam rumo à estação metroviária. Dentre elas, uma lhe chamou a atenção.

Will não sabia por quê, mas havia se dado a observar a figura de alguém bastante agasalhado e com a face coberta por um par de óculos escuros. De longe, ele não conseguiu distinguir muito mais do que uma estrutura corporal delgada e longos cabelos de uma cor que lhe parecia bastante familiar.

Apenas quando o rosto se virou para ele, uma possibilidade surgiu em sua mente.

Não, ele tinha certeza. Era ela. Ele pôde sentir quando algo acendeu dentro de si.

Emma descia sem discernir nada além das formas embaçadas no piso e o que parecia ser um homem fazendo o caminho inverso ao longe. O ardor nos olhos e os óculos escuros inapropriados tornavam perigosa até mesmo a descida na escada rolante. Considerando que não parecia haver ninguém ali, ela não achou que seria necessário disfarçar o próprio semblante com as incômodas lentes negras.

Observando a estação claramente, ela se impressionava com a calmaria e o ar lúgubre do ambiente. Mas, ao mesmo tempo, agradeceu por tudo estar assim.

Depois de ter experimentado os sentimentos ferverem dentro de si, borbulhando para fora em forma de lágrimas, o que ela mais desejava era a calma absoluta. A estação vazia parecia estar em sintonia com seu coração. Era impressionante como sua vida era tão bem representada por aquele local: os trens iam e vinham sem receber nenhum passageiro, e no máximo paravam para que alguém descesse e saísse. Para Emma, o último a deixá-la havia sido Carl, pois, seguramente, as portas nunca se abririam para receber mais ninguém – esse parecia ser o método mais rápido de evitar que alguém aparecesse em sua vida para depois abandoná-la.

Como os guichês de compra de passagem aos que ela havia acabado de ir, seus sentimentos mais frágeis estavam resguardados por uma proteção contra investidas, e o barulho de movimento dos trens era único como as batidas do seu coração, que ditavam toda a orquestra de seu corpo, aparentemente livre do burburinho das emoções e paixões idiotas que atrapalhavam a harmonia de sua alma.

Emma depositou o ticket na máquina e atravessou a catraca, procurando pela indicação do trem que a levaria à rua do hotel em que estava hospedada. Atenta às indicações e setas, Emma nem notou o barulho de outra catraca girando atrás de si.

Ao avistar o painel com a indicação do trem, ela se dirigiu às proximidades da área de embarque. Até o momento, ainda não havia visto nenhum outro passageiro na estação.

Veio-lhe à mente uma ideia desenvolvida durante dias em intervalos de choro e reflexões sobre o passado. Talvez, como pensava ela, algo a havia feito incompatível com o restante da humanidade. Emma chegou a se imaginar como um ser criado à margem das relações, destinado a ficar sozinho com suas estranhezas. E foi pensando assim que ela decidiu por um fim à sofrida luta travada com o próprio coração. Após a última perda, na qual suas esperanças haviam se esvaído por completo, ela optou por permanecer sozinha até o fim de sua vida – e estava resoluta que não iria permitir que ninguém se aproximasse de sua vida novamente.

- Emma? – uma voz comedida em euforia ressoou atrás dela. Ela praguejou em pensamento pela possibilidade de um antigo conhecido interromper aquele momento tão delicado para ela.

O sentimento que a dominou ao virar-se, no entanto, foi o de que ela seria salva.

- W-Will? – o nome saiu dificilmente. O frio e a garganta despreparada para emitir quaisquer sons inteligíveis associaram-se à surpresa esfuziante e se traduziram em uma série de fatos atropelados. Emma deu um sorriso largo, contrastando com os olhos inchados de tristeza, e Will retribuiu com o puro deleite de reencontrar alguém de quem sentia falta há tanto tempo. Emma iniciou um salto para abraçá-lo, mas algo a fez parar antes que chegasse a alcançá-lo; talvez o receio de que algo estivesse mudado. Logo, a hesitação se desfez e ela o abraçou.

- Nossa, Em, quanto tempo – ele ria de prazer em estar comprovando algo tão improvável como encontrá-la em Lima novamente. Soltando-se do longo abraço, fitou o rosto que há muito não via. Foi o suficiente para que as coisas do passado viessem à tona novamente. – Como você está... – os olhos alegres e infantis passaram a admirá-la de modo sério – Linda. Mas... Está tudo bem com você? Você parece que estava chorando...

- Obrigada – a atmosfera ingênua e descomprometida deu lugar a um comportamento sóbrio e real sobre o que os dois estavam sentindo. Emma se deu conta de que tudo o que pensara durante os últimos minutos havia ficado repentinamente instável após o encontro com Will. – Mas estou bem, acho que esses óculos são de, hm... Má qualidade, deve ser isso...

Parecia que, por mais que ela estivesse decidida em desistir de tudo, as portas sempre se abriam para ele.

- Eu, hm... Pensei que não veria mais você – ela disse com certo alívio por ter errado tal previsão – Figgins me disse que você se mudou para Nova Iorque. – Emma olhou para baixo, mas retomou a postura com um sorriso.

- Tanta coisa aconteceu, Em... – confessou, enlevado. O silêncio se fez entre os dois, permeando a nostalgia que ambos sentiam no íntimo. E, antes que o vazio ficasse desconfortável, Will retornou – Mas... Então, você foi falar com o Figgins? Eu estava indo para lá agora mesmo...

Emma acenava com a cabeça, ainda eufórica pelo reencontro inesperado dos dois.

- Mas aí eu vi você na escada rolante e... Nossa... – ele não sabia o que dizer. Após dois anos de completo afastamento, Will achou necessário policiar cada palavra. Ele ainda não tinha noção de nada do que havia acontecido com ela durante todo esse tempo, e não estava disposto a descobrir através do método de tentativa e erro.

- É... Hm, e você... Não vai mais? – disse incerta, procurando medir as ações de Will. – Quer dizer, você falou que estava...

- Não, não, eu... – ele sorriu abobalhado, para perceber quase tarde demais que estava entregando tudo sem ao menos tê-la sondado – Acho que já está meio tarde, e... – olhou para os lados como se procurasse as próximas palavras – Você tem algum lugar para comer hoje à noite?

- Hm... Na verdade não – falou, demonstrando que ainda não havia pensado na questão. – Talvez eu coma alguma coisa no hotel, mesmo.

Aos poucos, Schuester ia absorvendo as informações que Emma lançava, para tentar entender melhor o solo onde estava pisando. Will agradecia por tudo ter ido tranquilamente até ali.

- Ah, você está em um hotel?

- É... Estou no Elysian, pelo menos por enquanto.

- Bom, duas estações antes, tem o Breadstix. Lá é bem... Limpo. – Will tentava convencê-la, mas seus olhos relutavam durante a reflexão a respeito do convite que recebera indiretamente. – Esquece. Você tem o caminho todo para pensar.


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