Terrified escrita por asasdecetim


Capítulo 1
A despedida




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Will Schuester estava de volta aos corredores do McKinley após o longo recesso de verão de 2010. As semanas de inatividade docente, entrecortadas apenas por uma breve reunião de replanejamento didático, arrastaram-se para Will como se o tempo estivesse com preguiça de cumprir sua meta diária em apenas vinte e quatro horas.

Emma. Ele começou a sentir falta dela logo depois da última conversa entre os dois, e o período de férias afastou ainda mais o momento crucial do reencontro. Ela não havia aparecido na reunião – o que causou estranhamento em Will, visto que mesmo no cargo de Conselheira Escolar ela nunca havia faltado às programações –, e a ausência de motivos para visitar o colégio na esperança de encontrá-la durante a pausa letiva havia tornado o dia-a-dia menos suportável ainda.

No entanto, o que o separava da presença de Emma naquele momento era apenas a distância de onde ele estava à sala dela. Sua saudade era maior do que as circunstâncias, e a necessidade de reencontrá-la falou mais alto que seu senso de segurança emocional. Um sorriso estava pronto em sua alma, esperando o momento certo para ser exibido acompanhando todo o brilho que seus olhos pudessem assumir.

Os passos se fizeram mais velozes, e a porta de vidro emoldurava a imagem de Emma à medida que Will se aproximava da sala. Ainda de longe, ela parecia estar compenetrada em sua costumeira reorganização pós-férias. Gestos cuidadosos manipulavam a posição de objetos sobre a mesa, que aparentemente eram depositados em uma caixa para darem lugar a outros. Ao se aproximar mais, entretanto, Will pôde ter uma visão mais real do que acontecia: a sala desnuda de enfeites e papéis não parecia palco de uma reorganização de coisas.

Com os nós dos dedos da mão direita, Will bateu no vidro com uma intensidade crescente que não surpreendesse a ruiva posicionada de costas para a porta. O rosto de Emma entrou instantaneamente no campo de visão do professor, mais rápido do que ele supunha como normal. Seu sorriso, enfim, veio à tona. Oficialmente o jejum fora quebrado, e isso simbolizava muito para ele.

Algo que ele não esperava fez sua empolgação desvanecer do semblante: Emma ficou repentinamente apreensiva, com tensão visível no rosto, e nem seu rápido sorriso de sinalização positiva o tranquilizou. Ela fez um gesto pedindo que ele entrasse, e sem perda de tempo ele abriu a porta.

- Emma! – suspirou alegre, porém surpreso. O que havia pensado em perguntar em seguida acabou saindo apenas pelo olhar, e Emma demonstrou certo desconforto.

- Will! – ela mostrou excitação na voz, de modo que ninguém poderia distinguir se estava pasma ou com saudades. – É... Eu... – olhou em volta, fitando as prateleiras – Eu ia mesmo falar com você... – disse, justificando-se pela visão incomum que involuntariamente propiciara ao colega de trabalho.

- Está tudo bem? – A surpresa em sua voz transformou-se em preocupação. Passaram por sua cabeça várias cenas confusas representando situações que poderiam ser as responsáveis por aquilo – e várias delas envolviam a figura do atual relacionamento de Emma, o dentista Carl.

- É que... Eu e Carl nos casamos nessas férias e...

- Vocês já... - ele iniciou por impulso, mas Emma não permitiu a interrupção e elevou o tom de voz para continuar.

- ...E eu vou com ele para... – retomando a fala, voltou ao tom e à velocidade normais - ...Eu vou me mudar para o Arizona.

Will contorceu o rosto em descrédito, mas o olhar de Emma foi suficiente para tirar-lhe todas as dúvidas de que aquilo era real. Não havia mais necessidade de perguntar o motivo do encaixotamento dos pertences ou da ausência à reunião.

- Eu realmente amo o Carl, Will, acho que é a coisa certa a se... – ela dizia como se devesse explicações a ele, como uma obrigação moral que a impelia a se desculpar por tudo.

- Eu só não acho justo, Emma – Will falou com um início de nervosismo na voz, gesticulando com uma das mãos – Vocês mal se conheceram, ele entrou na sua vida assim, do nada, e vocês já estão...

- Eu estou segura a respeito disso, Will – ela o cortou novamente, mais pelo motivo de não desejar ouvir aquelas palavras que faziam tanto sentido – acho que estou na hora em que não se deve esperar mais, e você sabe que...

- Que eu não te dou essa segurança que ele dá, eu sei – Will retrucou, arrependendo-se instantaneamente de sua rudeza.

- Na verdade, eu... Ia falar do quanto ele está me ajudando a melhorar – ela olhou para baixo e, em seguida, ergueu um semblante altivo e confiante, como se Will não a abalasse com suas palavras passionais.

- Olha, Em, eu sei que o que eu andei fazendo... Bem, o que eu fiz... Não me dá direito algum de pedir... De esperar uma nova chance com você, mas... Isso que você...

Por mais que estivesse transtornado, Will não conseguia culpá-la. Ele tentou reformular a última frase com alguns balbucios tolos, e ao ver a tristeza personificada no rosto de Emma, suas mãos foram à cabeça – e o rosto fitou o teto por alguns instantes.

- Eu só queria que... – finalmente, lágrimas foram ao rosto, mal construídas pela rapidez das informações – Eu queria poder lutar por você, ter a oportunidade de te reconquistar, mas... Deus, o que eu fiz?

- É o certo a se fazer, Will – Emma repetiu, lançando uma expressão reconfortante e um olhar que tentava dar-lhe esperanças. Era como se ela mantivesse a oportunidade aberta caso o destino assim permitisse, mas era algo que ela não podia expressar com palavras naquela ocasião.

Will desejava falar tudo o que sentia no momento. Diria, se tivesse forças, que tentaria lidar com a partida, que não lhe imploraria para ficar por não achar que fosse a coisa certa a se pedir, mas que suplicaria a todo o universo que ele conspirasse para que os dois ainda tivessem seus destinos ligados em algum ponto do futuro. Ele não conseguia imaginar que toda a história deles pudesse acabar ali.

- Eu... Entendo – ele tentou segurar as lágrimas, enquanto buscava forças para encará-la. Emma se aproximou dele, tencionando abraçá-lo, e o encontrou sem relutâncias. – Eu te amo, Emma. E sempre vou amar – ele se aconchegou sobre o ombro dela, deixando que as lágrimas fluíssem mais intensamente. Will não podia deixar de reparar na ironia daquele momento, em que, no ponto mais extremo da situação, era Emma quem estava agindo com segurança e o ajudando a se reconfortar. O que para ele, no entanto, era um abraço de consolo... Para ela era um abraço de despedida.


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