Samantha Roberts - O Infiltrado escrita por Duda Chase


Capítulo 21
Reencontro de família


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, a revelação!



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E com o amanhecer, o sol chega. Hm, literalmente falando.

Estávamos tomando o café da manhã quando um clarão desceu do céu até nós. Ártemis quase teve um surto psicótico quando o carro-sol estava tão quente que quase começou um incêndio florestal enorme. Mas Nick conseguiu apagar o fogo a tempo.

Depois do incêndio, Apolo começou a recitar haicais sobre o cuidado que temos que ter com a natureza para acalmar sua irmã. Não surtiu muito efeito. No que ele é bom mesmo é para escolher carros. Ele apareceu com um Lamborghini preto, apesar de Jenny ter dito que ele geralmente passeia com o carro-sol no modo de Masserati vermelho.

Ele tentou dar em cima de uma Caçadora, que pisou em seu pé com tudo e ficou junto de sua Senhora.

– Ah, querida. Isso teria doído muito mais se eu não fosse imortal. – Ele disse enquanto pulava em um pé só, enquanto segurava o machucado.

Não tive como não rir.

Apolo pegou as chaves de seu carro e apertou o botão do alarme. Assim que o alarme fez aquele barulho, o carro começou a aumentar suas dimensões até ele se transformar num mini ônibus.

– Vai, pai, me deixa dirigir dessa vez. – Jenny fez sua melhor carinha de cachorro. Aprendeu comigo, é. – Por favor.

Ele pensou um pouco e então jogou as chaves para ela.

– Vamos ver se você puxou a mim na direção.

Então ela correu para o assento de motorista. Tive que pegar a mochila dela, senão iria ficar largada na tenda. Esperei todas as Caçadoras entrarem no mini ônibus, então subi. Sentei entre Queen e Nick na fileira dos fundos.

Assim que sentei, um arrepiou horrível percorreu meu corpo. Eu podia ouvir o barulho de metais se batendo, o som da concha de caranguejo sendo tocada, gritos de guerra. A batalha havia começado. Eu estava sentindo isso.

Jenny pisou fundo e gritou. O carro saiu do chão e começamos a voar rumo a batalha.

Nunca me senti tão enjoada a vida inteira. Quando pedi que Jenny fosse rápida, acho que voamos a uma velocidade de 400 KmH, sem brincar. A qualquer momento eu esperava que o carro caísse, ele iria cair. O trauma do avião foi maior do que pensei.

Só larguei a mão de Nick quando percebi que estávamos chegando. Me levantei e fiquei no meio do corredor, tentando me equilibrar.

– Agora, prestem atenção, por favor. – Pedi. – Quando pousarmos, o acampamento já será um campo de batalha. Briana deve ter sido a estrategista, junto com Matt e Quíron. Se for assim, acho que ela tentaria atrair as tropas de Sócrates para a floresta, ou o mais longe possível dos chalés. Vamos ter que pousar ali perto. Não entrem na guerra de cabeça, não façam coisas imprudentes. A primeira coisa que vamos ter que tentar fazer quando chegar lá é conseguir armaduras para vocês. Não matem os semideuses, quem sabe eles não se rendam se ganharmos? Monstros à vontade. Lembrem-se de que estão lutando para salvar nossos irmãos que estão se aliando ao lado inimigo, totalmente iludidos, para salvar o acampamento, salvar o Olimpo. O infiltrado será julgado pelo conselho, então não se preocupem com ele agora, tá? Esqueçam. Só mais uma coisa: Sócrates é meu.

Houve alguns murmúrios de concordância, mas só Apolo se manifestou.

– Nossa, inspirador. Quem aí quer ouvir um haicai sobre isso?

– Não! – Todos gritaram em uníssono.

Jenny pousou o carro devagar, perto do lago de canoagem.

Assim que saímos, avistamos algumas lutas de pessoas espalhadas pelo acampamento. Eu tinha acertado também, Briana trouxe a guerra para a floresta. Eu conseguia ouvir o som da batalha aqui, e não gostei dele. Ouvi gritos que não queria ouvir, de vozes que eu não queria ouvir.

Corremos para o arsenal, onde procuramos por proteção. Vesti minha armadura, elmo e pulseira para manusear adagas. Eu não uso adagas, mas Victor, que é meu estilista de guerra pessoal, disse que são descoladas. E com a vida você aprende que não dá para ganhar uma briga com Victor, não sobre moda.

Nick tirou meu elmo e me beijou.

– Boa sorte, Srta. Wikipédia. – Ele disse.

– Boa sorte. Fica calmo, você não pode entrar na batalha assim. Tome cuidado, ok?

– Você é que precisa de mais cuidado aqui. – Ele disse e me deu um beijo na bochecha. – Tchau.

Então Nick correu para a batalha. E a última visão que tive dele foi de Nick fazer seu tridente crescer em sua mão e desaparecer na floresta.

Fiz os últimos ajustes em minha armadura. Pus o elmo devagar novamente e fiz minha espada aparecer em minhas mãos. Olhei para meu reflexo na lâmina. Não me vi. Onde eu estou? Tudo o que eu via na lâmina era uma garota que tinha um ódio inacabável no coração por um homem, ela não era eu. Guerras mudam pessoas. E essa, infelizmente, vai me mudar.

Olhei para Jenny e Queen, também estavam prontas.

– Tomem cuidado também, por mim. – Pedi.

Elas assentiram.

Respirei bem fundo. Chegou a hora. Corri para a floresta.

As coisas estavam parciais. No caminho eu vi monstros, monstros horríveis. Na verdade, logo fui surpreendida por um ciclope. Não gosto muito de ciclopes, Nick quase morreu pela mão de um. Ele tinha o triplo de meu tamanho, já era adulto. Seu único olho estava vidrado em mim. Ele estava segurando um bastão de madeira enorme, que mais parecia uma árvore.

Seu primeiro movimento foi totalmente previsível: me acertar com o bastão. Desviei facilmente dando um passo para o lado, o que ele não gostou muito. Tentou novamente, e de novo, de novo, e eu fui desviando. Por pouco ele não quebra minha perna com o bastão. Ele podia ficar nessa para sempre, eu precisava de um plano ousado. Ah, isso é meu apelido para loucura que vou cometer, mas que, talvez, de certo.

Assim que ele tentou me acertar de novo, finquei minha espada em seu bastão. Segurei bem firme no punho de Sabedoria. Ele levantou seu bastão e me levou junto com ele. Tive de soltar minha espada do bastão um pouco antes para consegui pousar seu ombro, por muito pouco eu não caio para trás. O ciclope tentou bater em seu próprio ombro, me encostei em sua cabeça. Preparei a espada e quando ele deu outro soco na direção do ombro, cortei sua mão. Ele rugiu de dor. Eu tinha que acabar com essa luta, tinha que chegar até Sócrates. Me virei em direção a sua cabeça, e enfiei a espada até o punho.

A queda foi grande, mas me segurei ao corpo dele. Mesmo assim doeu, doeu muito. Me levantei tentando me orientar. Ao meu lado lutavam Matt e outro semideus, que não sobreviveu mais cinco segundos, pois Matt enfiou sua espada em na barriga dele.

– Não! – Gritei. – Sem mais mortes! Não mate semideuses!

– Eles vão te matar se tiverem chance! – Ele debateu.

– Eles são nossa família.

– Famílias brigam também, famílias se separam. Vá por mim, eu sei.

E com isso ele foi atacar outro semideus, em outro ponto na floresta. Não o segui. Sei o que é ter peso na consciência, e ele escolheu ter o dele. Todos temos livre arbítrio, saber usa-lo é uma virtude. Uma virtude que eu quero muito ter.

Andei floresta a baixo, procurando por Sócrates. Mas não o encontrava de jeito nenhum. Mas eu iria.

Ouvi um grito conhecido logo atrás. Era Clarck. Um aviso: nunca, mas nunca mesmo, pense na hipótese de mexer com meus irmãos.

Segui o som de sua voz, que gritava por socorro. Uma vulto passou por mim. Quando vi, um cão infernal segurava Clarck, ferido no rosto pelas garras do cão, pela boca, segurando sua armadura com os dentes. Tentei correr atrás deles, mas o cão infernal era muito rápido. Eu nunca iria alcança-los, como eu iria matar o monstro com a espada? Foi então que eu tropecei em alguém. Infelizmente, morto. Era Miley, irmã de Jenny. Ah, céus. Elas eram tão achegadas. Mas não tive escolha. Peguei seu arco e aljava com algumas flechas sobrando e pus no ombro. Voltei a correr atrás de Clarck.

Era difícil demais correr com armadura, mas quando estava a uns dez metros de distância deles pus uma flecha na corda. Atirei. E consegui acertar uma árvore e ser xingada por uma dríade. Ok, Sam, respire. Lembre-se do que Quíron te ensinou. Coluna reta, cotovelos levantados, mira certeira. Ou como Jenny te ensinou. Aquela é a Kimberly, então acerte! E essa metodologia nunca falha comigo. Acertei o corpo do cão infernal e ele caiu de lado, largando Clarck. Em alguns segundos, ele se desintegrou em cinzas.

Me ajoelhei ao lado de Clarck e examinei seus cortes.

– Não foi tão grave. – Disse a ele. – Você vai ficar bem.

Mas seus olhos estavam em outro lugar. Quando me virei para ver o que era, vejo um semideus, com os olhos vermelhos de tanta raiva e gritando, vindo com sua lança em minha direção.

Só que algo inesperado aconteceu. Folhas secas rolaram no chão, e cada vez mais. Em cerca de segundos começou um vendaval enorme. Pus a mão em frente ao rosto para proteger meus olhos da poeira que subia. As correntes de ar começaram a dar voltas em torno do semideus, cada vez mais rápido. Ele estava dentro de um tipo de tornado, que o levantou do chão numa altura de dois andares. O tornado se cessou de repente e ele caiu no chão de cabeça.

Eu estava tentando entender o que acontecera diante aos meus olhos. Então Jack aparece sorrindo em minha frente e ajuda a mim e a meu irmão levantar. Não hesitei. O abracei.

– Jack, você voltou! – Eu disse.

– Você tinha razão, aqui é minha casa.

Sorrimos um para o outro. Clarck me agradeceu e voltou para a batalha.

– Jack, Catherine... ela está aqui, lutando. Está viva, é tenente de Ártemis agora.

Ele arregalou os olhos.

– Está viva. – Ele repetiu. – Obrigada, Sam. Vou tentar falar com ele depois. Mas agora, acho que estamos num campo de batalha. Vamos vencer, Sam!

Olhei ao meu redor. Era verdade. As tropas de Sócrates estavam caídas no chão, os campistas estavam a toda. A mira das Caçadoras era impecável, os campistas tinham um motivo para lutar, eram poderosos, gostavam de estar no acampamento. Meu sentimento é o mesmo.

– Vamos vencer! – Gritei de volta e voltei para a batalha, motivada.

Corri pelo campo de batalha. Não avistei mais mortos de nosso lado, apesar de eu ouvir falar entre alguns campistas enquanto andava que havia. Encontrei mais um semideus, que eu desarmei com facilidade. Minha ordem para todos os semideuses que eu desarmava era: Renda-se, fique ao nosso lado e viva.

Alguém tocou meu ombro. Me virei, por reflexo, e pus minha espada em seu pescoço. Mas logo abaixei, era Nick. Sorri, apesar da cara dele não ser da melhores. Ele tirou seu elmo e em seguida tirou o meu. A diferença é que esse beijo foi mais intenso de todos que ele já me dera e depois ele me abraçou, como se jamais quisesse me largar.

– Independente de tudo, saiba que eu te amo muito, muito, muito. Não se esqueça disso nunca. – Ele sussurrou ao meu ouvido.

– Nick, o que você...

Não terminei a frase. Ele me pegou pela mão e subiu comigo floresta a cima. Eu não fazia ideia do que ele queria. Passamos pela parte escura da floresta e em seguida chegamos ao nosso posto de observação.

– Não se esqueça. – Ela repetiu para mim, ofegante.

– Não vou. Eu vou te amar para sempre, lembra? Promessa de mindinho. – Eu disse e levantei meu mindinho, sorrindo. Um sorriso que ele não retribuiu.

O que tinha acontecido com ele, meus deuses? Eu não suportava ver Nick assim, triste. Dá um dó no coração.

– Ora, ora. Quem está aqui. Samantha, minha irmãzinha! – Uma pessoa falou atrás de mim.

Virei-me para trás. Sim, era ele. Sócrates, o pior irmão mais velho de todos. Ele estava de armadura toda prateada, vestido com roupas normais por baixo. Nunca vou superar o trauma de tê-lo visto de toga. Ele carregava sua espada, o que me fazia ter vergonha de levar uma espada tão parecida com a dele. Um sorriso cínico estava estampado em seu rosto.

– Sócrates. – Grasnei. Me pus em posição de luta. – Eu venho esperando por isso há um ano.

Ele gargalhou.

– Eu também, eu também. Olha, devo admitir que você não é qualquer uma. Conseguiu viajar meio mundo e voltar ainda viva. Bem esperta até, mais do que eu pensava. Mas nem tanto, por não perceber coisas estampadas na sua cara. Aposto que você está intrigada para conhecer minha tenente. Deixe-me apresenta-la. Venha cá, minha linda.

Uma figura emergiu das sombras da floresta. Finalmente eu vi o rosto dela. Tão branco em destaque com longos cabelos negros. Seus olhos eram de um tom verde esmeralda vibrante. Sua sobrancelha era feita de um jeito que deixava seu semblante sempre sério. Então tive um flaskback com todos os sonhos que tive dela em minha vida, de forma regressiva. A última cena que eu vi foi num sonho que eu tive em seu próprio quarto, onde eu verdadeiramente me conectei com ela. Ela com seu irmão, a quem tanto amava e não queria perder.

– Não pode ser. Você e Nick.... vocês está.... viva.

Olhei para Nick, ele não parecia surpreso em vê-la assim. Ele só ficava pensando alto ‘’ Promessa, se lembre da promessa. ‘’.

– Não queria te conhecer assim, Samantha. – Ela me disse. – Acho que devo me apresentar pessoalmente agora. Sou Susana Johnson, irmã do Nick, filha de Poseidon.


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