Samantha Roberts - O Infiltrado escrita por Duda Chase


Capítulo 20
Somos Mal-Vindos




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Corri para avisar as garotas. Estávamos chegando em casa!

Não demorou muito tempo e Nick manobrou no porto de Dhemi, que a Jenny disse que era o porto mais Unbroken de toda a Grécia. Ah, eu mereço mesmo.

Pulamos para fora do iate, eu quase tomei um tombo épico. Mas assim que me ergui, uma sensação tomou conta de meu corpo. Não qualquer sensação, ou aquela coisa que sentimos quando vamos ser atacados. Era uma coisa boa, muito boa. De modo que eu me senti totalmente forte para completar a missão, eu podia encarar qualquer coisa mesmo.

Pelo jeito, a mesma sensação alcançou os outros também. Nick sorria e olhava para o mar, Queen também estava gostando um pouco e Jenny até mancava menos.

Já que falávamos grego antigo fluentemente, não foi tão difícil perguntar onde que era a rodoviária. Compramos nossas passagens para Meteora. Agora tínhamos que achar as Caçadoras e ir para a batalha.

. . .

Fugimos do ônibus e pegamos uma minivan turística, da qual fugimos também. Eles nunca iriam nos largar no meio da floresta. Falamos que ouvimos um barulho no escapamento e eles pararam, depois arrancamos floresta adentro.

O sol estava se pondo e a temperatura caiu. Tive que por meu casaco quando começou a ventar demais. Nos encaramos e fomos cada vez mais na floresta fechada.

Andamos por cerca de uma hora e nada.

- Não acha que está na hora de sua mãe mandar aquele sinal? – Queen perguntou enquanto tirava uma teia de aranha de sua cara.

Fiquei observando bem a teia para ver se não tinha uma aranha mesmo.

- Hm, ela só disse que iria mandar um sinal quando chegarmos perto. – Eu disse. - Precisamos andar mais.

- Daqui a pouco vamos atravessar a floresta inteira. – Jenny alertou. – E não estou enxergando mais nada.

Estranhei. Eu enxergava cada centímetro, cada árvore. Ela devia estar cansada.

- Então deixa que eu tomo a liderança. – Eu disse enquanto pulava uma raiz enorme de árvore. – Queen, sua vez de ficar na retaguarda, o resto nos acompanha.

Olhei para o céu, em busca de alguma orientação com as estrelas. Estávamos na direção certa, eu não entendia. A lua cheia estava mais brilhante, de modo que eu me enchia de esperanças que Ártemis estava por perto.

Meus tênis já estavam cheio de lamas e eu totalmente exausta. Sentei e apoiei minhas costas numa árvore, todos fizeram o mesmo. Apoiei meus cotovelos nos joelhos e pus minha cabeça entre eles.

Tentei me concentrar em meio a nossa respiração acelerada e aos grilos que cantavam demais. E também havia uma coruja piando muito alto. Di Immortales, minha lerdeza quando eu estou cansada é muito grande!

Arranquei seguindo aquele som.

Não parei de correr até que Nick tropeçou ao meu lado e bateu a cara numa raiz de árvore no chão.

- Ai! – Ele disse enquanto tirava a terra de sua cara. – Sam, está louca? Não dá para correr aqui.

Procurei entre os galhos das árvores. E lá estava ela com seus olhos amarelos com um risco preto olhando bem para mim, uma Coruja Das Neves. Ela fazia jus ao nome. Era tão branca como a própria neve, era tão linda.

- Shiu, não estão vendo? Atena cumpriu com a palavra, me mandou um sinal.

- Não estou vendo nada. – Jenny disse, arfando atrás de mim.

Andei devagar para debaixo do galho onde ela estava e olhei para cima. Nos encaramos durante alguns segundos olho no olho, então ergui meu antebraço. Ela voou e pousou nele, suas patas encaixaram perfeitamente em meu braço, de modo que suas garras não me feriram.

Sorri e fiz carinho na cabeça dela.

- Ei, amiga. Minha mãe te mandou, foi? Você viajou, hein? Não é nativa daqui. Mas que boazinha.

Queen e Nick chegaram mais perto para ver também, e Jenny se sentou para descansar.

- Ela está me encarando, sinto que também me odeia. – Nick reparou. – Por que toda coruja tem olhos estranhos?

- Ei, não são estranhos! E para sua informação eles são ótimos para... – Arregalei os olhos - ... ver no escuro.

- O que houve? – Queen perguntou.

- Vocês só conseguem me ver quando estamos perto? – Perguntei.

- Sim. – Todos responderam juntos.

Andei para trás devagar. Eu ainda conseguia ver a todos, que deviam achar que eu era idiota.

- E agora? – Perguntei.

- Não. – Eles responderam.

Voltei para perto deles. Sorri enquanto acariciava a coruja.

- Para que isso tudo? – Queen perguntou.

- Acho que descobri um poder. – Eu disse enquanto eu levantei o antebraço. A coruja voou para o leste. – Eu tenho visão de coruja. Agora, sigam aquela ave, ou vamos perder nossa pista para achar as Caçadoras.


... 


Seguindo a coruja, não demoramos quinze minutos para achar as Caçadoras. Ou melhor, sermos achados por elas.

Eu andava olhando para o céu, para ver se achava de novo a coruja que sumiu. Eu queria ficar com ela, queria mesmo. Coruja das Neves são perfeitas demais! Mas enquanto eu estava distraída, uma flecha passou por cima de meu ombro.

Olhei para trás. Jenny ainda não estava armada, não era ela. Então olhos apareceram de cima das árvores e enxerguei uns dez arcos apontados para nós. As meninas não pareciam passar de seus quatorze anos, e muitas aparentavam menos. Todas usavam vestidos prateado e tinham uma tiara brilhante em cima de seus cabelos soltos.

Outra disparou, só que na direção de Queen.

Eu não tinha tempo para fazer minha espada aparecer a desviar a flecha, empurrei Queen para o chão mesmo. A flecha quase me acertou também.

Gritei Sofía para Sabedoria aparecer. Nick também invocou Nascente para iluminar sua visão.

- Não nos ataquem! – Gritei também. – Somos amigos!

Mas elas só pararam quando uma garota apareceu na linha de tiro. Ela com certeza era a mais velha, tinha a aparência de quinze anos. Seus ondulados cabelos castanhos avermelhados caiam sobre seus ombros, seus olhos eram castanhos claros, quase mel. Ela mantinha a coluna ereta enquanto erguia seu arco em nossa direção, estava concentrada mirando a flecha bem em meu peito.

- Auto lá. Quem pensam que são para entrar em nossos territórios? – Ela perguntou.

Nick deu um passo a frente e a menina mirou nele. Todas miraram nele, acho que não gostaram muito de sua presença. Mas uma garota correu em nossa direção. Ela era tão familiar, demorei um pouco para reconhecê-la.

- Tenente, eles são amigos. – A garota tocou o ombro da tenente, que não tirava a mira de Nick. – São do Acampamento Meio-Sangue, não vieram para fazer mal. Me ajudaram a entrar na Caçada.

- Thais. – Sorri para ela. – Sabia que iria te ver de novo. – Me voltei para a tenente. – Meu nome é Samantha, Samantha Roberts. Estou em missão e preciso de vocês para salva o acampamento. Sócrates quer destronar os deuses, creio que Ártemis disse isso.

- Ela mencionou coisa parecida. – A tenente falou.

- Claro. Estas são Jennifer e Queen, minhas amigas. E este é Nick, meu...

- Namorado! – Thais quase deu pulinhos de alegria. Então me lembrei do dia do baile e como ela tinha previsto tudo entre a gente. Mas, pelo jeito, ela foi a única a gostar de meu namoro com Nick. As outras caçadoras desceram das árvores e ainda mantinham a mira nele. Foram andando calmamente para trás da Tenente.

- Certo. – Ela disse. – Vou levar vocês a minha Senhora. Sigam-me.

- Obrigada... hã, a quem devo agradecer? – Perguntei.

- Meu nome é Catherine, sou a tenente de Ártemis.


....


A primeira coisa que pensei foi: Ai, meus deuses. Jack, ela está viva!

Como se ele fosse me ouvir. Segui Catherine e Thais junto com meus amigos, as Caçadoras logo atrás. Em breve chegamos ao acampamento delas. Tendas se estendiam em círculo, uma caçadora assava um alce na fogueira. Lobos guardavam o acampamento, como se fosse cães de guarda. Eles rosnaram quando passamos, mas não atacaram.

Catherine dispensou todas as Caçadoras, que sorriram o começaram a conversar entre si. Thais se despediu e entrou na roda da conversa. Catherine me mandou entrar na tenda do meio do acampamento, ela foi atrás.

Quando entrei, me deparei com a Lady Artemis.

- Bem-vinda, Samantha.

- Lady Ártemis. – Fiz uma reverência com a cabeça. – Que bom vê-la a salvo. A senhora sabe por que estamos aqui.

Ela assentiu.

- Claro. Tem meu total apoio nessa batalha, Samantha. Mandarei minhas Caçadoras para ajuda-la.

- Obrigada, muito obrigada.

- Por muito tempo venho tentando falar com meu irmão. Infelizmente, ele é o único com quem eu consegui ter contato. Ele te levará para o Acampamento Meio-Sangue em seu carro amanhã ao nascer do sol. Catherine, monte tendas para eles dormirem depois. Assim que irem, eu cuidarei de resgatar Íris junto com Ares e sua mãe.

- Avisarei meus amigos.

- Certo. Agora, Samantha, pode descansar muito bem essa noite para a batalha de amanhã. O jantar estará pronto em minutos. Dispensadas. – Ela disse para mim e Catherine.

Me levantei e agradeci. Quando eu estava saindo da tenda, Ártemis me chamou.

- Sim?

- Um favor para mim. Quando meu irmão chegar amanhã, por favor, não deixe que ele de em cima de minhas Caçadoras.

Sorri.

- Vou tentar. Mas sabendo que ele é pai da Jenny já viu como é difícil.

Fui encontrar meus amigos. Passei tudo aquilo que Ártemis disse a mim e nos sentamos em volta a fogueira, junto com as Caçadoras. Peguei um pouco de carne e fiquei olhando para o fogo.

É muito estranho sentar em frente a uma fogueira e não cantar.

Thais se sentou ao meu lado e sorriu.

- Eaí, gostando da Caçada? – Perguntei.

- Muito. Isso aqui é minha vida agora, minha família. – Ela disse, olhando em volta.

Seus olhos refletiam a brasa da fogueira. Olhei um pouco para o ser estrelado, pensando se meus amigos no acampamento faziam o mesmo nesse momento.

- Como foi sua missão até aqui? – Ela perguntou.

- Difícil. – Confessei. – Fomos atacados já no aeroporto, fui obrigada a salvar minha pior inimiga na escola, quase não pegamos nosso avião, Jenny desmaiou, ele caiu...

- O avião de vocês caiu?

- Caiu. Sócrates tentou loucamente nos matar a viagem inteira. Mas o avião caiu na água e Nick conseguiu nos salvar. Então cruzamos a Itália, navegamos por mar e estamos aqui. Mas foi até que legal, sabia? Passemos por Milão, Veneza, Gagliano Del Capo. Conhecemos pessoas legais.

- É. – Jenny concordou enquanto acariciava um dos lobos. – No aeroporto um semideus de outra geração nos ajudou e muito. Ele é filho de Éolo, se chama Jack.

Catherine engasgou com o pedaço de alce que comia.

- Nada sutil. – Disparei para Jenny.

- Eu não sou sutil, você sabe.

Catherine se levantou. Era difícil interpretar sua expressão. Surpresa? Felicidade? Espanto? Acho que uma mistura das três.

- J-Jack está vivo ainda? – Ela perguntou.

- Quem é Jack? – Perguntou uma das Caçadoras.

Catherine baixou a cabeça negativamente.

- Ninguém. Vamos dormir, garotas. Amanhã teremos uma grande batalha.

Todas obedeceram às suas ordens e foram para suas tendas. Thais me deu boa noite e as seguiu também. Nos indicaram em quais tendas teríamos que dormir e jogamos nossas mochilas lá dentro. Achei que não seria muito legal eu ficar beijando Nick em territórios das Caçadoras, não com elas com os arcos sempre a postos. Ele teve que se contentar com um beijinho na bochecha.

Desabei dentro de minha tenda e puxei minha mochila para perto de mim, para eu poder usar de travesseiro. Então dormi.


...


Meus sonhos foram na verdade passagens do que iriam acontecer, alguns vultos também. De repente senti um frio descomunal e vi neve caindo. A neve foi mudando de cor para um vermelho escarlate. Em poucos segundos, tudo parecia um Domingo Sangrento. Depois eu na chuva, cabisbaixa. Tudo o que eu queria fazer é morrer, só isso. A última coisa que me lembro de ter sonhado era comigo lustrando uma adaga, pensando em uma única coisa. Vingança.

Acordei com um barulho de alguém quebrando um graveto.

Fui passear lá fora e me deparei Catherine, olhando para a lua. Me sentei ao seu lado na tora de árvore.

Ficamos em silêncio por muito tempo, só olhando o céu. Uma inquietação entre nós era percebível, mas nenhuma tomou coragem para puxar assunto. É uma coisa que eu odeio muito em mim: ser tímida. Isso sempre de um modo acaba prejudicando a mim. Eu tinha que aprender a ser mais sociável.

Felizmente, Catherine começou a falar.

- Jack era meu melhor amigo. Ele falou de mim?

Assenti.

- Eu não acredito que ele está vivo. Como... Como ele está? Quanto tempo se passou desde que me tornei Caçadora?

- Você não sabe há quanto tempo é Caçadora?

- Não. Quando se é imortal, o tempo é muito relativo. Um dia para mim nunca vai ser o mesmo para você. Eu não tenho muita noção de quanto tempo passou. Sei que foram anos, mas não sei quanto.

- Hm, não sei. Ele aparentava ter quarenta anos, por aí. Está alto, forte. Não sou boa em descrever. Cabelo um pouco grisalho, barba. É um homem agora.

Ela pôs a mão sobre a boca.

- Meus deuses. Quarenta anos. – Catherine começou a olhar para si mesma, uma mulher só que no corpo de quinze anos.

Pensei no melhor modo para cumprir a promessa que fiz a Jack. Eu sempre cumpro minhas promessas.

- Ele me pediu para ver se você estava bem, quando falei que iria pedir a ajuda das Caçadoras. Eu pedi para que ele voltasse para o acampamento, quem sabe quando você for para lá não o vê de novo?

- Não quero vê-lo de novo. – Catherine disse com amargura. – Ele fez com que Derek me odiasse e nunca mais quisesse falar comigo. Não apoiou minha decisão de tomar uma Caçadora, ele nunca me apoiou em nada. Eu também o odeio.

- Mas ele não te odeia. Nunca percebeu isso? Ele estragou seus fogos por ciúmes. Ele me pediu para falar uma coisa no aeroporto, uma coisa que eu queria que você ouvisse pela boca dele, não a minha. Mas eu tenho que mudar esse sentimento que você guarda dele! Catherine, se toca, ele te ama. Sempre te amou e te ama até hoje. Eu sempre apoiei as Caçadoras, mas você não precisava ter se tornado uma só porque um idiota te deu um fora por você ter o melhor amigo que existe.

- Você também não é nada sutil.

- Desculpe, mas é a verdade. Agora tenho que voltar a dormir. Amanhã vou lutar numa batalha que vai me deixar com vontade de morrer. E eu tenho que estar preparada.


















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Notas finais do capítulo

E, no proximo capítulo,a revelação da fic. Quem é o infiltrado?