Samantha Roberts - O Infiltrado escrita por Duda Chase


Capítulo 22
Despedidas


Notas iniciais do capítulo

Agora as explicações



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     Burra, idiota, otária, ingênua, sem valor, traída, inconsolável, de coração partido. Eu me sentia bem assim.

     Sócrates gargalhou ao ver minha cara. Eu odiava aquela gargalhada, a ouvia em todos meu piores sonhos. Então ele andou para minha frente.

     - Ficou bem surpresinha, não? É, eu tinha que ter uma ajudinha especial. Olhe esse rostinho lindo. – Ele segurou o queixo de Susana. Ela tirou sua mão de lá com um tapa, com total desprezo. – E Nicholas também foi de grande ajuda passando informações da mesa do Conselho de Guerra. Ah, era tão previsível que você iria leva-lo para a missão. Mas você não tem culpa, irmãzinha. O normal é você confiar de olhos fechados em seu namorado, isso se ele não for um traidor. Mas ele é bem rebelde. Ah, o amor jovem. Mas foi por causa dele que entrei aqui. Ora, quem mais autorizaria a entrada desses monstros todos nas fronteiras do acampamento?

     - Entramos na batalha bem depois. – Rebati.

     Sócrates sorriu.

     - Garota esperta. Não posso esconder nada de você, né? Me conhece por inteiro, é igualzinha a mim.

     Não há no mundo maior insulto a mim do que isso. Me senti mal, mais mal ainda. Para conhecer a mente de alguém, você precisa pensar igual a ela. Será que era verdade mesmo? Estaria eu me tornando uma miniatura dele?

     - Eu tenho outros parceiros, você sabe disso, Samantha. – Sócrates continuou. – Bom, como vou deixar você no chão hoje, você merece explicações.  Vamos ver quantas verdades na cara você aguenta. Mas tudo isso – Ele abriu os braços e olhou em volta. – não seria possível sem nossa Susana. Ah, essa garota é de grande valor. Eu não estaria vivo sem ela! Eu passei anos nos Elíseos, bolando um jeito de realizar essa revolução. Mas só tinha eu problema: eu estava morto. Foi então quando recebemos mais uma alma que merecia os Elíseos, uma menina com o coração tão puro que deu a vida para seu irmão. Mas que queria voltar a viver também. Bolei um plano, um plano genial. Susana enganou o próprio Anjo da Morte, todo-poderoso Tânatos. Humpf, um idiota. Saímos pelas Portas da Morte e voltamos ao mundo. Lógico que demoramos a voltar aos Estados Unidos e para ficarmos fortes de novo. E também quando eu estava quase lá você me aparece e me deixa de joelhos. Mas a revolução é inevitável, é necessária. É própria de nosso ser. É isso. Os Johnson, a quem você tanto ama, são traidores.

     Meu olhar se alternava entre os três, não sei de quem sentia mais raiva. Nick me traiu na cara dura, passava informações da mesa, invocou a ira de Sócrates quando se rebelou e nos fez mal. Susana, aquela que eu sempre tinha tomado como heroína e um exemplo. Sim, heroína. Ela pôs o amor que sentia por outra pessoa a cima do amor pela vida dela, e isso valia mais do que qualquer lição para mim. Ela salvou Nick, se não fosse ela eu nunca o conheceria. Mas ela deu a vida a Sócrates, ela foi o meio isso acontecer. E Sócrates, ah Sócrates, agora ele tinha minha raiva divida por três. Mas ele ainda era o cabeça de tudo. Ainda me odiava também, ainda queria minha morte. Mas eu sabia, com certeza, quem havia me machucado bem lá no fundo.

     - Seu canalha! – Gritei.

     - Ora, tome cuidado com a boca, irmãzinha. Tenha respeito por mim.

     - Você, não. – Apontei para Nick. – Você! Belo presente de aniversário, não? Diz que me ama, né? Hipócrita! – Mostrei o anel de compromisso em meu dedo. – Isso não vale nada! Você podia ter me falado! Podíamos ter revertido tudo isso, juntos!

     - Sam, por favor... – Ele começou, mas logo o cortei.

     - Cale a boca. Não me chame de Sam. Não me dirija mais a palavra. Agora vou te tratar como você merece ser tratado: como um traidor.

     Nick tinha lágrimas nos olhos, ele estava segurando o choro. Mas eu não podia ligar, não podia me amolecer por causa dele. Olhei bem no fundo nos olhos de Sócrates, tão parecidos com os meus, só que mais experientes. Isso foi o suficiente para eu perder controle. Não foi nada esperto o que eu fiz, afinal era três contra um. Mas eu não queria saber.

     - Pelo Olimpo! – Gritei e ergui minha espada.

     Mas não ataquei fisicamente. Olhei para Sócrates, concentrada, e fiz nele o pior telefragorium que já consegui fazer. Ele gritou, gritou muito. Susana olhava sem reação para mim.

     - O-o que é isso? – Ela perguntou e olhou para Nick. – Eles têm poderes?

     - Eles eu não sei, mas ela é a mais poderosa que eu já vi. – Ele respondeu.

     - Não fiquem parados aí, idiotas! – Sócrates urrou. – Peguem-na!

     Susana foi a primeira a tentar um ataque. Bloqueei seu primeiro golpe com a espada e chutei sua barriga, que fez com que ela recuasse. Nick foi logo depois, mas era evidente de que ele não usava seu melhor. Desviei de seu tridente e tive que abaixar ao mesmo tempo para evitar ter minha cabeça decepada por Sócrates, já em pé.

     Eu nunca havia lutado assim. Consegui chegar a uma combinação perfeita meu meus poderes e habilidades de espadachim. Enquanto eu lutava com Sócrates, entrava nas funções motoras de Nick e fiz com que ele jogasse seu tridente longe e também lia a mente de Susana para prever seu próximo ataque. Isso me cansava, mas estava dando certo.

     Apliquei uma estocada em Susana, mas quando olhei para o lado, Sócrates estava descendo a espada em minha direção. Me abaixei e dei uma rasteira nele, que se apoiou em Nick para não cair. Ele tentou enfiar a espada em meu peito, rolei para o lado. A espada foi cravada no chão e rasgou minha blusa, e me braço também. Gritei de dor. Esse era o braço que manuseava a espada, eu mal conseguia meche-lo.

     Sócrates pisou bem forte em minha barriga, o suficiente para me deixar completamente sem ar, e pôs a ponta de sua espada em meu pescoço.

     - Rendida. – Ele anunciou. Depois se virou para os Johnson. – Levantem-na.

     Eles me levantaram, um me segurando por casa braço. Era estranho o jeito de como eles faziam as mesmas coisas, as mesmas caras, tinham pensamentos semelhantes, e isso tudo quase ao mesmo tempo.

     Nick estava segurando meu pulso sem força alguma. Ele queria que eu fugisse, eu não precisava ler seus pensamentos para saber disso. Mas, fugir? Eu não fujo. Eu tenho que encarar meus problemas de frente, não vou desviar deles. Além disso, Susana poderia muito bem correr atrás de mim de novo e eu iria ser rendida de novo, não poderia lutar contra três com meu braço nesse estado. O sangue estava escorrendo quente, até pingar nas pontas de meus dedos. E doía demais mesmo.

     Sócrates recorreu a uma ação de vandalismo contra mim. Deu-me um soco na barriga, e depois outro. Mas eu aguentei, eu tinha que aguentar. Era só ser paciente que um plano viria à minha cabeça. Só que eu fiquei desesperada quando Sócrates levantou a espada.

     Mas um ato inesperado vindo de Nick aconteceu. Quando Sócrates iria descer sua espada, ele bloqueou o golpe com seu tridente.

     - EI! – Ele o repreendeu. – Você disse que não iria machuca-la assim!

     - Eu disse que não iria mata-la, projeto de homem. – Sócrates o lembrou.

      Mas antes que Sócrates pudesse descer sua espada de novo, ele é acertado no ombro por uma flecha. Jenny aparece correndo em nossa direção, com o arco apontado para ele, logo depois Briana com sua espada.

     Susana me soltou.

     - Sam! – Jenny me chamou. – Te ouvimos gritar e.... Susana!

     Algo estava errado. Jenny não estava surpresa. Não foi um ‘’ Susana? ‘’, mas sim um ‘’ Susana! ‘’. Ela também sabia que Susana estava viva. Era óbvio! Jenny viu isso em uma visão e foi por Nick contra parede, por isso eles brigaram. Mas ela não me contou nada! Por que raios ela não me contou? Ela fica bravinha por que eu não conto que minha mãe me deu um presente, mas simplesmente esconde o fato de que meu namorado é o infiltrado. Isso não podia estar acontecendo comigo.

     - Jenny! – Susana sorriu.

     - Jenny – Repeti Susana, só que agressiva. -, sua cretina! Como você pôde?

     Mas eu não tinha tempo de enquadra-la agora. Chutei Sócrates, que caiu. Briana começou a cuidar dele. Peguei minha espada e voltei para a luta, com muito esforço, mas nós tínhamos que ganhar.

      Dei um golpe na diagonal na direção de Susana, que desviou rapidamente.  Depois tentei acertar a perna de Sócrates, ele estava tendo vantagem sobre Briana. Só que ele desviou, deve ter lido minha mente, e eu quase acertei Briana. Ela tomou um susto, mas depois conseguiu dar uma pequena risada. Jenny usava sua adaga para tentar acertar Nick, mas era obvio que ela não era párea com aquele tridente do Nick. Entrei em suas funções motoras e fiz com que ele jogasse o tridente para longe de novo.

     - Ah, Sam! – Ele reclamou. – Essa brincadeira já esta cansando.

       Estou brava com Nick. Estou brava com Nick. Não vou rir.

     E assim a luta foi seguindo: Jenny conta Nick, eu contra Susana e alternando com Briana contra Sócrates. Só que, como a maioria das coisas da minha vida, aquilo não iria dar certo.

     Eu estava totalmente concentrada na luta com Susana, ela era uma ótima guerreira. Ouvi um grito agoniante ao meu lado e me virei. Vi Sócrates enfiar sua espada na barriga de Briana. Assim que ele retirou sua espada, Briana caiu no chão, com o sangue escorrendo.

     - Não! – Gritei, desesperada.

     Minha visão já estava embaçada por causa das lágrimas que vieram ao meu rosto. Mas segurei. Não, não vou chorar na frente de Sócrates. Não vou dar esse gostinho a ele.

    Nesse mesmo segundo Queen aparece do meio da floresta. Ela olha para Briana e para mim, e balança a cabeça negativamente. Então ela olha nos olhos de Sócrates, aquele assassino psicótico.

     - Quem é essa aí agora? – Ele perguntou.

     - Prazer, Queen Boulevard, seu pior pesadelo agora. – Ela sorriu com o canto da boca.

     Vacilei um pouco.

     - A Queen não é.... vocês não se conhecem?

      Queen arregalou os olhos.

     - Você achou que eu era a infiltrada? – Ela perguntou, magoada.

     Eu tenho que parar com minhas conclusões precipitadas.  Queen tentou esquecer essa distração momentânea e fincou sua espada no chão. Em alguns segundos estávamos rodeados por um exército de mortos-vivos vindos do Mundo Inferior. Eram muitos, Sócrates não iria dar conta. Ele sabia disso. Suas tropas estavam domadas pelas nossas, alguns semideuses se arrependeram ao verem o quanto somos fortes. Ele tinha que se render.

     - Tenente, mande as tropas recuarem! – Ele passou a ordem para Susana.

     Ela assentiu e embainhou a espada. Susana olhou bem para Queen e Jenny, suas melhores amigas.

     - Nos veremos de novo. – Ela disse e desapareceu na sombra da floresta.

     Sócrates andou até minha frente, só que dois guerreiros de Queen estavam dispostos para ataca-lo, bem ao meu lado. Ele só sorriu e cuspiu sangue no chão.

     - O mesmo vale para você, Roberts. E quando nos vermos de novo, será na guerra. Prepare-se. Minha promessa já não estará válida até lá. Vamos, rebeldinho. – Ele disse para Nick. - Agora vai ficar com sua irmãzinha, como você queria.

      E ele desapareceu também na floresta, correndo.

      Nick andou até minha frente. Ele olhou rapidamente para a floresta e depois se concentrou em mim.

     - Acabou aqui. – Deixei as coisas bem claras. – Quando nos vermos de novo, seremos inimigos. E vou te tratar como um. Agora vá lá com sua querida irmã. Ele vale a pena estragar tudo mesmo.

     - Sam, você não entende....

     - Não, não entendo mesmo. E não quero entender agora. Então suma da minha frente, suma da minha vida. 

     Uma lágrima desceu por sua bochecha.

     - Eu te amo. Você prometeu que não iria esquecer, então cumpra. Vou te ver de novo, em sonhos.

     - Em pesadelos. E eu vou acordar. Adeus, Nick.

     Ele suspirou e se virou, e seguiu seu rumo.

      Mas eu tinha outra coisa para me preocupar. Olhei para Briana, que já estava branca e tremendo. Queen tirou sua armadura e elmo para que pudesse respirar. Corri e me ajoelhei ao seu lado. Peguei sua mão enquanto Jenny via o que podia fazer. Mas eu conhecia a Jenny, conhecia aquela cara.

      - Desculpas. – Jenny pediu.

      - Faça alguma coisa! – Mandei, quase chorando.

      - Sam, eu não posso fazer nada! A espada atravessou pelo menos todos os órgãos da região da barriga! 

     - Mentira! Você já salvou Nick quando ele estava praticamente morto! Você consegue, só está fazendo isso porque não quer!

     - Não, é diferente...

      - Diferente como, hein?

     Então Briana apertou minha mão. Ela queria atenção, olhei para ela. Briana pegou ao seu lado sua adaga e pôs em minha mão.

     - Q-quero que fique com você. – Briana sussurrou. – E-era de Emma, seus companheiros de missão trouxeram para o acampamento e me entregaram. É a coisa de mais valor que eu tenho.

     Olhei para a adaga. Havia uma inscrição. Atrómitis. Isso parecia até uma brincadeira sem graça. Já que significa Destemida, que é a palavra que mais define Briana, e era a música favorita de Taylor Swift dela.

     Lágrimas escorreram pelo meu rosto.

     - Não, não! Você não vai me dar essa adaga, Jenny vai cuidar de você e tudo... e tudo vai... – Eu não iria mentir para ela, não agora.  Era lógico que nada iria ficar bem. O difícil era aceitar.

     - Também quero que fique no meu lugar no conselho. E não ouse começar a discutir comigo de novo. E também te peço para... para...

     Briana não terminou a frase. Seus olhos estavam fixos em um ponto distante. Queen e Jenny também choravam.

     - NÃO! – Gritei aos prantos já. – Não me deixe aqui! Eu preciso de você! Eu preciso de que você me diga o que fazer, preciso de seus conselhos sábios, de suas brincadeiras antes de dormir, de você me repreendendo quando faço besteira. Eu preciso de você! Bri, acorda! Pelo amor dos deuses, acorda.

     - Sua alma já foi encaminhada para o reino de meu pai. – Queen disse e fechou seus olhos pela última vez.

     Olhei para Jenny.

     - Por que você não me contou que Nick era o infiltrado? A gente podia ter prendido ele antes! Ter feito ele contar tudo e avisar o acampamento para que pegasse o outro impostor aqui. Então não haveria batalha! Vocês mataram a minha irmã!

     Então me levantei e sai correndo. Não sei para onde eu iria, mas eu queria ficar sozinha.

     Todas as tropas de Sócrates tinham saído do acampamento, fora aqueles que resolveram voltar. Rostos felizes ao verem seus irmãos e irmãs de volta. E a minha vida se tornando um poço sem fim.

     Quando eu vi, meus pés me levaram para meu chalé, que por sorte estava vazio. Quando entrei, levantei a asa da coruja na parede e desci as escadas. Joguei minha armadura no chão e manquei até minha mesa de projetos.

      Tantas fotos que eu pus lá. Tantos momentos felizes que eu queria lembrar. Mas quase todos com uma pessoa que eu queria esquecer. Aquele idiota me traiu, me traiu do pior jeito que eu poderia aguentar! Arranquei todas suas fotos de lá em um ato desesperado e comecei a rasga-las.

     Não aguentei. Apoiei minhas mãos na mesa e pus minha cabeça entre elas. Eu só me lembro de chorar como nunca na vida até dormir.


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Notas finais do capítulo

Eaí, gostaram?