As duas se encararam por longos segundos antes de Quinn forçar um sorriso e dizer doce:

"Rachel está tomando banho, eu ia começar a preparar o jantar, porque não a espera me fazendo companhia?"

"É claro Quinn. Por que não?" Helena disse zombeteira.

A loira e a latina se juntaram na cozinha. Os olhos de Helena seguiam atentos enquanto Quinn juntava os ingredientes, e os objetos necessários.

A latina segurou o suspiro ao ver Quinn cortar os vegetais rápida e precisamente. Ela demorava séculos para conseguir e fazia uma enorme sujeira. Quinn conseguia o fazer sem sujeira, deixar a aparência impecável e parecer natural.

Quinn Fabray era a própria Esposa Perfeita.

Era maravilhosa, cozinha, sabia arrumar a casa, falava quatro línguas fluentes, tocava piano, sabia como se comportar entre a alta sociedade, tinha um estilo bem feminino. Quinn seria a esposa que todo homem e mulher desejam e o sonho de cada pai no mundo.

Helena observou com cuidado Quinn deslizar pela cozinha, fazendo que a cada minuto o cheiro tornasse melhor.

Bem, afinal, ela treina para seu papel desde que nasceu.

Havia apenas duas questões que perturbavam Helena.

O cheiro de Companheira de Alfa Verdadeiro que Quinn exalava levemente. E, se afinal, Rachel  iria gostar da perfeccionista Quinn.

* * *

Rachel entrou na cozinha. Sua chegada foi absolutamente silenciosa, nenhuma das duas outras garotas percebeu que a morena estava ali.

Ainda na entrada da cozinha, ela observou Quinn curiosamente.

A loira provou um pouco do molho, um sorriso de aprovação abriu-se em seu rosto, em seguida ela recolocou a tampa sobre a panela.

Por um momento Rachel se permitiu apenas assistir a companheira, um sentimento de plenitude se espalhou por todo o seu corpo. Parecia tão certo ter Quinn aqui. Rachel podia se imaginar fazendo isso todos os dias, chegando em casa depois de um dia de trabalho e encontrar essa loira deslumbrante movendo-se graciosamente pela cozinha, cantarolando uma melodia suave. A Alfa quase não conseguiu controlar o impulso de ir até a loira e beija-la, mesmo se fosse apenas um beijo pequenino.

Mas então ela lembrou-se que havia outra pessoa na casa, e se obrigou a voltar a realidade. Não é porque elas trocaram um beijo (dois) que Quinn iria quer algo com ela.

"Olá, Helena!"

"Rachel." a latina cumprimentou de volta, com um sorriso que não chegava aos olhos. "Espero não estar interrompendo nada. Eu me ofereci para voltar outra hora, mas Quinn disse que estaria tudo bem ficar."

"É claro que está tudo bem ficar, Helena. Você sempre será bem vinda aqui." a Alfa garantiu devolvendo o sorriso.

Por dentro Rachel sentia-se culpa. Apesar de Helena e ela não terem nenhum tipo de compromisso firmado, definitivamente estava acontecendo algo entre as duas. Mas há alguns minutos, quando Quinn a beijou, Rachel esqueceu tudo sobre Helena e qualquer outra pessoa, Quinn era tudo que existia.

Foi um pouco impactante ser trazida tão rapidamente de volta a realidade, Helena estava aqui, e Rachel não conseguia não se sentir culpada, a latina não foi nada senão boa para ela. Mas ao mesmo tempo, Rachel não podia se arrepender de beijar Quinn, foi a melhor sensação de toda a sua vida.

Helena percebeu a inquietação de Rachel, a morena parecia um pouco fora do ar. As duas se conheciam há pouco tempo, mas se conectaram muito rapidamente. Depois de Noah, e talvez Tracy, a latina era quem melhor conhecia Rachel, ela aprendeu rapidamente a interpretar as reações da Alfa. Rachel era uma atriz incrível, mas uma mentirosa horrível. Se você aprender a pegar os sinais corretos, a morena se torna um livro aberto. Então Helena sabia que algo a estava incomodando. Ela procurou os olhos de Rachel em busca de respostas, porque se tinha alguém a quem o ditado de "os olhos são a janela da alma" se aplica, esse alguém é Rachel Berry.

"O jantar está quase pronto" Quinn anunciou. Ela percebeu os olhares que as duas morenas estavam trocando, elas provavelmente nem percebiam que estavam tendo essa conversa silenciosa. Mas Quinn notou, e... Ouch! Doeu.

No anuncio da loira, Rachel desviou os olhos de Helena e encarou Quinn. Até ouvir a voz da companheira, Rachel nem notara que estava tão envolvida em Helena. "Eu vou colocar a mesa."

"Eu ajudo" Helena ofereceu.

Rachel concordou.

Ela viu a expressão ferida de Quinn quando Helena demonstrou familiaridade com a casa e dirigiu-se direto para onde a louça estava guardada.

Esta vai ser uma longa noite.

* * *

As três sentaram-se a mesa. Por um segundo ninguém se moveu. O clima ficou levemente constrangido. Até que Quinn tomou para si a tarefa de fazer o jantar fluir com o máximo de naturalidade possível, afinal toda essa confusão era culpa dela.

A loira pegou o primeiro prato e ofereceu a Rachel, a Alfa acenou e Quinn a serviu.

Helena assistiu as duas.

"Então Helena," a loira começou "imagino que você tenha ficado preocupada com a Rachel depois do que aconteceu na escola hoje." a latina olhou confusa para Quinn. "Santana não te contou?"

"Não, eu ainda não vi minha irmã hoje." ela mudou sua atenção para Rachel "O que houve?"

"Não foi nada, realmente." ela tentou desconversa. Rachel não está acostumada com as pessoas se preocupando com seu bem estar, e tão bom quanto isso é, às vezes ela só não sabe como reagir.

Quinn fez uma expressão desgostosa. "Nada? Pelo que os nossos amigo falaram, foi com certeza alguma coisa."

"Eu só fiquei um pouco agitada e disse algumas coisas que não deveria a um professor."

Quinn teve de morder a língua pra se impedir de falar que Rachel não tinha dito nada que o Sr. Schue não precisasse ouvir.

Helena deu um sorriso zombeteiro, ela não podia deixar essa oportunidade de provocar a morena passar "Olha só você, toda uma rebelde... Agora me diz, você usou Power Point?"

Rachel rolou os olhos, mas não conseguiu segurar o sorriso. Essa era uma das coisas que ela mais gostava na latina. Helena podia ser totalmente séria e de apoio, mas às vezes ela podia simplesmente fazer piada de tudo e deixar o clima mais leve, e era exatamente disso que a Rachel precisava agora.

"Mas," Helena recomeçou "a razão pela qual eu vim aqui hoje, é porque tenho uma ótima noticia."

"Eu sabia que você não veio por saudades dos meus belos olhos castanhos." Rachel bufou divertida.

"Aww, Rae, você sabe que eu adoro seus belos olhos castanhos, eu poderia simplesmente olhar para eles o dia todo"

Quinn se mexeu inquieta

"Mas o motivo pelo qual vim é outro." ela fez uma pausa sabendo que Rachel adoraria o suspense dramático "Eu prometi que você seria a primeira a saber, não prometi?"

Rachel ficou confusa por um momento, sem saber do que a latina estava falando. Helena olhava pra ela com expectativa, esperando o entendimento. E então, finalmente, a realização a atingiu.

"Você quer dizer que...?"

A mais velha das irmãs Lopez assentiu.

"Oh, meu Deus! Oh, meu Deus! Oh, meu Deus" Rachel exclamou se jogando nos braços de Helena "Eu estou tão orgulhosa de você, Lena. Eu sabia que você podia fazer isso. Eu sabia!"

Quinn tentou não se sentir incomodada com o abraço, afinal ela já tinha visto as duas em interações bem mais... intimas. Contudo, era impossível não se sentir excluída vendo as duas tendo essas conversas sem precisar completar frases e depois trocando abraços em celebração ao que a loira nem sabia o que era.

As duas ficaram nessa comemoração por mais alguns minutos, até que Rachel enfim pareceu lembrar-se que elas não estavam sozinhas, e decidiu incluir Quinn na festa.

"Quinn, eu tenho o prazer de te apresentar a mais nova universitária da Princeton."

Demorou um pouco para Quinn alcançar o significado da frase. Ela percebeu o sorriso envergonhado, mas satisfeito de Helena, e tudo fez sentido.

"Você entrou para Princeton?"

Helena assentiu.

"Meus parabéns, Helena! Isso é incrível!" ela disse sinceramente, tentando realmente difícil não fazer os cálculos da distancia entre Princeton e Lima, e falhando miseravelmente em conter a alegria por saber que a latina em breve não seria uma ameaça.

"Obrigada." Helena falou sorrindo "Eu estou muito feliz"

"E tem que estar mesmo." a voz de Rachel exalava orgulho "Você agora é uma Tiger."

As três terminaram a sobremesa e foram para sala.

Enquanto Rachel e Helena conversavam animadas sobre a faculdade, Quinn estava perdida em pensamentos, pensamentos bastante deprimentes na verdade. Ela observa Helena com cuidado, como a latina ria e brincava provocativamente com Rachel. Helena sempre pareceu tão livre. Mesmo quando os conselheiros comunicaram que ela deveria permanecer em Lima para continuar o legado de Ramon, a latina ainda parecia bela e audaz em sua resignação, como uma princesa amazona. Quinn sabia que nunca teria o tipo de coragem e ousadia que parecia acompanhar cada gesto de Helena. E vendo as duas interagindo agora, a loira se perguntava se era isso que Rachel queria, e se ela tinha alguma chance nessa disputa.

Como se sentisse a inquietação da companheira, Rachel buscou os olhos de Quinn, e foi completamente sugada para aquelas piscinas avelãs profundas. Como uma sereia que encanta os marinheiros desavisados, Quinn Fabray tinha o poder de hipnotizar Rachel Berry. A loira sequer tinha que fazer qualquer esforço, ela só precisava existir.

Quinn sentiu um arrepio na espinha, o modo como Rachel a olhava... Fez sua mente voltar para algumas horas atrás, para o instante em que ela estava envolvida nos braços da companheira. Infelizmente as lembranças dos beijos que as duas partilharam jamais poderiam fazer jus à realidade. A loira amaldiçoou-se por sua incapacidade de reproduzir exatamente a felicidade que ela havia experimentado naquele momento, mas ela se consolava em saber que poderia voltar a ter tudo isso, se ela fizesse as coisas da forma certa dessa vez.

Quinn ainda se sentia hiperconsciente com os acontecimentos do dia. O vestiário, a discussão durante Glee, a chegada de Helena, e principalmente o que houve no quarto de Rachel. Esse último deixou uma forte impressão na loira e, naquele olhar, Rachel deixou claro que sentia o mesmo. Tinha sido eufórico de uma maneira que Quinn nunca havia experimentado antes, e ela se sentiu mais ligada a morena do que nunca.

A campainha dos Berry tocou, anunciando o terceiro visitante da noite.

Rachel piscou, assustada por um segundo pelo som repentino. Ela estava completamente submersa em Quinn Fabray, e não havia nada melhor nesse mundo.

* * *

Russel estava parado desajeitadamente na porta, ele tinha uma aura nervosa em volta de si. Isso foi suficiente para Rachel saber que viriam noticias ruins por aí. Por que ela ainda se surpreendia com isso era algo que a Alfa não entendia, quando foi a última vez que ela recebeu uma boa noticia? A vida é uma cadela.

"Boa noite, Sr. Fabray!" Rachel cumprimentou, educação em primeiro lugar "Entre, por favor." ela deu um passo pro lado permitindo que ele passasse.

"Boa noite, Rachel" Russel respondeu assim que a morena fechou a porta e virou-se para ele.

"Eu posso lhe oferecer algo para beber?"

Eles se dirigiam à sala.

"Não, está tudo bem." Russel parou quando encontrou as outras duas garotas sentadas no sofá "Espero não estar interrompendo uma reunião de mulheres. Todos já ouviram as lendas horríveis sobre o que acontece quando um homem invade algo assim." a tentativa de humor foi sofrível, pra dizer o mínimo, não só porque a única reunião em que Quinn e Helena estariam juntas ultimamente seria para disputar cabo de guerra (onde Rachel seria a corda), mas porque o Sr. Fabray estava visivelmente ansioso.

Ainda assim, Rachel optou por manter as aparências e sorriu da piada sem graça.

"Então Sr Fabray, sua ligação me deixou curiosa, o senhor estava tão  misterioso no telefone"

Russel olhou para Quinn.

Rachel acrescentou: "Nós podemos ir para o escritório se o senhor preferir um pouco mais de privacidade."

"Não. Não acho que será necessário. De qualquer forma toda a alcateia saberá em breve, não vejo porque você não possa ouvir essa noticia cercada pelo máximo de amigos possível."

"Certo" a morena falou devagar. Tudo bem que ela já esperava por algo ruim, mas agora Rachel estava ficando verdadeiramente preocupada. "O que está acontecendo?"

Russel hesitou, sem saber como continuar.

"Apenas fale, é melhor arrancar rápido, certo?"

"O conselho decidiu que você deve liderar o julgamento da Shelby e... definir a sentença." ele fez como a morena pediu.

Rachel piscou surpresa.

"Merda."

"Você acabou de praguejar?"

"Eu acabei de descobrir que vou ter que julgar e sentenciar a minha mãe, acho que tenho direito de praguejar um pouco."

"Eu não..."

"A minha barriga de aluguel." Rachel interrompeu o pedido de desculpas de Helena "Eu quis dizer que vou ter que julgar e sentenciar a minha barriga de aluguel."

"Você não poderia ter dito isto com um pouco mais de tato?" Quinn perguntou incisiva para o pai, os olhos avelãs graves.

Russel se viu baixando a cabeça em resposta. Havia algo extremamente intimidante sobre Quinn quando ela estava em um desses humores. Mesmo Russel se sentia gelado quando recebia um desses olhares tão afiados que poderia cortar vidro.

* * *

Helena foi embora pouco depois da notícia, acompanha de Russel, já que o Sr. Fabray não se meteria entre Quinn e Rachel. A Alfa ajudava Quinn a terminar de secar a louça.

"Já está tarde. E está chovendo também. Sabe... As estradas de Lima não são as melhores... Estava pensando... Que podia passar a noite aqui."

A loira corou e acenou concordando. "Bem... Sim... E alguém precisa tomar conta de você."

Rachel sorriu guardando a última peça e as duas seguiram para o quarto. A Alfa tirou um pijama que estava um pouco folgado nela e ofereceu a Quinn.

"Eu vou... Me trocar." – murmurou indo ao banheiro.

Rachel observou a companheira desaparecer na porta do banheiro e deixou-se cair na cama sentindo o embriagante cheiro de Quinn preencher o seu redor. Não conseguiu impedir sua própria imaginação. Quinn tirando a blusa. Quinn deixando a saia deslizar por suas pernas. Quinn desabotoando um sutiã preto de renda. Quinn tirando lentamente...

"Rachel?" – a morena arregalou os olhos pelos seus pensamentos impróprios serem interrompidos pela pessoa que os protagonizava. E quase dobrou ao ver como o pijama havia ficado em Quinn.

O shorts preto havia ficado curto. E um pouco justo, deixando a mostra as belas coxas, e a bunda malhada. E Rachel poderia jurar que se esforçasse um pouco poderia ver os mamilos rosados por trás da blusa branca.

A Fabray sentiu as bochechas queimarem ao ver Rachel a observando tão descaradamente.

"O quarto de hóspedes está desarrumado. Pensei que não haveria problema se você dormisse aqui". Quinn assentiu quase roxa.

"C-claro..."

Deitando-se ao lado da morena, Rachel quase que imediatamente enlaçou a cintura de Quinn com seu braço deixando as costas da loira contra sua frente. De conchinha, não demorou muito e logo as duas ressonavam em seu sono tranquilo.

***

Quinn via-se diante de um enorme espelho, os cabelos loiros caiam em ondas maiores do que estava acostumada. O vestido era longo e de um tom vinho. Um lindo clássico do século XVIII. Em seu pescoço um belo colar com um pequeno rubi em ouro como pingente.

"Olá má belle." virou-se para a voz suave. Rachel apoiava-se no batente da porta. As roupas masculinas estavam um pouco maiores. E a imagem de Rachel oscilava. Às vezes era Rachel, as vezes era um homem, em que as roupas caiam perfeitamente.

"Espera, o quê? Filho?" Quinn pensou preocupada. Sentia uma vertigem lhe subindo do abdômen, e antes que pudesse cair...

Acordou.