– Por que não quer que eu vá com você? Pode ser perigoso, você pode se sentir sozinha também... – Suplicava-lhe a voz do outro lado do telefone que chiava devido a falta de sinal.
         - Cala a boca. – E então ela desligou.
A garota balança a cabeça e joga o celular dentro da barraca, aquela já era a sexta ligação que recebia de Kaito só naquele dia. Ela desejava poder ficar ali sozinha para sempre, se isolar de seus pensamentos confusos, daquele momento que não saía da sua cabeça, por mais que tentasse esquecê-lo. Os goles de bebida que haviam feito ela cometer aquele deslize eram agora seu remédio.
A oferta de trabalho para o calendário de outono viera bem á calhar, fazia tempo que não acampava para tirar fotos, como muito fazia nos tempos de faculdade. Sempre sozinha, nunca quis que ninguém á acompanhasse, alegando que isso serviria de distração. As fotos iam saindo naturalmente com as belas paisagens ao entardecer, Meiko se sentia realizada por mais um trabalho bem feito e aproveitara para tirar uma foto de si mesma, sorrindo com uma garrafa de bebida nas mãos.

Sem perceber o vulto que acenava atrás dela, é claro.

Encerrado o dia, Meiko terminava seu jantar composto de alimentos enlatados e se preparava para dormir na barraca. Encostando na câmera, acabou por tirar uma foto acidental de um ponto vazio da floresta, completamente escuro, mas não deu a mínima importância e nem se deu ao trabalho de ver a foto.

Mas será que teria sido diferente se ela tivesse olhado?

No dia seguinte Meiko acordou se deparando com algo colado no teto da barraca, um papel pequeno, que se revelou por ser uma foto Polaroid dela mesma dormindo.

Quem tirou essa foto?

– Só pode ser uma brincadeira do Kaito... – Resmungou ela saindo da barraca, mas ali não havia ninguém. Tudo estava como havia sido deixado na noite anterior, fora o fato de sua pequena fogueira ainda estar soltando um pouco de fumaça, consumindo pequenas peças e pedaços de artigos eletrônicos completamente triturados.
          - Minha câmera! – Meiko correra para apagar o que restava da fogueira, mas já estava tudo perdido. – Que merda é essa?! Quem está aí?
Meiko levantou-se nervosa, olhando para todas as direções, tentando encontrar quem ou o que estava ali observando-a, até ouvir um barulho em uma das folhagens, avançando sobre ela rapidamente, mas não encontrando nada além de uma trilha de fotos polaroid que lhe levava até a entrada de uma cabana na floresta á qual havia fotografado no dia anterior diversas vezes.

           - Acho que estamos bebendo demais... Estou começando a ficar meio tonta... – Meiko ria e soluçava acabando por derramar bebida em si mesma.
           - Relaxa, tá tudo bem, só estamos nós dois aqui. – Kaito abraçava o corpo de Meiko e começava a beijar seu rosto.

A única coisa que se lembrava depois era de acordar com gritos de uma garota que nunca havia visto antes, mas que berrava e chorava sem parar, enquanto apontava para ela e Kaito deitados na cama.

Meiko abriu a porta devagar, logo sentindo um mau-cheiro enorme exalando e então se deparou com algo que lhe fez imediatamente vomitar de asco. Um corpo em putrefação sendo consumido por larvas.

– Hey Kaito, então você tem uma namoradinha? – Meiko ria ainda sob efeito da bebida.
          – Eu não, sei lá quem é essa garota. - Ria o rapaz dando um gole á mais na garrafa.

– Lu... Luka!
          – Oh-Oh, parece que alguém viu demais... - Uma voz feminina soa com o ranger de uma porta de armário se abrindo. - Tudo bem, eu vou resolver isso para você, tá?

Com a batida de um machado, tudo ficou em silêncio.

Fim do segundo prólogo.