Nossa já estou até sentindo a brisa leve que o mar manda ao encontro do meu rosto. Papai está passando pela entrada da cidade. Dá um friozinho no estômago ler essa placa. A última vez que coloquei os olhos nela foi há exatos dois anos. BEM VINDO A FLORIANÓPOLIS.

Mas tenho coisas a resolver logo. Estamos bem no mês de julho. Segunda feira já começa minhas aulas na nova Universidade. Pior é que prestei vestibular lá no Rio Grande do Sul e já estava indo para o quarto semestre do curso de Publicidade e Propaganda. Agora, graças
à transferência do papai, terei que terminar aqui. Sim, eu pretendia voltar à
Floripa, mas não agora, esperava me formar e vir trabalhar em alguma empresa de publicidade. Aqui existem várias e contratam recém-formados. Mas quero fazer um estágio antes, para garantir e ficar conhecida no meio dos empresários/publicitários.

Mas tinha algo que me tirava a alegria do curso. Isso mesmo que você está pensando. ELA. Sim, droga. Infelizmente ela optou pelo mesmo curso e na mesma Universidade. E para piorar, estamos no mesmo semestre, portanto, COLEGAS. Mas eu já fazia ideia. Sempre comentávamos do nosso amor pela publicidade. Pretendíamos abrir uma empresa juntas e ganhar o cenário mundial do marketing.

O mais estranho é que eu nunca, jamais em toda a minha vida imaginei um dia estar com medo da Demi. Quer dizer, eu não estou com medo. Estou? Eu fiz o certo. Fiz o que qualquer amiga faria. Além do mais, o erro foi dela. Até o Joe concordou comigo. Disse que no meu lugar faria o mesmo.

Nossa eu amava demais o Joe. Ele era o irmão mais velho que eu gostaria de ter tido. Ele sempre me chamava de baixinha. Éramos tão ligados, que muitas vezes a gente saía sem a namorada dele, no caso, a Demi. Cansei de ir ao shopping e ao cinema sozinha com ele. Nós dois jogávamos boliche como campeões. Estou com tantas saudades do meu
irmão Joe. Ele me entendia como ninguém, afinal, nos dois amávamos a Demi, claro, de formas diferentes, e nós dois sofríamos com ela e seu estado de posse. Joe sentia-se como eu. Só que a pressão era ainda maior em cima de mim, por ser a “irmã” mais velha dela. Não, ela não tinha ciúmes de mim e do Joe, pelo contrário, ela amava que o namorado e a melhor amiga se dessem tão bem. Às vezes ela até ligava no celular do Joe e pedia para falar comigo, já sabendo que estávamos juntos por aí.

Ah, não posso esquecer o Nick. Ele era o irmão caçula do Joe. Não, não o via como irmão. Pelo contrário, eu era absurdamente afim dele. Mas ele sempre me via como irmã. Até me chamava de irmã. E eu? Eu odiava isso. Até que um dia, quando estávamos com 14 anos ele começou a demostrar interesse por mim. Assim mesmo, do nada. Estranhei, mas caí
de cabeça. E foi muito bom namorar ele. Nós terminamos uns três meses antes da minha mudança. Eu achei melhor terminar. Nunca acreditei em relacionamento à distancia. Além do mais, eu estava num estágio de  estresse total com minha melhor amiga. Nem dava mais atenção ao pobre do Nick. Sim, ele foi meu primeiro amor e o primeiro amor a gente nunca esquece. Podemos até nos apaixonar de novo e até encontrar o verdadeiro amor, mas o primeiro, por mais inocente que seja,
sempre vai marcar. Sabe aquelas besteiras que toda menina apaixonada faz? Sim, eu fiz tudo isso. Desenhava o nome dele no meu caderno ao lado do meu (SELENA E NICK – AMOR), e fazia um coraçãozinho. Escrevia bilhetinhos para ele. E ele também fazia isso. Enchia-me de ursinhos, cartinhas (mesmo com a letra terrível dele), e fazia nossas inicias nas árvores do parque (SEN). A Demi só olhava para o Joe e dizia (por que você não pode ser assim como seu irmão hein traste?) e o Joe apanhava. Hahahahaha. A melhor época da minha vida. Aqueles três estão marcados aqui dentro para sempre. Joe, meu irmaozão, Nick, meu primeiro amor e Demi, minha primeira amiga de verdade e melhor amiga, na época.

Eles me ajudaram a passar pela pior fase da minha vida. Precisei fazer um intenso tratamento psicológico para superar o ocorrido. Dessa vez foi a Demi quem me ajudou indo comigo em todas as sessões. Ela me dizia que tudo ia ficar bem de novo. Mas eu estava muito arrasada. Sai da escola e fiquei estudando em casa. Demi me acompanhava nas aulas. Eu emagreci quase dez quilos. Já era bem magra, imaginem dez quilos a
menos? Papai e Mamãe se mostravam fortes por causa minha, mas sabia que por dentro eles sangravam. Isso me dói até hoje. Nunca superei por completo e nunca vou superar. Está marcado nas minhas costas a culpa. Esse fato é com certeza meu ponto fraco. Só de falar nesse assunto eu desabo a chorar. Ainda bem que apenas os amigos íntimos sabem disso. Eu teria muita vergonha se soubessem de tudo. Não que eu tivesse feito de propósito, mas mesmo assim preferi que ninguém soubesse direito da história. Eu me culpava demais.

Mandy – e então filha, animada com a nova vida?

Selena – é, é claro mãe. Super

Bryan – Poxa filha, você não me parece assim tão animadinha. Você não gostava de viver aqui, seu estado natal?

Selena – claro pai. Eu amo esse lugar e estou muito feliz. É que me dói deixar meus amigos e colegas da antiga faculdade. Além do mais, não conheço quase ninguém lá.

Mandy – como não Selena? O Nick e o Joe estudam lá e ainda por cima tem a Demezinha que vai ser sua colega. Filha ela é sua melhor amiga. Deve estar radiante de te receber de volta. Já estou até escutando aquela gargalhada gostosa dela ecoando pelos cantos da nossa casa.

Sim, vocês perceberam? Minha mãe parou total no tempo. Ela acha que minha amizade com Demi é igual há dois anos. Minha mãe pensa que nunca brigamos. Será que ela não se deu conta que eu e Demi nos separamos? Não só deixamos de ser melhores amigas, mas também de ser amigas. Nem conhecida acho que posso considerá-la. Se dissesse que isso não dói estaria mentido.

Bryan – então filhota muda essa carinha e chega de pensar em coisas ruins. Esse ano promete.

Sim, papai não sabia que essa sua frase seria pura verdade. Esse ano prometia. Mas, será que isso significava boas ou más coisas? E essa sensação que não passa?

Mandy – olha querido, olha lá nossa casa. Ai meu Deus que saudades do nosso lar. Parece que nunca saímos daqui.

Bryan – eu pedi para um dos meus amigos engenheiros daqui providenciar a melhor equipe de pintores para que pudessem dar uma mãozinha de tinta na nossa casa.

Mandy – querido ficou maravilhosa. Adoro cores claras. Você não gostou Selena?

Mandy – Selena, está me ouvindo?

Mandy – Selenaaaa????

Selena – ah, o quê? Desculpe mãe. Eu fiquei um pouco perdida em pensamentos e memórias.

Mandy – sei filha. Não tem como não lembrar né? Só de olhar para o pátio dá um aperto enorme no meu coração. Olha o banco em que você e o Nick passavam à tarde. Vocês nesses e a Demi e o Joe naquele. A piscina que tantas vezes vocês se banharam. Lembra das festas daqui filha? A Demi adorava patrocinar nossas festas. Por falar nisso, Bryan?
Você já falou com o Ed? Já disse que chegamos? Tem que avisar os Lovatos que estamos de volta.

Bryan – sim querida. Foi o Ed quem me indicou a equipe de  pintores. Ele me disse que assim que a gente chegasse era para telefonar.

Bom, deixe-me explicar. Eu e Demi  “rompemos” nossa amizade. Mas isso não quer dizer que nossos pais fizeram o mesmo. Pelo contrário, papai e mamãe adoravam a família Lovato e sempre mantiveram contato com eles. Esse casal, Diana e Ed Lovato, foram os primeiros amigos daqui de Florianópolis dos meus pais. Além é claro da tia Denise e o tio Kevin Jonas. Minha mãe trabalhava com ela no consultório. Eram sócias. E os pais de Demi eram da área médica também. Cardiologistas. Enfim, os três casais se consideravam uma família. Todo natal e ano novo eles passavam juntos. Até mesmo nesses anos em que estivemos fora eles
viajaram para lá, passar as festas de final de ano conosco.

Não, antes que me perguntem. Não, ELA não foi nenhuma vez. A tia Diana sempre inventava uma desculpa dizendo que ela foi passar com outras amigas, ou outros parentes. Era óbvio que estava querendo me ignorar. O tio Ed vivia me falando que sentia minha falta, que eu era sua segunda filha. E que só eu tinha o poder de fazer os et’s devolverem a
Demi, a antiga Demi. Que só eu conseguia colocar um sorriso sincero no rosto dela. Que ele sentia falta do sorrisão da Demetria. Que todos os sorrisos dela, de agora, eram banhados a ironia e eram sínicos demais, que ela queria desesperadamente tampar uma dor e fingia muito bem.

Nossos pais já estavam empolgadíssimos achando que na mesma semana eles teriam a Demi antiga de volta e que estaríamos com os braços entrelaçados desfilando por aí e sorrindo. Será que eles não entendem que as coisas mudaram saco?

Bryan – alô, por favor o Ed está?

Maria (empregada dos Lovato) – não senhor, quem gostaria?

Bryan – Maria aqui é o Bryan Gomez.

Maria – ah sim seu Bryan, desculpa, seu Ed saiu com dona Diana. Mas espere um minuto.

- Alô

Bryan – Demi, Demi querida é o tio Bryan, tudo bom?

Demi – oi tio, tudo ótimo

Bryan – eu liguei só para avisar que já estamos de volta à Florianópolis

Demi – Ah já, que bom, fico feliz demais. Senti saudades do senhor E da tia Mandy

Bryan – oh querida nós também, todos nós.

Droga, papai está falando com a Demi, tomara que ele não fale nenhuma mer droga tarde demais.

Bryan – poxa, a casa está igualzinha Demi. Você ainda lembra nosso endereço não é?

Demi –

Bryan – Demi? 

Demi – ah oi tio, pode deixar que aviso o papai que o senhor ligou e quando der eu visito o senhor e a tia. Mas agora eu preciso ir, até mais tio.

Bryan – Até mais querida e saiba que Selena sentiu saudades também. Quer falar com ela?

Demi – Nãooo. Errrrr, agora estou ocupada. Falo com ela na facul.

Bryan – Hei, quem sabe você não vem almoçar aqui na segunda depois da aula, vem com a Selly. Já aproveitam e colocam o papo em dia o que acha?

Demi - ...................

Demi – errr, ah tio, eu vejo isso segunda feira com a Selena ok?

Do outro lado da sala tinha uma Selena escutando a conversa e morrendo de ódio do pai. Será que ele vai insistir, não percebe que nem eu nem a Demi queremos esse encontro?

Selena – Pai para pelo amor de Deus. Que droga. Será que é difícil aceitar que NÃO SOMOS MAIS AMIGAS SACO.

Bryan – filha fala com ela, é sua chance.

Demi – alô, alô tio, ainda está aí? Selena? Alôooo!

Bryan – alô, claro querida, falamos mais tarde então tá ok?

Demi – claro tio. Um beijão. Até.

Demi narrando:

Hum, então os Gomez já estão na cidade? Hahahahahah (aquela risada escandalosa da Demi). Sinto que esse semestre será interessante não é, SELENA GOMEZ?

Droga Miley atende!

Ah tio Bryan, almocinho segunda é? Hum, eu acho que não. Digamos que eu vou estar super ocupada cuidando do semestre da sua princesinha. Eu juro que Selena Gomez não fica um mês em Floripa. Vai voltar correndo para Porto Alegre (RS) e desejando nunca ter conhecido Demi Lovato.

Sellyselly, quem mandou você cruzar meu caminho. Vai se arrepender de um dia ter me defendido daquelas idiotas e ter ficado minha amiga. Você não vai se livrar tão fácil de mim vadia.