Samurai No Forbidden Love escrita por Kitty


Capítulo 7
Capítulo 7




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Capítulo sete

1

– Há algo que o incomoda, Tomohisa-san?

O olhar sério e a leve inclinação da cabeça voltada em sua direção o desarmaram. Keiko era bonita e tinha essa delicadeza que o fazia se lembrar de Jin. A sua calma e os seus modos elegantes também sempre lhe traziam a imagem de seu senhor. E, agora, o modo como ela também se preocupava consigo era mais um ponto em comum com seu amigo.

Agora eles estavam voltando para a casa dos Kitagawa. Tegoshi caminhava com muita disposição à frente. Talvez porque ele quisesse oferecer alguma intimidade ao casal ou talvez – e essa hipótese lhe parecia mais provável – era que a energia do garoto não tinha se desgastado nem um pouco no trajeto de ida, podendo assim manter a disposição agora que voltavam.

– Não se preocupe, Keiko. – ele não entendia porque a amiga adotou o sufixo “san” ao seu primeiro nome depois que eles cresceram. Era verdade que a distância entre eles cresceu depois que ele se mudou para o palácio, mas agora eram noivos e, ao menos longe dos pais, poderiam se tratar com mais intimidade.  – Apenas assunto de guerra.

Os lábios dela se franziram. Tomohisa quase riu imaginando como Jin o bronquearia sobre a guerra se estivesse tendo essa conversa com ele.

– Estamos longe de terminar este conflito? – ela indagou.

– Eu diria que sim. Ainda vamos enfrentar as tropas de Kamenashi Yuichiro. São os melhores homens de todo o Clã Kamenashi.

Ela mordeu os lábios e parou de andar. Tomohisa a observou com curiosidade. Ela, então, soltou seus cabelos quando retirou o enfeite que o prendia e se aproximou do noivo. Prendeu o objeto por dentro de sua gola do quimono e olhou para cima, encarando-o com um sorriso.

– Esse presente foi dado a nossa família por Akanishi-sama. Ele reconheceu os trabalhos e os valores dos homens da minha casa. Assim, é um presente importante para mim. Por favor, traga-me de volta ao final da guerra.

– Keiko...

A bronca não veio. Ela também se preocupava com o seu retorno do campo da batalha, mas, diferente de Jin, a bronca não veio. Ao invés disso, um sorriso. Um sorriso triste que se esforçava em se mostrar alegre. Os olhos dela umedeceram e brilharam, o que fez com que ela virasse o rosto para outra direção.

Ele aceitou aquele casamento tentando preservar a Jin. Mas em nenhum momento ele sequer cogitou os sentimentos dela. Agora finalmente estava diante deles. Seria capaz de continuar ignorando o afeto que, era óbvio, ela sentia por ele? E, o principal, seria capaz de ser indiferente a eles e impedir que, com o passar do tempo esses sentimentos se sobreponham e até anule o seu amor por Jin?

Segurou o rosto de Keiko pelo queixo e a fez se virar para si. Ela piscava diversas vezes tentando impedir as lágrimas de surgirem. Ela era inocente e gentil e o amava. Qual seria a sua razão para fazê-la sofrer por um amor falso?

– Keiko...

– Apenas diga que vai me trazer de volta... – ela murmurou.

Ele lhe sorriu.

– Está certo. Não morrerei sem lhe devolver este precioso presente.

Keiko sorriu de volta e eles riram em seguida.

2

O ronco dos outros samurais não era o que o incomodava de fato. Não conseguia dormir porque, apesar da sua aparente tranqüilidade, a sua mente revivia aquele sexo com Nishikido. A culpa vinha sempre com esses pensamentos, principalmente quando o ronco de Yuichi soava mais alto. Entretanto, o que mais o preocupava não era o remorso e nem o sentimento de repulsa pelo samurai. Era aquele outro sentimento que acompanhava as mãos firmes de Nishikido em seu corpo quando as lembranças repetiam cada movimento como se estivessem acontecendo naquele momento. 

Ueda não conseguia explicar o que era aquela sensação quente que o agitava e misturava suas convicções e seus valores, impedindo-o de manter sua costumeira frieza quando estava concentrado nesses pensamentos.

Não, ele não se permitia ser derrotado por tais pensamentos. Tinha que aprender a domesticá-los, tinha que esquecer o acontecido. Não adiantava remoer o fato, era necessário superar e focar sua mente na batalha. Esforçou-se para relembrar os conselhos de Kimura-dono nos últimos treinos.

Mentalizou as últimas lutas, principalmente os seus erros, e repetiu os movimentos em sua mente. Sim, essa era uma boa tática. Repetir os exercícios durante a noite até adormecer e ele, em algum momento, seria capaz de esquecer o que tinha acontecido. Até mesmo porque, não voltaria a acontecer.

Nishikido tinha prometido que seria apenas uma vez. E ele acreditava nisso porque não podia ser verdade que o samurai tivesse sentimentos mais fortes que o desejo sexual por ele. Assim, agora que estava satisfeito, certamente ele o deixaria em paz. E a Yuichi.

– Kuso... – ele xingou baixo ao perceber que seus pensamentos voltaram a Nishikido.

Mais uma vez.

3

Apesar de contrariado, Kamenashi admitiu a si mesmo que tinha sentido falta de Akanishi. Quando ele entrou em seu quarto naquela noite com seus passos suaves, segurando a vela que iluminava parcialmente o seu quimono claro, cujo hakama era listrado, para Kamenashi foi uma sensação de alívio que preencheu o seu coração naquele momento.

Akanishi era realmente um conforto no meio daquela guerra e foi uma boa notícia que ele estivesse melhor, ainda que com uma mão enfaixada, pela qual ele se desculpou porque não poderia tocar shamisen por algum tempo novamente. Seu rosto estava abatido e ele parecia mais magro, os cabelos soltos, mas o sorriso continuava ali.

– Mas podemos nos distrair com shogi... Gosta?

– Costumava jogar um pouco. Pra ser sincero, jogos de estratégias nunca foram muito divertidos para mim...

– Já para mim, esta é a única forma de batalha que eu posso praticar. – ele riu, enquanto posicionava as peças no tabuleiro.

– Akanishi-sama sente tanta vontade de estar na guerra?

– Não, não é vontade de estar em uma guerra... – ele logo o corrigiu – Apenas gostaria de ter mais força para conseguir proteger o que é importante para mim. Por causa da minha saúde, eu não sou capaz de lutar pelas pessoas à minha volta e nem pelo que acredito. É um pouco frustrante sempre assistir a minha vida passar... Ter que aceitar as imposições do destino, ficar em silêncio diante das decisões de terceiros, ver as dificuldades à minha frente e não poder mover um dedo.

Moveu a sua peça e esperou pela reação do samurai. Kamenashi pensou por alguns instantes e depois fez a sua jogada. E disse:

– Akanishi-sama, apesar de ser uma pessoa muito importante, deve ter passado por muitas restrições...

– Acho que todos passam por dificuldades... Eu só queria ter forças para poder enfrentá-las...

– Akanishi-sama não tem nada que o deixe completamente feliz? Quero dizer... Sei que deve ser horrível viver com tantos cuidados e sem liberdades, mas, ainda assim... Nasceu em uma família amorosa e uma das mais ricas da região... Mas Akanishi-sama tem um rosto triste... É verdade que não nos vemos com muita freqüência, mas, mesmo sorrindo, existe uma áurea triste em torno de Akanishi-sama.

Para a pergunta dele, logo uma imagem apareceu em sua cabeça. Uma época de felicidade era aquela em que não estavam em guerra e a companhia de Tomohisa era sua sem qualquer restrição. Fez a sua jogada enquanto relembrava alguns momentos, mas sobre isso não poderia contar para o prisioneiro.

– Devo ser um ingrato por dar essa impressão... Minha família realmente é muito unida e agradeço por ter nascido no Clã Akanishi. Temos a proteção de excelentes samurais e vivemos em uma boa região, se ignorarmos esta guerra. É verdade, minha vida tem muitas alegrias... Acontece que esta guerra realmente tornou o ambiente mais triste... Acho que isso acaba se refletindo sobre mim...

– Por que Akanishi-sama não se afasta desse ambiente?

– É esse o desejo de minha mãe. Provavelmente serei enviado para longe quando houver a oportunidade e, apesar de que isso não me agrade, sei que não devo recusar. Minha presença neste palácio neste momento é apenas um grande incômodo para todos.

– Isso não é verdade... Sempre ouço seus samurais conversando com um grande respeito e carinho sobre Akanishi-sama. Acredito que, assim como é para mim, a gentileza do coração de Akanishi-sama é um incentivo para eles... Sei que realmente é perigoso permanecer aqui por causa da guerra, mas certamente o sorriso de Akanishi-sama é algo vital para os ânimos quando se está em combate... Não deve ser um incômodo de forma alguma.

– Kamenashi-dono é uma pessoa gentil. Eu realmente sinto muito que não possa fazer nada para mudar a sua situação...

– Não é algo com o que Akanishi-sama deveria ser preocupar tão pouco. – Kamenashi afirmou. – Não se preocupe com algo que nem mesmo meu próprio pai se preocupa.

Jin o olhou com alguma piedade e tristeza. Não conseguia compreender as atitudes do líder do Clã Kamenashi devido a sua própria criação. Para ele era inconcebível que a segurança do terceiro filho fosse tratada com tanto descaso por causa de um motivo tão fútil quanto um status perante o Xogum. Por mais que Tomohisa lhe dissesse o contrário, ele ainda achava que aquele impasse sobre qual família deveria governar a região poderia ser facilmente resolvida se pedissem pela escolha do Xogum. Tantas mortes seriam evitadas e, para ele, esse era um argumento que finalizava a discussão.

– Xeque-mate.

Jin piscou.

– Ehhh? Kamenashi-dono é realmente bom nesse jogo. Está certo, na próxima partida não terei consideração com o inimigo.

Kamenashi riu do vigor e ironia inesperada naquelas palavras.  Aceitou o desafio.

4

Kamenashi os avistou primeiro quando atravessaram a pequena ponte do lago. Tanaka vinha logo atrás de Akanishi, deixando-o livre para escolher o caminho que desejasse fazer, mas, assim que ele notou a presença do prisioneiro com Nishikido, acelerou o passo para ficar próximo de seu senhor.

Como se ele pudesse realmente ser uma ameaça para Akanishi estando com as algemas em seus pulsos. Ainda que Nishikido fosse um aliado, e Tanaka não sabia disso, como eles poderiam atacá-los e desejar sair vivos do palácio? Aquele samurai só podia ser um estúpido, pensou, com certa irritação.

Nishikido e Kamenashi se curvaram com educação para Akanishi, que respondeu com um singelo sorriso. Ele estava apático e talvez a sua saúde tenha tido outra recaída, o prisioneiro cogitou. Quando Kamenashi se ergueu novamente, ele notou o olhar de Koki e... Ele se perguntava se teria sido um sorriso aquele rápido movimento dos lábios do samurai inimigo.

Havia sido por um breve momento e ele não tinha certeza, mas a dúvida foi o suficiente para fazer seu coração bater mais rápido. Sentia falta do corpo quente do samurai dormindo nu ao seu lado. Ele queria continuar observando o samurai, mas logo notou o olhar atento de Nishikido e sabia que precisava ser mais prudente.

– Como foi a conversa entre vocês na última noite?

– Akanishi só veio jogar shogi. – explicou – Não consegui entrar no assunto ainda, mas sei que ele está confiando cada vez mais em mim.

– Kamenashi-dono tem que se apressar. – ele disse – Estão planejando enviar Akanishi para longe do palácio, provavelmente para o Sul.

– Ele me contou sobre isso. Mas não se preocupe. Akanishi deve me visitar mais vezes se ele realmente está brigado com seu samurai preferido. A troca de samurais para servi-lo certamente foi para deixar o caminho livre para me visitar. Logo mais serei o seu amigo mais próximo... – ele sorriu.

– Isso seria bom.

– Há alguma informação do que meu pai pretende com Akanishi em suas mãos?

– Não recebi nenhuma orientação além de levar Akanishi como prisioneiro, mas imagino que seu pai certamente vai dar um xeque-mate no Clã Akanishi. Deve exigir o final da guerra em troca do filho doente e precioso.

– É o mais provável. – Kamenashi concordou.

Não disseram mais nada. Kamenashi ficou com seus pensamentos, que não eram realmente agradáveis. Sabia que seu pai nunca exigiria a sua liberdade em troca da de Akanishi, mas em seu íntimo ele desejava que toda essa jogada de seu pai fosse para que pudesse libertá-lo sem perder a guerra. Afinal, nada mais justo que um filho em troca do outro. Mas certamente seu pai vai ignorá-lo e apenas exigir que Akanishi se renda.

O que era mais doloroso, porém, era a certeza de que Akanishi aceitaria tal chantagem. Porque era uma família que realmente se amava. Quanto a ele, ele conhecia bem o seu futuro.

Quando estivessem com Jin, certamente seu pai permitiria o seu seppuku. E ele gostaria de saber se realmente faria algum sentido morrer dessa forma... Surpreendeu-o tais pensamentos. Percebeu que sua convicção estava enfraquecendo e isso era um perigo. Deveria aproveitar melhor os seus momentos de solidão para fortalecer o seu espírito.

5

Ele não pôde deixar de notar que havia algo errado no semblante do prisioneiro. Perguntava-se se era possível que ele estivesse triste pela sua ausência. Tanaka, no entanto, rapidamente rejeitou essa ideia. Ele tinha uma missão a ser cumprida e não podia se distrair desse caminho. Assim, afastou a imagem de Kazuya de sua cabeça e se concentrou no rapaz a sua frente.

Akanishi-sama também parecia bastante triste nos últimos dias. Imaginava que tivesse discutido com Yamashita. Essas brigas aconteciam muito raramente, mas o estado de espírito de seu senhor realmente ficava abalado e era fácil perceber quando estavam brigados. Ainda mais com o estranho pedido de Yamashita em trocar suas obrigações por causa do casamento.

Tanaka achava que Tomohisa estava sendo imprudente em se casar tão rápido e durante uma guerra. No entanto, conseguia compreender tais sentimentos. O medo da morte não é algo que os samurais não possuem. E a vontade de viver normalmente aumenta quando se está em guerra. Casar-se e ter filhos, essa vontade também apareceu para ele. Apenas achava imprudente condenar uma moça a um futuro tão incerto, mas ele sentia vontade de ter uma família. Sentia falta dos momentos em que pôde desfrutar da companhia de seus pais e todos seus irmãos. Agora isso não voltaria a acontecer de novo. Seu irmão mais velho estava morto.

Ele controlou a saudade e a tristeza voltando seu pensamento para Akanishi, que tinha parado para observar os peixes no lago. Yamashita geralmente encerrava em poucos dias as discussões com ele porque não era capaz de agüentar o rosto entristecido de Akanishi. Era um retrato realmente de dar pena. Assim, Tanaka imaginou que a discussão desta vez tinha sido mais séria... O que poderia ser que, para Yamashita, era melhor permanecer longe de Akanishi e deixá-lo nesse estado deplorável durante um período tão tenso em que viviam?

– Koki...

Despertou de seu devaneio com a voz de Jin, que estava rindo de forma estranha.

– Hai?

– Koki já se apaixonou? – ele perguntou sem desviar o olhar dos peixes.

Piscou os olhos rapidamente, estava abobalhado. Tinha perdido o hábito das conversas estranhas de seu senhor. Depois, o rubor tomou-lhe as faces, não era alguém que dissertava seus sentimentos de forma tão aberta. O seu silêncio fez com que Jin se virasse para olhá-lo e o sorriso dele se alargou diante da sua expressão.

– Estava pensando sobre isso... Agora que Tomohisa vai se casar... Como é estranho se apaixonar... Será que é possível você se apaixonar por uma pessoa tão de repente?

Akanishi-sama deixou de sorrir e seu semblante se tornou novamente triste. Talvez fosse esse o assunto que o incomodava. Koki imaginava se ele estava com medo de perder o melhor amigo. Mas seria intrometido demais se fizesse essa pergunta. Assim, ele se limitou a responder a questão.

– Acho que é possível se apaixonar de repente.

– Ao ponto de você querer se casar no meio de uma guerra? Deve ser uma paixão avassaladora!

Era impressão sua ou agora Akanishi-sama estava um pouco zangado?

– Pode ser... – ele respondeu com cautela – Mas um casamento não significa necessariamente amor.

– Acha que pode ser um casamento forçado?

– Não diria forçado... Apenas que... As pessoas não sentem vontade de criar uma família? Ter filhos? Quando se está em guerra, não se pode ter certeza de que vai poder realizar seus sonhos e vontades. Assim... Enquanto se está vivo... Devemos viver sem arrependimentos, não é verdade?

Jin não respondeu, absorvendo aquela resposta. Koki estava certo. Talvez Tomohisa estivesse apenas tentando construir seus sonhos... Que jamais se realizariam ao seu lado. Filhos. Algo que ele não poderia ter, mesmo que viesse a ter uma esposa, por causa de sua saúde... Ele teria o direito de impedir Tomohisa quanto a isso?

Ficou pensativo o resto do dia. Akanishi, então, dispensou os serviços de Koki no final da tarde, dizendo que estava cansado e permaneceria em seu quarto, assim o samurai poderia fazer o que desejasse.

Agradeceu e se despediu do jovem, percorrendo o caminho de volta para a ala dos samurais. No caminho, cumprimentou e conversou por algum tempo com Nakamaru, que estava voltando de mais um treino árduo com Ueda. Depois, ele seguiu para o seu quarto. O trajeto que ele fez passava pelo quarto onde o prisioneiro estava instalado. Havia alguns samurais de prontidão na frente da porta, que o cumprimentaram. Ele devolveu o cumprimento e seu olhar se demorou sobre o cômodo.

– Tanaka-dono precisa de alguma coisa? – indagou um dos samurais.

– Nishikido?

– Está em seu banho. – respondeu prontamente.

Pensou que seria um bom momento para estar com Kazuya por alguns instantes. Contudo, cortou rápido essa vontade repreendendo-se mentalmente enquanto voltava para o seu caminho.

6

Estava sonolento, mas não conseguia dormir. Sentia-se ansioso por que faziam duas noites que Akanishi tinha prometido vir e ele não apareceu. Perguntava-se se algo poderia ter acontecido, mas Ryo não veio lhe informar nada, então não devia ser algo grave. Talvez não tenha conseguido sair de seu quarto sem ser visto. A dúvida se ele apareceria a qualquer momento o deixava inquieto.

Foi com alívio que ele ouviu a porta sendo aberta. Virou-se nesta direção e encontrou Akanishi Jin repousando sobre o móvel a vela que guiava sempre o seu caminho até ali. Depois ele se aproximou com algo em sua mão direita. Quando ele se sentou ao seu lado, Kamenashi pôde perceber que era um pequeno pássaro. Olhou para o rosto de Akanishi e o viu sorrir.

– Estava ferido. A mãe morreu, seu corpo estava próximo do ninho. Acho que foi ataque de alguma ave maior. Estava cuidando dele, por isso não pude vir essas duas noites. Por isso, desculpe-me.

Kamenashi teve vontade de rir. Estava mesmo diante de uma criança. Disse com educação para Akanishi que não precisava se preocupar com ele. Quantas vezes ele já dissera isso ao mais velho e ele sempre vivia lhe pedindo desculpas. Jin sentia mesmo pelo fato dele ser prisioneiro de seu pai. Olhou para o pássaro, que recebia carinho pelo dedo indicador de Akanishi. Olhou novamente para o rapaz. Ele não devia mesmo viver nessa época, pensou consigo mesmo. Merecia uma época mais tranqüila. Sua saúde e sua personalidade não combinavam com aquele período.

– Achei que Kamenashi-dono gostaria de vê-lo. – e ele entregou o filhote para o prisioneiro.

Com alguma dificuldade por causa das algemas, Kamenashi conseguiu segurá-lo. O corpo quente e pequeno em suas mãos lhe trouxe uma sensação estranha que ele não soube como explicar. Ali pulsava uma pequena vida. O pássaro estava assustado com aquela movimentação, era evidente, e ele ouviu o riso de Akanishi, que parecia encantado com a sua falta de jeito com o filhote. Assim que Kamenashi evitou seu mexer para que ele pudesse se acalmar. Não moveu suas mãos e apenas acompanhou o ritmo de sua respiração. Fechou seus olhos, sentindo que os movimentos da pequena ave diminuíam até se tranqüilizarem. Era relaxante para ele também.

– Mais dois ou três dias e ele ficará forte o suficiente para poder ser livre novamente... – Jin diagnosticou.

– Eu o invejo...

O olhar triste de Jin repousou sobre o prisioneiro, que naquele momento fitava apenas o pássaro em suas mãos. Kamenashi estava mais magro e abatido, apesar das torturas terem sido interrompidas. Mas era natural que sofresse alterações estando enclausurado daquela forma.

– Sinto saudades... – ele deixou escapar – Um samurai não devia admitir em voz alta seus sentimentos, mas... Já não consigo raciocinar com clareza... Assim que, imploro que não leve muito a sério este pequeno desabafo.

– O que disser neste momento será prontamente esquecido. Não sairá deste quarto, assim que não deve se preocupar. Como um rio, deixe as palavras correrem livremente para fora de Kamenashi-dono... Sente saudades de sua família?

–... Sinto... – mentiu – Mas não estava pensando neles... Estava pensando em minha noiva...

– Noiva?

– Bem, não oficialmente. – ele riu – E, obviamente, não chegarei a lhe fazer o pedido... Mas me pergunto se não deveria ter feito... Depois de fazê-la perder um casamento bom e estável por minha causa... Mas já estávamos em guerra, como poderia me comprometer dessa forma?

– Ela estava noiva de outro homem? – Jin piscou lentamente e, pela sua expressão, Kazuya pôde deduzir que ele já estava interessado em sua história.

– Sim, estava noiva de um bom rapaz. Filho do melhor médico de nosso Clã, mas ele próprio já tem alguma fama por conta do seu bom atendimento... Certamente que este seria um casamento benéfico para ambas as partes. Ele, rico e com prestígio, ela, uma moça prendada e educada que certamente só trará orgulho como dona de casa. – ele deu uma pausa, seu olhar se perdeu em algum canto do quarto, parecia que estava revendo em sua mente algo que lhe dava um imenso prazer. – Mas quando a vi... Não fui capaz de ignorar meus sentimentos. Se Akanishi-sama pudesse testemunhar a sua beleza, poderia entender um pouco melhor sobre o que estou falando. Ela usava um quimono de cor clara, amarelo, com decorações em rosa e branco. Seus cabelos compridos estavam soltos porque pouco antes tinham perdido o objeto que o prendia e eles caíam irregularmente sobre seus ombros. Eu tinha ido até a sua loja para pegar o quimono que minha mãe tinha pedido por encomenda. E fiquei encantado, completamente encantado por ela. Ela é tímida e sempre fala com a voz baixa. Conversamos pouco, mas estava decidido que a conquistaria. Voltei outras vezes com a desculpa de comprar um quimono para mim. Queria algo exclusivo, assim que tive que ir com freqüência para fazer as provas. Também foi em uma dessas visitas que eu soube que ela estava prometida para o filho do médico.

– Deve ter sido doloroso ouvir sobre isso... Ela o amava? Amava o noivo?

– Não sei dizer se ela o amava... Nunca conversei sobre isso com ela.

– Eh? Não acha que foi uma atitude imprudente? Quando se ama alguém... A felicidade dessa pessoa não é o mais importante?

Kamenashi se endireitou no futom e o pássaro se agitou novamente em suas mãos. O samurai se inclinou na direção do mais velho e, usando um tom cúmplice, afirmou:

– Quando se ama alguém... É seu dever conquistar a felicidade dela com as próprias mãos. – e ele entregou a ave para Jin. – Se você a ama, já é o suficiente para lhe proporcionar a felicidade. Quem disse que abrir mão da pessoa amada é uma prova de amor? Como guerreiro, vejo isso como uma fuga covarde. Se a pessoa que ama está sendo cortejada por outra pessoa, então lute por ela!

Nesse momento, ele fez questão de aproximar seu rosto do mais velho e deixar que ele se perdesse na convicção dentro do seu olhar, como se isso fosse capaz de hipnotizá-lo. Não era uma hipnose tradicional, mas Jin não tinha experiência suficiente para escapar daquela sedução. Não tinha sequer argumentos para rebater suas afirmações. Kamenashi era sempre tão seguro e, por mais que estivesse enfraquecido, ele inspirava uma força que o mais velho estava longe de possuir. Jin já o admirava e bastou alguns encontros para que passasse a valorizar a sua opinião.

Sendo assim, naquele momento, a Jin parecia tão certo o que o samurai estava lhe dizendo. Lutar pela pessoa que ama. Conquistá-la. Protegê-la. Fazia sentido o que ele estava dizendo.

E naquele momento ele desejou ardentemente lutar por Tomohisa.

7

Nishikido tinha mentido. Deveria ter sido óbvio que ele mentiria e, por isso, Ueda se condenou em ter acreditado facilmente em suas palavras. Mais do que antes estava preso nas chantagens daquele miserável. Agora, além da ameaça de ferir Yuichi fisicamente, também o intimidava alegando que denunciaria o sexo entre eles.

Não sabia como descrever o que sentia naquele momento em que estavam conversando novamente no bosque. A escuridão da noite e as árvores o protegiam de eventuais curiosos que já não estivessem dormindo àquela hora. E, apesar do assunto incômodo, suas vozes se mantinham em simples sussurros e com intervalos consideráveis que certamente não perturbavam aquele ambiente. Além da Lua, a iluminação para eles vinha de uma vela que Ueda carregava. 

– Eu tenho provas, Tatsuya, a sua assinatura no registro de clientes e testemunhas. Seu samurai vai ficar tão decepcionado com você que certamente não prestará atenção devida em mais nada. E você sabe... Qualquer descuido numa batalha é fatal.

– Não há limites para sua covardia. Ainda se julga digno de ser um samurai do clã Akanishi? Não. Acredita que é digno de ser chamado de samurai?

– O que eu sinto por você é mais forte que qualquer status. Por isso, não me importo.

– Nishikido realmente não é um samurai. Sobre isso, você nunca será capaz de superar Nakamaru.

– Ele que fique com o status de samurai, se isso significar que você será meu.

– Nunca serei seu. – ele afirmou. – Pode ter este corpo quantas vezes você quiser, não é o suficiente para me fazer seu. Marque a próxima noite.

Dito isso, Ueda pensou em ir embora, mas notou o movimento atrás de si e se virou para encontrar o rosto de Nishikido a um palmo do seu.

– Hoje é a próxima noite.

Seus olhos duelaram por algum tempo até Ueda soltar um riso baixo e depois agachar para colocar a vela, apagada com um sopro, próxima a uma árvore. Agora a iluminação vinha apenas da Lua. Ueda não se levantou, naquela posição ele abaixou o hakama preto de Nishikido e começou a satisfazê-lo.

Em certo momento, olhou para cima e registrou Nishikido de olhos fechados e mordendo os lábios com evidente deleite. De alguma forma, que Ueda não queria admitir, aquela era uma imagem atraente...

8

A imagem do palácio do Clã Akanishi por muito tempo foi aquela que sempre o confortou quando regressava. Sentia um prazer e alívio imenso em ver o telhado despontar no horizonte. Sempre parava o cavalo e observava aquele cenário por algum tempo para agradecer o seu retorno em segurança. Aquela tinha sido a primeira vez que reconhecer o lugar que tem sido sua casa por muito tempo tinha sido uma imagem dolorosa. Porque logo lhe trouxe o rosto entristecido de Jin.

– Algum problema, Yamashita-dono?

– Não, não foi nada. – sorriu para Tegoshi – Estamos de volta.

– De alguma forma... Sinto-me como se aqui fosse mais a minha casa do que aquela em que passei esses últimos dias.

– Isso é natural. Passamos mais tempo aqui do que em nossas casas. E é importante que se sinta assim... Conseguimos mais vigor para proteger estes muros.

Não disse mais nada e pôs seu cavalo novamente em movimento. O grande portão de madeira e metal foi aberto pelos samurais que estavam de vigia e os dois samurais entraram. Tomohisa desceu de seu cavalo e terminou o resto do percurso até o estábulo a pé. Tegoshi o imitou, mas ficou para trás quando parou para conversar com outros samurais jovens como ele.

Tomohisa descarregou suas coisas do animal, guardou-o e o alimentou. Depois de deixar seus pertences em seu quarto, seguiu para o banho. Por alguma ironia divina, quem estava ali era Nishikido. Ele estava apoiado na borda do ofurô, o queixo apoiado sobre seus braços cruzados, mas ele se ergueu quando Tomohisa entrou. Um brilho malicioso passou pelos orbes negros.

Tomohisa o cumprimentou com educação e se despiu em silêncio. Ele pretendia seguir seu banho sem nenhum diálogo, mas suspeitava, e estava certo, que Nishikido não ia deixá-lo tranqüilo.

– Como estão os preparativos para o seu casamento?

– Tudo está indo bem, agradeço a preocupação.  – ele sentou em um dos banquinhos e começou a se ensaboar.

– Quem parece estar mais preocupado é nosso senhor Akanishi.

Ele estranhou o comentário e, mais ainda, o tom de voz que o rapaz utilizou. No entanto, não demonstrou este pensamento, seu rosto permanecendo tranqüilo. Fingiu que não entendeu a quem Nishikido estava se referindo.

– É certo que estou causando transtorno para Akanishi-dono... Contudo, ele é benevolente e compreensivo para aceitar o meu pedido egoísta. Por isso, meus esforços para vencer esta guerra em seu nome serão dobrados. – dito isso, ele terminou de se ensaboar e jogou um balde de água sobre o seu corpo.

– Não estava falando sobre Akanishi-dono. Dizem que Akanishi-sama não aceitou bem o seu casamento.

– Homens não deveriam perder tempo com fofocas, ainda mais samurais. Me surpreende que Nishikido se deixe levar por comentários levianos. Isso não existe. Akanishi-sama é meu amigo de infância e todos sabem disso. Porque ele não se sentiria feliz pela minha felicidade?

E, pela primeira vez, Tomohisa encarou o outro samurai. Depois ele se levantou e entrou no ofurô. Nishikido o observou com mais atenção enquanto aquele corpo mais musculoso era encoberto pela água quente. Então, disse:

– Porque talvez ele esteja se sentindo abandonado?

Novamente Tomohisa sentiu a ameaça nas palavras de duplo sentido de Nishikido. Não respondeu, esperou que ele continuasse.

– Afinal, são amigos há tanto tempo, como Yamashita mencionou. Na verdade, não é Yamashita o único amigo de Akanishi-sama? Assim que terão menos tempo juntos e, eventualmente, o laço será desfeito. É natural que seja assim, precisará dar atenção a sua noiva e logo mais para seus filhos.

– Se esse for o caso, pedirei a Akanishi-sama que me deixe recomendar uma boa noiva a ele. É verdade que ele não deseja se casar, mas, como disse, sendo seu único amigo, tenho certeza de que achará meus conselhos razoáveis. Nunca deixaria Akanishi-sama desamparado.

– Não? Akanishi-sama ficaria feliz em ouvir isso, contudo... Não estaria ele, neste momento, se sentindo desamparado?

– O que está querendo dizer?

– Akanishi-sama será enviado em breve para o Sul. Seu primeiro guarda está envolvido na guerra e em um casamento. Seu segundo guarda, Tanaka-san, não poderá sair do palácio, seria um desperdício não tê-lo em campo de batalha. O terceiro guarda, Takizawa, foi enviado para o primeiro grupo de combate às tropas de Kamenashi Yuichiro. Seus parentes não o seguirão tão rápido... Assim que ele será enviado com um samurai que lhe é estranho, sem parentes, sem seu único amigo... Tão vulnerável...

– A sua preocupação por nosso senhor é nobre e me permita agradecer em nome de Akanishi-sama. Mas não devia julgá-lo tão indefeso. Não tem uma saúde forte, mas seu espírito é determinado e ele não é uma criança, sabe que o momento atual exige que passe por essa situação. Assim que tenho certeza de que Akanishi-sama ficará bem.

– Se me permite dizer mais uma coisa, Yamashita... É que nenhum homem deveria dizer ter certeza de algo, se ele não for o responsável por isso. Um homem só pode garantir um bom trabalho se for feito com suas próprias mãos.

Ele se levantou e, mesmo que Tomohisa pensasse em algo para responder, Nishikido não esperou por uma resposta. Recolheu o seu quimono e foi se vestir na sala anterior deixando Tomohisa a sós com seus pensamentos.

Tinha sido uma conversa estranha. Embora as palavras de Nishikido fossem sempre prezando a segurança e o bem-estar de Jin, havia algo em seu tom de voz que o inquietou. E esse algo apenas fez aumentar a insegurança que sentia em repassar a sua obrigação como segurança pessoal de Jin para outra pessoa. Ele era como Nishikido, acreditava que somente com suas próprias mãos poderia ter certeza de um trabalho bem feito...

... Mas Jin agora estava longe demais das suas mãos. E não havia formas de trazê-lo de volta para a sua proteção. Nunca se sentiu tão impotente. Mergulhou, na esperança de encontrar debaixo da água um mundo diferente do qual vivia agora.


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