Samurai No Forbidden Love escrita por Kitty


Capítulo 6
Capítulo 6




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1

Não estava habituado com aquele ambiente e não mostrava o menor interesse em conhecer. Olhou com descaso para as mulheres de gestos vulgares e os homens bêbados exaltados. A música alta de uma pessoa desafinada o fez franzir a testa.

Eles subiram uma escada. O cômodo principal daquela casa tinha sido reservado para eles. O outro rapaz perguntou se ele gostaria da companhia de mulheres para entretê-los por algum tempo e ele recusou.

– Vamos beber e fazer logo o que viemos fazer. – foi sua resposta.

A dona do estabelecimento olhou com malícia para os dois rapazes e os guiou até o quarto. Era espaçoso e estava dividido em dois ambientes. O primeiro tinha móveis baixos, cores claras, e as paredes tinham imagens de pássaros e peixes. O outro ambiente estava com a luz baixa, mas o suficiente para enxergar o futom.

Eles deixaram suas espadas em cima de um móvel e se acomodaram diante da mesa baixa e, enquanto esperavam pelo serviço, ficaram em silêncio. Ueda olhava para a imagem da parede, tentando não se incomodar com o olhar de Nishikido sobre si. Sentia raiva, mas deveria se controlar. Quando a guerra terminasse, poderia exigir sua honra de volta.

Por um momento de descuido seu, o rosto de Yuichi lhe veio à mente. Ele estava sorridente, como sempre, procurando lhe fazer rir com alguma piada sem graça. Ueda afastou essa imagem. Prometeu a si próprio que não deixaria mais que isso ocorresse naquela noite. Não pensaria em Yuichi.

Uma mulher entrou para servir as bebidas e, ao sair, fechou a porta do quarto. Ueda levou o pequeno copo de porcelana aos lábios e tomou a bebida quente e forte. Não estava ali por vontade própria, não precisava se esforçar para manter algum diálogo. Apenas beberia e esperaria pelo momento enquanto fingia que se interessava pelo o que o moreno estava dizendo. Dizia algo em que se vangloriava, mais uma vez, de suas assombrosas habilidades e de seu status.

Seria uma longa noite, ele pensou. E, de fato, durante cerca de uma hora todo o falatório de Nishikido não foi nada interessante. Até que ele colocou a mão sobre a sua, interrompendo a trajetória do copo de sakê e isso o fez olhar para ele.

– Eu sempre esperei por esta noite...

Ueda notou seus olhos vermelhos, ele parecia alterado. Seus dedos foram acariciados pela mão de Nishikido, que em seguida lhe tomou o corpo da bebida para segurar melhor a sua mão. Não disse nada.

– Sempre o admirei, Tatsuya. E você pode não entender o que eu sinto, mas é forte o suficiente. Eu... O que eu sinto... É muito forte.

– De fato, não sou capaz de compreender. Mas é inútil discutir sobre isso agora. Faça o que quiser fazer, apenas cumpra com sua palavra de que não vai mais trazer problemas para o nosso clã.

– Eu prometo que não prejudicarei mais o meu senhor. Porque estou recebendo algo incrível esta noite. Você é tão bonito.

Ryo segurou o queixo dele e o fitou longamente. O seu deleite era evidente. Não estava mentindo sobre o quanto ansiava por uma noite com o outro samurai. Praticamente desde que colocou os olhos sobre Ueda, desejou experimentar o seu gosto. Tomar os lábios carnudos e ver a expressão de dor e prazer naquele rosto quase sempre sem emoção.

Ryo se aproximou, tocando a cintura dele. Sua mão deslizou sobre o tecido do hakama enquanto seu rosto seguia em direção ao beijo. Finalmente, os lábios macios. A boca ainda hesitou em se abrir, mas rendeu-se logo depois. Ueda fechou os olhos e se entregou.

Os sentimentos de satisfação e vitória eram os preferidos de Ryo. Ele realmente tinha uma grande atração por Ueda, mas certamente foi a sua resistência que o atiçou ainda mais. Nunca conseguia desistir quando tinha um alvo. Ele podia perder, mas jamais desistir. No entanto, ele geralmente vencia.

– Vamos para o futom. – ele ordenou.

Ueda obedeceu e seguiu Ryo, que logo se sentou no acolchoado.

– Fique de pé e tire a roupa. – disse, seus olhos transbordando ansiedade.

O samurai conteve a sua raiva por essa humilhação. Dedicou-se a pensar no bem do clã. Na guerra. Era apenas mais um serviço para o seu senhor. Fechou os olhos e começou a desamarrar o obi.

Ficou nu e Ryo observou o seu corpo. Ele olhou com bastante atenção para cada detalhe do rapaz, cada marca, cada músculo. Então o mandou se deitar ao seu lado. Deslizou sua mão em sua face esquerda e voltou a beijá-lo.

Não havia mais volta.

2

Segurava aquela carta, que ele acabou por decorar cada linha. As palavras eram graciosas, assim como a sua escrita. Kitagawa Keiko era uma moça que parecia realmente sensível pelas palavras que dirigia ao seu Tomohisa, sem perder a educação e o respeito que devia manifestar em sua condição de noiva.

Aquela carta era uma prova de que não era um casamento forçado com uma desconhecida. A jovem era uma amiga da família Yamashita. Jin sentiu ciúmes, então, de todas as vezes que seu samurai viajou para a cidade natal. Certamente eles deviam se encontrar nessas ocasiões. O sentimento entre eles começou a crescer aos poucos. As palavras saudosistas de Kitagawa naquela carta era uma prova disso.

Poderia Tomohisa ter somente brincado com os seus sentimentos? Apenas desejado seu corpo? Não conseguia acreditar nisso quando pensava nos momentos que passaram juntos. Nos esforços do samurai para agradá-lo e protegê-lo. Das conversas íntimas, dos momentos divertidos.

Mas... Então... Por que?

Mordeu seus lábios. Suas noites eram carregadas de agonia desde que Tomohisa regressou da batalha. Inquieto, deixou que um pensamento absurdo se tornasse uma ação. Não se importou que estivesse com suas roupas de dormir. Pegou a sua vela ao lado da cama e saiu do quarto. Já era bem tarde, Takizawa deveria estar dormindo, assim ele não se preocupou.

Foi até o quarto de Tomohisa e entrou sem bater. Estava silêncio e o rapaz dormia de costas. Jin deixou a vela em cima de um móvel e se aproximou. Não sabia bem ao certo o que pretendia. Apenas sentia falta do seu amigo. Queria estar com ele outra vez. E ali estava ele.

Suas mãos agiram mais por instinto do que pela razão e ele puxou a coberta e entrou.

Fechou os olhos e apreciou o calor do corpo que encarava, aspirando seu cheiro, percebendo a sua respiração. Seu olhar se perdeu nas costas e seu rosto foi atraído por uma força poderosa. Ele se encostou ao corpo do amante, seu braço direito passando em volta dele e procurando por sua mão.

Estavam juntos, mas nunca estiveram tão distante e isso era tão doloroso. Mas afastou esse pensamento. Por hora, bastava que eles pudessem ficar assim por algum tempo. Não soube dizer quanto tempo se passou, mas todo o tempo do mundo, naquela situação seria pouco para Jin. E, então, Tomohisa apenas disse:

– Por favor, vá embora Akanishi-sama.

– Por que?

Tomohisa se assustou com a voz chorosa, mas se manteve firme.

– Acredito que já lhe dei todas as minhas razões.

– Não consigo acreditar nelas.

– Sobre isso, não posso fazer nada além de lamentar que se prenda a uma ilusão.

– O que aconteceu no campo de batalha?

– O de sempre. Mortes.

– Não falo sobre isso. Alguma coisa aconteceu. Não posso simplesmente aceitar os motivos que me deu. Nos conhecemos desde crianças, não é capaz de mentir para mim.

– Gomen nasai. – e ele desprendeu sua mão da dele e se levantou. – Por favor, volte para o seu quarto. Deveria estar descansando.

– Como pode achar que conseguirei descansar se meu coração está intranqüilo desse jeito? Tomohisa, por favor, seja sincero comigo. – ele também se levantou e se aproximou dos lábios do samurai. Fitou os orbes escuros, nos quais tanto adorava se perder. – Diga que não me ama mais...

Tomohisa o observou por algum tempo, em silêncio. Esse intervalo só fez aumentar as expectativas de Jin, mas, quando o samurai finalmente disse algo, foi apenas para pisar cruelmente sobre seus sentimentos. De novo.

– Eu nunca te amei. Não esse tipo de amor. Apenas como amigos. Eu amo a Keiko. Percebi isso agora que a reencontrei... Estando em situações que envolvem a vida e a morte, eu fui capaz de perceber o que é mais valioso em minha vida. Por favor, aceite isso.

–... No que ela é melhor do que eu?

– Essa não é a questão...

– Claro que é. Ela tem que ser melhor do que eu. Não posso aceitar que esqueça tudo o que vivemos porque “percebeu que a ama”. E todas as noites que passamos juntos? E nossos segredos? E nossos sonhos? No que ela é melhor do que eu?

Ele suspirou irritado.

– Quer saber algo em que ela é melhor? Pois bem, ela não precisa segurar os suspiros e gemidos quando transamos. E eu não preciso ir devagar com medo de que ela morra e...

Toda a raiva de Jin foi direcionada para o seu punho quando ele atingiu o rosto de Tomohisa. O samurai caiu para trás com a força do golpe e demorou a se recuperar. Nunca pensou que o outro rapaz pudesse ter essa força. Sua face latejava e ele sentiu algo escorrer de seu nariz. Era sangue. O golpe foi desajeitado, não sabia o local que queria atingir, mas havia sido com muita força.

Quando Tomohisa se ergueu e olhou para Jin, ele estava segurando a mão que o golpeou e seu rosto demonstrava muita dor. Aquelas mãos delicadas nunca conheceram atividades físicas pesadas. Elas tremiam agora. Reparou melhor e notou que o corpo todo de Jin estava tremendo...

Quis ampará-lo, mas seu corpo não se moveu. Sua consciência foi rápida e ele se lembrou de que não deveria mais fazer isso. Vacilou quando escutou seu soluço, mas soube se controlar. Assim, apenas assistiu enquanto ele se recuperava sozinho e depois deixou seu quarto sem mais nenhuma palavra.

Depois que ele se retirou, Tomohisa respirou fundo... E socou o chão.

3

Ela fitou seu filho seriamente enquanto Toda-sensei enfaixava seus dedos. Jin se mostrou entediado com aquele interrogatório e repetiu:

– Apenas caí no banheiro quando me levantei durante a madrugada... Como não senti dor naquele instante, não achei que fosse piorar e voltei a dormir...

O médico não acreditou naquela resposta, mas não seria ele quem desmentiria o primogênito do Clã. Eles também não podiam imaginar que a senhora Akanishi tão pouco acreditava naquela história porque já tinha visto o rosto inchado e colorido de Yamashita. Era óbvio o que tinha acontecido, ainda mais com a distância entre os dois nos últimos dias. Mas não disse nada, imaginando se tratar apenas de alguma discussão infantil que eles costumavam ter no passado.

– Por favor, Jin, seja mais cuidadoso.

– Eu serei. Não se preocupe com pequenas coisas, Haha-ue.

Ela o olhou com desconfiança, mas ele lhe sorriu e ela cedeu. Contudo, achava que seria melhor ter uma conversa com Tomohisa quando tivesse alguma oportunidade.

4

A primeira vez que eles se viram após aquela noite foi durante o café-da-manhã. Nishikido não tinha o habito de comer com os outros samurais, sempre tomava suas refeições em seu quarto, mas naquela manhã foi diferente e ele fez questão de dividir a mesa com Nakamaru e Ueda.

Ueda respondeu ao cumprimento dando mais atenção ao gohan do que a Nishikido. Nakamaru fez o mesmo, sem perceber ou sequer imaginar a tensão que envolvia os dois samurais naquele momento.

Nishikido mantinha o olhar em Ueda e não conseguia controlar sua mente naquele momento e cada movimento de Ueda o fazia se lembrar do sexo incrível que tiveram. Quando Ueda virou o rosto para Nakamaru, que dizia alguma coisa, um pouco mais do seu pescoço se tornou visível.

Ryo virou o rosto dele contra o futom e beijou seu pescoço demoradamente, sentindo a pele quente movimentando-se conforme a respiração.

Ueda levou o hashi com o arroz à boca, e os lábios grandes se abriram o suficiente para abrigar o sexo de Ryo.

Ueda, como sempre, não demonstrava abalo algum. Ele não gemeu nenhuma vez. Seus movimentos continuavam firmes enquanto ele terminava a refeição tranquilamente. Não expressou se estava sentindo dor. A concentração de Ueda era admirável.

Foi por um breve instante. Ueda o olhou de relance e Nishikido pôde sentir a ameaça. Parecia que as conversas ao redor dos outros samurais tinham cessado ou que naquela cozinha estavam apenas os dois. A voz de Nakamaru tinha se perdido enquanto eles se olhavam.

Um duelo rápido em que Ueda lhe foi superior, ele teve que admitir. Raramente o samurai demonstrava alguma intenção e, menos ainda, uma intenção assassina como a que ele captou naquele olhar. Foram poucos segundos, contudo tempo suficiente para Nishikido sentir um breve arrepio. Logo Ueda levou a tigela de missoshiro aos lábios e fechou seus olhos para melhor apreciar o gosto.

O impacto daquele olhar também se desfez depressa e Nishikido voltou a sua postura irônica, divertindo-se com as recordações daquela noite que ele fez questão de expressar com um sorriso significativo e depois – finalmente – tomou o seu desjejum.

5

Tinha chovido a manhã inteira e o ar ainda estava úmido. O cheiro da grama molhada e a brisa refrescante amenizavam o calor dos últimos dias do verão. O Sol apareceu no meio da tarde, derramando luz sobre as flores e o lago. A natureza sempre conseguia acalmá-lo.

Completava o cenário a presença deles. Akanishi, com um quimono vermelho, cujo hakama era preto. Seus cabelos estavam presos somente pela metade em um rabo de cavalo, e o samurai usava vestes escuras, preto e cinza. Estavam sentados no coreto de frente para o outro, tomando chá.

Deixou de apreciar a paisagem e voltou a prestar atenção no samurai a sua frente. Tanaka Koki estava sentado atrás da mesa de chá e sorvia o líquido quente na porcelana branca com evidente prazer, mantendo a serenidade característica dos samurais.

– A companhia de Koki é muito mais agradável. – Jin disse com um sorriso sincero para agradecer o samurai, que deixara os seus serviços a sua disposição.

Decidido a não pensar mais em Tomohisa, Jin focou sua atenção em Kamenashi. Sabia que se Tanaka continuasse na vigilância do prisioneiro, suas chances de voltar a encontrá-lo seriam nulas. Assim, apelou a seu pai que trocassem seu samurai. Disse que entendia a necessidade da ausência de Tomohisa e o momento atual do clã, pediu desculpas pelo seu pedido egoísta, mas de fato preferia ter um samurai mais próximo a ele. Tanaka seria uma boa opção, pois também veio ainda criança para o palácio e era de uma família que servia fielmente ao Clã há muitas gerações.

– Agradeço. – o samurai se curvou diante dele. – Fico feliz que Akanishi-sama esteja se recuperando. Sentimos a falta do seu sorriso nos últimos dias.

Aquela tarde foi a primeira em que Jin se sentiu verdadeiramente bem desde que Tomohisa rompeu o relacionamento de forma tão brusca. Tanaka e ele tinham memórias de infância e Jin se lembrava bem de sua família. Dois de seus irmãos mais velhos também estavam lutando nesta guerra. O mais velho faleceu logo no começo do conflito.

Tanaka tinha mais dois irmãos mais novos, um deles estava estudando a espada e o outro era novo demais ainda. Uma da característica daquela família sempre foi a gentileza e a união. Jin ainda se lembrava da época em que o pai de Koki e seu primogênito costumavam viajar com freqüência e, quando voltavam, sempre traziam doces para as crianças. Eles sempre traziam o mesmo doce e na mesma quantia para ele. Jin sempre achou esse pequeno gesto muito atencioso, pois queriam demonstrar que, mesmo sendo uma pessoa importante, ele também fazia parte daquela família.

– Não se preocupe, eu não tomarei tanto do seu tempo, apenas preciso de companhia para passear e... Por vezes... Para jantar. Assim Koki terá mais tempo livre também.

– Por favor, não diga como se fosse uma obrigação lhe fazer companhia. É verdade que não estamos em um tempo para se ficar tranqüilo, mas, por isso mesmo valorizarei ainda mais os momentos que puder passar com Akanishi-sama. Será uma agradável fuga da realidade. E, eu admito que todos precisam dessa fuga. Comigo não seria diferente.

– Koki, quando a guerra acabar, por favor, me procure mais vezes. Sinto falta da sua alegria. Você se tornou um excelente samurai, mas se afastou da minha amizade. Não perdoarei se morrer nesta guerra antes que tenhamos a chance de nos reconciliar.

– Nós não brigamos. – ele riu. – Mas se é uma ordem de Akanishi-sama, não posso recusar. Farei o que estiver ao meu alcance para evitar uma morte prematura. Mas peço que deixemos esse assunto longe de nossas conversas. Como disse, é um momento para se fugir da realidade.

– Tem razão. Ainda sabe jogar shogi?

– Peço a Akanishi-sama para deixarmos de lado a guerra... E Akanishi-sama me pede para duelarmos no tabuleiro? Oh, está bem. Não terei misericórdia!

– Por favor, aproveite que vou jogar com a mão esquerda e não contenha a sua péssima habilidade no jogo. – ele riu – Nunca foi capaz de vencer Tomohisa e... – aquela lembrança dos três jogando shogi em uma tarde de chuva foi mesmo dolorosa agora que estava brigado com o amante.

– Ah-ah... É que eu sempre fui realmente bom nesse jogo, mas não podia ficar exibindo minhas habilidades toda vez. Um samurai precisa ser humilde. – ele apressou-se em dizer, quando notou o olhar entristecido de seu senhor.

Akanishi compreendeu sua atitude em desviar o assunto. Embora Tanaka não soubesse o que realmente estava doendo em seu coração, era certo que suspeitava de que Tomohisa e ele estavam brigados. Tanaka sempre foi muito observador. Apenas pôde lhe sorrir, agradecido.

6

– Aconteceu alguma coisa para Akanishi-sama pedir a troca de guarda?

Takizawa Hideaki terminou de selar o cavalo e em seguida olhou para Yamashita, quem tinha feito à pergunta. Yamashita estava apoiado em uma das bases do estábulo, com os braços cruzados. O seu tom de voz era tranqüilo. Ele era sempre tranqüilo, mas Takizawa pôde notar a sua verdadeira intenção.

– Yamashita-san... Com todo o respeito... Mas se quiser continuar a cuidar da segurança de Akanishi-sama, não deveria ter renunciado ao posto. – e ele o encarou – E respondendo a sua pergunta, não fiz nada. É natural que ele prefira alguém que ele tenha um mínimo de amizade. Não é algo muito divertido ter alguém sempre a sua sombra esperando por um ataque ou ainda um súbito mal estar. E não quero ser insolente, mas... Yamashita-san deveria entender melhor os sentimentos de nosso senhor do que eu. Não são amigos desde crianças?

Dito isso, Takizawa montou no cavalo, despediu-se do outro samurai e partiu. A sua missão, depois de ter sido dispensado por Akanishi-sama, foi partir para junto da tropa que estava esperando o ataque de Kamenashi Yuichiro.

O que Takizawa lhe dissera era uma verdade e ele deveria ter chego a essa conclusão sozinho. Contudo, Jin sempre desabafava com ele que não gostava de Takizawa. Sempre achou que era uma opinião exagerada, mas, de repente, ficou preocupado que talvez existisse alguma razão para Jin se manter tão na defensiva...

... Julgou-se tolo, porém. Não havia motivos reais para justificar a animosidade de Jin para com o outro samurai e a troca de guarda deve ter sido realmente pelos argumentos que Takizawa lhe apresentou.

Virou-se para deixar o estábulo e se surpreendeu com a presença de Nishikido. Não tinha notado que ele tinha se aproximado e isso o irritou. Ficou zangado consigo mesmo por ter sido tão desatento e com Nishikido, por sempre se esgueirar como se fosse realmente uma serpente.

– Preocupado com Akanishi-sama? Por que pediu para deixar esse posto, então?

– Eu vou me casar. Preciso de tempo para resolver algumas questões.

Tomohisa achou que a resposta tinha encerrado a conversa e quis passar pelo moreno sem mais explicações, contudo, Nishikido ainda disse:

– Porque um casamento tão rápido? Não pode esperar a guerra terminar? Que triste será para a futura esposa... Enquanto noiva... Ela poderá se tornar viúva. Não acha que é cruel da sua parte pretender uma jovem a um compromisso quando não sabe se estará vivo para assumi-lo?

– Agradeço a preocupação. Mas isso já não é da sua conta.

Nishikido lhe sorriu o seu sorriso zombeteiro e Yamashita se afastou.

7

Quando ele se dirigiu para o quarto do prisioneiro, estava satisfeito. Um conflito entre Akanishi-sama e seu fiel guardião era o que ele estava precisando. Além disso, Akanishi ainda deixou livre a comunicação entre ele e Kamenashi, assim que Nishikido entrou com bom humor no quarto de Kamenashi para assumir novamente o posto de seu vigia.

Kamenashi logo notou que ele estava animado. Ele próprio não estava muito contente com aquela situação, embora não quisesse admitir isso nem a si mesmo. Tinha que pensar no que era melhor para ajudar o seu Clã a vencer aquela guerra. Mas não pôde evitar seu olhar recair com algum desânimo sobre o canto em que o outro samurai costumava ocupar...

Não tinha contado a Nishikido sobre seu plano em seduzir Tanaka, por isso não podia lhe dizer agora que esta mudança atrapalhava o seu objetivo. Não tinha motivos para contar e ele não costumava confiar em agentes duplos. Nunca se sabe de qual lado ele realmente está atuando. Além disso, ainda sentia as dores das torturas, apesar de Nishikido garantir que suavizou no tratamento e que deveria ser feito para não levantar suspeitas. Ele não esqueceu a sua ideia em arrancar o sexo daquele desgraçado. Quem sabe ao final da guerra?

Mas, por enquanto, ele era um aliado. Ouviu atentamente sobre os próximos passos que deveriam seguir.

–... Assim Kamenashi-dono terá que plantar a ideia em Akanishi-sama. – explicou Nishikido. – Com ele fora do palácio, será mais fácil capturá-lo.

– Você realmente acha que eles mantêm um caso amoroso?

– Tenho certeza.

– Pensarei em algo para convencê-lo, então. – prometeu.

8

A chuva tinha terminado há algum tempo e elas podiam brincar do lado de fora. Assim, as duas meninas de sete e doze anos foram as primeiras que avistaram os cavalos dos samurais. Elas entraram na casa, alvoroçadas, gritando a plenos pulmões que eles estavam chegando. Subiram as escadas correndo, ignorando por completo a bronca que recebiam pelos maus modos que estavam demonstrando.

As meninas invadiram o quarto da irmã mais velha e repetiram o recado, mas a jovem não demonstrou a mesma ansiedade, embora fosse a que tivesse o maior interesse na presença dos samurais.

Keiko ajeitava os fios de cabelo que estavam soltando de seu coque, preso por um delicado ornamento de ouro na forma de uma libélula. Olhou-se no espelho e girou o corpo para observar o laço de seu obi de seda lilás. O quimono rosa com estampas de flores da mesma cor do obi era um presente antigo do senhor Akanishi pela disciplina e lealdade de seu pai e irmãos dentro do Clã.

– Está linda... – exclamou Mariko, a segunda filha.

– Tá linda... – repetiu a caçula.

Pelo reflexo, Keiko encontrou os olhares admirados de suas irmãs e sorriu para elas.

– Saori ainda é pequena, mas você não devia mais agir dessa maneira, Mariko. – ela disse, sua voz gentil e doce. – Tem que começar a estudar as artes com mais seriedade, caso queira se casar.

– Eu também quero me casar com um samurai! – afirmou, ignorando mais uma vez a bronca.

– Eu também! – repetiu Saori.

– Então passem a se comportar. – ela pediu, rindo.

Essa pequena bronca foi recebida com um grande bico por Mariko, que logo se desfez quando a mãe surgiu no quarto para pedir a mais velha que fosse receber seu noivo e seus convidados. Keiko se levantou e, então, seguiu sua mãe.

Seu coração deu um salto e ela logo o acalmou com uma respiração mais longa. Yamashita Tomohisa era uma lembrança querida de sua infância que, a cada visita esporádica, foi se transformando em um alvo de cobiça. Aquele menino que ela lembrava vagamente de ter brincado quando mais nova tinha se transformado em um belo homem com um futuro promissor como samurai.

Quando a presença delas foi percebida pelos homens, a conversa foi interrompida e a troca de cumprimentos recomeçou. Tomohisa lançou um olhar e um sorriso para Keiko e em seguida tratou de apresentar o jovem samurai ao seu lado, Tegoshi Yuya.

A conversa foi longa e agradável. Tomohisa notou que seu pai estava realmente satisfeito com a família de Keiko. Eles eram velhos conhecidos, afinal, mas, diferente de seu filho, Yamashita Akira poucas vezes regressara para aquela cidade. Então era mesmo como se não conhecesse mais aquela família.

A propriedade dos Kitagawa ficava distante da parte em que Tegoshi morava. Eles moravam em uma área grande, uma bela casa e possuíam uma renda considerável. Tegoshi ficou encantado com a vista de um grande rio que atravessava a propriedade quando os três saíram para passear. Tegoshi andava à frente com Keiko, que apresentava todo o terreno com lembranças de sua infância, seus lugares preferidos e os bons momentos que já tinha vivido por ali.

Tomohisa andava mais atrás, observando os dois, absorto em pensamentos. Eram raros os momentos em que deixava sua mente agir de forma livre como agora. Ele pensava que Jin ia gostar daquela paisagem. Seu senhor gostava bastante da natureza e aquela propriedade era muito bonita. Ele se lembrava de ter visitado a região na época da primavera. Jin certamente ficaria feliz com essa imagem.

Esse pensamento também lhe provocou um sorriso, mas, ao se deparar com a realidade, quando escutou o riso de Keiko por algum comentário de Tegoshi – o garoto era mesmo uma pessoa alegre e por não ter perdido de todo o seu lado infantil havia conquistado rápido a simpatia dela – a tristeza o afetou. O sorriso de Jin de suas lembranças foi trocado pelo rosto triste e a voz chorosa dos últimos dias.

Às vezes a tristeza vinha com uma força incrível e Tomohisa se questionava se teria forças para seguir com sua decisão até o final de sua vida. E, nesses momentos, ele desejava que sua vida fosse curta. Não cometeria o seppuku se não tivesse realmente um motivo para isso. Principalmente porque não podia deixar de pensar em quão triste e confuso Jin ficaria se tomasse essa decisão fora do contexto da guerra. Assim que essa sugestão de seu pai, Tomohisa realmente não cogitava... Esperava que o casamento e a distância de Jin fizessem seu pai se esquecer desse assunto.

Apenas mais alguns dias e eles poderiam voltar. O ânimo de Tomohisa, embora estivesse bastante cansado devido aos confrontos com as tropas de Kamenashi Kouji e o ferimento em seu ombro quando salvara Tegoshi, sempre se renovava quando pensava na possibilidade de rever Jin. Ele não estava apenas sendo romântico quando disse ao amante que a guerra seria incapaz de separá-los. Ele realmente usava o máximo de suas forças para proteger seus objetivos e sua vida. Assim, poderia retornar para os braços do rapaz.

Seu humor também estava melhor com a possibilidade do regresso. Ele tomou um banho e trocou seus curativos e agora estava indo jantar com os outros samurais. Estavam acampados nas propriedades da família Sakamoto, um dos principais aliados do clã Akanishi, assim podiam usufruir um pouco mais de conforto.

No entanto, um dos serviçais de Sakamoto o avisou que seu pai o aguardava no quarto que tinha sido destinado para ele. Os líderes das tropas receberam o respeitável convite de usarem os quartos da propriedade, enquanto os demais guerreiros se acomodavam em cabanas no jardim.

Seguiu o jovem até o quarto e pediu licença para entrar. A voz áspera permitiu a entrada. Era um quarto pequeno, mas suficiente para um guerreiro. As paredes eram lisas e claras, com as bases de madeira escura. O futon para dormir estava encostado ao lado da janela e seu pai estava sentado diante de uma mesa, tomando saquê.

Tomohisa se ajoelhou diante de seu pai. Yamashita Akira era um homem alto, ombros largos, um samurai imponente e respeitável. E extremamente rigoroso. Ele se levantou e caminhou em silêncio pelo quarto. Aproximou-se do móvel em que suas espadas estavam repousadas e pegou a katana.

Severo, sempre manteve a educação de Tomohisa fiel às tradições. Foi por isso que o rapaz segurou o grito de dor e a confusão quando recebeu a katana, com a lâmina ao contrário, em suas costas, provocando, além de um novo ferimento, que os outros se abrissem novamente.

– Você deveria cometer o seppuku. – ele disse, as palavras cuspidas pela raiva que estava sentindo.

Ainda ajoelhado, manteve a cabeça baixa, seu coração disparado. A dor que sentia não era maior que a aflição por suspeitar do que seu pai estava falando. Sua mente estava embaralhada e ele tentou recuperar a calma para não se trair e piorar a situação ainda mais.

– Como pôde desonrar nosso senhor dessa maneira... Imunda?

Ele sabia. De alguma forma, seu pai sabia. Não podia imaginar de que forma ele tomou conhecimento, mas ele sabia.

– Quando a guerra terminar... E quando nossos senhores não precisarem mais dos seus serviços como samurai, então você vai restabelecer a honra de nossa família.

Seppuku. Ele sempre prometera a Jin que não morreria em batalha. Que sempre voltaria para ele... E agora ele próprio deveria tirar a sua vida. Sabia que seu pai estava certo. Não importava os seus sentimentos, ele tinha se atrevido a desonrar o clã Akanishi. Não havia outra forma de reparar o que tinha feito, mas... O rosto desamparado de Jin sempre o faria hesitar. Ele nunca seria capaz de tirar sua própria vida, se não fosse a pedido do próprio Jin.

– Por enquanto, você vai se casar.

E ele ousou encarar seu pai pela primeira vez. Aquela também não era uma opção que ele pudesse considerar. Como poderia casar quando seu coração já estava entregue ao seu senhor? Como Jin reagiria quando soubesse sobre isso? Tentou apelar à razão de seu pai.

– Estamos no meio de uma guerra, como posso...

– Já está tudo arranjado, sua mãe está cuidando dos preparativos.

– Sobre isso...

– Não ouse me contrariar, Tomohisa. – ele fechou o punho, visivelmente alterado – Caso contrário, espalharei essa vergonha para que Akanishi Jin-sama seja esmagado pela humilhação e cometa ele próprio o seppuku. Não me importa se, depois disso, tenha que me matar e levar sua mãe junto se for para reparar a honra da nossa família.

– Chichi-ue seria capaz de preferir a morte do nosso senhor?Humilhá-lo dessa forma ao contar sobre nós?

– Não inverta as posições, Tomohisa. Quem desonrou primeiro nosso clã foi você. Se essa conseqüência, se a morte de Akanishi Jin-sama for necessária... A responsabilidade é sua. Mas farei o que for possível para recuperar a honra do nosso Clã e de nossa família... Mesmo que seja necessário provocar primeiro uma tempestade, eu o farei.

O mais novo se calou. Seppuku. Um casamento. O rosto triste de Jin... Não podia considerar a morte de Jin... Não podia lhe contar sobre esta conversa porque certamente ele, romântico e idealista, tentaria confrontar seu pai. Jin não pensaria nas conseqüências, mesmo se o alertasse sobre elas, ele faria o que fosse preciso para que eles continuassem juntos até perceber por conta própria e de forma dolorosa como sua família seria afetada pelo relacionamento deles.

E seu pai estava certo em uma coisa. Quando Jin tivesse que enfrentar o sofrimento de seus familiares, ele seria esmagado, não pela humilhação, mas pelo remorso em ferir seus familiares. Ele culparia a si próprio e certamente cometeria o seppuku...

Isso, Tomohisa não poderia permitir. Talvez a sua morte em batalha seja a melhor opção para todos. Não respondeu mais nada para seu pai, que, então, o dispensou.

Ele não morreu em batalha, afinal. O seu sentimento de obrigação para o clã não permitiria que morresse antes que estivesse bem definido o lado vencedor. Quando o clã Akanishi estivesse seguro, então ele poderia desistir e se deixar abater no campo de batalha... Se fosse durante uma batalha, tinha certeza de que Jin seria capaz de superar.

Enquanto isso, ele não podia continuar provocando seu pai. Afastou-se de Jin e aceitou o casamento. Sentiu pena de Keiko, que fatalmente se tornaria viúva antes de se casar, mas ainda não conseguia imaginar uma forma de poupá-la.

– Tomohisa?

Despertou e encontrou Keiko e Tegoshi olhando para ele. Sorriu e pediu desculpas pela sua distração, estava de fato encantando com aquela paisagem, ele afirmou e depois apressou seus passos para alcançá-los.

Aquela seria a última vez que ele pensava sobre aquele assunto, prometeu a si mesmo. Era o correto e o melhor a se fazer. Era o melhor para Jin, não tinha porque hesitar.


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