Samurai No Forbidden Love escrita por Kitty


Capítulo 4
Capítulo 4




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1

Estava novamente sob a vigilância de Tanaka e, por isso, Kazuya não conseguia conversar com Nishikido. Não sabia o que estava acontecendo do lado de fora do quarto. Além disso, não poderia mais contar com as visitas noturnas de Akanishi, porque Tanaka tinha o hábito de dormir em seu quarto.

Aquela devia ser uma nova técnica de tortura. Enlouquecer o prisioneiro pelo tédio, Kazuya ponderava. Aquele samurai irritante passava dias sem lhe dizer uma palavra e não demonstrou mais nenhuma reação quando o banhava. Depois de alimentá-lo e cuidar da sua higiene, Tanaka sentava-se em um canto do quarto, lia algum livro, ou simplesmente observava a paisagem pela janela. Agora ele estava cortando uma maçã e comendo os pedaços vagarosamente.

Os dias estavam se passando, felizmente, e, então estava se completando quase três meses desde que tinha se tornado prisioneiro. Seus ferimentos estavam completamente recuperados e ele precisava de mais atividades físicas, seguindo a orientação do novo médico que foi autorizado a examiná-lo.

– Você vai se lavar a partir de agora. – Tanaka anunciou, enquanto soltava seus pés. – Vamos.

Embora tivesse feito caminhadas ao ar livre com Nishikido antes, Tanaka raras vezes o levou para fora. Andavam somente pelo quarto e não foi o suficiente para ele se sentir completamente firme para andar. Teve que se apoiar em dois criados durante os primeiros passos até suas pernas se firmarem.

Era um espaço pequeno e a casa era de madeira. O ofurô ficava em um espaço elevado de madeira e, antes dele, havia o banquinho e baldes com água para a primeira lavagem. Tanaka dispensou os criados e depois fechou a porta atrás deles à chave. E só então libertou os pulsos do prisioneiro.

Kazuya massageou o local e deixou um sorriso escapar. Não estava livre, mas era um alívio poder ter um pequeno instante sem aquelas algemas. Olhou com discrição para o local e, como imaginava, não poderia usar nada para atacar aquele samurai... Além do seu corpo. A idéia o fez sorrir ainda mais. Não tinha o objetivo de fugir, sabia que seria uma tentativa inútil e uma completa loucura. Mesmo que por algum milagre conseguisse se livrar de Tanaka, ainda teria que escapar dos muros bem protegidos do palácio. Por isso a idéia de seduzi-lo era muito mais proveitosa. Em todos os sentidos.

Aquele samurai tinha um belo porte e seu rosto tão livre de reações despertava em Kazuya a vontade de arrancar-lhe gemidos de prazer ininterruptos. Ficaria completamente satisfeito quando o fizesse perder a sua pose de indiferença. Era da conduta de um samurai controlar suas emoções, mas, Tanaka superava e muito a qualquer samurai de primeira linha nesse aspecto. Era quase como se ele fosse um espírito e não possuísse sentimentos humanos.

– Tanaka-dono dispensou os criados para aproveitar melhor enquanto me banho?

– Tsc. Já o vi nu. Já o toquei. Não sinto absolutamente nada.

– É verdade... Já me viu sem roupas. Já me tocou... O toque foi frio, mas agora você não pode mais me tocar... E já me viu sem roupas, mas não me viu tirando as roupas... – disse, com um sorriso divertido. – Lembre-se de que você não pode mais me tocar... Não pode... E, mais do que nunca, vai querer me tocar...

Tanaka não respondeu. Sentou-se no chão, cruzando as pernas, segurando a katana na vertical diante de si com as duas mãos. Kazuya apenas riu por ser ignorado mais uma vez e começou a desatar o nó do obi preto. O movimento foi mais lento que o necessário e a peça caiu ao chão. O quimono não se abriu porque Kazuya o segurou e virou-se de costas para o samurai. Tirou o hakama cinza e o jogou ao chão.

Havia duas janelas no alto da parede oposta a Kazuya e o largo facho de luz banhava praticamente o lado inteiro em que ele estava, deixando apenas Tanaka na penumbra. A pele branca de Kamenashi parecia reluzir sob o Sol. Vagarosamente, cada vez mais a sua pele ia surgindo enquanto o quimono lhe caía pelos ombros. Ele inclinou o rosto para o lado e lançou um olhar de canto. Seus olhos pareciam ainda mais estreitos e totalmente tomados pelo desejo, enquanto os lábios entreabertos pareciam suspirar de volúpia.

Tanaka observou o tecido escorregando pelas costas finas até a última peça do quimono chegar ao chão. Apesar das marcas de um árduo treinamento, aquele rapaz tinha um corpo bonito. Era magro e tinha um porte atlético, mas ainda assim sua aparência tinha algo de delicado. A sua pele parecia macia, embora maltratada.

Finalmente ele se virou para o samurai e, com um sorriso de canto, notou um leve movimento dos seus olhos. Mas ele continuava na mesma posição.

Kazuya sentou-se no banco e pegou o primeiro balde. Virou-o acima de sua cabeça e a água percorreu todo seu corpo. Seus cabelos foram esmagados pela água e colaram-se no rosto delgado. Empurrou os fios para trás, com a cabeça inclinada para o alto, ressaltando o seu pescoço na direção de Tanaka.

Deslizou o sabonete pelo corpo e quando chegou às partes íntimas, lançou outro olhar malicioso para ele.

– Tem certeza de que não quer me ajudar? Posso dizer que ainda estou fraco e precisei de ajuda...

– É este o comportamento dos filhos de Kamenashi?

Por um instante, a vontade de Kazuya foi de se jogar em cima do samurai. Mas foi apenas por um instante. Ele engoliu mais uma vez seu orgulho, repetindo sempre em sua mente que tinha ordens a serem cumpridas ainda. Não podia perder o seu controle.

– Está nervoso? – conseguiu manter a sua própria voz tranqüila – A ofensa é o primeiro sinal do descontrole. Não lhe disse que ver um corpo nu não acaba com os desejos? Tanaka-dono pode decorar meu corpo em sua mente, mas não poderá mais tocá-lo... E já sentiu como é esta pele... – deslizou o sabonete pelos braços lentamente. – Sabe que não é uma pele tão grosseira... Os cremes à base de ervas colhidas próximas às montanhas são eficiente para curar os ferimentos, mas também, a longo prazo, ajudam a tratar da pele... Tanaka-dono sabe que meu corpo não é igual à de outros samurais... Ainda assim... Não quer experimentar?

Nenhuma resposta. Kazuya manteve o sorriso e depois jogou outro balde de água em seu corpo para retirar o sabonete. Levantou-se e deu as costas para o samurai para entrar no ofurô. E, então, para a sua surpresa... Uma mão em seu pulso.

Virou o rosto para trás e encontrou Tanaka tão próximo que podia enxergar seu reflexo nos orbes escuros. Sua expressão era dura, ele parecia contrariado, mas sua respiração descompassada indicava que seu desejo era mais forte. Kazuya engoliu o gracejo que pensou em fazer daquela situação, não devia irritá-lo mais ou o deixaria escapar. Foi o primeiro a desfazer o embate silencioso e amenizou o olhar. Entreabriu os lábios, como se fosse dizer algo, mas não tinha essa intenção. Tanaka o compreendeu rápido e o beijo foi com mais força que Kazuya tinha previsto, fazendo-o recuar alguns passos.

Kazuya se segurou no quimono de Tanaka, enquanto as mãos dele deslizavam em suas costas. As mãos de Tanaka, como as suas, eram calejadas pelos treinos diários com a espada de madeira. Ele, porém, não tinha uma medicina estética tão avançada a sua disposição. Sua pele era áspera e quente. E seus movimentos eram fortes. Puxou os cabelos de Kazuya para afastar seu rosto apenas para encará-lo.

Kazuya tinha aquele olhar que o deixava louco. Um olhar de canto, sempre com intenções duplas, que, por mais que ele não demonstrasse, sempre transformava em uma batalha épica o conflito entre seus desejos e sua razão. Não podia se envolver com o inimigo. Sempre tentava focar sua atenção em outro alvo. Livros, frutas, um canto qualquer do quarto. Mas nem mesmo todo o seu treinamento foi suficiente para resistir àquela exibição erótica das qualidades daquele corpo menor, cuja pele branca atiçava a sua curiosidade em vê-la com as marcas roxas após mordê-la, beijá-la, sugá-la ou ainda com as impressões vermelhas de seus dedos quando o segurava com força.

Segurando firme nas nádegas de Kazuya, ele o retirou do chão. Kazuya enroscou suas pernas ao redor da cintura do samurai e deixou que ele o prensasse contra a parede. O impacto o fez erguer a cabeça, deixando Tanaka saborear o seu pescoço. Foi a sua vez de deixar suas mãos embaraçar os fios negros do samurai, enquanto sentia aqueles lábios escorregando em seus ombros, descendo para seus mamilos.

Encararam-se mais uma vez. A respiração dos dois cada vez mais acelerada. Beijaram-se com mais desejo. Era como se quanto mais velocidade usavam, mais o desejo aumentava. Kazuya já não suportava mais se manter tão passivo e o forçou a soltá-lo de volta ao chão. Eles se sentaram na beirada de madeira e Kamenashi o puxou pela roupa até se deitar com Tanaka por cima.

Kazuya ignorou o obi dele e puxou a gola do quimono com força, desnudando seus ombros. Abaixou o tecido até a sua cintura com ansiedade. Era a primeira vez que ele via o tórax do samurai. Era musculoso e cheio de marcas. Batalhas ou treinos, não importavam. Aquelas marcas exerciam um grande poder em Kamenashi. Era símbolo da virilidade. Quis devorá-las. Começou com beijos e depois passou a lamber aquelas marcas, sentindo o gosto da pele salgada, até que Tanaka o segurou pelo pescoço para trazê-lo de volta a sua boca.

O prisioneiro aproveitou para tocar-lhe por dentro do hakama. Encontrou o que procurava e movimentou sua mão em toques firmes e rápidos. Deliciou-se quando sentiu os dentes do samurai congelando em seu lábio inferior quando seu corpo certamente teve um arrepio. Tanaka segurou-o pelo pulso e depois se ergueu, ficando ajoelhado com Kazuya entre suas pernas. Abaixou o hakama.

Kazuya levantou para ficar na altura apropriada e atendeu o seu pedido mudo. Encarando-o com seus olhos sedutores, sorria de leve enquanto se aproximava. Manteve o contato visual enquanto sua língua estava ocupada. Não queria perder o rosto entregue ao prazer do samurai. Era o seu prêmio, afinal. E a expressão foi linda. Os olhos fechados, a respiração pela boca, a língua movimentando involuntariamente... Ele estava totalmente rendido ao prazer.

Então, em certo momento, o samurai o afastou novamente e segurou-o pelos braços. Virou-o com brutalidade e o obrigou a deitar novamente de bruços. Afastou suas pernas e ergueu seu quadril. Kazuya escondeu o rosto entre os braços, mordendo os lábios, prevendo a dor.

Ao final, o corpo suado do samurai caiu sobre o seu, prensando-o contra o chão. O rosto colado ao seu, os braços por cima dos seus, que estavam jogados sobre a madeira. Os dedos das quatro mãos cruzando-se por instinto. Tanaka estava buscando retornar a sua respiração normal. Kazuya também tinha dificuldades para respirar, mas estava satisfeito. Muito satisfeito.

Kazuya, naquele momento, não podia imaginar que o seu prazer em finalmente ter seduzido o samurai poderia envolvê-lo em um vício perigoso e mortal. Ele não seria mais capaz de controlar as vontades de seu próprio corpo, que começou a exigir a presença de Tanaka cada vez mais em um nível que poderia se transformar em sua principal fraqueza.

A paixão.

2

O impacto daquele pensamento o deixou atordoado por alguns instantes, contudo, Jin acalmou a si mesmo dizendo que deveria existir outra explicação. Mais calmo, pensou que seu pai não estaria friamente ouvindo o relatório se um de seus principais samurais tivesse sido morto em combate. Ainda mais aquele que cresceu junto de seu filho mais velho como um irmão. Tomohisa recebia afeição familiar de seus pais. Não, ele não devia estar morto.

Mas... Porque ele não regressara?

Percebeu que o pai de Tomohisa também não estava ali. Talvez tivessem tido um contratempo familiar, Jin sabia que o caminho de volta ao palácio era atravessando a cidade em que moravam os parentes deles.

– Akanishi-sama... – uma voz rouca o assustou. Virou-se e encontrou Nishikido o observando – Está pálido. Sente-se mal?

– Nishikido... Não... Eu estou bem. É só que fiquei muito tempo sem tomar ar... Fiquei um pouco sem fôlego, mas estou bem.

– Nesse caso, permita que o acompanhe de volta ao seu quarto.

Ele concordou. E no caminho tentou fazer um tom casual quando perguntou o motivo da ausência dos Yamashita.

– Soube que permaneceram na cidade vizinha. Acredito que só devam voltar para o palácio dentro de dois ou três dias.

– Ah... Algum problema sério?

– Não saberia responder isso.

– Por causa da guerra?

– Assuntos familiares pelo que soube.

Jin ficou pensativo. E depois riu de si mesmo. Não explicou sua risada para o samurai e agradeceu a preocupação com a sua saúde, despedindo-se quando chegaram ao seu quarto. Não devia ser tão ansioso, não devia tirar conclusões tão precipitadas. Se realmente Tomohisa tivesse morrido, o ambiente não estaria tão calmo. De fato, ele tinha se alarmado muito cedo.

No entanto, a preocupação não se foi totalmente. O que teria retardado o regresso de Tomohisa?

3                                        

A viagem tinha sido desgastante e a maioria dos guerreiros seguiu direto para o banho e, depois, para o alojamento para descansarem. Tegoshi se sentou no tablado do lado de fora do banheiro e preferiu esperar por um momento em que o banho não estivesse tão disputado.

Suspirou, ainda não se conformava com o que tinha acontecido com Tomohisa. Por sua culpa.

A katana atravessou o ombro de Tomohisa, que ignorou a dor e aproveitou para também golpear o inimigo. O seu ataque foi mortal. A katana atravessou a garganta do seu rival. O samurai ainda se virou para Tegoshi e o puxou para que se levantasse.

– Vamos para lá! – ordenou, indicando uma direção.

Tegoshi não discutiu. Pegou sua arma e correu com ele. Eles correram para uma área com mais Pinheiros e se ocultaram entre as árvores. Tomohisa se agachou para retirar a parte de cima da sua armadura e verificou seu ferimento. A carne estava aberta e muito sangue estava escapando.

– Gomen... Moshiake arimasen deshita!! – ele disse alto.

– Pssiuuu... Não atraia atenção desnecessária. Venha cá. Me ajude com isto. Corte um pedaço do meu shitagi.

– H... Hai!!

Ele cortou na altura indicada e depois amarrou o tecido conforme a orientação do guerreiro para estancar o sangue.

– Isso. Arigatou.

– Hontoni gomen Yamashita-dono... – o seu olhar desolado indicava que estava realmente abatido.

– Depois conversaremos sobre isso. Agora se concentre na luta, está bem? Vamos voltar.

– Nani?? Yamashita-dono precisa voltar para o acampamento!

– Iie. Eu estou bem. Vamos voltar.

Ele estava sério sobre isso e a Tegoshi só restou ajudá-lo a recolocar a armadura. Permaneceram juntos até o final da batalha. Tegoshi sentia-se responsável e não quis se afastar daquele homem, não queria deixá-lo desprotegido, embora tivesse que admitir que Yamashita pudesse cuidar de si próprio, mesmo ferido.

Yamashita agüentou bravamente o ferimento e continuou lutando até que os homens de Kamenashi batessem em retirada. Depois disso, a admiração de Tegoshi apenas aumentou.

Por sorte, nada de mais grave aconteceu. No acampamento, Tomohisa foi tratado devidamente e depois seus caminhos se separaram. Soube que ele não foi enviado mais para as batalhas, precisava se recuperar e quando receberam o aviso de que poderiam voltar para o palácio do clã, escutou alguma coisa sobre os Yamashita pedirem permissão para ficarem na cidade anterior ao palácio.

Não foi possível que eles conversassem e Tegoshi continuava a remoer sua fraqueza e o seu descuido, acreditando que, fora do calor da batalha, Tomohisa teria refletido melhor e percebido que ele não passava de um samurai medíocre.

Alguém tocou em seu ombro. Era Nakamaru Yuichi, que lhe sorriu e o avisou que o banho estava livre. Ele ainda bateu de leve em seu ombro e disse, solidário:

– Ficar pensando não vai mudar o que aconteceu. Vamos descansar e depois vamos nos esforçar nos treinos, está bem?

– Nakamaru-san...

– Un?

– Eu sempre pensei que um erro em uma luta de verdade poderia ser fatal. Para mim.

Nakamaru sentou ao seu lado, ainda com a mão em seu ombro.

– Pessoas podem morrer por um erro seu. É muito cruel, a guerra. Temos que matar outras pessoas e somos responsáveis por muitas outras. E é difícil o momento em que você percebe o peso real que estamos carregando em nossas costas. Mas, sabe, Tegoshi? São nesses momentos que você pode encontrar a sua verdadeira força. Por que... Pode ser desprezível dizer isso, mas... Entre o seu inimigo ou uma pessoa querida, qual delas você prefere ver inerte no campo de batalha?

– Isso...

– Parece errado ter que escolher a morte de uma pessoa, mas, no final é o que fazemos. E para proteger seus amigos e familiares, neste momento em que estamos vivendo, inimigos devem morrer. Eles terão o mesmo objetivo, por isso você precisa encontrar a sua força para proteger o nosso clã e as pessoas que são importantes. Não podemos hesitar.

 – Nakamaru-san tem razão... Mas... É muito difícil... É tão diferente dos treinos... A velocidade, o golpe das espadas, o sangue jorrando a nossa frente... As dores...

– É muito difícil... Mas vamos fazer o nosso melhor, está bem? E se não for suficiente, morrer com honra e a certeza de que fizemos a nossa missão. Agora chega. Estamos de volta. Nós cumprimos a nossa missão. Os homens de Kouji recuaram do Vale Leste e é isso que importa. Vamos tomar banho, encher a barriga e descansar por hoje.

– Hai! Arigatou, Nakamaru-san!

4

– O jardim do clã Akanishi é magnífico.

Ele parou no meio da pequena ponte vermelha que atravessava o lago. Olhou as carpas nadando tranquilamente e produzindo um belo contraste de cores. Não recebeu uma resposta e Kazuya olhou para trás.

– Não vai me dizer que nem ao menos vai manter uma conversa amena? Estamos falando da natureza, não pode ser uma conversa perigosa.

Tanaka apenas piscou. Kazuya, irritado, apressou os passos, mas o samurai permaneceu parado e a algema obrigou o prisioneiro a parar. Olhou com irritação novamente para o samurai, que estava com um dos braços erguidos, mostrando a algema que os ligava. Era a condição para que pudessem caminhar pelo jardim. Tanaka não o deixaria tão livre quanto Nishikido, era óbvio.

Não era algo ruim estar preso àquele samurai, no entanto. Mas não conseguia entender aquele homem que foi capaz de toques carregados de paixão minutos atrás e que agora estava novamente vestindo seu manto de frieza. Era irritante. Mas não podia esperar menos de um samurai tão bem treinado. Tinha que tomar cuidado e não perder a calma.

Voltaram a caminhar entre os pinheiros. O silêncio era algo que sempre o agradou, mas, desde que se transformou em um prisioneiro, mudou de opinião. Silêncio, que antes era a tranqüilidade, agora significava restrição. Ali estava quieto demais.

– Por que pararam com a tortura?

Quando Tanaka voltou, ele identificou novas marcas no corpo de Kamenashi. Descobriu que Nishikido estava fazendo algumas sessões de tortura, sob a ordem de Kimura. Contudo, Kamenashi Kazuya deixou de ser uma fonte de informações no momento em que foi capturado. Seu pai rapidamente modificou tudo o que seu terceiro filho poderia informar aos inimigos. Kamenashi Oda era um homem astuto e eficiente.

– Seu pai. – Tanaka respondeu.

– Ele mudou tudo o que eu disse, certo? Eu disse isso a Nishikido-dono. Nosso clã possui quatro planos de defesa. Três foram entregues aos filhos, cada um recebendo apenas um. O último é de conhecimento apenas de nosso pai. Assim, era óbvio que tudo o que eu sei e poderia informar ao inimigo foi totalmente descartado e modificado com base nos outros planos. Sei tanto sobre o clã Kamenashi agora quanto vocês.

– É o que parece.

– Assim... Porque ainda me querem? Por que não me matam ou me permitam preservar a minha honra?

– Mesmo que a morte honrada esteja no caminho de um samurai, o clã Akanishi não trabalha com mortes desnecessárias.

Ele se virou surpreso. Não esperava por uma resposta e certamente não esperaria por essa resposta. Ficou ainda mais surpreso ao ver o sorriso em Tanaka.

– Akanishi-dono tem um pensamento diferente.

– E... O que ele está planejando?

Kazuya fez a pergunta, mas sabia que a conversa estava encerrada. Tanaka passou a caminhar a sua frente, escolhendo a direção que deveriam tomar.

5

Ele entregou as roupas sujas para um criado e depois arrumou o seu futon. A pele após o banho estava bastante confortável sob o tecido de algodão e, quando se deitou, sentiu todos os músculos cansados e machucados agradecerem o descanso. Estava tão cansado que adormeceu rápido e nem ao menos percebeu. Quando despertou por causa de um barulho, já era noite do lado de fora.

Nakamaru piscou algumas vezes até reconhecer os pés de Ueda. O mais velho ajoelhou-se e então a vista de Yuichi enquadrou a bandeja com a sua refeição. Agora que estava mais consciente percebeu que estava faminto.

– Nem ao menos foi comer. – Ueda o bronqueou – Não seja tão relapso com a sua saúde.

Yuichi respondeu com um grunhido que não significava nada. Sentou-se e se endireitou para poder jantar. Percebeu, então, que naquele aposento que era dividido por dez samurais, estavam apenas os dois. Os demais ainda deviam estar jantando, ele concluiu. Depois olhou para o amante e notou o braço enfaixado do outro rapaz. Tatsuya, ao perceber a sua atenção, apenas disse:

– Corte superficial. Único ferimento. E você?

– Apenas escoriações leves. Nem derramei muito sangue. – sorriu de canto. – Fui melhor que você?

– É o que parece. Então as lições de defesa de Nishikido surtiram efeito?

– Ah, aquele cara tem um gênio terrível. Não gosto dele.

– Não diga isso tão facilmente e nem abertamente. Ele é perigoso.

– Só estou dizendo isso a você... Sei que ele tem influência entre nossos superiores.

– Em todo caso, apenas tire proveito de tudo o que ele fizer com você. Como melhorar a sua defesa. Fico contente que tenha evoluído um pouco mais. Vamos, alimente-se.

– Itadakimasu. – ele agradeceu unindo as mãos e tomou primeiro o caldo de missô. – Tegoshi ainda está deprimido?

– Ele parecia abatido durante o jantar. E é justo que esteja... Ele é inexperiente em batalhas, mas essas lições, por mais cruéis que sejam, vão ajudá-lo em sua formação.

– Você sempre com esse olhar frio sobre os sentimentos dos outros.

– Não fui eu que o mandou escolher entre matar um inimigo ou deixar um amigo morrer. – Tatsuya exibiu um sorriso de canto.

– Ah, ele contou é?

– Ele comentou que recebeu um conselho valioso. Mas, ne, Yuichi...

– Ah-ah! Eu sei que vai me bronquear por ser tão sentimental. Poupe-me desta vez, estou cansado.

Tatsuya se calou e apenas olhou de forma carinhosa para o outro samurai, que ficou confuso.

– Não vou receber uma bronca?

– Quando não estamos no campo de batalha, seu sentimentalismo é... Adorável. – ele disse e encostou seus lábios ao do rapaz, rindo depois da sua expressão abobalhada.

6

Jin tentou arrancar alguma informação da sua mãe, quando ela veio lhe fazer companhia após o jantar, sobre o desvio dos Yamashita durante a viagem de volta, mas teve que se resignar com o fato de que ela sabia apenas de que se tratava de um assunto pessoal. O angustiava que Tomohisa não houvesse mencionado sobre isso antes de partir.

– A febre parece que baixou... – e depois ela repousou um olhar na bandeja vazia com alívio – Que bom que está conseguindo se alimentar. Esse ambiente tenso da guerra prejudica muito a sua saúde. Devíamos mesmo considerar a hipótese de enviá-lo para o Sul...

– Haha-ue... – ele fez uma careta.

– Oh, não se alarme sobre o casamento... Seu pai e eu conversamos sobre a questão e decidimos enviar seus sentimentos à família da jovem agradecendo por terem aceitado a proposta.

– Verdade? Espero não prejudicar nossa família pela minha atitude egoísta...

– Não é uma atitude egoísta. Certamente a família da moça vai perceber que você está mais preocupado com o futuro dela. Tenho certeza de que vão compreender seus nobres sentimentos.

– Eu espero que sim... Estou muito agradecido, Haha-ue... Desculpe por apenas trazer preocupações a vocês.

– Não pense dessa forma, meu querido. – ela lhe sorriu e passou a mão em seu rosto. – Ainda assim, acredito que deveria se afastar do clima da guerra...

–... Vocês estão com medo que o palácio seja atacado? Chichi-ue não se renderia antes que isso acontecesse?

Ela virou o rosto e não quis responder essa questão. Jin também não insistiu. Pensava que sua presença no palácio em um momento assim realmente só atrapalharia ainda mais os seus pais.

– Poderia partir acompanhado de Tomohisa? – ele perguntou. – Não quero ir sozinho.

– Tomohisa é a sua companhia preferida, não é meu filho?

– Ele está comigo desde quando éramos criança... E sei que ele não me tolera pela minha posição social ou por pena de minha saúde. Ele foi o único amigo que eu realmente pude conquistar por ser quem eu sou. E se tornou um excelente samurai. Sentiria-me mais seguro viajando com ele.

– Conversarei com seu pai a respeito. Agora vou deixá-lo descansar. Durma bem.

– Oyasuminasai, Haha-ue.

Após a saída de sua mãe, Jin exibiu um sorriso. Era um pensamento egoísta o que estava tendo. Viajar com um dos melhores samurais quando seu clã estava em guerra, mas... Seria realmente agradável poder viajar com Tomohisa para longe daquela guerra. Apenas os dois. Poderiam fazer memórias incríveis que tornaria completamente feliz a sua breve vida. Adormeceu com esse sonho.

7                  

Yuichi caiu novamente no sono, ele estava mesmo cansado. Tatsuya ajeitou a sua franja e acariciou seu rosto antes de se levantar e sair do quarto. Do lado de fora, entregou a bandeja para uma criada e depois tinha a intenção de se reunir com os outros samurais que ainda estavam descontraídos conversando na área reservada para as refeições. Era a sua intenção, mas, no meio do caminho o encontrou.

Usava quimono preto e seus cabelos estavam soltos, caindo sobre os ombros. Ele tinha um ar de quem sempre estava pronto para dar o bote. Ueda tentou passar por ele apenas com um breve cumprimento, mas, como era de se esperar, Nishikido o impediu colocando-se a sua frente.

Ele era impulsivo e inconseqüente agindo dessa forma. Alguém poderia aparecer e escutar suas palavras, que certamente seriam inapropriadas. Olhou de canto para o moreno.

– Tatsuya, eu realmente falo sério quando digo que abandono qualquer coisa por você.

– Já lhe respondi que a falta de lealdade é algo que eu realmente abomino.

– Você realmente prefere que eu seja leal ao meu senhor do que a ti?

– Sim. Isso me faria satisfeito. Se realmente tem algum sentimento sincero por mim, esqueça-o e apenas seja útil ao seu senhor. Nishikido-dono é um samurai com bastante potencial. Por favor, concentre-se no caminho da espada. Tenho certeza de que se tornará um grande samurai com muito prestígio.

Ele tentou novamente seguir em frente, mas, em um gesto repentino, sentiu a mão de Nishikido apertando o seu pescoço. O seu braço direito foi contido pela outra mão de Nishikido e só lhe restava a mão esquerda para tentar afrouxar aquela garra em seu pescoço. Encararam-se.

– Ouça bem... – Nishikido disse – Que meus atos serão exatamente como Ueda está me dizendo para fazer. Esteja consciente e agüente as conseqüências.

Ele o soltou e ainda o empurrou para trás. Depois se dirigiu para seu quarto, deixando o outro samurai para trás perplexo com a sua atitude e suas palavras.

8

Para não pensar em Tomohisa nos dias que se seguiram, Jin tentou encontrar alguma forma para que pudesse voltar a conversar com Kamenashi. Algumas vezes conseguiu coincidir seus passeios com os horários que Tanaka o levava para tomar Sol. Mas estava sempre na companhia de Takizawa e duvidava que, mesmo se não estivesse, Tanaka permitisse alguma aproximação. Assim, apenas trocaram cumprimentos e olhares. Tanaka era um samurai muito disciplinado, não teria forma de se encontrar com o prisioneiro enquanto ele fosse o seu vigia.

Jin deixou de pensar nisso e preferiu desenhar. Ele, então, passou o resto da tarde pintando, ignorando os comentários do samurai para voltarem, que estava anoitecendo e ele não deveria tomar essa friagem. Cansado de ouvir essas recomendações, Jin cedeu e decidiu voltar.

O encontro entre eles foi tão casual que Jin pensou que seu coração parou de bater por tempo demais. Eles estavam no corredor da casa principal, onde ficava o quarto de Jin, e ele estava vindo da direção oposta. Certamente tinha ido procurá-lo em seu quarto e não tinha o encontrado, foi o que Jin concluiu.

Tomohisa se curvou para cumprimentá-lo como se deveria. Jin teve que conter sua alegria diante de Takizawa e, impaciente, esperar que os dois samurais trocassem também cordialidades para, então, pedir a dispensa de Takizawa. Enquanto isso notou que Tomohisa devia ter se banhado a pouco, seus cabelos ainda estavam molhados e soltos. Não estava com a sua armadura, obviamente e, portanto, não chegou recentemente. Jin estranhou isso. Por que ele não veio lhe ver imediatamente, como era seu costume? Talvez tivesse assuntos para tratar com seu pai, mas... Ao menos aparecer diante de si para tranqüilizá-lo ou ao menos uma mensagem de seu regresso.

– Takizawa... – Jin tinha a intenção de dispensá-lo, mas foi interrompido.

– Gostaria de aproveitar a chance de notificá-los que a partir de hoje Takizawa-san será o responsável pela segurança pessoal de Akanishi-sama. Logo mais Kimura-dono deverá comunicá-lo oficialmente, mas pode continuar com a função.

O samurai agradeceu o aviso, enquanto Jin tentava absorver aquela informação. Olhava para o rosto de Tomohisa sem acreditar em sua tranqüilidade. Deveria existir uma razão para isso e certamente o amante o explicaria mais tarde. Ele engoliu a vontade de questionar essa mudança. Ainda assim, ele se incomodou com o fato de que Tomohisa não olhava em sua direção, ainda que isso fosse um sinal de respeito pela sua posição. Mas tanta formalidade estava sendo exagerada, mesmo pela presença de Takizawa, pois era conhecimento de todos que Tomohisa era seu melhor amigo.

– Peço licença para me retirar. – e Tomohisa se curvou mais uma vez e passou por eles.

– Espere.

Tomohisa se virou novamente.

– Janta em meu quarto hoje?

– Agradeço o convite e sinto em recusar. Teremos treino noturno. Com licença.

Ele estava querendo se manter distante e Jin ponderou se seria por causa de algum ferimento. Se fosse isso, não era um ferimento grave que o impedisse de seguir sua rotina. E Tomohisa não costumava evitar a sua companhia, apenas evitava lhe mostrar os ferimentos. Tomohisa estava frio e formal e Jin não conseguia imaginar o motivo.

9

Seus passos eram leves, mesmo enquanto corria, ele pisava apenas com as pontas dos pés. Apenas por causa da sua velocidade dentro dos corredores do palácio que se poderia dizer que algo urgente havia acontecido, pois seu rosto mantinha a tranqüilidade de sempre.

Os criados abriram caminho quando viram o samurai Ueda se aproximando e o observaram se afastar sem receber uma palavra de volta aos seus cumprimentos. Tal grosseria também não fazia parte do seu caráter, que, mesmo se tratando de pessoas em um nível inferior ao de um samurai, ele sempre mantinha a educação.

Não era de demonstrar seus sentimentos. Cresceu sabendo que precisava sempre mantê-los sobre seu controle. Sendo racional, ele sempre estaria um passo a frente de seu inimigo. Poderia manter seus olhos atentos por mais tempo que uma pessoa que se deixa dominar pelo sentimento. Era nisso que seu treinamento desde criança foi baseado. E era nisso que ele acreditava.

Aquele dia estava reservado para um treino noturno, mas, devido algumas urgências, Kimura-dono resolveu trocar por um treino de direto. Dividiu os samurais em turnos e em duplas. Ueda treinaria mais tarde, estava dispensado na primeira parte dos treinos. Contudo, Nakamaru tinha sido escolhido para o primeiro grupo. Junto com Nishikido Ryo. Ueda não se preocupou por que eles estariam sob a supervisão de Kimura-dono, mas...

Estava conversando com os outros samurais selecionados para o segundo grupo quando o novato, Tegoshi, apareceu assustado. Ele ainda estava sem fôlego e suas palavras não foram compreendias por completo. Ueda apenas entendeu:

– Nakamaru-san... Treino... Cabeça... Inconsciente.

O que foi suficiente para que ele se levantasse e corresse em direção à área em que o treino estava ocorrendo. Quando já estava próximo, ele notou duas situações. Nakamaru parecia estar recobrando a consciência e estava sendo amparado por Tomohisa e outro samurai. A outra era Nishikido caminhando sozinho em direção ao bosque.

Ueda não teve dúvidas. Seguiu Nishikido.

10

Ele viu a pedra e um desnível no gramado e a idéia se tornou ação antes mesmo que pudesse refletir melhor. Um golpe mais forte fez com que Nakamaru se desequilibrasse no desnível e fosse ao chão. Bateu a cabeça na pedra, perdendo a consciência.

O tumulto foi rápido, o capitão Kimura controlou a situação enquanto tentava reanimar o samurai. O médico Toda foi chamado e ele fez as primeiras tentativas de reanimar o rapaz.

Enquanto isso, Kimura-dono chamou a atenção de Nishikido. Admitiu que tinha sido um belo golpe, mas pediu para que o samurai não esquecesse quem eram seus aliados e seus inimigos.

Nishikido se curvou e pediu desculpas ao superior e depois se afastou em direção ao bosque, onde ninguém o incomodaria e ele poderia saborear aquela pequena vingança. Andou por entre as árvores algum tempo. Não esperava ouvir justamente aquela voz chamar seu nome.

– Nishikido.

Ele se virou e recebeu um punho em seu rosto que o fez cambalear alguns passos. Contudo, não chegou a cair, ele conseguiu recuperar o equilíbrio. Olhou para Ueda e encontrou o rapaz o encarando. Finalmente, alguma reação de Ueda além de ódio ou indiferença. Ueda estava bravo. Nishikido sorriu de canto, enquanto levava a mão à boca. Viu seus dedos sujos de sangue. 

– Está bravo porque machuquei o seu amiguinho?

– Você é pior do que eu pensei. Deixa de lado suas obrigações como um samurai por causa de um desejo tão mesquinho. Machuca um aliado, prejudicando nossa guerra, devido a um sentimento tão vil.

– Tatsuya pode ficar sossegado que certamente Nakamaru não fará a menor falta durante uma batalha. Feh... Não se iluda, meus gestos não são passionais. Se o meu oponente fosse Tomohisa, um guerreiro que vale a pena, certamente pensaria duas vezes. E concluiria que não valeria a pena perdê-lo no campo de batalha.

– Não menospreze Nakamaru. Ele é duas vezes mais samurai do que você. Não se atreva a repetir o que aconteceu hoje.

–... Se não o que, Tatsuya? Vai querer perder um valioso guerreiro quando estamos em plena guerra? – ironizou.

Abalava o seu orgulho ter que admitir a habilidade do arrogante samurai com a espada. Era uma verdade que ele valia muito mais do que Nakamaru e ele juntos em um campo de batalha. Não podia prejudicar seu senhor fazendo-o perder dois guerreiros – pois com o que pensava em fazer com Nishikido certamente receberia a ordem de cometer o seppuku depois – assim, ele teve que engolir sua raiva e pensar com mais cautela. Manteve o silêncio enquanto apertava o punho e decidiu por ir embora.

Ele se virou e logo notou a movimentação, mas não foi rápido o suficiente. Foi empurrado para o chão com o peso do corpo do outro samurai por cima do seu. Virou o rosto para lado para olhar para Nishikido com todo o seu desprezo, enquanto se mexia com força para tentar se libertar. Sendo mais forte, em algum momento Nishikido teria que ceder e o libertar.

Ueda conseguiu se virar, ficando de frente para o rapaz. Notou, novamente tarde demais, que esse era o objetivo dele. Percebeu isso ao sentir sua respiração próxima demais e foi incapaz de resistir ao beijo, que foi rápido. Encarou o samurai, que riu e disse:

– Tatsuya... Sempre há uma forma de conseguir o que queremos...

– Vai apelar para a força? Você é desprezível...

– Não estava dizendo sobre mim... – ele retrucou – Embora seja bastante tentador imaginar você amarrado... Mas se quer que seu amigo não se machuque mais, você deveria ser mais inteligente.

– O que você está querendo dizer, afinal?

– Quer a proteção de Nakamaru? Posso protegê-lo durante a guerra, inclusive. E se quiser impedir que outro acidente aconteça, também posso ficar de olho sobre ele.

– Seu hipócrita, você é a causa desses acidentes!

– Enfim... Se quer algo, precisa dar algo... – ele resumiu – Seja gentil, Tatsuya... – ele fez questão de dizer isso colado aos ouvidos do samurai.

Nishikido se levantou e depois bateu em seu quimono para tirar os pedaços da grama. Observou Ueda fazer o mesmo, com gestos irritados.

– Você entendeu, não entendeu Tatsuya?

–...

– Uma noite apenas... É só isso o que eu estou pedindo. Você pode pensar... Me dê uma resposta em até dois dias. 

Satisfeito, Nishikido se afastou. Ueda permaneceu em seu lugar, respirando com raiva e procurando recuperar o fôlego. A sua mente, agitada, começava a calcular o peso daquele dilema. Proteger Yuichi ou proteger o amor deles?

Ueda sempre foi prático, alguém que enxergava rápido o que era objetivo e que traria o melhor resultado. Contudo, ainda não era capaz de perceber que os assuntos que envolvem os sentimentos nem sempre são uma conta exata...

11

Abriu a boca e o pedaço do pêssego foi colocado em sua língua. A fruta estava extremamente doce, o que o fez se lembrar que, quando criança, raramente comia doces porque em sua casa seguiam uma dieta rigorosa – em partes por causa também do trauma do grande incêndio e o receio de seu pai em ter que novamente racionar a comida – sempre pensando no melhor para o condicionamento de futuros guerreiros.

Kazuya só experimentou comidas saborosas e fartas quando passou a visitar as casas noturnas. Lembrava-se das noites em que saía para beber, transar e comer frutas à vontade. Isso parecia tão distante.

– Tanaka-dono tem irmãos? É claro que não vai me responder. Tanaka-dono sabe que eu tenho três irmãos. Mas o único que vale a pena é o Yuya. Ele gosta de mim. Por que eu não o trato como os nossos irmãos mais velhos. – ele parou de falar para abrir a boca e deixar que Tanaka o servisse com mais um pedaço da fruta. Mastigou e apreciou o sabor. – Em casa fomos criados para nos tornamos guerreiros. Meus irmãos mais velhos se empenham bastante nesse propósito. Não temos tempo para sermos sentimentais... Mas... Quando morrer... Eu apenas gostaria de saber se Yuya estará bem... Mesmo que for somente naquele momento.

Tanaka notou algo estranho no semblante de Kamenashi. Seu olhar parecia diferente. Imaginou se ele estaria sendo sincero. Provavelmente estava, fazia alguns meses que ele estava no palácio de Akanishi, sem poder conversar com ninguém além dele, e, por mais astuto que pudesse ser, as conseqüências de um isolamento estavam começando a aparecer.

Kazuya estava mais falante e parecia não se importar em não receber respostas. Tudo o que ele precisava era falar. E estava contando sempre sobre sua família. Tanaka observou que ele sempre parecia amargurado quando falava de outra pessoa que não fosse Yuya. Parecia que ele realmente sentia carinho apenas pelo irmão caçula.

– Akanishi-sama deve ser uma pessoa benevolente como dizem. Ele cuida muito bem do seu primogênito, mesmo doente.

Tanaka apenas pegou outra fruta do cesto e começou a descascá-la. Kamenashi continuou a dizer de forma cansada:

– Se fosse a minha família, certamente ele seria morto. Os jovens têm que ser úteis... Assim... Por que Tanaka-san acha que meu pai pediu para continuar vivo? Talvez ele pense que eu possa ser útil ainda. Mas ele não está contando com o fato de que estou nas mãos de um samurai como Tanaka-san. Não posso ser útil. Quando meu pai perceber isso, terei autorização para cometer o seppuku... Mas Tanaka-san não permitirá isso, Tanaka-san me disse que não permitiria. Não entendo porque o clã Akanishi me quer vivo...

– Já disse que não trabalhamos com mortes inúteis.

– Eu não tenho nenhuma utilidade vivo.

– Nenhuma vida é inútil. Akanishi Jin-sama nasceu com muitos problemas. E no último verão completou vinte e cinco anos. Não acha que existe algum motivo para isso? Uma vida inútil não existe. Vidas inúteis não chegam a nascer. Itte... Tsc...

Concentrado naquele assunto, Tanaka acabou deixando a faca cortar seu dedo. O sangue escorreu pelo dedo e atraiu o olhar do mais novo.

– Tanaka-dono... – e ele deixou os lábios entreabertos.

O samurai olhou para ele sem entender. Kamenashi indicou o seu dedo com o olhar e abriu mais a boca. Tanaka franziu a sobrancelha, mas pareceu ter compreendido. Ele aproximou seu dedo dos lábios rosados e deixou que o prisioneiro sugasse o seu sangue. A língua deslizou pelo dedo e depois pequenas sucções se seguiram. Kamenashi admirou o rosto confuso do samurai. Era interessante quando descobria coisas que eram novidades confusas para Tanaka. O seu rosto era realmente apreciável nesses momentos.

– Eu quero... De novo. – ele disse, quando terminou com a ferida.

– Nani?

– Tanaka-dono.

–...

– Quero fazer sexo com você.

Pela primeira vez, o samurai desviou o olhar dos seus, não sendo capaz de vencer essa batalha. Ele não respondeu, pegou um pêssego foi se sentar no canto do quarto, ignorando completamente o prisioneiro. Mordeu a fruta e deixou seu olhar se perder pela janela.

12

Jin e seu irmão estavam jogando shogi enquanto seus pais tomavam chá após o jantar. Apesar da expressão desanimada do primogênito, a refeição foi feita de forma tranqüila depois de muito tempo. A guerra estava começando a tomar um rumo em que o líder do clã era obrigado a se locomover com mais freqüência, seja para conquistar novos aliados, seja para organizar os próximos passos.

– Tenho certeza de que desta vez vou pegar o seu rei, ani-ue! – Reio disse com disposição.

Jin lhe sorriu e pediu que fizesse a sua grande jogada. A forma como seu irmão pensou o surpreendeu, Reio estava realmente amadurecendo rápido. Devia ser por causa dos treinos. O mais novo olhou com arrogância e um riso zombeteiro. Mas ainda era mais inexperiente que Jin, que moveu suas peças com delicadeza e não só salvou o seu rei, como encurralou o de seu irmão.

– Não posso acreditar nisso. – Reio piscou diversas vezes. – Me explica como você fez?

– Algumas coisas você tem que aprender por conta própria. – ele disse, gentilmente. – Estou cansado. Vou para o meu quarto. Jogaremos mais em outra ocasião.

Antes que Jin pudesse se levantar, porém, bateram na porta. O comandante Kimura se anunciou e seu pai autorizou a sua entrada. O samurai cumprimentou a todos e trocou algumas palavras sobre a saúde de Jin, que lhe sorriu e agradeceu a preocupação. Também comentou a evolução do caçula Reio com a espada.

– Kimura-san, não deveria estar no treinamento noturno programado? – o líder Akanishi questionou.

– Akanishi-dono, dispensei o treinamento esta manhã. Recebemos a informação de que as tropas de Kamenashi Yuichiro estão se preparando para atacar. Acredito que seja mais prudente esperarmos pela confirmação, pois, se for necessário, enviaremos mais homens. Assim achei melhor que o treino fosse focado no combate direto ao invés de técnicas noturnas.

– Ah sim. Nessas circunstâncias fez bem, muito bem. Por favor, sente-se e nos acompanhe no chá.

O samurai agradeceu e depois entrou no assunto que o trouxe até ali, sobre as novas alianças com feudos vizinhos. Jin aproveitou o momento para se retirar, despediu-se educadamente de todos.

No corredor, ele ficou parado alguns instantes. Uma mão segurando a gola de seu quimono azul marinho, aflito. Tomohisa mentiu para ele e nem ao menos se deu ao trabalho de ser uma mentira consistente. O treinamento tinha sido trocado logo pela manhã. Ainda que Tomohisa por algum motivo não soubesse dessa troca, não justificava porque não o procurou após o treino.

Porque ele o estava evitando dessa forma? Pensou se teria irritado o amante de alguma forma e não encontrou nada além das discussões sobre a guerra. Não seria motivo para tamanha frieza.

Assim, ele não teria outra opção além de perguntar diretamente ao amigo. Decidido, seguiu para o quarto de Tomohisa. 


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