Samurai No Forbidden Love escrita por Kitty


Capítulo 3
Capítulo 3




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Capítulo três


1


A chuva caía forte, como de costume durante o verão, sem se importar com o confronto que acontecia em terra. O sangue se misturava à lama, corpos desabavam, os gritos e os sons das espadas eram abafados pelos trovões.


Nakamaru Yuichi estava decidido. Não hesitaria. Não permaneceria próximo do local em que Ueda estava lutando. Seguiria com a ordem de abrir caminho para Yamashita pai e filho chegarem até os homens principais de Kamenashi Kouji.


Um guerreiro deve estar pronto para abrir mão de tudo, principalmente da sua vida, em época de guerra.


Estava cansado, a armadura estava começando a pesar, respirava com dificuldades, mas não desistiria. Lutaria até o fim. Firme em seu propósito, gritou:


– Pelo clã Akanishi!!!!!! Ahhhhhhhhhhhh!


Ele buscou forças e correu na direção do inimigo. Encontrou a espada dele e o choque metálico contra a sua deu início a uma nova luta. Seus movimentos estavam carregados de fúria e ele conseguiu forçar a defesa do adversário. Afundou a sua katana na carne inimiga. O sangue manchando a sua lâmina mais uma vez.


2


Naquela manhã, ele sentia uma terrível dor de cabeça, mas não quis preocupar sua mãe e saiu para tomar um pouco de Sol acompanhado de Takizawa. Foi um erro mostrar-se tão abatido após a conversa sobre o casamento, ele concluiu, depois de pensar melhor sobre o assunto. Poderia ter levantado alguma suspeita, mas, para sua sorte, seus pais creditaram à guerra o seu mal-estar. O que também não deixava de ser verdade.


Ele sentou-se entre as flores para admirá-las. A natureza era algo que o ajudava a se acalmar, ainda que seu coração jamais se aquietasse enquanto Tomohisa estava fora em alguma batalha. Ao menos conseguia se distrair um pouco.


– Por favor, retornem. Akanishi-sama está aqui.


A voz forte de Takizawa era sempre ameaçadora. Era uma das razões para Jin não gostar daquele samurai. Takizawa parecia que estava sempre esperando por uma oportunidade para atacar. O rapaz se virou para ver a quem o samurai ordenava que se retirassem e foi a primeira vez que ele o viu.


Kamenashi Kazuya não parecia um samurai. Ele tinha uma aparência tão delicada quanto a sua. A sua pele era tão branca quanto a sua. Parecia tão abatido quanto ele próprio. Jin ponderou que devia estar confuso, assim como ele. Kamenashi Kazuya e ele, por serem filhos dos líderes em combate, possuíam bastante pontos em comum.


E se fosse ele, Jin, prisioneiro do outro clã?


Esse pensamento veio tão rápido que Jin nem ao menos entendeu o seu significado. O que gostaria de descobrir se ele fosse um prisioneiro? Não sabia. Apenas sentiu vontade de conhecer melhor aquele rapaz.


Continuou observando-o até que, em certo instante, seus olhares se cruzaram. O prisioneiro não esboçou nenhuma reação, mas Jin não entendeu porque se sentiu envergonhado com aquele primeiro contato.


3


Ueda não se intimidou com a lança do inimigo. A luta tinha começado há um bom tempo, talvez já estivesse ocorrendo há horas, mas não importava. Ele jamais demonstraria fraqueza diante de seu oponente.


O guerreiro de Kamenashi avançou com bravura, acreditando que sua arma lhe daria vantagem. Ueda era ágil e mais veloz, conseguiu se esquivar no último segundo, um passo para o lado e então agarrou a lança, na parte de madeira. Todos seus movimentos foram rápidos demais. Ele aproveitou o instante em que o inimigo se surpreendeu quando ele se esquivou para forçá-lo a afundar a lança no lamaçal.  A arma fincou-se ao chão e Ueda chutou seu oponente para longe dela.


O inimigo escorregou e foi ao chão, desarmado. Ergueu os braços para se proteger do golpe da katana de Ueda, que foi certeiro no local onde a armadura vermelha não protegia o samurai. Outro inimigo morto.


Ele respirou fundo e, então, escutou um grito. Aquela voz era de Yuichi, ele sabia. Poderia reconhecê-la em qualquer situação. Mordeu os lábios, bradou o clã Akanishi e seguiu em frente com fúria.


Nada, jamais, em hipótese alguma o faria se desviar do seu caminho, da sua missão. Ele era um samurai, ele morreria com honra. Tinha plena confiança nisso. 


4


Seu interesse por Kamenashi o fez se distrair sobre seu futuro casamento e a preocupação com Tomohisa. De repente, estava pensando constantemente naquela figura apática e infeliz de seu prisioneiro. Certa manhã, enquanto tomava o desjejum em seu quarto, interrogou um dos empregados sobre o prisioneiro, pois imaginava que o fato de ter um prisioneiro era um grande assunto entre os serviçais. Ele não estava errado e a moça, que não devia ter mais de dezesseis anos, muito contente em poder conversar com seu jovem mestre tão bonito, não conteve a língua.


– Tudo estava indo bem enquanto Tanaka-dono era o responsável pelo prisioneiro. – ela disse e Jin pôde notar que ela sentia pena do prisioneiro – Ele o tratava com frieza, mas nunca o machucava. Desde que Nishikido-dono assumiu, escutamos as torturas. O samurai, que tem um ar tão delicado, está sempre gritando de dor quando eles ficam a sós. É um pouco assustador, porque é a primeira vez que isso acontece... Não estou dizendo que é uma coisa ruim... Acho que a guerra tem dessas coisas... E nosso senhor Akanishi, muitas vezes parece sofrer com esse tipo de coisa acontecendo em sua casa. A guerra é mesmo cruel. Nos faz passar por cima dos nossos sentimentos.

– As mulheres são mais sábias sobre este assunto. – ele disse, gentilmente, e sorriu para ela, que enrubesceu. – Não mude seu pensamento. A guerra é muito cruel. – seu coração doeu ao pensar em Tomohisa.  – E como é o prisioneiro?

– Não temos permissão para conversar com ele. Mas ele sempre sorri quando um de nós fica encarregado de alimentá-lo ou banhá-lo. E sempre agradece. Não tenta conversar conosco, acho que não quer nos prejudicar. Acho que, se fosse em outra situação, ele seria um excelente exemplo de gentileza. E é muito bonito também. – completou, timidamente, rindo baixo.

– Por favor, não se apaixone por nosso inimigo. – ele a repreendeu, mas com bom humor.

– Mas quando a guerra terminar, ele deixaria de ser um inimigo... Afinal, somos do mesmo povoado.

– Na sua idade, você deveria se concentrar em seus estudos.

– Sou grata por Akanishi-sama nos dar a oportunidade dos estudos. Mas estou quase chegando na idade de me casar. Não gostaria de me entregar para um homem sem conhecer o amor antes... Mesmo que não venha a amar o meu marido, quero saber como é esse sentimento.

– O amor é uma coisa boa. Seria bom que você casasse com alguém que ama.

– Ah, esse luxo... Não tenho esse direito. Akanishi-sama está apaixonado?


A garota de cabelos curtos e olhos vivos, que brilhavam intensamente durante toda a conversa, tinha realmente se esquecido com quem falava. Jin, no entanto, achava graça dessa liberdade e não a recriminava. Além disso, costumava brincar com Keiko quando ela tinha apenas quatro anos, idade em que chegou ao palácio. Certamente ela não deveria se lembrar, pois quando começou a tomar consciência, a Jin já não era mais permitida tantas atividades ao ar livre. Ele, contudo, tinha um afeto sincero por ela.


– Sobre isso... Eu não contarei.


Ela pareceu decepcionada. Ele riu e depois pediu para que ela retirasse os pratos. Keiko ainda alegou que ele mal tocou na comida, mas Jin garantiu que estava satisfeito e ela o deixou sozinho.


Uma pessoa gentil...

                                          

Tomohisa não quis lhe contar, mas, então, as torturas começaram. Realmente entendia que era necessário ser agressivo com um inimigo, no entanto, não conseguia esquecer que o prisioneiro também era um ser humano. Que ele tinha uma vida. Tinha família. Talvez até mesmo estivesse apaixonado.


E se Tomohisa fosse capturado? A dor que sentiria era incalculável se ele fosse torturado até a morte. Kamenashi podia também ter uma pessoa que estava esperando pelo seu regresso.


A sua situação era realmente terrível. Não conseguiu esquecer esse pensamento.


5


Os golpes eram mais pesados quando lutava com uma katana. Ele sentia seus pés escorregarem enquanto bloqueava um golpe do inimigo. Essas diferenças entre uma luta de verdade e os treinos com as espadas de madeiras o assustavam. Tegoshi Yuya engoliu o medo. Não devia pensar sobre isso.


Os sorrisos das pessoas que ele amava. Era nisso que Yamashita-dono tinha lhe ensinado. Ele precisava valorizar a sua vida. Tinha que proteger o clã e tinha que proteger sua vida. Deveria tirar forças desses ideais.


Precisava voltar vivo. Precisava. Colocou mais força em seu bloqueio e obrigou o inimigo a recuar. As espadas se separaram, os oponentes se encararam e logo voltaram a colar suas espadas uma na outra. Então ele usou um golpe que tinha assistido Ueda praticando certa vez. Recuou e, enquanto seu inimigo estava despreparado pela falta de resistência, girou o corpo e o atingiu na lateral.


O samurai de Kamenashi caiu ajoelhado, a mão no ferimento, a cabeça baixa. O elmo, ele tinha perdido em algum confronto anterior. Tegoshi, então, aplicou o golpe final. A cabeça do samurai rolou pela lama.


Aquela imagem era forte e Tegoshi se sentiu paralisado. Não era a primeira vez que matava, mas era a primeira vez que decepava alguém. Sentiu sua mente embaralhada e um pequeno desespero que ele logo tratou de reprimir. Foram breves segundos, mas o suficiente para uma sombra se projetar atrás dele.


Ele se virou e não teve tempo de mais nada além de se jogar de costas no chão. Sua katana escapou da sua mão e ele não seria rápido o suficiente para recuperá-la. Olhou para seu inimigo, ele estava com os braços acima da cabeça pronto para lhe matar.


Tegoshi sentiu muito medo.


Foi quando alguém entrou na sua frente e recebeu o golpe. Os olhos de Tegoshi se alargaram quando ele viu a espada atravessando o ombro de Yamashita.


6             


Outros encontros pelo jardim aconteceram. Os contatos entre Kamenashi e Jin começaram a aumentar. Os olhares foram constantes, os de Kamenashi intensos em sua direção, os de Jin vagos e tímidos. Um sorriso surgiu por parte do prisioneiro. Um cumprimento e inclinação em sua direção quando passaram lado a lado, ele voltando para sua prisião, Jin começando o seu passeio.


A sensação de que precisava conhecê-lo melhor aumentava a cada encontro. Jin continuava conversando com Keiko sobre a rotina do prisioneiro e descobriu que Nishikido não dormia no quarto que era a prisão de Kamenashi como Tanaka costumava fazer. Ele dormia no quarto ao lado, e alguns serviçais ficavam de vigia na porta. Jin, então, pediu ajuda para Keiko. Pediu para que ela descobrisse quem seria o vigia naquela noite e colocasse algo para ele dormir em sua comida. Ela hesitou, mas Jin soube facilmente convencê-la com seu jeito bondoso e elegante.


Assim, quando Kamenashi estava adormecendo, ouviu o barulho da porta se arrastando e o roçar de tecidos quando passos leves adentraram no quarto. Virou-se e encontrou a imagem de Akanishi parado próximo a porta. Ele segurava uma vela e, com o quimono branco que vestia e os cabelos soltos, parecia uma imagem fantasmagórica.


Kamenashi teve que conter seu riso de deboche. Não acreditou na ingenuidade daquele rapaz. Nem precisou se esforçar muito para conquistar a sua simpatia. Nishikido tinha razão, ele era realmente uma presa fácil.


– Akanishi-sama...? – fingiu surpresa.

– Kamenashi-dono. – e, dessa vez, Kamenashi ficou um pouco surpreso de verdade. Não imaginava que seria tratado com igual respeito. – Por incomodá-lo durante o sono, eu peço desculpas. Seus ferimentos? – a voz dele era baixa e lenta. Era uma voz bonita.

– Eu devia dizer que estão melhorando? – e sua voz soou sofrida. – Mas parece que estou com alguma reação alérgica. Novas feridas estão surgindo.


Akanishi se aproximou. Deixou a vela sobre o móvel de bambu e se ajoelhou próximo ao rapaz. Pediu licença e ergueu a manga do quimono de Kamenashi. Muitos cortes recentes cobriam seu braço. As marcas causavam um grande contraste por causa da sua pele branquinha. Jin deslizou seus dedos pela região e notou quando o outro rapaz estremeceu pela dor.


Não estava doendo, mas Kamenashi não podia deixar passar tal oportunidade. Contudo, admirou o toque macio do outro rapaz. Sua mão parecia uma seda. Todos os rumores a respeito do filho mais velho de Akanishi estavam se mostrando verdadeiros. Um jovem, belo e delicado rapaz que, por conta da frágil saúde, foi criado cercado de cuidados e de tal modo que poderia superar a elegância das moças mais finas de qualquer região. Por não ter crescido como um samurai, havia se transformado em uma pessoa sensível e benevolente.


Os Akanishi poucas vezes se envolveram em guerras. Sempre adotaram uma posição pacífica. Desta vez, porém, como se tratava de um impasse direto que envolvia os Akanishi, não foi possível impedir a batalha. Assim como as pessoas daquela família não deviam estar acostumadas com este ambiente.


Jin não entendia nada do que estava sentindo. Parecia que aqueles ferimentos lhe causavam uma atração irresistível. Tomohisa nunca permitiu que ele visse seus ferimentos. Quando acontecia dele se ferir em algum treinamento, ficava algum tempo evitando a presença de Jin e, quando se encontravam, não permitia que o outro tirasse seu quimono. Nunca antes tinha visto as marcas reais da guerra. Ainda que não fossem feridas feitas em um campo de batalha.


– Essa guerra... Eu não entendo o seu significado.

– É por que não é um samurai.


Não foi uma declaração feita com o objetivo de ofendê-lo ou machucá-lo, mas Jin se incomodou. Contudo, tinha que aceitar aquela afirmação, era verdade, afinal. Não era um samurai. Por mais que conhecesse seus ensinamentos. Era apenas como se estivesse lendo um livro, ele não podia praticar os preceitos do bushidô.


– Kamenashi-dono tem quantos irmãos?

–... Três.

– Mais velhos?

– Dois mais velhos e um caçula. Não está na idade de ir para o campo de batalha, mas já está sendo treinado devidamente.

– Que família grande. Deve ser agradável...

– Tenho boas memórias. – mentiu. A sua família era uma família de guerreiros. Mas Nishikido havia orientado que devia capturar Akanishi pelo seu sentimentalismo. – Gostávamos de nadar na cachoeira próxima de casa. A água de lá é realmente gelada, mesmo no verão. Fazíamos competições de resistência.


Akanishi sorriu e ouviu sua história com atenção.  E as próximas noites seguiram-se iguais. Sempre que podia, escapava para o quarto de Kamenashi para ouvir mais sobre suas lembranças, as pessoas que ele amava e do que sentia saudades. Por vezes trazia doces que roubava de sua própria refeição para o prisioneiro. Uma noite chegou a levar uma pomada para aliviar as dores de seus ferimentos e trocou os curativos. Orientou a Kamenashi para informar a Nishikido, caso ele desconfiasse, que foi o vigia noturno quem trocou seus curativos. Por estar dormindo na hora do serviço, ele não se atreveria a negar.


Pouco a pouco, dia após dia, Kamenashi conquistava cada vez mais a simpatia de Jin, o qual, sem ter muita experiência sobre as personalidades humanas, não percebia que estava sendo envolvido pelo astuto samurai. E nem percebia que, em suas conversas, estava deixando escapar o seu principal segredo. Foi quando, conversando novamente sobre o significado daquela guerra, Jin argumentou que arriscavam valores maiores do que o que estavam em disputa.


– Akanishi-sama está dizendo que a segurança e o futuro do povoado é algo sem importância?

– Não. Não é isso. Estou dizendo que derramar sangue do nosso povoado para protegê-lo é que não faz sentido nenhum. Estamos arriscando as vidas de pessoas valiosas quando poderíamos pedir ao Xogum para que escolhesse qual clã deveria ter seu líder como nosso Daimyo.

– Seria uma escolha imposta.

– Seria uma decisão pacífica. Kamenashi-dono não quer voltar para sua casa e rever as pessoas que lhe são importantes? Tenho certeza de que seus pais estão agoniados por estar como nosso prisioneiro... E se fosse o contrário? Se alguém importante para Kamenashi-dono estivesse sofrendo... E nunca mais pudesse revê-lo se acaso morrer durante uma batalha?

– É, de fato, muito dolorosa essa situação. Mas um samurai deve estar preparado.

– Deve estar preparado para se tornar um demônio? Não consigo entender isso... Não consigo reconhecer meu pai. As pessoas que brincaram comigo quando crianças agora estão matando outras e todos dizem que é pelo bem da maioria. Não faz sentido... Não faz sentido você perder uma pessoa tão amada dessa forma...


E foi pelo olhar entristecido dele naquele instante que Kamenashi entendeu o que Jin guardava dentro de seu coração. A sua aflição em perder aquela pessoa numa luta sem sentido o fez concluir que ele amava alguém ligado diretamente à guerra. Imaginava que tipo de mulher e em que posição ela poderia ocupar durante uma guerra além da medicina. Mas descartou essa hipótese. A possibilidade mais provável era a de que o primogênito dos Akanishi amava... Um homem. Um de seus samurais.


Os olhos sempre atentos de Nishikido registraram cada movimento de Jin desde que soube qual seria sua principal missão como espião. Assim, se Kamenashi estivesse certo, ele só poderia cogitar uma pessoa como amante de Jin. Yamashita Tomohisa. Como não tinham provas, precisavam observar os dois com mais atenção quando a tropa retornasse. Como Tanaka voltaria para sua função de cuidar do prisioneiro, Nishikido poderia se dedicar totalmente ao casal.


Era necessário apenas esperar pelo retorno da tropa. E se Yamashita não retornasse, descobririam pela reação de Akanishi se era verdade que o amava.


7


Alguém o sacudiu com delicadeza no meio do sono e ele teve o impulso de demonstrar a sua irritação, mas não o fez quando reconheceu aquela voz.


– Kamenashi-dono...


Akanishi Jin estava se arriscando demais. Praticamente vinha lhe visitar todas as noites. Era verdade que isso estava ajudando em seus planos, além do mais também era agradável conversar com ele. Ele tinha uma visão tão ingênua sobre tudo que era quase como se estivesse conversando com uma criança. De alguma forma, isso o ajudava a se distrair de que era um prisioneiro e tranqüilizava o seu coração.


Quando ele dormia, Nishikido tinha ordens para soltar as algemas do ferro, mas elas permaneciam em seu pulso e seus pés eram presos aos ganchos no chão. Mas Akanishi estava sempre tão próximo do futom, que seria muito fácil enrolar sua corrente em torno do seu pescoço e puxá-la até que ele não fosse mais capaz de respirar. Esse pensamento foi doloroso e, então, ele se deu conta de que estava se deixando envolver também pelo inimigo. Embora a sedução de Akanishi fosse espontânea e inconsciente, era difícil ser indiferente ao seu coração puro. Kazuya sorriu quando notou o motivo da visita.


Um desenho. As habilidades de Akanishi eram espetaculares. Ele tinha feito um retrato do jardim do palácio. O verão já tinha se imposto e o seu brilho sobre o rio foi retratado com fidelidade pelos pincéis de Akanishi. Era uma bela imagem.


– Tive a sorte de presenciar esse cenário hoje. Gosto mais da primavera e do outono, mas o verão também tem a sua beleza. Mesmo o inverno, embora eu o ache triste demais, tem algo de belo.


Às vezes ele vinha e dizia essas coisas bonitas. Nem parecia que a conversa anterior tinha sido melancólica e sobre a guerra. Quando Akanishi vinha para conversar sobre essas amenidades, ele não perdia o sorriso e era realmente um rosto bonito. Em alguns momentos, Kamenashi até mesmo se esquecia de que era um prisioneiro e até mesmo chegava a invejar a infância do outro rapaz. Apesar da sua saúde comprometida, parecia que ele teve uma infância feliz nos poucos momentos em que não estava sob orientações médicas. A família Akanishi era amorosa e unida, enquanto a dele era mais preocupada com a disciplina.


Como teria sido se fosse o contrário? Se Akanishi fosse seu prisioneiro? Teria tido a mesma disposição para ter alguma consideração pelo inimigo?


E como teria sido em sua família se ele não fosse saudável para ser um samurai?


8


Faltava apenas uma semana para o retorno da tropa e Jin se sentiu mais enérgico. As conversas com Kamenashi fortaleceram as suas decisões. Enquanto argumentava com o prisioneiro sobre as pessoas que lhe eram importantes, pareceu que seu amor por Tomohisa ficou ainda mais forte. Precisava, portanto, resolver aquele assunto que sempre vinha à tona quando se reunia com seus pais. O casamento.


Ele teve que esperar por um momento em que seu pai não estivesse ocupado com seus conselheiros, discutindo sobre as próximas ações na guerra. Isso foi quando ele estava tomando chá no final da tarde com sua mãe.


Eles ficaram surpresos com a entrada repentina de Jin. Fizeram breves comentários de que ele parecia estar melhor e Jin agradeceu devidamente às preocupações. Sua mãe pediu para que ele se sentasse com eles e tomasse chá, mas ele se recusou. Ao invés disso, ele se ajoelhou e inclinou seu corpo, a testa próxima às mãos unidas e apoiadas no chão.


– Jin, querido...

– Eu imploro.  – ele interrompeu sua mãe – Não me obriguem a me casar. Eu imploro.

– Jin...

– Jin, o que significa isto? O casamento é para o seu bem e sua felicidade. Todos precisam de uma companheira para a vida. – seu pai disse – Diga-nos o que o aflige? E, por favor, sente-se corretamente.


Ele obedeceu.


– Chichi-ue... Haha-ue... Eu entendo que um homem precisa do apoio de uma esposa. Constituir uma família. Dar continuidade ao clã. Não posso ser um samurai, não posso me dedicar ao caminho da espada, assim se presume que minha função na família seria a de aumentar o nosso número... Mas... Eu não posso. Não posso concordar que uma jovem se torne minha prisioneira. Por mais que digam que ela está interessada, não vejo como alguém sem outra opção. Não posso, não quero, e me sentiria terrivelmente humilhado em ter que condenar uma jovem a tomar conta de mim para o resto de minha vida. Ainda que isso signifique um período curto... – nesse ponto sua mãe protestou para que não atraísse a morte dizendo palavras tão inapropriadas, mas ele prosseguiu sem lhe dar atenção. – Não posso prendê-la a um período que será somente de frustrações e que, após a minha morte, a condenaria a ser uma viúva infeliz para sempre. Não posso concordar com isso.

– Jin... Seus sentimentos são nobres e honrados. – seu pai lhe disse, orgulhoso – Ainda assim, não espere que fiquemos sossegados. Se estamos falando sobre mortes, um dia, nós lhe faltaremos. Como espera que sejamos tranqüilos sabendo que você estará desamparado? Teremos falhado em nossas missões como seus pais.

– Reio... Reio cuidará de mim se for preciso. Eu prometo que não serei um infortúnio para meu irmão caçula. E isso na hipótese de que eu sobreviva a meus pais.

– Oh, Jin. Por favor... – sua mãe levou as mãos ao peito.

– Eu imploro... Mais uma vez... Não me permitam fazer sofrer uma moça que poderia ter um futuro mais brilhante... E não me façam sentir humilhado em aceitar um casamento nessas condições de marido imprestável. Nem ao menos poderia cuidar de minha esposa e filho... Se é que eu poderia ter um filho...


Ele novamente se inclinou ao chão e implorou. Contudo, foi tomado por um acesso de tosse e sua mãe correu para levantá-lo. Seu pai também se aproximou para acudi-lo, mas a tosse era intensa e seu peito começou a doer de forma sufocante. Ele perdeu a consciência e não sentiu mais a dor.


9


Nishikido tinha informado do mal-estar de Akanishi, então Kazuya imaginou que ficaria sozinho aquela noite. Ficou um pouco decepcionado, pois não tinha muito que fazer estando preso daquela forma e naquela noite Akanishi tinha prometido tocar um pouco de shamisen. Como aquela área era afastada da casa principal, não corriam o risco de alguém escutar o instrumento. Os vigias, que já tinham sido subornados ou ameaçados por Nishikido apenas fingiam estarem adormecidos pelas drogas em suas refeições. Mas aquele pequeno lazer teria que ficar para outro dia.


Kazuya tinha que admirar a eficiência de Nishikido. Estava cada vez mais armando uma teia em volta de Akanishi e esperando o momento para dar o bote. Chegaram a um acordo que isso deveria acontecer fora do palácio. Não teriam chances de escapar com Jin de dentro do palácio. Mas os homens certos estavam sendo recrutados.


Era nisso que ele pensava quando a porta foi aberta e ali estava ele novamente. Carregando o instrumento e a vela que guiava seu caminho até ali. Mesmo com a pouca luz, ele pôde notar o semblante abatido.


– Akanishi-sama? Está pálido... Não se sente bem?

– Não se preocupe, estou bem.

– Não parece. Deveria voltar para o seu quarto e descansar.

– Kamenashi-dono é uma pessoa gentil, não é?


Aquele homem era mesmo um estúpido, Kazuya pensou. Era impossível que ele estivesse realmente tendo tamanha consideração com um prisioneiro. Ainda assim, Akanishi alegou que tinha prometido que traria um pouco de música e que a sua palavra era a única forma que ele tinha de manter a sua honra.


Kazuya não disse mais nada pelo tempo que Akanishi permaneceu com ele. Apenas apreciou o som harmonioso das cordas e a voz suave e triste do outro rapaz.


10                


Permaneceu dois dias de cama, mas, naquele dia, sentia-se disposto em caminhar pelos jardins. Acompanhado de Takizawa, Jin preferia manter sua mente ocupada com a natureza, tentando evitar a ansiedade. Sabia que a tropa retornaria naquele dia. Quando, porém, anunciada a chegada deles, ele apenas esperou pelo momento em que Takizawa baixou a guarda e correu em direção ao pátio principal.


Sabia que os guerreiros se reuniam ali quando voltavam de alguma missão e faziam o relatório para o seu pai. Desta vez, ele não agüentou esperar que Tomohisa viesse ao seu encontro. Precisava ao menos vê-lo. A conversa ficaria para depois, ele só precisava enxergar o rosto do rapaz, ter certeza de que ele estava bem, para se acalmar. A agonia sobre o seu casamento apenas transformou o tempo em que ele esteve longe ainda mais torturante.


Parou de correr e se apoiou no corrimão. Os cabelos presos por uma fita escorregando por um de seus ombros por conta do movimento. Ele estava no andar superior da casa e, dos corredores externos, ele podia enxergar qualquer ponto do pátio. Havia cerca de cinqüenta samurais, os principais, que se mantinham perfeitamente alinhados enquanto Kimura relatava os fatos dos últimos confrontos.


Seus olhos percorreram fila por fila, samurai por samurai, enquanto andava pelo corredor, tentando enxergar cada rosto dos homens que estavam ali embaixo. Todos pareciam muito cansados, com alguns ferimentos, mas satisfeitos por terem realizado um bom trabalho.


Seu coração se apertou quanto mais demorava em reconhecer o rosto de Tomohisa entre eles.


– Não... – deixou escapar um murmúrio sofrido.


Acelerou o passo. Não era Tomohisa. Não. O próximo também não era. E nem o seguinte.


Jin não acreditou. Tomohisa... O seu amado Tomohisa não estava ali.


Ele não tinha voltado.


Tomohisa não cumpriu sua palavra. Ele só podia estar... Morto.


11


Como tinha previsto, Tanaka Koki retornou com o dobro de resistência às suas investidas. Ele entrou no quarto, trocou breves palavras com Nishikido e este abandonou o posto. Ainda era cedo e Kazuya não tinha se alimentado ainda. Na verdade, estava quase na hora do seu banho. Quando os criados se anunciaram, Tanaka tomou o balde com água, o sabonete e os panos, afirmando que ele estava de volta e voltariam a sua rotina.


– Tanaka-dono tem boas mãos... – Kazuya disse, quando o samurai começou a sua higiene em suas pernas. – E é realmente forte... Não parece que se feriu durante o tempo em que esteve duelando com os homens de Kouji. Tanaka-dono sabe que nossos exércitos são escolhidos pela hierarquia, certo? Os nossos melhores samurais estão com Yuichiro. Kouji em seguida... E os últimos ficavam sob o meu comando. Assim, tenho certeza de que não foi fácil e mesmo assim Tanaka-dono voltou sem um ferimento sério... Estou impressionado...


O samurai continuava mudo. Kazuya, então, começou a amansar sua voz, mas continuava falando, elogiando-o. Ele mudava o tom de voz cada vez que as mãos dele subiam por seu corpo. Elas esfregavam suas coxas agora e, quando alcançaram a virilha, Kazuya deixou escapar um gemido. Foi a primeira vez que Tanaka lançou um olhar direto para os seus olhos. Kazuya piscou de leve e movimentou sua língua. Mas foi o único contato que tiveram durante o resto daquele dia.


Kazuya consolou-se com o pensamento de que precisava ser paciente. 



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