Samurai No Forbidden Love escrita por Kitty


Capítulo 2
Capítulo 2




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Capítulo dois

1

Três semanas se passaram e seus ferimentos estavam melhores. Ele já não sentia dores se não fizesse movimentos bruscos. Conseguia sentar e o samurai o ajudava a caminhar pelo quarto. E quando ele estava acordado, seus braços estavam sempre presos acima de sua cabeça a um ferro improvisado para transformar aquele quarto em uma prisão. Também existiam ganchos no chão, próximo ao futom, para prender suas pernas quando fosse necessário soltar suas mãos.

Dos primeiros dias, Kazuya não tinha mais do que vagas lembranças. Revezava entre sono e desmaios, assim que passou mais tempo desacordado. Depois que seu corpo começou a demonstrar sinais de recuperação e sua consciência de ser confiável o suficiente, apesar dos fortes remédios, ele passava algum tempo fingindo dormir para poder pensar com cautela. Sem ter que encarar aquele samurai irritante que sabia apenas olhar para ele o tempo todo em que estava no quarto, como se fosse uma estátua.

Na verdade, com o passar dos dias, o tempo de Tanaka naquele aposento só aumentava. Ele já tinha se tornado oficialmente aquele quem cuidava da sua higiene e saúde. Depois passou a ser também aquele que o alimentava. Kamenashi entendia que, quanto mais saudável se tornava, mais atento o samurai procurava estar, assim que reduzia o contato do prisioneiro com os serviçais, temendo, certamente, que os usasse de alguma forma para fugir.

Usar terceiros, portanto, parecia ser uma opção pouco provável. Se quisesse fugir, teria que usar aquele samurai. E sabia como. Sexo. Os humanos sempre se rendem ao sexo e Kamenashi descobriu a sua sedução desde muito cedo. Imaginava que não teria problemas em seduzir um samurai que normalmente pouco tempo tem para os prazeres carnais. A questão não era se conseguiria seduzi-lo, estava certo que conseguiria, mas sim com qual objetivo faria isso. Fugir? Ainda não tinha entendido as intenções de seu pai. Era certo que o queria vivo. Mas para que? Certamente que para permanecer no palácio. Tinha que descobrir alguma maneira de tornar sua presença no território inimigo em uma vantagem. E tinha que estender os lugares em que poderia ter acesso. Seria bom se pudesse observar o lado de fora.

– Tanaka-dono... A refeição está pronta.

– Pode entrar.

Uma jovem abriu a porta, entrou com a bandeja e a deixou sobre um móvel de madeira e depois se retirou. Kazuya observou o samurai pegar a comida e trazer para ele.

– O que farão comigo? – aproveitou que ele estava próximo para poder observar o seu rosto. Sabia, porém, que Tanaka não seria tão descuidado a ponto de permitir que ele lesse alguma coisa em seus gestos.

– Como se eu fosse mesmo responder.

– Porque não me torturam logo?

–... Abre a boca. – ordenou, levando a tigela com misso próximo a sua boca.

– Eu posso comer sozinho...

– Não vou soltar suas mãos.

O prisioneiro riu e o olhou de canto.

– Tem medo que eu te...

– Não conseguiria me atacar em mil anos. – ele afirmou, uma sobrancelha erguida em desafio.

–... Te agarre? – e ele sorriu de canto. Aqueles lábios finos e rosados insinuando o suficiente para que o outro samurai voltasse à sua postura séria. – Eu percebo como você me olha enquanto me banha...

Um riso de deboche. Mais uma vez.

– Aposto que está louco para conhecer meu corpo...

– Já o vi nu. – ele o lembrou, considerando a questão encerrada.

– Tanaka-dono é virgem, não é? – ele disse com uma expressão curiosa – Se pensa que realmente ver um corpo nu acaba com o tesão...

E, de repente, aquela linguagem vulgar que, por alguma razão, fez Tanaka Koki sentir-se mais quente. Empurrou a tigela contra os lábios dele. Kamenashi abriu a boca e tomou o caldo, satisfeito. Percebeu que o comentário tinha provocado alguma reação no samurai. Finalmente uma reação. Estava começando a aplicar o seu veneno naquele homem.

2                                   

– Nishikido-dono... Onde está Yamashita-dono?

Nishikido Ryo estava polindo sua katana enquanto observava o treino dos outros samurais. Estava sentado em posição seiza sobre um tablado de madeira escura, a sua postura emanava algo de arrogância. Usava um quimono azul marinho, que realçava a sua pele morena. A fita branca amarrada em sua testa completava o visual. Ele observava aquele treino com olhos bastante exigentes. Ele nem ao menos se dirigiu para o serviçal que lhe dirigiu a palavra.

– Está treinando perto das cerejeiras com o novato.

– Arigatou gozaimasu. – agradeceu e se retirou.

– Nakamaru, você abaixou sua guarda novamente. Quer morrer? Refaça o movimento de defesa 100 vezes. A luta está encerrada.

Ninguém se atreveu a questionar. Nishikido e Yamashita Tomohisa eram, entre os jovens, os mais próximos do capitão Kimura devido às habilidades com a katana. Assim, ambos detinham alguma liderança e respeito entre os demais. Tomohisa, quando não ia para o campo de batalha, era o responsável pela segurança e companhia do primogênito do clã Akanishi. Enquanto Nishikido era o supervisor dos treinos.

– Eu treinarei com Ueda. – ele afirmou e se levantou. Guardou a sua espada de combate e depois escolheu uma de madeira. – Está preparado?

– Quando quiser.

– Nakamaru, o que está esperando?

Ele não se virou para o rapaz, apenas escutou um murmúrio de que acatava sua ordem e depois seus passos se retirando do dojô. Sempre que Nishikido mandava alguém treinar era ao ar livre, debaixo do Sol. Seus olhos estavam fixos em Ueda, que mantinha uma expressão serena. Eles permaneceram nessas posições por algum tempo, trazendo tensão ao ambiente. Alguns samurais deixaram seus próprios treinos de lado para assistirem aquela luta.

Existiam boatos sobre uma animosidade entre Nishikido e Ueda e, embora ninguém soubesse ao certo do motivo para tal e se realmente existia algum ressentimento de algum dos lados, e ainda que ambos se tratassem com a devida educação dos samurais, era durante os treinos que as fofocas cresciam devido à agressividade usada com as shinais para golpes que deveriam ser apenas de alerta.

Nishikido era sempre o primeiro a atacar. Ueda ergueu a espada diante do rosto, na horizontal, para bloquear o golpe. Com velocidade recuou dois passos e girou seu corpo, tentando usar a queda do rival – inevitável depois que perdeu a resistência da espada de Ueda – para atingi-lo na lateral. Nishikido, porém, jogou sua espada para o mesmo lado e bloqueou o ataque.

O corpo de Ueda estava curvado para baixo e o de Nishikido em sua direção. Encararam-se. Nishikido recuou e voltaram à posição inicial.

Para aqueles que admiravam a arte da espada, retirando-se os possíveis ressentimentos naquele embate, era sempre agradável assisti-los treinando porque as habilidades de Ueda estavam sempre evoluindo e ele estava recebendo notoriedade entre as lideranças. Alguns acreditavam ser esse o motivo para Nishikido não gostar daquele samurai.

O som do encontro das madeiras durou por quase uma hora até que, em uma rasteira traiçoeira, Nishikido levou Ueda ao chão e encostou a ponta da sua espada contra a pele do rapaz, cujo quimono abriu durante a luta, exatamente sobre o coração. Um sorriso de canto veio de cima e um olhar atravessado veio debaixo, mas não chegou a incomodar Nishikido. Ele tinha vencido, afinal.

– Os inimigos nunca vão lutar de forma limpa. Não pode abrir sua defesa em momento algum.

Dito isso, ele se afastou e aceitou a toalha de um dos samurais. Jogou-a sobre a nuca e com a ponta limpou o suor do rosto enquanto deixava o dojo.

3

Tegoshi foi ao chão mais uma vez. Abriu um olho e levantou o braço para se proteger do Sol. Olhou para o samurai a sua frente que mantinha uma postura tranqüila, ele nem ao menos estava suando, enquanto ele já mal conseguia respirar. A diferença entre eles era do tamanho de um precipício, Tegoshi concluiu.

– Você precisa melhorar sua velocidade. – Tomohisa explicou – Seus movimentos são bons, mas falta agilidade. Você tem um pensamento rápido, preciso treinar seu corpo para acompanhar suas idéias. – e estendeu sua mão para ele. – Por hoje chega.

Ele aceitou a mão do mais velho e se levantou. Estava contente que estava se tornando mais íntimo de Tomohisa. Ele o tinha como um exemplo a seguir e queria conhecê-lo cada vez mais.

– Nos próximos dias estarei ausente. Recebi permissão para visitar minha família. Yamashita-dono. Gostaria de alguma coisa de nossa cidade?

– Hum... – ele ficou pensativo – Se puder, traga-me pêssegos. Os nossos são os maiores e mais doces. Sinto falta deles. Tenho poucas lembranças sobre a minha infância na cidade, mas com certeza jamais esquecerei o dia em que meus tios me deram um do tamanho das minhas duas mãos unidas. Era tão doce...

O rosto alegre de Tomohisa iluminou o do mais rosto. Ele também sorriu e disse que certamente traria os maiores e mais doces que encontrasse.

– Yamashita-dono! Yamashita-dono!

Um dos criados do clã se aproximou deles,

– Akanishi-sama deseja passear e quer saber se Yamashita-dono pode acompanhá-lo.

– Está certo. Diga, por favor, a Akanishi-sama que me arrumarei e o esperarei na porta de seu quarto.

– Hai. Wakarimashita.

Depois que ele se afastou novamente, Tegoshi observou como Yamashita parecia ser o preferido de Akanishi-sama.

– Somos amigos de infância, na realidade. – ele explicou – Akanishi-sama sente-se um pouco triste devido a sua condição de saúde e ter que passear sempre acompanhado de algum de seus samurais não é muito agradável. Ao menos, como crescemos juntos, podemos conversar como amigos.

– Akanishi-sama é tão bonito... Mas ele parece mesmo uma pessoa triste...

– Por isso... Tegoshi tem que ficar mais forte para protegermos nossos senhor e lhe darmos ao menos tranqüilidade para viver seus dias.

– Hai, eu vou me esforçar. Darei o máximo com certeza.

– Ganbatte ne? Faça uma boa viagem, Tegoshi-kun. Nos vemos dentro de alguns dias então.

– Sim, até breve!

4

Ele estava sozinho no banheiro. Tinha ido até ali depois do treino com Nishikido jogar um pouco de água em seu rosto para recuperar o fôlego e a razão. Sempre que treinava com aquele samurai era muito cansativo. Porque sempre a luta ia além do confronto entre as espadas.

Alguém tocou em seu quadril e ele, por instinto, tentou sacar sua katana, mas estava desarmado e, então, a pessoa segurou o seu pulso também, enquanto a outra mão deslizava pelo seu hakama. A voz rouca e arrogante de Ryo soou próximo de seu ouvido.

– Tatsuya... Até quando pretende resistir?

– Eu já deixei claras as minhas intenções, Nishikido-dono. Por favor, não insista. Não estamos em um momento bom para conflitos de sentimentos.

– Então seus sentimentos estão em conflitos por mim?

– Claro que sim. Eu tenho que controlar a minha vontade de cortar o seu pescoço e pendurar a sua cabeça no meio da praça da cidade. – ele disse e, então, fez um movimento brusco para se livrar daquelas mãos. – Como pode pensar em qualquer outra coisa que não defender o nosso clã?

– Você tem alguém?

– O meu senhor Akanishi. – a resposta dele foi firme – Eu não tenho tempo e nem disposição para pensar em outra coisa que não em nosso clã.

– Você tem alguém. É aquele idiota do seu amigo?

Nishikido não conseguiu ler nenhuma emoção no rosto de Ueda. E era isso que ele mais odiava. Sendo um exímio guerreiro, ele observava ao máximo seus oponentes, tentando decifrar seus pontos fracos. Mas nunca conseguiu descobrir nada que pudesse abalar o muro que parecia existir em torno de Ueda.

– Tatsuya... – ele segurou firme um dos braços do rapaz – Sou capaz de qualquer coisa por você. A pessoa que você ama é capaz disso?

Ueda uniu as sobrancelhas, confuso.

– Não tenho ninguém além do meu senhor. Está dizendo que poderia até mesmo desagradar nosso senhor se eu pedisse?

– Não hesitaria. O que eu sinto é forte o suficiente para isso.

– Pode ser. Nishikido-dono tem um espírito forte, é um bravo guerreiro, mas parece que sua lealdade é fraca.

Dizendo isso com desprezo, Ueda conseguiu se soltar e se afastou do banheiro. Nishikido apenas o observou.

5

Tomohisa mantinha os olhos fechados e uma expressão serena enquanto Jin tocava a última música que aprendera em seu shamisen. Eles estavam no coreto do jardim, próximo ao lago. O palanque era uma bela arquitetura feita de madeira com ornamentos de ouro com imagens de carpas.

Jin estava sentado sobre suas pernas em cima de uma almofada. A voz dele era, sem dúvida, a que Tomohisa mais amava e ele desejava poder ter esses momentos com maior freqüência. Para Jin, se havia alguma vantagem em sua saúde delicada era essa. Poder proporcionar esse tipo de prazer e descanso para o seu belo guerreiro.

– Disseram que o Xogum está começando a ficar atento a esta guerra. – Jin pausou a música.

Tomohisa não gostava quando ele entrava nesses assuntos de forma abrupta.

– A guerra está começando a tomar uma proporção que certamente desagradaria ao Xogum. Ele não deseja perder tantos homens dessa forma.

– Essa forma você quer dizer perder homens inultimente.

– Jin...

– Está bem, vamos mudar de assunto.

O samurai concordou. Às vezes pensava que o amante fazia pequenos comentários sobre a guerra apenas para provocá-lo. Mas, de modo geral, a mente de Jin era rápida e ele não conseguia se concentrar em somente uma coisa quando estavam juntos. Era incrível que, sozinho, tendo essa personalidade, ele conseguiu aprender tantas artes. Porém, outra característica de Jin era a teimosia.

– Eu tive um bom sonho na última noite. Quando durmo em seus braços, meus sonhos são os melhores.

Tomohisa sentiu sua face esquentar. Assim como repentinamente falava sobre a guerra, ele dizia tais coisas de forma tão livre que, pego de surpresa, o samurai apenas podia corar. Nesses momentos, ele virava o rosto para outra direção e movimentava a boca sem abri-la, uma mania que ele tinha sempre que se mostrava incomodado, enquanto repreendia a si mesmo para não baixar a guarda para aquele que era o seu principal ponto fraco. Mas, na verdade, esses ataques eram realmente agradáveis.

– Sonhei que podia voar... Não seria incrível? Atravessar o céu entre as nuvens?

Assim era o rapaz que ele amava. Maluquinho. Jin riu e a timidez de Tomohisa passou. Ele observou o rosto sorridente do amante, tentando copiá-lo perfeitamente dentro de sua cabeça para ter uma bela imagem quando tivesse que voltar para a guerra.

6

Kazuya abriu a boca e um pedaço de tofu foi posto em sua boca com auxilio dos hashi. Ele, então, abocanhou um dos palitos e foi libertando o palito lentamente, sentindo seus lábios deslizando pela madeira enquanto Tanaka levava o hashi de volta. Pôde observar a expressão confusa no rosto do rapaz e riu internamente. Tanaka de fato não devia ter muitas experiências sexuais.

Cogitou que o samurai era o tipo de pessoa que se dedicou somente à espada. Em tese, ele também deveria ter sido assim, mas, sendo o terceiro filho guerreiro da família, a vigilância sobre sua disciplina não era tão rigorosa e ele pôde conhecer o que o mundo tem a mais para oferecer... Isso também explicava por que ele era o prisioneiro. Sua técnica com a espada devia ser inferior a de Tanaka. Mas não se arrependia. Ele conhecia outras formas de se vencer.

– Eu posso fazer isso com outra coisa além do hashi... Que tal?

– O que espera conseguir? Sua fuga? Informações?

– Nada além de prazer... Veja só... Eu estou algemado, não posso fugir, não posso reagir... Você pode abusar de mim sem perigo algum para você... Eu estou entediado, vocês não me torturam, não me interrogam, não fazem absolutamente nada. Se não querem me matar, não me deixam morrer... Então me dê um pouco de prazer pelo menos... Ou será que... Não, não pode ser...

–...

– Seria possível que Tanaka-dono fosse mesmo virgem? – ele lambeu o lábio inferior – Vamos, não precisa ter medo... Tudo bem se falhar na primeira tentativa. Eu não vou me importar e não contarei a ninguém. – ele piscou o olho com cumplicidade.

Tudo o que o prisioneiro conseguiu foi receber um soco em sua boca e passar fome até o dia seguinte, quando só então o samurai permitiu que lhe trouxessem nova refeição.

7

Não estava realmente muito longe do campo de batalha, mas aquela cidade estava afastada o suficiente para manter um clima tranqüilo. As crianças corriam e riam alto, os jovens seguiam com seus estudos, os adultos trabalhavam como todos os dias. Tegoshi parou diante do portal da cidade e não pôde conter o sorriso de alguém que estava voltando para a casa.

– Yuya-kun!!!

Um peso caiu em suas costas e ele logo soube quem era. Não podia deixar de reconhecer a voz do seu melhor amigo. Masuda Takahisa.

– Você voltou vivo!!!

– Hey, não fale como se isso fosse tão surpreendente! – ele riu.

Masuda o soltou e Tegoshi se virou para cumprimentá-lo novamente. Largos sorrisos estamparam seus rostos.

– Okaeri. – disse o mais velho.

– Tadaima.

Masuda era filho de agricultores, não eram samurais, ele não foi recrutado para a guerra. Sua família era pobre, suas roupas eram sempre velhas e remendadas, mas isso não evitou que entre eles nascesse uma amizade sincera. Os pais de Tegoshi, mesmo sendo uma família de samurai, tinham corações humildes e se davam muito bem com todos os que viviam naquele povoado. Eles permitiram que Masuda estudasse com seu filho até que o rapaz chegasse à idade de ajudar diretamente nos campos de arroz com seus pais e então teve que interromper os estudos.

Sempre estiveram juntos, por isso sentiu muito a falta de Tegoshi. Temeu igualmente pela sua vida, pois tinha a noção da ingenuidade dos guerreiros em suas primeiras missões, ainda mais quando eles vinham de uma região tão pacífica quanto era aquele vilarejo.

Enquanto caminhavam para a casa de Tegoshi, este contava ao amigo as suas aventuras. Agora que estava em segurança, podia contar com entusiasmo todos os detalhes da batalha, embora no momento o medo era tanto que, mesmo horas depois, quando estava no acampamento, suas mãos ainda tremiam. Esse detalhe ele não contou ao amigo.

8

– Ahhh... Isso é tão bom.

Ele entrou no onsen e relaxou. Depois de uma longa conversa com seus pais e avós, agora ele e Masuda estavam tomando banho ao ar livre.

– Quando a guerra terminar e Akanishi-sama for oficialmente o nosso Daimyo, quero voltar aqui com mais freqüência.

– Ehhh?? Mas você ficou apenas seis meses fora. – Masuda riu – Pare de choramingar e se torne um grande samurai. Quando você tiver grande prestígio perante o Xogum, por favor, me leve para trabalhar em sua casa.

– Trabalhar em casa? Você sempre será um convidado de honra!

– Não, não posso aceitar isso. Ficaria entediado. Já me acostumei a trabalhar. – ele disse, rindo. – Yuya... Eu estou apenas brincando... Você só tem que se manter vivo, certo? Quando a guerra terminar, você vai mesmo poder voltar mais vezes para cá, não é?

– Claro que sim! Eu com certeza estarei no seu casamento, Massu. Não perderei isso por nada!

– Não me lembre disso... – ele se afundou e, quando retornou, viu o amigo rindo de sua cara.

– Como você é molenga, Massu! Tem medo de se casar?

– É um pouco assustador... Ter alguém para cuidar. Eu quero dizer, eu ajudo os meus pais, com o tempo vou passar a ter essa responsabilidade, mas... Pais sempre serão pais, não é? Eles não vão ter condições físicas, mas eles ainda sempre saberão mais do que eu... Sempre poderei pedir a ajuda deles... É diferente de uma esposa e filhos. É um pouco assustador.

– Quando você coloca dessa forma, parece mesmo assustador... Mas eu tenho certeza de que Massu será um bom chefe de família.

Ao notarem o clima sério demais entre eles, começaram a rir e a conversa ganhou um tom mais descontraído. Preferiram falar do passado, quando eram crianças e tudo o que aprontaram juntos, do que discutir o futuro incerto de um casamento e da guerra.

9

Ele se virou para trás e riu. Se pudesse, Tomohisa gostaria de ter as habilidades de Jin com a pintura para fazer um desenho daquele momento. Jin quis tomar um pouco de ar fresco e, como o Sol estava muito forte, passeava com uma bela sombrinha branca com desenhos feitos com fios de ouro. Seus cabelos estavam presos em um coque como os samurais e seu rosto estava totalmente à mostra quando ele se virou parar rir. Foi, sem dúvida, uma bela cena para o samurai que vinha alguns passos atrás.

Jin riu porque Tomohisa o lembrou de certa ocasião em que o mais velho tinha ficado encantado por um cavalo e quis montá-lo. Mas o animal era um dos mais difíceis, estava sendo domado há algum tempo sem grandes resultados. Era selvagem e queria voltar à liberdade. Na ocasião, Jin estava com quinze anos e Tomohisa tinha recém completo catorze e, apesar do cansaço de boa parte do seu dia ser dedicado aos estudos do caminho dos samurais, ele fugiu à noite e foi tentar montar o cavalo. Queria domá-lo para Jin, mas tudo o que conseguiu foi quebrar a perna.

– Jin-dono é cruel por rir dessa forma do meu esforço. Fiz por você. E o que eu recebo em troca? A notícia de que, dois dias depois, Jin-dono deixou o animal fugir.

– Ele não foi domado por ninguém, precisava ser livre... Ele pertence à natureza.

– Pela sua lógica, a nossa tropa acabaria tendo que caminhar longas milhas com as próprias pernas.

– Seria mais justo.

– Demoraríamos o dobro para voltar.

– Por isso soltei apenas um!

– Incoerente e mimado.

– Oh! Se atreve a falar dessa forma vulgar com o seu senhor?

Tomohisa acelerou o passo para surpreendê-lo. Segurou-o pela cintura e o empurrou até uma árvore próxima. A sombrinha caiu ao chão enquanto os amantes se beijavam. Entre as árvores do bosque do palácio, eles podiam se amar livremente. Os pais de Jin confiavam sua segurança plenamente a Yamashita para não precisar que mais alguém os acompanhasse. Além disso, o bosque ficava no interior do palácio, que era cercado por muros altos e fortes. Próximo aos muros, bravos samurais se revezavam na vigilância do lado de fora.

– Me atrevo a fazer coisas mais vulgares com o meu senhor.

– Insolente... – ele riu.

– Posso dormir esta noite com você?

Jin, então, ficou sério. Eram raras às vezes em que Tomohisa lhe pedia alguma coisa, ainda mais quando era para pedir algo tão íntimo. O relacionamento era sempre de acordo com as suas vontades. Encarou os orbes escuros e estrábicos. Sabia o que significava quando ele fazia tais pedidos. Subiu sua mão até a nuca do amante e tocou aquela cicatriz, feita alguns anos antes durante seu treinamento.

– Não quero. – ele disse – Não vá.

– Jin... Não posso me negar.

– Estamos com o filho de Kamenashi, porque precisam continuar a lutar? Por que não negociam a entrega dele de uma vez por todas?

O samurai não respondeu. Jin compreendeu.

– Não vamos... Devolver Kamenashi Kazuya?

– Não vou discutir assuntos de guerra com você. Não aqui. E não com você alterado dessa forma.

Jin sempre sabia quando ele falava sério. Tomohisa deixava os status de ambos de lado e falava de igual para igual. Não, apesar de não usar palavras superiores, ele exercia sempre uma autoridade diante de Jin nesses momentos.

– Os homens de Kamenashi Kouji continuam lutando com a nossa tropa. Precisamos enviar reforços. Devo voltar em quatro semanas, no máximo.

– Você não vai voltar.

Tomohisa sentiu uma dor mais profunda do que a lâmina de uma katana quando viu os olhos de Jin encherem de água. Abraçou o amante com força e encostou seu rosto ao dele.

– Eu vou voltar. Eu prometo. Nada será capaz de me separar de você.

– Por favor, Tomo... Não vá...

– Jin... Por favor... Me espere.

O mais velho, então, riu tristemente.

– Eu tenho outra opção?

Tocou delicadamente o rosto de Jin quando uma lágrima se desprendeu e a secou com o indicador. Era vergonhoso admitir, mas nesses momentos ele odiava ser um samurai. Se fosse uma pessoa comum, poderia viver de forma pacífica com a pessoa que amasse. Contudo, se não fosse um samurai, jamais teria chegado perto de Jin. E, por isso, era grato em ser um.

– Vamos voltar. Sinto dor de cabeça.

Ele estava magoado e caminhou novamente na frente do samurai. Dessa vez sem olhar para trás, sem risos, sem conversas.

10

Assim que retornou, soube de imediato que teriam que partir para uma nova batalha. Tegoshi sentiu novamente o medo começar a se manifestar, mas desviou seus pensamentos. Preferiu procurar por Tomohisa. Disseram que ele estava com Akanishi Jin-sama, então ele esperou na porta do quarto do samurai.

Estava quase adormecendo quando finalmente Tomohisa regressou. Seu olhar era carinhoso quando viu o menino na porta do seu quarto, protegendo uma caixa de madeira com os pêssegos que ele prometera.

– Tegoshi-kun? – ele se agachou e tocou seu ombro – Tegoshi?

Ele piscou algumas vezes, afastando o sono, e sorriu para o samurai mais velho.

– Yamashita-dono... Seus pêssegos.

– Teremos que partir amanhã cedo, então... Que tal comermos alguns agora? Me acompanha?

Tegoshi sorriu e aceitou. Entraram no quarto do mais velho, que fazia algumas perguntas sobre a cidade e Nakai-sensei. Tegoshi respondia a tudo com entusiasmo. Tomohisa pensava que estava precisando de momentos descontraídos como este. As últimas horas com Jin antes de sua partida eram sempre carregadas de tristeza.

11

Jin só aceitou jantar novamente na companhia de seus familiares depois de cinco dias da partida de Tomohisa. Nos primeiros dias estava abatido e dizia se sentir fraco. O médico que cuidava de sua saúde desde criança, Toda-sensei, afirmou que não era nada sério, mas recomendou o repouso.

Sentou-se próximo de seu pai e o primeiro assunto foi as suas artes. Sua mãe ficou contente pelo entusiasmo que Jin demonstrou. Ele gostava bastante dos estudos e conseguia se distrair. Era bom que se animasse com alguma coisa e esquecesse um pouco da sua saúde.

– Chichi-ue... Qual será o destino de Kamenashi Kazuya?

Seu pai interrompeu a trajetória do hashi e devolveu a comida à tigela. Repousou os utensílios no apoio e olhou para seu primogênito. Não gostava de discutir assuntos de guerra com Jin, pois sabia sua posição pacífica em torno de qualquer conflito. Além disso, achava desnecessário que seu filho, tendo seu problema de saúde, se preocupasse com tais assuntos. Sua mãe era de igual opinião, por isso olhou preocupada para seu marido.

– Por favor, Jin, concentre-se em seus estudos e descanse. Fico feliz que se preocupe com a situação de nosso clã e se interesse pelos assuntos de guerra. Seu espírito é de um verdadeiro samurai, mas você deve evitar desgastes desnecessários.

– Chichi-ue... Porque as negociações sobre o resgate de Kamenashi não estão sendo realizadas? Por que precisamos enviar outra tropa para o Vale Leste?

– Jin... As negociações estão paradas por que... Kamenashi se recusa a negociar...

Ele se chocou.

– Mas... É seu filho.

– Kamenashi é um homem frio e não vai ceder a apelos emocionais. Sacrifica o que for preciso pelo bem da maioria. Não vai se render porque estamos com um filho seu.

– Sendo assim... O que faremos com ele?

Jin achou a expressão de seu pai sombria demais, contudo, o destino de Kamenashi Kazuya continuou uma incógnita porque sua mãe decidiu desviar a conversa. E o que ela disse lhe causou grande aflição.

– Jin, tenho uma ótima notícia. Mesmo estando em um tempo difícil como o que nos encontramos agora, a vida nos presenteia com gratas surpresas. Encontramos uma excelente noiva para você. Ela é estudada nas artes medicinais, é mais jovem e muito bonita. Uma moça encantadora que poderá cuidar de você.

Ele teve que se controlar para não demonstrar sua verdadeira reação. Tentou manter sua respiração baixa, sem demonstrar susto. Não conseguiu responder de imediato, as palavras lhe faltaram e temia gaguejar, portanto apenas sorriu. Não era a primeira vez que ouvia sobre este assunto, mas havia muito tempo desde que conversaram sobre uma noiva para ele. Tinha sido quando ele completara dezoito anos, mas poucas moças se interessaram em um marido tão delicado. Jin acreditou que o assunto morreria dessa forma.

– Ela é um parente distante do primo de seu pai que mora no Sul do país. O pai dela é um dos principais vassalos do Daimyo daquela região. Conta com boa recomendação perante ao Xogum e ao Imperador. Quando soube sua situação, mostrou-se interessada. Quando estiver melhor e a situação um pouco mais calma, enviaremos você para o Sul. Acho que uma mudança de ar e um pouco mais de calor fará bem a você.

– Jin, está se sentindo bem? – seu pai perguntou – Está um pouco pálido.

–... Eu sinto muito. Não estou me sentindo bem. Posso retornar para o meu quarto?

– Claro. Descanse meu filho. E pare de pensar em coisas desnecessárias como a guerra... Isso não faz bem para a sua saúde. Pense em sua noiva... Apaixonar-se fará bem a você com certeza.

– Hai. Com licença.

Na ausência de Tomohisa, seu segurança passava a ser Tanaka Koki, mas este também foi enviado para enfrentar a tropa de Kamenashi Kouji. Assim, voltou a ficar sobre os cuidados de Takizawa Hideaki.

Ele não gostava desse samurai, embora não tivesse motivos. Mas sempre que ficava com ele, evitava que ele entrasse em seu quarto. Disse que se prepararia para dormir, porque estava muito cansado, e ordenou ao samurai que permanecesse do lado de fora.

Uma vez sozinho, pôs-se a pensar em sua situação. Precisava negar aquele casamento, mas devia existir alguma forma que não prejudicasse a sua família com essas pessoas tão importantes. Se de fato a família da moça mantinha um bom relacionamento com o Xogum, seu pai poderia cair em desagrado e perder o posto de Daimyo imediatamente. O Xogum tinha permitido que se resolvesse à maneira deles a escolha do Daimyo e, portanto, não interferiu, até então, na guerra entre os clãs. Tinha que pensar bem nas palavras apropriadas.

Que agonia! E Tomohisa agora estava tão longe... Jin sentia-se muito miserável. Fraco, solitário e tendo que fazer uma escolha tão difícil quanto aquela: o seu grande amor ou a sua família?

12

Era um grande azar que Tanaka teve que ser enviado de volta à guerra. Assim, seus esforços nos últimos dias em tentar atiçar o desejo no samurai seriam desperdiçados. Ele tinha certeza de que Tanaka voltaria mais resistente. Isso se não morresse durante a batalha. Seria uma pena se isso acontecesse. Era um rapaz bonito e ele teria se divertido se conseguisse seduzi-lo.

O seu novo alvo não era tão atraente. O novo vigilante era um samurai moreno que tinha um sorriso sarcástico. Ele se divertiu em cutucar os ferimentos de Kamenashi até que voltassem a sangrar apenas para lhe provocar dor quando estavam a sós. Ele demonstrava que estava ali apenas para vigiá-lo. Sua saúde e sua alimentação passaram a ser obrigação novamente dos serviçais, como se isso fosse algo ofensivo para seu status. Nishikido Ryo era realmente alguém arrogante.

Maldito. Se tivesse uma pequena oportunidade em ter suas mãos livres, certamente não o deixaria escapar com vida. Se pudesse seduzi-lo, morderia suas partes íntimas até arrancá-las. Esse pensamento o deixou mais calmo.

Contudo, alguns dias depois, Nishikido lhe disse algo que o surpreendeu.

– Um homem é completo quando morre em batalha pelo seu senhor. A vida de um samurai é tão curta e bonita quanto à pétala de uma sakura. Esse seria um belo poema de morte. Você já pensou no seu poema, Kamenashi?

Isso o surpreendeu porque essa era a senha de seu clã. Aquele homem cruel e arrogante era um dos seus homens. Nishikido sorriu de canto e, então, retirou algo de dentro de seu quimono. Era uma carta, que explicava a sua identidade e o plano do clã Kamenashi.

Kazuya leu o nome do alvo que eles deveriam atingir. Akanishi Jin. Olhou para Nishikido, era um plano ousado, mas a parte mais difícil estava feita. Eles estavam dentro do palácio.

O samurai se aproximou de uma vela e queimou a carta. Depois, disse:

– Por ordens médicas, você poderá andar por alguns minutos ao ar livre.

Kazuya, então, teve a certeza de que seu pai era incrível.  


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