Samurai No Forbidden Love escrita por Kitty


Capítulo 13
Capítulo 13




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Capítulo treze

 

1

 

— Chegaremos dentro de duas horas. - avisou um samurai para Taguchi Junnosuke, quem havia assumido a liderança da tropa de Kamenashi Kazuya após a declaração da morte do terceiro na linha de sucessão do clã.

 

Taguchi era um homem alto, de compleição delicada e gentil, mas, em campo, sua fama era a de ser mais temível que o próprio líder do clã. Um homem cuja frieza o permite tomar as decisões mais necessárias em momentos de conflitos, até mesmo as mais cruéis, sempre mantendo um olhar tranquilo e um sorriso curto. Ele estava montado em um cavalo negro, vestido com sua armadura vermelha, e assentiu para o samurai, dispensando-o para prosseguir com o aviso ao restante da tropa.

 

Apenas mais duas horas e chegariam ao clã Kamenashi. Lançou um olhar para a liteira que carregava o corpo do herdeiro. Essa era a missão mais triste e difícil que recebera em sua vida. Se ele refletisse sobre a situação, certamente que as dúvidas corroeriam seu espírito e enfraqueceriam suas convicções. Para que isso não acontecesse, ele mantinha em mente o seu juramento de lealdade à Kamenashi Kazuya. Apertou as rédeas com mais firmeza. A guerra terminaria em breve…

 

2

 

Um dos samurais que fazia a vígilia no alto da torre anunciou a chegada da tropa de Kamenashi Kazuya para que os portões fossem abertos. Outro samurai foi enviado para avisar ao líder do clã sobre a chegada da comitiva. A noite estava terminando, o breu dificultava a identificação dos rostos, mas as bandeiras carregadas eram definitivamente do clã Kamenashi.

 

O sentimento de que algo estava errado despertou em Uesugi Hideyoshi, o samurai designado para receber os recém chegados, quando percebeu que a comitiva era muito mais numerosa do que se havia divulgado. Não havia apenas os trezentos homens que pertenciam a Kamenashi Kazuya, havia pelo menos o dobro disso. Mas o samurai se sentiu mais tranquilo quando avistou Taguchi-dono cavalgando à frente deles. Talvez havia sido um erro de escrita nas mensagens trocadas entre as tropas. Não seria a primeira vez, embora raramente a diferença númerica seria tão grande. Em todo o caso, qualquer que fosse a razão, não deveria ser importante. Taguchi-dono estava ali e tudo estava sob o controle.

 

— Espero que tenha feito boa viagem, Taguchi-dono.

— Foi uma viagem tranquila. Mas uma viagem para trazer o corpo de nosso senhor não seria nunca uma viagem agradável.

— Tem toda a razão. É uma noite triste, sem dúvida, mas honraremos Kamenashi Kazuya-dono como se deve. Taguchi-dono pode descansar, agora nós tomaremos conta do corpo. Vamos levá-lo e prepará-lo para a cremação.

 

Taguchi assentiu. Desmontou do cavalo, deixando o animal com outro samurai, e seguiu Uesugi até a liteira onde estava o corpo de Kamenashi. Seu olhar se cruzou com alguns dos samurais que lhe acompanharam no trajeto até ali e depois se fixou nas costas de Uesugi, este já com a mão na porta da liteira. Taguchi deixou a sua mão sobre o cabo de sua katana.

 

Uesugi abriu a porta da liteira e deixou escapar um suspiro carregado de dor quando uma katana atravessou a sua garganta. Seus olhos se encheram de surpresa quando avistou um samurai de armadura negra ao invés do corpo de Kazuya e ele tentou alertar os demais, mas não conseguia dizer uma palavra, engasgado com o próprio sangue. De dentro da liteira, Tanaka puxou sua katana de volta e o corpo de Uesugi caiu do lado de fora. Pulou rapidamente da liteira, enquanto escutava Taguchi bradar um grito de guerra.

 

A batalha tinha começado.

 

A confusão rapidamente se espalhou pelo território do clã Kamenashi. Os guardas que estavam de vígilia tiveram a desvantagem de não entender quem os estava atacando até uma quantidade de soldados já terem sido abatidos. Eles estavam lutando contra as tropas de Kamenashi Kazuya! Recuperados do susto inicial, mas ainda confusos e indecisos, eles começaram a contra atacar.

 

A desvantagem númerica de soldados entre os clãs havia trocado de lado nesta noite. As tropas de Koichi e Yuichiro estavam distantes, próximas do local em que pretendiam negociar a devolução de Akanishi Jin para seu clã. Lá estavam os homens de Takizawa para impedir que essas tropas partissem em socorro ao palácio. Assim que o poderoso exército Kamenashi se viu acuado em seu próprio palácio pelos homens de Akanishi infiltrados à tropa de Kazuya.

 

Em meio à confusão das lutas, um vulto vermelho e um preto se esgueiraram para dentro do palácio.

 

3

 

Tomohisa sentiu a ansiedade crescer quando viu os dois vultos entrarem no palácio. Tanaka havia sido o encarregado de resgatar Jin, sendo guiado por Kamenashi. Tomohisa, em seu íntimo, achava uma loucura que estivessem confiando no ex-prisioneiro, mas ele não podia questionar as ordens ditas diretamente por Kimura. Além disso, ele percebeu que muitas informações estavam lhe faltando e decidiu que tentaria descobrir sobre isso somente depois que Jin estivesse a salvo.

 

Seu desejo era seguir aqueles dois e encontrar seu senhor o mais depressa possível, mas ele tinha outra missão. Porque esta batalha, além do resgate do primogênito do clã, também era a sua chance de recuperar seu precioso relacionamento. Enquanto abatia os inimigos, Tomohisa caçava pelo seu alvo principal: seu pai.

 

Puxou sua katana após afundá-la no ombro de um inimigo. Um segundo golpe e o samurai estava morto. Defendeu-se de forma automática de um ataque pela direita e abateu aquele samurai rapidamente. Nenhum inimigo se mostrava páreo naquele momento, nenhum deles possuia a mesma determinação ou objetivo pelo qual Tomohisa de fato lutava.  Seu olhar percorreu as lutas mais próximas. Ele sabia onde o seu pai estava antes da luta começar, quando todos ainda estavam nas suas posições da viagem. E calculou a área para a qual ele poderia ter se dirigido após o embate começar.

 

Tomohisa viu Tegoshi eliminando um samurai, notando vagamente que o menino já tinha se acostumado com as mortes. O rosto sujo de sangue inimigo não mais o incomodava e ele lutava com vigor. Próximo a ele, Nakamaru enfrentava seu inimigo com alguma dificuldade, mas certamente venceria. Avistou ainda Ueda, uma imagem quase idêntica a sua: o samurai também não se concentrava nos seus oponentes do momento, caçava o seu alvo. Quem seria, Tomohisa não fazia ideia, mas imaginava que a pessoa não teria um fim agradável.

 

Finalmente, Tomohisa o encontrou. O chefe da família Yamashita estava lutando contra dois oponentes. Era um excelente espadachim, tinha anos de experiência, ele certamente os derrubaria em questão de minutos. E foi o que aconteceu. Tomohisa sabia que não seria fácil. Teria que esperar o momento certo. Enquanto isso, avançava com fúria contra os homens do clã Kamenashi.

 

4

 

Os gritos despertaram Akanishi. Ele se ergueu sobre o futom, notando que Nishikido já estava de pé, vestindo sua armadura e com a mão em sua katana, como se tivesse pressentido o ataque.

 

— Akanishi-sama, arrume-se. O clã Kamenashi está sendo atacado, precisamos deixar este quarto.

— Atacado? Isso quer dizer que meu pai…

— Depois Akanishi-sama vai entender tudo. Agora, não podemos ficar aqui. - e ele o puxou pelo braço para que se levantasse e jogou algumas peças de roupa sobre ele. - Vamos logo.

 

Akanishi se arrumou como pode e o seguiu. Seguiram pelos corredores em que o Jin já havia se habituado a percorrer quando levado para passear pelos jardins do clã. No caminho, eles encontraram alguns homens de Kamenashi e Jin ficou apreensivo, mas Nishikido elevou o tom de voz para anunciar:

 

— O prisioneiro está sob minha proteção. Tenho ordens para levá-lo até nosso senhor.

— Nosso senhor pediu para Nishikido-dono se dirigir ao campo de batalha. Nós levaremos o prisioneiro até Kamenashi-dono. - retrucou o samurai à frente dos outros três.

— Ora… Isso vai ficar mais interessante. - Nishikido murmurou a si mesmo.

 

Ele deu um passo para o lado, indicando que estava entregando o prisioneiro, porém, quando o samurai se aproximou o suficiente, o moreno cortou-lhe o braço em um rápido movimento e o jogou contra os outros, ganhando tempo. Puxou Akanishi pelo braço mais  uma vez para voltarem pelo caminho que vieram. Havia outra rota que os levaria para fora do palácio.

 

Sabia que agora não tinha muito tempo e, além do mais, a saúde do prisioneiro não o permitiria correr para longe. Por tanto, ele precisava encontrar os aliados o quanto antes e entregar Akanishi aos seus cuidados. Esse era o plano, era a missão que ele havia recebido através do bilhete entregue pelo mensageiro dois dias antes.

 

E, pela primeira vez, Nishikido Ryo falharia.

 

5

 

Nem em seus piores pesadelos, Kazuya imaginou que um dia estaria atacando o palácio de seu próprio pai. O plano até ali foi um sucesso. Anunciada a sua morte, eles conseguiram uma justificativa para mobilizar um grande número de samurais em direção ao palácio dos Kamenashi sem levantar suspeita. Acreditando se tratar apenas da tropa de Kazuya, os informantes do clã Kamenashi não se deram ao trabalhar de observar com mais atenção a enorme comitiva. Além disso, com os homens de Kazuya ao lado do clã Akanishi, eles teriam a vantagem númerica e também informações privilegiadas sobre o território para fortalecer suas estratégias de ataque e para o resgate de Akanishi-sama.

 

Kazuya olhou para o samurai que corria ao seu lado pelo interior do palácio. Era verdade que seu espírito e suas convicções haviam sido tocados pelo espírito benevolente de Akanishi Jin, mas havia também aquele sentimento por Tanaka que havia destruído qualquer possibilidade dele se negar a colaborar com esse plano. Ele já tinha traído seu pai, quando contou sobre o sequestro de Jin, assim que ele não devia mais lealdade para o seu clã. Mas quando o samurai provou o seu amor, quando Tanaka se recusou a matá-lo e o ajudou a fugir, Kamenashi sabia que não poderia viver longe dele. Seus lábios formigaram quando se recordou da noite em que acreditou que o samurai o mataria.

 

Estou morto.

 

O pensamento foi inevitável. A expressão de Koki era assustadora. Ainda assim, até mesmo naquele momento, Kazuya deixou seu olhar vaguear pelo torso nu do rapaz. Na verdade, justamente por acreditar que seria a última vez que o via, Kazuya pensou que deveria memorizar todo e qualquer detalhe. Quando o viu se aproximar, sentiu-se emocionado, não conteve um sorriso e manteve sua expressão divertida. Queria provocar aquele samurai até o último instante.

 

Tanaka não dizia nada. Ele se aproximou e o beijou. Simples assim, sem dizer nada, apenas atendeu à vontade do seu corpo. E, talvez, do seu coração. O sexo foi lento, como se isso pudesse evitar que o dia amanhecesse e os separassem, e mais intenso. Ainda estava dentro de Kamenashi quando lhe deu o último beijo e lhe informou que a sua fuga estava planejada.

 

— Você está livre para retornar ao seu clã… Nosso destino… O destino deste clã… De Akanishi-sama… O meu destino… Está nas suas mãos, Kazuya…

— Porque… Porque está fazendo isso?

— Não posso matá-lo. Não sou capaz de explicar minhas próprias ações. Devo estar em febre, o delírio é dono de meus atos, é melhor aproveitar enquanto estou sob este efeito… Apesar de que suspeito de que este mal que me aflige não tem cura… Vá… Fuja. E viva. Destrua-nos, se asssim o desejar.

 

Contudo, há tempos que Kazuya passou realmente a acreditar que o clã Akanishi poderia administrar o território melhor que seu pai. Akanishi-dono deveria ser o Daimiyo daquela região. Acreditando nisso, quando Tanaka o ajudou a fugir do clã Akanishi, ele não teve dificuldades em convencer seus homens a segui-lo.

 

E, agora, estavam lutando lado a lado e com a perspectiva de continuarem juntos após a guerra. Seu olhar se cruzou com o do outro samurai por breves segundos. Lutavam em uma sincronia invejável e imbátivel. Os samurais do clã Kamenashi não se mostravam inimigos à altura.

 

Avançavam, deixando cada vez mais corpos para trás. O caminho que deveriam seguir tinha sido traçado de antemão, eles deveriam eliminar todos os obstáculos até o quarto em que Akanishi era mantido prisioneiro, mas algo havia dado errado, eles souberam disso assim que alcançaram o lugar em que, segundo as informações anteriormente enviadas por Nishikido, estariam mantendo o prisioneiro e o encontraram vazio.

 

— Nishikido foi descoberto. - disse Tanaka.

— … Se ele teve alguma dificuldade, ele deve ter seguido uma das três rotas secretas para os jardins. Mas ele teria quer passar pelo meio da batalha… - explicou Kamenashi.

— Akanishi-sama… - murmurou o samurai, antes de sair correndo para fora do palácio mais uma vez.



6

 

O brilho das chamas foi a primeira coisa que despertou a atenção de Jin quando alcançaram o lado de fora. O palco daquela carnificina nem de longe lembrava a paisagem que ele tinha percorrido no dia anterior. O incêndio, provocado pelos homens de Akanishi para distrair e encurralar ainda mais o clã Kamenashi, tomava boa parte das construções; os servos corriam desesperados tentando controlar as chamas, amedrontados com toda a situação, e tentavam a todo custo se manterem distante das espadas.

 

Em seguida, ele percebeu os gritos e o som das espadas perfurando os corpos; as gramas, antes verdes, agora tingidas de rubro sob os corpos dos combatentes abatidos. E o caos. Apesar das armaduras distintas, na confusão, o vermelho e o preto se confundiam e ele não era capaz de distinguir o guerreiro de cada clã. Era uma cena terrível.

 

Nishikido percebeu o corpo trêmulo do rapaz, bem como sua respiração acelerada e o rosto já pálido.

 

— Está passando mal? Aguente mais um pouco…

— N-não é isso… - ele praticamente sussurrou.

 

O samurai pareceu compreender quando seguiu o olhar de Akanishi. Era evidente, ele estava com medo.

 

— Não se preocupe, Akanishi-sama vai se acostumar com essa cena.

 

Jin o olhou com indignação, mas antes que pudesse protestar, o samurai se aproximou, segurando-o com mais firmeza pelo braço.

 

— Vai se acostumar, porque nada vai lhe machucar. Eu estou aqui. Vai apenas continuar assistindo, como se não estivesse realmente perto de qualquer ameaça e, quando o ser humano percebe-se em segurança...Então ele se acomoda.

— Nishikido vai me proteger? - apesar de ter percebido que Nishikido não pertencia ao clã Kamenashi, ele não estava certo sob a sua lealdade. Afinal, ele já havia traído os dois clãs. Poderia confiar nele?

— Ora, se Akanishi-sama é, afinal, o trunfo desta guerra, poderia este pobre servo ser tão relapso quanto à sua segurança?

 

Havia ironia em demasia nessas palavras, mas, ao mesmo tempo, existia também um sentimento protetor. Nishikido sempre demonstrava muita confiança, era impossível não acreditar em suas palavras. Akanishi conseguiu se acalmar e eles voltaram a andar. Alguns samurais do clã Akanishi os reconheceram e se aproximaram bradando duas espadas. Caíram pouco depois, não havia tempo para explicações, Nishikido precisava levar Akanishi Jin até Kimura-dono e não deixaria ninguém entrar em seu caminho, mesmo aliados.

 

7

 

Finalmente, a chance pela qual ele estivera esperando apareceu. Tomohisa Akira havia sido afastado dos aliados, cercado por três samurais do clã Kamenashi. Tomohisa sabia que eles não eram realmente uma ameaça, conhecia a força de seu pai, era um samurai experiente e sua habilidade era suficiente para resolver esse problema. Além disso, pode notar que do outro lado eram samurais jovens e inexperientes, provavelmente em suas primeira batalha de verdade. Primeira e última, Tomohisa observou. Akira estava apenas brincando com eles, fingindo-se em desvantagens, para, então, surpreendê-los. Por algum motivo, isso irritou ainda mais a Tomohisa.

 

Era estranho pensar que eles possuíam algum vínculo. Qualquer ligação familiar havia se rompido quando seu senhor fora sequestrado. Antes disso, tão pouco existiu qualquer afeto sincero, apenas o respeito. Tomohisa havia sido praticamente criado pelo clã Akanishi, tendo pouco contato com seus parentes.  Quando pensava nele como seu pai, agora existia apenas um vazio dentro de si, que logo era substituído pela raiva quando se recordava de que ele era a causa dos recentes sofrimentos de Jin. Mesmo o sequestro, realizado por Nishikido, havia uma parcela de culpa de Akira. Pois Tomohisa era convicto de que, se estivesse ele ao lado de seu senhor garantindo a sua segurança, não permitiria que nenhum mal se aproximasse de Akanishi, não importasse que tipo de emboscada, ele tinha a confiança suficiente de que superaria qualquer inimigo. A prova disso é que estava a um passo de superar o seu pai.

 

Tomohisa se aproximou quando o primeiro deles caiu em um rápido giro de seu pai. Sangue jorrou do pescoço atingido e o samurai caiu ajoelhado, levando uma mão ao ferimento, mas não havia nada que pudesse ser feito. Quando seu rosto afundou na terra, o segundo samurai também já recebia um golpe mortal.

 

Seu pai não demonstrou perceber a sua presença, ou, talvez a tivesse percebido, no entanto por ser Tomohisa, não julgou necessário se preocupar com as suas costas. Se ele ao menos tivesse se virado e encarado seu semblante… O olhar assassino em seu filho certamente despertaria seus instintos de guerreiro. Se ele ao menos tivesse visto.

 

O terceiro samurai do clã Kameashi caiu ao chão sem qualquer golpe, apenas o medo foi suficiente para desestabilizá-lo. Ele viu Akira erguer a espada em sua direção. E o sangue dele jorrou contra o rosto do assustado samurai do clã Kamenashi.

 

O corpo decapitado de Akira caiu, revelando, para descrença do guerreiro de Kamenashi, outro samurai de armadura negra. Tomohisa, ainda, na posição do golpe, mantinha os dentes cerrados, tentando segurar sua raiva. Em toda a sua vida de guerreiro, aquela era a primeira vez que lutava sendo guiado por um sentimento obscuro e nebuloso como o ódio. Quando rasgou a pele de Akira, sua mente estava totalmente escura e o mórbido prazer em eliminar seu oponente acelerava o seu coração. Mas, para quebrar essa áurea negra que o envolvia, o rosto de Jin sorrindo veio de forma involuntária em seus pensamentos. Mais um pouco, apenas mais um pouco e eles estariam juntos mais uma vez. E seria para sempre.

 

Olhou para a cabeça próxima aos seus pés. Era inacreditável, mas estava feito e não havia arrependimento. Pelo contrário, sentia suas forças renovadas. Agora não existia mais nenhum empecilho que o impedisse de voltar para seu senhor. Permitiu-se sorrir por um instante. Tinha que retornar para a guerra e encerrar esta batalha de uma vez por todas para poder encontrar seu senhor e nunca mais se afastar dele.

 

O samurai de Kamenashi ficou em choque com a lâmina que decepou a cabeça de seu inimigo. E ficou ainda mais assombrado ao constatar que o assassino era de fato outro samurai do clã Akanishi. Aquela batalha havia se transformado em uma verdadeira loucura. Primeiro, as tropas de Kamenashi Kazuya estava atacando o próprio clã, agora, os homens de Akanishi assassinavam entre si. O jovem samurai, contudo, não teve tempo para se recuperar dessa confusão. Tomohisa deixou de olhar para a cabeça de seu pai e foi em sua direção.

 

Para todos, você será o assassino de Yamashita Akira… Seja grato, seu nome vai entrar para a história de seu clã…O-o que…

 

Afundou sua espada numa brecha da armadura e puxou com violência para, em seguida, cortar-lhe a garganta. O corpo tombou e Tomohisa prosseguiu em sua jornada.

 

8

 

Ele não podia lutar com total liberdade, a sua habilidade era no ataque, mas, tendo Akanishi-sama sob sua proteção, ele deveria se manter na defensiva. Não era o tipo de estratégia que ele gostava, contudo era necessária.

 

Neste momento, eles tentavam atravessar os jardins para alcançar o ponto combinado anteriormente para devolver o primogênito do clã Akanishi. O trajeto não tinha sido fácil, mesmo Akanishi estava com cortes em seu quimono, o cabelo bagunçado e o rosto sujo de sangue e fuligem, embora não tivesse sido atingido por nenhum dos ataques sofridos, eram consequências do caminho já percorrido.

 

Caso eles pudessem ter uma visão sobrevoando o campo de batalha, ou ainda o poder da clarividência, Nishikido e Akanishi saberiam que poucos metros os distanciavam de Kimura-dono. Assim o coração de Akanishi se tranquilizaria e o samurai ficaria satisfeito em saber o quão próximo de completar sua missão ele havia chego.

 

Entretanto, não era algo que eles pudessem tomar conhecimento. Foram interceptados antes que pudessem continuar o caminho.



7

 

Seu coração bateu mais rápido quando o viu. Sua garganta já estava seca pelo esforço físico, mas conseguiu pronunciar em um tom audível para o samurai ao seu lado:

 

— Akanishi-sama!

 

Nakamaru não entendeu a resposta do seu companheiro. Todo o ressentimento pela traição de Nishikido ao clã subiu-lhe à cabeça e, acreditando que o rival estava levando Akanishi para o clã Kamenashi, não foi capaz de refletir com clareza sobre suas ações seguintes. Deixou-se dominar pela adrenalina e, num repente de fúria, correu em direção a eles.

 

8

 

Nishikido notou a movimentação um segundo antes de ser tarde demais. Um passo para o lado o salvou de ser perfurado pela lâmina de Nakamaru. Ao recuar do ataque que veio pela sua esquerda, ele empurrou Akanishi por instinto, afastando-o da lâmina, mas o derrubando ao chão.

 

A surpresa de Nishikido logo se dissolveu. Sua mente reconheceu o samurai que o atacava e tal encontro não podia ser mais irônico, foi o seu pensamento. Ali, a sua frente, o seu maior obstáculo para conquistar Ueda. O destino estava lhe oferecendo uma chance valiosa. No entanto, não pode deixar sua mente se distrair analisando as formas e as consequência de assassinar Nakamaru. Ouviu o gemido de Akanishi e o seu espírito prático entrou em ação. Jin era sua prioridade, portanto deveria sufocar seus desejos. Fez um movimento em direção à ele, mas a lâmina de Nakamaru bloqueou sua passagem. Eles se encararam.

 

Nakamaru estava ofegante. Estava lutando há uma hora, a tensão e o cansaço estavam evidentes em seu rosto, sujo de terra, fuligem e sangue. Além disso, enfrentar um rival como Nishikido o deixava ainda mais apreensivo. Para Ryo, o samurai de Akanishi seria uma presa fácil de ser abatida, já que estava praticamente descansado, embora tenha percorrido um trajeto difícil, não se deparou com nenhum combatente à altura.

 

— Você quer mesmo fazer isso, Nakamaru? Não ficou evidente em nossos treinos a diferença de nossas forças? Vamos, em consideração a Ueda, deixarei que siga seu caminho.

— Meu caminho é levar Akanishi-sama de volta. - ele respondeu, hesitante, confuso pelo samurai ter mencionado Ueda. Não entendia a razão, mas isso o deixou mais nervoso.

— Isso eu já não permitirei. - Nishikido afirmou.

 

Akanishi olhou para os dois samurais. Reconheu vagamente Nakamaru, não sabia seu nome, havia visto seu rosto algumas vezes quando se aproximava dos treinos no dojô em busca de Tomohisa. Quis dizer a ele que estava tudo bem, que Nishikido o havia protegido, mas o ar começou a lhe faltar e sua voz não foi alta o suficiente para distraí-los do iminente duelo.

 

As espadas se encontraram. Nakamaru colocou toda a sua força, tentando cortar o bloqueio de Nishikido, que lhe devolveu um sorriso de zombaria e provocação. O samurai de Akanishi gritou furioso e Ryo foi obrigado a recuar, jogando seu corpo para o lado. A espada de Nakamaru quase encontrou o chão. Ele se recuperou rápido da súbita falta de resistência, mas Nishikido já vinha para o ataque e agora a situação havia se invertido. Rangeu os dentes, tentando conter a pressão da lâmina inimiga; sentia a força de seu oponente e percebia que, naquele momento, aquela disputa ia muito além dos interesses dos clãs, embora não pudesse compreender em sua totalidade o que realmente estavam disputando.

 

Para Nishikido, contudo, era muito claro o que estava em jogo e por isso ele se manteve calado sobre sua verdadeira situação dentro dos clãs. Ele poderia explicar sobre o plano de Kimura-dono, e Akanishi-sama confirmaria que estivera sempre sob a sua proteção, mas não o fez. Era evidente que ele desejava vencer este duelo. Imaginou que conquistaria o ódio de Ueda com isso, mas realmente não se importava, desde o começo ele forçou a sua entrada na vida daquele samurai. Essa era a sua maneira de lutar. E, além do mais, seria excitante se Ueda tentasse se vingar… Essa ideia lhe proporcionou mais vigor em seus ataques.

 

Nakamaru não teria a menor chance.

 

9

 

Jin quis interferir, embora não estivesse seguro das intenções de Nishikido. Tinha entendido que ele era um agente duplo e, aparentemente, estava agora do lado de seu clã. Não conseguia compreender porque ele continuava a lutar contra Nakamaru, porque estava desperdiçando tempo de tal forma e, ainda, arriscando a vida de ambos? Não fazia sentido. Isso, é claro, se o seu propósito era realmente levá-lo em segurança até Kimura-dono, como havia afirmado.

 

Talvez, mais uma vez, o samurai o estivera enganando? Quais seriam suas verdadeiras intenções? Era melhor, então, aproveitar aquela chance para fugir?

 

Akanishi Jin olhou em dúvida para aquela estranha situação. Pensou por alguns instantes e por fim decidiu seguir a sua intuição. Levantou-se com alguma dificuldade e se dirigiu para as árvores.

 

10

 

Ueda Tatsuya eliminava seus inimigos como se fossem apenas papéis. A lâmina da sua katana deslizava pelos corpos facilmente, como se ele nem ao menos se esforçasse. O amor é uma força impulsora inacreditável, que permite ao homem realizar grandiosas ações. Assim como o ódio. E, naquele momento, eram esses dois sentimentos que moviam aquele samurai. Sob a óptica de seus inimigos, ele era o monstro ceifador. E, eles sabiam, seus destinos já estavam tragicamente determinado no instante em que cruzaram seu caminho.

 

Depois de mandá-los para o mundo dos mortos, Ueda prosseguiu até avistar, ao longe, dois samurais duelando. Ele teve a intenção de seguir sem incomodá-los, era uma luta justa, um contra um, mas reconheceu a postura e a voz do samurai do seu clã quando ele bradou o nome do líder.

 

Era Nakamaru.

 

Seu coração bateu mais rápido, como sempre acontecia, quando presenciava Nakamaru no campo de batalha. O sentimento era incontrolável, mas suas ações, não. Como nas vezes anteriores, ele mordeu os lábios, desejando que os deuses o protegessem e o tornasse vencedor desta disputa, mas ele deveria continuar. Era a sua ordem para Nakamaru, era o que ele devia obedecer também.  

 

Ueda fechou seus olhos e escolheu seguir em frente.


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