Samurai No Forbidden Love escrita por Kitty


Capítulo 11
Capítulo 11




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Capítulo onze

1

O grito de Kitagawa o fez abrir os olhos. Novamente aquele sentimento horrível, o medo, subiu pela sua garganta. Sentou-se na cama, sua mente estava embaralhada pelo cansaço, pelas dores e pelas cenas chocantes de momentos atrás. Ainda estava tentando se acostumar à visão cruel dos corpos caindo ao seu redor , do sangue esguichando dos corpos e a possibilidade em reviver essas cenas o apavorou.

Desta vez tudo aconteceu de forma ainda mais rápida. Não havia mais samurais para protegê-lo. Após o grito da noiva de Tomohisa, poucos instantes bastaram para o quarto ser invadido pelos homens de Kamenashi. E o olhar deles bastou para afastar todas as imagens de dentro da cabeça de Akanishi e concentrá-lo em si próprio. O pensamento irônico de uma morte na guerra, quando seu estado de saúde era tão deplorável, logo se apagou com a entrada de Nishikido. Ele limpava o sangue de sua katana.

– Tsc. Perdemos mais tempo do que o necessário. Vamos embora. – ele disse.

– Por que? – A pergunta saiu de forma automática enquanto seus pulsos e pernas eram amarrados.

–... Realmente não tem a menor noção do que é uma guerra. – Foi o comentário que recebeu – A luta não acontece somente nos campos de batalha. Traições e conspirações também são armas.

– Armas covardes. Onde está a honra dos samurais? – a resignação de que estava perdido rendeu a Akanishi mais ousadia para continuar a falar.

– Não é mesmo? Eu me pergunto... Onde está a honra dos samurais? – Nishikido lhe repetiu, tranquilamente. – Tomem cuidado com o nosso hóspede. – ele disse fazendo um gesto para os samurais levarem o prisioneiro para a liteira. - Ele vai determinar o futuro desta guerra. – finalizou e sorriu para Akanishi.

2

Enquanto corria entre as árvores o caminho de volta, Tanaka Koki pensava que não havia muito tempo. Precisava voltar ao palácio e contar o que tinha acontecido e, em seguida, emcarregar-se do prisioneiro. Kamenashi Kazuya era, afinal, responsabilidade sua.

O seu coração estava inquieto. Aquela era uma missão difícil, muito difícil, mas havia sido treinado para superar qualquer desafio. Ele venceria aquele. E o que precisava ser feito, seria realizado. O tempo em que ele levaria até o castelo seria o seu prazo máximo para duvidar, arrepender-se, hesitar. Depois disso, não haveria mais espaço para indecisões.

O seu destino e o de Kazuya estariam fatalmente separados. Não podia, afinal, existir amor entre inimigos.

3

Tomou-a em seus braços enquanto a mãe lamentava a morte do filho. Sentiu um arrepio quando imaginou os últimos momentos de Keiko. Ela não merecia passar por isso, muito embora admirasse o seu espírito guerreiro. E ele tinha comprovado em algumas ocasiões quando a visitou durante o curto noivado que ela possuía uma técnica razoável com a espada.

Mas jamais seria o suficiente contra um samurai que recebeu anos de treinamento. Jamais seria o suficiente contra Nishikido Ryo. Sim, não havia dúvidas quanto ao assassino. Segundo o próprio Kamenashi informou, ele era o espião do clã inimigo, ele seria o responsável por levar Jin-dono para o clã Kamenashi. E deve ter sido o responsável por estas duas mortes.

Kimura-dono chegou pouco depois. Respeitou os mortos com um gesto de honra, pensando em quão desnecessárias e cruéis eram as mortes de civis. Olhou para Yamashita, que apenas sacudiu a cabeça. Entendendo a situação, que Akanishi Jin-sama estava com os inimigos, algo que ele já tinha deduzido por conta própria, ele se aproximou da mãe para lhe oferecer algumas palavras de consolo. E pensou em dizer algo para Tomohisa, mas este, com seu espírito prático, controlou rapidamente seus sentimentos.

– Avisarei aos familiares.

– Certo. Fique para a cerimônia, Tanaka já está a caminho do palácio, não podemos tentar seguir os homens de Kamenashi agora.

– Não. Eu avisarei os familiares e voltarei para o palácio. Precisamos pensar no plano de resgate. – e ele estava irredutível, Kimura soube quando o encarou.

E assim foi feito.

4

Não saberia dizer ao certo quanto tempo teria se passado quando eles chegaram ao território dos Kamenashi. Ele revezou os intervalos de breve consciência com sono e desmaios. Sentia seu corpo pesado, por vezes não tinha certeza se estava sonhando ou acordado. Estava delirante.

As vozes soaram distante quando o retiraram da liteira. Ele piscou uma vez e viu o céu azul e o telhado grande do palácio. Viu a bandeira dos Kamenashi. Piscou novamente, estava diante de um homem alto, magro e com uma expressão severa. Ele usava um quimono que evidenciava ser o líder do clã. Jin não entendeu o que ele estava falando e, quando ele acordou novamente, estava deitado em um futon confortável em um quarto grande e bem iluminado. A única evidência do seu cárcere eram as grades na janela, localizada a uma altura impossível de ser alcançada pelo prisioneiro.

Jin observou, em seguida, que seu quimono havia sido retirado e ele vestia um mais ricamente decorado e produzido com igual tecido ao seu. Macio e confortável. Percebeu também que estava mais disposto e a febre tinha passado. Havia sido medicado. Quanto tempo teria passado?

Outro fato que lhe chamou a atenção foi não estar preso. Pensou que certamente a porta do quarto estaria trancada e com vigilantes, mas não havia nenhum samurai no quarto e ele podia se movimentar tranquilamente. Ele se levantou e vasculhou pelos móveis. Encontrou roupas e livros. Havia um lavabo para ele também. E a outra porta, como ele imaginava, estava trancada. Assim que tentou abri-la, uma voz grossa questionou se estava precisando do médico.

– Iie. Estou bem... – e se afastou da porta.

Com tristeza, pensou que o tratamento que o clã Kamenashi – cuja fama era de ser terrivelmente frio e racional – estava lhe proporcionando era mais humano que o de seu próprio clã com Kazuya.

Por mais que se esforçasse, por mais que acreditasse em Tomohisa quando ele lhe dizia serem atitudes necessárias durante uma guerra, Jin não conseguia ignorar estes fatos. Seu clã, não, seu pai havia se tornado naquilo que dizia combater.

Voltou para o futom e sentou com as costas apoiadas na parede, e suspirou. E, agora que já tinha conhecido o lugar que se encontrava e não podia mais distrair seu espiríto, as lembranças das mortes e do grito de Kitagawa voltaram.

Se ao menos ele tivesse obedecido às ordens de seu pai. Se tivesse seguido diretamente para o Sul, certamente teria sido capturado, pois Nishikido era um inimigo, mas teria poupado a cidade e a noiva de Tomohisa.

– Tomohisa...

Ele seria capaz de perdoá-lo?

A angústia cresceu quando pensou na expressão horrorizada do amante ao ser informado da morte da noiva. E, em seguida, pensou em Tomohisa o acusando de ser o responsável pela morte de Kitagawa. Mais do que perder Tomohisa, ele seria capaz de aguentar o seu ódio?

5

Fazia muito tempo desde a última vez em que entrou no palácio, Nishikido observou mentalmente que o lugar não estava muito diferente do que se lembrava. Pelo menos, o salão destinado às refeições dos samurais continuava igual.

Ele preferiu se sentar longe dos outros. Sempre preferiu a sua própria companhia a de mais alguém, mas, rápido percebeu, que os outros samurais não estavam dispostos a lhe deixar sozinho. Nishikido conseguiu escapar da atenção deles nos primeiros dias desde o seu regresso. Esteve ocupado atualizando seu senhor com as informações do clã Akanishi e a situação de Kamenashi Kazuya.

No entanto, a curiosidade dos samurais poderia ser saciada agora. E eles nem ao menos tentaram disfarçar. Foram direto ao assunto. Mas Nishikido preferia assim, dessa forma poderia encerrar a conversa da mesma forma objetiva.

– E, então? – disse o primeiro que se aproximou – A jóia do palácio Akanishi... É realmente tão bonito quanto se comenta?

Nishikido exibiu um sorriso de canto.

– Quer dizer que os samurais de Kamenashi perdem tempo com fofocas desse nível? Parece que algumas coisas mudaram durante a minha ausência...

– Ora, Nishikido-san... É claro que estamos curiosos. – disse o outro, sentando-se ao seu lado, gesto que rendeu um olhar de desprezo por parte de Nishikido. – Dizem que a beleza dele é superior à da esposa do Xogun. E que sua pele é mais delicada que uma pétala de sakura.

– E se for isso mesmo? Vocês não chegarão perto o suficiente para testemunhar com os olhos, quanto mais tocá-lo. É melhor não sonharem com o que não podem possuir.

– Que egoísta! – exclamou um terceiro – Nishikido-san pretende ficar com toda a diversão?

E o sorriso sacana se fez presente no rosto moreno.

– Quem arriscou o traseiro nesta missão, afinal de contas? Mas não se enganem. Eu não me arriscaria a cair na fúria de nosso senhor. Akanishi Jin é, afinal, o nosso xeque-mate nesta guerra.

Ele observou que os outros samurais se tornaram mais sérios e pensativos. E acreditou que eles não seriam estúpidos o bastante para arriscarem a vitória daquela guerra – e suas próprias vidas - por causa de simples desejos sexuais.

Contudo, ele próprio quase não colocou tudo a perder por causa de Ueda?

Quase riu de si mesmo. Longe, era mais fácil controlar aquele sentimento que o fez agir de forma tão irracional. A sua sorte foi o outro samurai ser um poço de frieza e não aceitou a sua ideia maluca de fugirem. Tudo aconteceu como tinha que ter acontecido. Agora deveria se concentrar na parte mais importante do plano. Em pouco tempo, a guerra vai terminar.

6

Três dias se passaram sem que qualquer informação chegasse ao seu conhecimento. Isso era algo lógico, considerando-se que era um prisioneiro. Mas Kamenashi pensou que ao menos Koki viria ao seu encontro. Nem que fosse para matá-lo.

No entanto, ele foi devidamente ignorado. Só via alguma pessoa quando alguém vinha lhe trazer as refeições. Uma vez sozinho, ele tentou cogitar o que tinha acontecido. A única certeza que tinha era que Akanishi estava vivo, caso contrário, Yamashita teria se encarregado de vir matá-lo pessoalmente. E da pior forma possível, ele tinha certeza e estremeceu ao pensar nisso.

Akanishi estava vivo, mas com quem estaria? Porque esse silêncio por parte do clã Akanishi? Estariam preparando um plano de resgate? Eles deveriam imaginar que seu pai não devolveria Akanishi Jin em troca de seu terceiro filho. Tentariam uma invasão? Assim eles colocariam em risco a vida do primogênito. O mais provável é que estavam esperando por um contato por parte do seu clã. Os Kamenashi deveriam fazer o primeiro passo. A proposta. Era o mais lógico e seguro no momento. E seu pai devia estar usando de tortura psicológica. Estava deixando o tempo passar para aumentar a agonia dos Akanishi.

E se o clã Akanishi conseguiu chegar a tempo? Essa hipótese não era nada mais que uma fraca chama em seu coração. Se assim fosse, imaginava que o próprio Akanishi Jin viria ao seu encontro. Para se mostrar decepcionado com a armadilha ou, o mais provável, dizer para ficar tranquilo e lhe mostrar que estava bem.

Quando Koki entrou no quarto de modo brusco e repentino, o coração de Kamenashi pulou. Ele estava vestindo apenas o hakama, deixando seu torso bem definido e cheio de cicatrizes antigas à mostra, e a sua katana estava desembainhada. Mais do que essa postura ameaçadora, foi a expressão daquele samurai que o fez pensar. Estou morto.

7

A sua mente, o seu coração e o seu espírito estiveram em grande agitação nos últimos dias. Ueda se jogou nos treinamentos para organizar a si mesmo. Mal conversava com qualquer pessoa. Acordava mais cedo e era o primeiro a ir dormir. Porque ele sabia que devia estar preparado para enfrentar o seu único alvo naquela batalha: Nishikido Ryo.

Nakamaru apenas lhe observava, distante. Percebia que Ueda havia se afastado não apenas fisicamente, mas percebia que algo o incomodava de uma forma profunda. Não podia entender o que se passava, mas sofria junto com Ueda. E também lhe preocupava as condições da guerra e a situação de Akanishi-sama. Contudo, se o clã Kamenashi oferecesse uma troca, ele imaginava que Akanishi-dono cederia à chantagem e desistiria da guerra para ter seu filho de volta. Se assim fosse, inúmeras mortes seriam evitadas... E isso era algo positivo, embora sob um ponto de vista bastante egoísta e, até mesmo, covarde.

Mas o pensamento de que Tatsuya e ele ficariam bem era algo tentador. Ele se aproximou do rapaz quando ele guardou a espada de madeira e demonstrou que tinha terminado o seu treino solitário. Era madrugada e as únicas iluminações no local vinha de uma fraca chama de velas acessas em candelabros espalhados pelo chão. Nakamaru lhe ofereceu uma toalha.

– Domo. – e Tatsuya recebeu a toalha, mas sequer o olhou.

– Vai ficar tudo bem, Tatsuya.

– Sim, vai ficar. Você está treinando direito?

– Claro que sim.

– Então deveria estar descansando devidamente.

–... Tatsuya também. Tatsuya quer me dar bronca quando não segue os próprios conselhos?

– Eu não sou fraco como você. Por isso, é obvio que nossos treinos são diferentes.

–... Imagino que deva ser a tensão que está fazendo Tatsuya agir dessa forma. Estou consciente de que nada fiz de errado para merecer seu desprezo.

– Não o desprezo. - e, pela primeira vez depois de muitos dias, ele demonstrou que ainda possuia sentimentos em seu tom de voz. Mas ainda não o olhava.

– Talvez. Mas, por alguma razão que me é desconhecida, não tenho sido digno do seu olhar ou sua atenção nos últimos dias.

– O que está dizendo? Estamos numa guerra. Não há tempo para essas bobagens. Discutiremos o que quiser depois que nosso senhor tiver conquistado seus objetivos.

E, então, Ueda finalmente o olhou e foi com alguma surpresa que ele encontrou, ao invés do olhar triste e confuso, a expressão dura e o olhar raivoso de Nakamaru.

– Certo. Conversamos depois. Sempre teremos tempo, afinal.

A ironia era evidente e, por um momento, Ueda desejou desabafar todas as suas angústias, mas sabia que se o fizesse apenas deixaria Nakamaru com os sentimentos ainda mais inquietos. E, realmente, não podia desejar que ele se distraísse dos treinos. Um erro seria fatal. Principalmente porque Nishikido certamente estaria caçando Nakamaru no campo de batalha. Porque não quis fugir com ele, certamente Nishikido descontaria seu ódio e sua frustração em Nakamaru.

E, para protegê-lo, Ueda também precisava estar no auge de suas habilidades.

Gomen nasai, Yuichi. Quando tudo se resolver, certamente vou lhe compensar por tudo isto.

8

Era admirável a mudança que se deu em Tegoshi Yuya nos últimos dias e Tomohisa ficava contente pelo amadurecimento do rapaz, embora tenha sido à custa da vida de seu melhor amigo. Quando soube da morte de Masuda, toda a infantilidade e inocência de Tegoshi afloraram e ele desabou em lágrimas. Como já previa tal comportamento, Tomohisa preferiu lhe contar em seu quarto. Assim que o rapaz pode se entregar a tristeza sem se preocupar com as aparências e responsabilidades de um samurai.

Tomohisa chegou a cogitar procurar Kimura-dono e lhe surgerir que enviasse o rapaz para ajudar nos reparos das casas e lojas de sua cidade natal, mas quando disse isso para Tegoshi, ele recebeu uma postura determinada e uma resposta negativa.

– Porque eu vou honrar a morte de Masuda. – foi a sua resposta.

E a tristeza se limitou a poucas horas. No dia seguinte, ele estava treinando arduamente com Ueda. E, agora, observando-os treinando próximo ao rio, Tomohisa podia reconhecer que seu espírito havia se transformado. Estava diante do nascimento de um novo samurai.

Depois de orientar os treinos, ele se dirigiu até a casa do ferreiro do palácio. Ele próprio estava trabalhando em sua katana até chegar ao ponto de atravessar o corpo de Nishikido como se fosse um papel. De Nishikido e, principalmente, de seu pai.

Estava determinado a resgatar Jin e, quando isso acontecesse, ninguém mais seria capaz de retirá-lo da sua proteção. Ninguém. Nem mesmo o Xogum. Nem mesmo o Imperador. Nem Kamisama.

9

A solidão era a sua maior tortura. Jin estava sendo totalmente ignorado pelo clã Kamenashi. Apenas durante as refeições ele tinha algum contato com uma pessoa ou quando o médico vinha verificar sua saúde. Mas não queria prejudicar as mulheres que vinham alimentá-lo, assim que não tentava conversar com elas. Ele passava a maior parte do tempo lendo aqueles livros, uma forma de evitar os pensamentos ruins que apareciam praticamente a todo momento. Ele sentia vontade de desenhar também.

Suspirou e esfregou os olhos. A Lua já tinha substituído o Sol há algum tempo e a luz das vela cansaram a sua vista. Fechou o livro e o devolveu à estante, parando ali, de pé, seus pensamentos já sendo dominados pelo desejo em encontrar Tomohisa e os temores desse encontro. Jin vivia o conflito de desejar e temer a presença do seu samurai. Estava assustado e queria o seu calor e sua proteção, mas tinha um medo ainda maior do que poderia encontrar no olhar do seu amante. Mas a possibilidade de nunca mais o vê-lo era igualmente assustadora. Seus sentimentos não eram capazes de tomar uma decisão e ele não era capaz de aguentar essa agonia. Talvez fosse melhor se ele simplesmente morresse...

Jin rapidamente expulsou esse pensamento. Sentia como se fosse um insulto a todos que perderam suas vidas nesta guerra e, principalmente, àqueles que morreram durante o seu sequestro. Por mais difícil que fosse este momento, ele deveria honrar suas memórias.

Um barulho chamou sua atenção e Jin se virou para a porta. Um vulto pulou sobre si, empurrando um pedaço de pano grosso contra a sua boca. Ele não entendeu o que estava acontecendo até ser derrubado no colchão.

– Apaguem as velas. - alguém disse, sussurrando.

Antes que tudo se tornasse escuro, Jin viu o dono da voz, um samurai forte e alto com uma expressão ameaçadora e maliciosa em sua direção. A luz da noite entrava pela janela alta e, no escuro, tudo havia adquirido um tom assustador. Os sussurros, os passos, a movimentação que ele não conseguia descobrir para qual direção e, principalmente, o peso daquele que estava sobre si.

Por toda a sua vida, sempre esteve acompanhado pela sombra da morte, mas nunca da violência. Ainda que o assustasse partir deixando tudo que amava para trás, ele sempre imaginou uma morte gentil. Provavelmente tendo seu último suspiro em seu futon, sobre os joelhos de Tomohisa, tendo o seu rosto como a última imagem deste mundo.

Sentiu sua garganta se fechar pelo medo. O coração acelerado já estava roubando-lhe as forças. O pulmão ardia em busca de mais ar e o desespero impedia qualquer gesto racional para tentar escapar daquela situação. Sua mente embaralhou e ele não compreendia mais o que estava sendo sussurrado entre eles. Quando sentiu frio, ele percebeu que seu quimono tinha sido desamarrado e a vestimenta de cima estava aberta. Sentiu o contato com a pele do corpo que se esfregava sobre o seu e sentiu asco. E, então, começou a sentir raiva.

Um sentimento novo, diferente da irritação causada pelas brigas com Tomohisa. A vontade em revidar e fazê-los pagarem por essa humilhação. Tal sentimento lhe proporcionou uma força repentina que lhe proporcionou soltar um braço das mãos que o prendiam. E agiu instintivamente. Seus dedos latejaram pouco depois de desferir o soco no rosto daquele que estava sobre si. Jin escutou o gemido e o xingamento. Sabia que sofreria as consequências. Fechou os olhos, outro movimento por instinto, e esperou pela dor. Que não veio. Ao invés disso, escutou o metal de uma espada sendo desembainhada. E, em seguida, aquele homem gritou mais uma vez. Um grito terrível de dor.

Jin sentiu algo viscoso e quente atingir sua face. A confusão recomeçou. Os homens se levantaram, chutando-o pelo caminho quando tentaram sair do quarto escuro. Jin se encolheu até a parede mais próxima e abraçou a si mesmo. Sua vista, começando a se acostumar com a escuridão, começou a distinguir os vultos e as vozes.

– Maldito seja! Identifique-se!

Mas, seja lá quem fosse o intruso, permanceu em silêncio. Apenas a sua espada se fazia ouvir. Jin escutou um gemido seguido de um barulho seco, como se algo redondo caísse no chão de madeira. O que quer que fosse, rolou até encostar em sua perna. Era algo quente.

Os gritos de raiva e dor se misturaram. Foram silenciados um a um, até que o som do corte afiado da katana fosse o único som naquele quarto. Quando o último corpo caiu, Jin voltou sua atenção para aquela figura estranhamente familiar. O intruso agachou buscando por uma vela e a acendeu. Virou-se e caminhou até Akanishi, agachando-se diante dele. E, então, Jin soube quem era.

O rosto de Nishikido Ryo estava marcado com o sangue dos samurais assassinados. A luz da vela lhe dava um aspecto fantasmagórico, mas, apesar disso e do sangue que lhe cobria, Jin percebeu o pequeno sorriso. Não era irônico ou malicioso, como muitas vezes Yamapi o descrevera. Era, de alguma forma, um sorriso reconfortante e seguro que o deixou mais calmo.

– Akanishi-sama não precisa se preocupar. Ninguém vai lhe tocar outra vez.

Ele disse isso e depois afastou a cabeça que tinha rolado para junto de Akanishi durante a luta.

10

Sentia-se estranho. Não conseguiria dizer em palavras o que era aquela sensação dolorosa em ter cumprido com as suas ordens. Tanaka Koki retornava para o seu quarto e devia estar satisfeito, mas não estava. A espada manchada de sangue que carregava parecia mais pesada que o habitual. Mesmo após uma longa batalha, quando rasgava a carne e roubava a vida de tantos homens, ela nunca havia pesado como agora.

Deixou sua espada cair no tatame quando entrou em seu quarto. Sabia de suas responsabilidades. Sabia que o que tinha feito era o necessário, ele havia recebido essa ordem diretamente de Kimura-dono. Ele tinha cumprido a sua missão.

Mas porque era tão doloroso?

O rosto de Kazuya mantinha uma expressão atrevida, mas seu olhar brilhava e Tanaka estava incerto se por medo ou insegurança. Havia um sorriso curto nos lábios rosados. Mesmo diante da morte, ele sempre seria sarcástico. Sua pele estava quente, ele soube quando tocou seu rosto para beijá-lo pela última vez.

Alguém bateu em seu quarto quando estava prestes a desamarrar seu quimono. Era Yamashita.

– Entre, por favor.

A porta foi arrastada para o lado. O samurai usava vestes escuras, sua aparência gentil havia desaparecido junto com Akanishi-sama. Desde então, Yamashita era praticamente uma sombra vagando pelos corredores do palácio quando não estava treinando sua espada.

– Desculpe incomodá-lo. - ele pediu - Não tomarei muito do seu tempo. Soube que Kimura-dono lhe ordenou que matasse o prisioneiro… Apesar de eu ter solicitado por esta missão.

Koki o observou melhor. Não era muito comum a falta de cordialidade em Yamashita. Nãoe ram amigos, sempre tiveram um bom relacionamento, porém distante. Podia perceber pelas suas palavras, curtas e objetivas, a ansiedade que o rosto escondida muito bem. Depois daquela tortura em público que Yamashita aplicara em Kamenashi, não era uma novidade que o samurai odiasse o prisioneiro. E certamente desejou matá-lo com suas próprias mãos depois do sequestro de Akanishi-sama.

Podia sentir sua frustração. Koki pensou que sentiria o mesmo, caso estivesse em seu lugar. Decidiu ser igualmente direto.

– Não se preocupe, Yamashita-dono. Kamenashi Kazuya já não está mais entre nós.


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