Luna Lovegood

Malfoy era o ser mais desprezível do universo. Disso ela não tinha dúvidas.

Ela se sentia muito idiota por ter pensado que ele pudesse ter mudado ou que algum pouco de sensibilidade pudesse ter nascido dentro dele. Não! Ele não era capaz de deixar de ser frio nem mesmo por decreto.

E o pior nem era o fato de estar irritada com ele. O pior era que Luna se sentia uma droga por dentro.

E tudo isso por culpa daquele sentimento idiota que pulsava dentro dela. Ela estava, sem dúvida nenhuma, apaixonada por Malfoy.

- Maldito seja Draco Malfoy, maldito seja você e essa sua cara de doninha albina! - resmungou enquanto dobrava a esquina da rua de sua casa.

Ela estava tão distraída proferindo xingamentos para o loiro que não percebeu que alguém estava vindo em sua direção até tropeçar em cima da pessoa.

- Mas que m... – ela começou a falar e olhou para cima, encontrando olhos muito verdes encarando-a divertidamente. – Ah, oi Harry – ela murmurou enquanto ele ajudava-a a se equilibrar.

- Parece que tem alguém bastante irritada por aqui – o moreno comentou enquanto sorria amigavelmente. – Não que seja da minha conta, mas você parecia estar querendo matar Malfoy pelos seus comentários – Luna estreitou os olhos e ele ergueu os braços como em rendição, sem nunca tirar aquele ar divertido de seus olhos. Era irritante! – Não que eu seja contra, claro – então ele pareceu perceber que ela não estava com humor para piadinhas e ficou sério de repente. – Ele te fez algo Luna? Porque eu iria adorar descontar um pouco da minha frustração naquele idiota.

Harry parecia bastante sincero ao se oferecer para ajudar e isso tirou um pouco da tensão dos ombros de Luna.

Ela suspirou.

Luna e Harry nunca foram muito próximos, mas, como ela convivia bastante com Hermione, inevitavelmente convivia com Harry, afinal eles viviam juntos. Apesar do que muitas pessoas costumavam falar sobre ele ser um cara totalmente estúpido e egocêntrico, Luna – que era muito boa avaliando pessoas – havia percebido que ele era um cara bastante legal e leal com os amigos.

Simpatizava com ele.

- Ele só foi o mesmo idiota de sempre – ela resmungou e suspirou mais uma vez. – Mas obrigado pela oferta – e sorriu.

Harry sorriu em resposta e ela franziu a testa.

- Então... Você disse que estava frustrado? – ela perguntou e o observou mais atentamente. Harry parecia... Cansado. Como se não dormisse há algumas noites direito.

Harry encarou-a por um momento, como se avaliasse o que deveria contar a ela.

- Estou tendo uma semana ruim – ele disse simplesmente.

- Então somos dois – ela disse amargamente, lembrando da catástrofe que estava a vida dela nos últimos dias. – Acho que preciso comer pudim.

Harry, parecendo achar estranho o comentário, encarou-a indagativamente.

- É que quando eu era pequena e minha mãe ainda era viva, ela sempre fazia pudim para me fazer sentir melhor – ela disse e revirou os olhos. – Bobagem, mas funciona.

O garoto voltou a encará-la e sorriu.

- Conheço uma loja de sobremesas aqui perto que com certeza você vai gostar – ele falou e puxou-a pelo braço.

Claro, era uma coisa realmente anormal ser puxada por Harry Potter para ir à uma loja de sobremesas depois de terem uma pseudo-conversa completamente sem pé nem cabeça.

Mas era legal até.

Pelo menos ele não tem vergonha de mim. Ela pensou consigo mesma, sentindo um aperto ao lembrar do comportamento de Malfoy quando estava perto dela.

Assim que chegaram à tal loja e sentaram, com seus pratos cheios de sobremesa, Luna encarou Harry que parecia estar apreciando seu doce.

- Harry – ela o chamou e ele a encarou indagativamente. – Posso te perguntar uma coisa?

O garoto confirmou com a cabeça.

- Não que eu não tenha gostado, claro, mas por que você decidiu me trazer aqui hoje? Tipo, nós nunca nem sequer conversamos direito – ela disse enquanto observava a expressão dele.

- Bem... – ele começou e soltou sua colher. – Eu também não faço ideia – ele sorriu como em desculpas. – Quero dizer não que não seja legal estar aqui com você e tudo o mais. Mas eu acho que o que você disse sobre o pudim da sua mãe e sobre não estar tendo uma semana muito ruim. Acho que eu fiquei feliz em saber que não sou o único numa maré ruim. Sem ofensas – ele concluiu e a observou.

Luna ouviu tudo com muita atenção. Ele parecia estar sendo sincero. Ela sorriu.

- Ótimo – ela falou. – Fico feliz em saber que não é nenhum tipo de aposta do tipo “chame a lunática para sair” ou algo assim.

Harry pareceu chocado com suas palavras e ela deu de ombros.

- Sem ofensas, mas é algo que alguém como você parece fazer só por diversão – concluiu.

- Hum – ele começou a falar, mas pareceu reavaliar e concordou com a cabeça como se aceitasse o comentário. – É, mas não estou com cabeça para esse tipo de brincadeiras ultimamente. E você é legal – ele disse.

- Ser legal é um dos itens da lista das pessoas com quem você e Rony não fazem brincadeiras? – ela perguntou, mais por brincadeira do que seriamente.

- Depende – Harry respondeu com o tom brincalhão. – Neville é legal, mas nós gostamos de brincar com ele.

Luna revirou os olhos.

- Pobre Neville, vocês são maus – ela disse taxativamente o que apenas o fez rir.

- Isso porque você não sabe como eram meu pai e meus padrinhos na escola – ele sorriu nostálgico. – Pelo que me contam, eles eram definitivamente piores.

- Medo – ela comentou e deu uma colherada no pudim, colocando-o na boca e sorrindo internamente.

Ela amava pudim. Era tão doce, fofinho e deliciosamente bom.

- O que o Malfoy fez? – Harry perguntou após algum tempo de silencio em que ambos apreciavam suas sobremesas.

Luna o encarou e percebeu que ele não estava querendo ser intrometido, só parecia preocupado.

Ela não se deu conta, mas quando viu já estava contando sobre o desastre que sua vida havia se tornado.

- Quero dizer, ele é simplesmente o cara mais infelizmente idiota do mundo inteiro entende? – ela perguntou enquanto Harry concordava fielmente com a cabeça. – E ele tem aquele jeito de andar e de falar completamente irônico que me irrita profundamente. Poxa, ele se acha superior à todos. É irritante! Sem falar que sempre que tem alguém por perto quando estamos juntos, ele fica se encolhendo e nem fala direito. Ele tem vergonha de mim, acredita? Vergonha – ela bufou e sentia-se tremendamente leve por ter falado tudo aquilo. Harry era um bom ouvinte. – Até você, com tudo o que dizem sobre ser egocêntrico e galinha, não sai correndo toda vez que me vê. Ele só faz isso porque faz parte da mui importante família dos Malfoy. Pelo amor de Deus! É totalmente ridículo!

Harry, que havia feito careta quando Luna comentou sobre seu egocentrismo, agora balançava a cabeça incrédulo.

- Ele é ainda mais estúpido do que eu pensava – comentou e Luna sorriu com satisfação ao ouvir mais alguém xingar o idiota. – E você gosta dele. – Concluiu como se fosse óbvio.

Não que ela não soubesse o que sentia, mas ela não pensou que estivesse assim tão claro. Especialmente para alguém que parecia tão... Insensível quanto Harry. Sem ofensas.

- C-como...? – ela começou a perguntar, mas ele sorriu e a interrompeu.

- As pessoas podem falar o que quiserem de mim, mas eu sempre sei quando vejo garotas apaixonadas – ele concluiu.

- Você é um galinha mesmo – ela riu e ele revirou os olhos.

- Não sou ninguém para dizer que você deveria ter escolhido uma pessoa melhor, mas sinceramente, eu não acho que gostar do Malfoy vai te trazer bem algum.

Luna suspirou pelo que parecia ser a enésima vez naquele dia.

- Eu sei, mas não é como se eu conseguisse simplesmente deixar de gostar – deu de ombros.

- Nunca entendi isso, sabe? Das pessoas gostarem assim umas das outras – Harry estava bastante sério ao comentar aquilo. – Tipo, eu já fiquei com várias garotas, e algumas vezes eu achava que gostava mesmo delas. Mas era só achar mesmo, porque nunca foi... Assim – e apontou para Luna. – Sempre pensei que tenho algum problema.

A boca de Luna se abriu em um perfeito ‘o’ ao ouvi-lo dizer aquilo.

Normalmente garotos que tinham todas as garotas que queriam adoravam aquela vida, e ele estava ali na sua frente dizendo que achava que tinha algum problema por não conseguir gostar de alguém.

Harry percebeu olhar dela e corou fortemente, como se estivesse com vergonha de ter falado.

- Você só não deve ter encontrado a garota certa ainda – Luna disse após se recuperar d choque.

Talvez ele não fosse assim tão ruim.

- É, deve ser – ele suspirou e voltou sua atenção para o doce.

Harry Potter

Depois de passar uma tarde estranhamente agradável junto com Luna – que era muitíssimo legal, aliás – Harry a acompanhou até sua casa e caminhou lentamente até a sua.

Ele estava tentando evitar ver seus pais desde que havia acordado, mas, agora, parecia inevitável. Afinal ele precisava ir para casa.

Com um longo suspiro Harry abriu a porta e entrou na casa.

Para seu completo desânimo, seus pais pareciam estar esperando-o, James em pé encostado na porta que dava para a cozinha e sua mãe sentada no sofá parecendo nervosa.

- Oi – Harry disse fechando a porta atrás de si.

- Harry – sua mãe começou a falar enquanto James se desencostava da porta e se aproximava. – Precisamos conversar.

Harry sentiu um tremor espalhar pelo seu corpo e agiu instintivamente, falando antes de dar-se conta.

- Eu também preciso falar sobre algo com vocês – ele disse.

Seus pais franziram a testa.

- Acho que pode deixar isso para depois Harry, o que temos para dizer é bastante sério – James interrompeu-o encarando-o compreensivamente.

- Mas o que eu tenho que dizer é sério também – Harry insistiu, percebendo pela primeira vez o quanto seu plano era ridiculamente estúpido.

Como que uma namorada poderia mudar algo na separação de seus pais?

James iria falar mais alguma coisa, mas Harry interrompeu-o antes que começasse a falar.

- Eu estou namorando – ele disse com convicção.

Os dois arregalaram os olhos, parecendo espantados.

- O quê?