Idiota, idiota, idiota, idiota. Ele é um idiota! Já fazem quase quatro anos que nos conhecemos e ele ainda não se tocou. Burro! Estúpido! Ele pode ser isso tudo, mas ele é meu. MEU. Mike é meu e eu não vou deixar NINGUÉM chegar perto dele. Nem aquele esquisito que fala com mortos! Ninguém!

É claro que eu sou uma garota, tenha dó! Se bem que talvez para ele não faça muita diferença. Eu já peguei aqueles dois numas conversas bem estranhas, e até teve aquela vez em que - deixa pra lá. Toda vez que lembro disso, tenho vontade de matar o esquisito e jogá-lo no Tártaro.

-- Annie, você está com uma cara esquisita Sua cara já é esquisita, mas agora está ainda ma... DESCULPA EU PARO! - Mike gritou quando dei uma chave de braço nele.

-- Pare de agir como um trambolho ambulante - resmunguei - por que você fica agitando os braços enquanto anda? Parece que está tentando chamar atenção.

-- As pessoas agitam os braços enquanto andam para manter o equilíbrio. Não brigue comigo.

-- Você está me irritando.

-- Você é muito nervosinha... Ai!

Eu não gosto de bater nele. Nem um pouco. Mas eu bato em todo mundo, e não posso fazer parecer que... Ele não notaria, de qualquer jeito. Ele nunca percebe nada. E se algum filho de Afrodite notar eu agindo diferente, minha vida acaba.

-- Ei, Quíron pediu para não contar a ninguém sobre o tal fantasma. O que você vai fazer? - perguntei.

-- Espalhar o boato e induzir o pânico, óbvio.

-- Típico de você.

Mike abriu um sorriso sarcástico. Ele arrumava briga com todo mundo, mas era bem-relacionado. Principalmente com os filhos de Hermes. Nada como uma confusão para deixar os pequenos crimes passarem despercebidos.

Eu era normal. Tinha amigos de vários chalés, me dava bem com a maioria das pessoas. Alguns me olham torto por ser filha de Nêmesis, mas nada além disso. Minha vida não tem nada de interessante.

Eu odeio meu nome. Annelise. Meu pai era mexicano e morava nos EUA desde pequeno, mas quis me colocar um nome diferente. Que saco! A maior parte das pessoas não consegue pronunciar. Por isso eu sempre digo para me chamarem de Annie. Para ter uma ideia, esse é o meu segundo maior problema. Vem logo depois de deixar Mike longe do filho de Hades.

Aí aparece essa droga de fantasma. Pronto, eu tenho certeza que ele vai ferrar com tudo. Vai arrastar o carinha pra uma missão e Mike vai querer ir junto. Minha vida estava ótima até agora. Por que Mike tem que ser tão próximo do zumbi? Deixe ele de lado, ele tem seus mortos pra conversar!

Eu juro que isso não vai ficar assim. Se eles forem, eu vou também. Nunca que eu vou deixar aqueles dois viajarem sozinhos, sem ninguém real para dar um limite nas brincadeiras.

-- Annie, você parece nervosa. Aconteceu alguma coisa? - Mike quebrou o silêncio.

-- Aaah, não, sabe. Nada! Nadinha! Não tem nada a ver com você! Não pergunte!

Ele franziu o cenho.

-- Tem certeza? Cara, eu sou seu amigo. Não se preocupe. Sei quando é sério e quando é brincadeira.

Não me chame de cara! E não diga que é meu amigo assim. Fica parecendo que você nunca admitiria algo a mais do que isso.

-- Cale a boca - respondi.

-- Tá certo então. Eu vou ali falar com os caras e já volto.

-- Tente não provocar a terceira guerra mundial.

-- Legal! Boa ideia! - ele saiu correndo. Ops. A maior parte das pessoas consideraria isso uma brincadeira, mas eu conheço Mike e sei como ele ama uma confusão. Causar a terceira guerra mundial talvez estivesse em seus planos para o futuro.

Fantasmas... Eu nunca gostei de fantasmas. Não é um medo, é só... Tipo, imagina que você tá, sei lá, tomando banho, e tem um pedófilo-morto-invisível de 50 anos te espiando. Ele pode me ver e descobrir tudo sobre mim, e eu nunca vou saber que ele esteve lá.

Peguei uma pedra e a atirei longe, sem olhar. Um grito agudo me informou que eu acertara alguém. Ótimo.

-- Ei, você! - alguém gritou na minha direção.

Virei as costas e andei em direção ao lago de canoagem. Daqui a pouco os filhos de Poseidon sairiam da aula, e eu tinha contas a prestar com alguns deles.

Afinal, eu sou a pessoa mais vingativa desse acampamento.