O Segredo Da Vida escrita por miss_lovato


Capítulo 1
O começo




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Minha visão estava totalmente embaçada e eu me sentia fraca. Minha cabeça girava como se eu estivesse em um daqueles brinquedos que rodam no parque de diversões. Eu sentia que a qualquer momento iria...

(...)


- Heby? Você está me ouvindo? – Ouvi a voz da minha mãe me chamar e então eu fui ficando consciente de novo. Minha visão que antes estava péssima agora já se tornava nítida aos poucos.

- Hm? – Murmurei baixinho olhando em seus olhos.

- Graças! – Ela deu um suspiro de alívio e me abraçou. - Você me deu um susto!

- Mãe, isso já aconteceu umas mil vezes, não sei por que fica tão assustada! – Eu resmunguei revirando os olhos.

- Esses seus desmaios estão se tornando frequentes Heby, isso não é normal.

- Tanto faz, eu sei que vou morrer mesmo. – Murmurei friamente.

- Nunca mais diga uma coisa dessas! – Ela mandou com seus grandes olhos arregalados e sua voz brava.

Não sei porque as pessoas ficam tão nervosas quando alguém fala em morte. Morrer é uma coisa natural, todos os seres vivos da terra um dia vão morrer. E cá pra nós, é melhor morrer do que ter que viver com uma droga de doença a vida inteira.

- Pra onde estamos indo? – Mudei logo de assunto, afinal se continuássemos essa conversa sobre morte ela iria dar um ataque que eu não estava afim de ver.

- Para o hospital.

- Hospital??? Eu não quero ir pra lá!

- Heby, isso é para o seu próprio bem!

- Eu odeio aquele lugar!

- Você só vai fazer alguns exames, se ficar tudo bem nós voltamos pra casa!

- Como assim SE ficar tudo bem? Você acha que eu estou com alguma coisa além da minha doença? – Era só o que faltava pra completar a minha desgraça de vida.

- Eu não sei... Da ultima vez que você fez os exames não deu nada grave, mas agora você está desmaiando quase todo dia...

- Droga! Porque logo eu preciso de uma medula óssea? Eu só queria ser normal como as outras garotas da minha idade... – Disse de cabeça baixa.

- Não diga isso filha, você é perfeitamente normal, só precisa de uma medula! E eu juro que vamos encontrar um doador pra você! –

- Já estamos na fila a meses mãe! – Resmunguei tentando fazer ela parar de sonhar alto. Afinal quanto mais alto maior o tombo.

- E vamos continuar firmes e fortes até encontrar uma medula novinha pra você! – Ela disse persistente.


Eu sofro de uma doença conhecida como “SMD” síndrome mielodisplásica. As síndromes mielodisplásicas são um grupo de doenças da medula óssea caracterizadas por uma produção insuficiente de células sanguíneas sadias. Ela pode ser considerada um câncer, mas eu prefiro nem pensar na palavra...

E por causa dessa droga de doença eu estou na fila para o transplante de medula óssea.

(...)

Quando chegamos no hospital, minha mãe me levou direto para a sala do dr Peter. Ele já era meu médico a muito tempo atrás...

- Bom dia doutor! – Minha mãe disse sorrindo quando nós entramos na sala.

- Bom dia Eliza! – O médico se levantou animado e deu um abraço nela. Depois ele me olhou. – Olha só! Resolveu voltar pra me ver é Heby?!

- Não exatamente – Eu ri – Eu preciso fazer novos exames.

- Porque? Aconteceu alguma coisa? – Agora ele perguntou olhando pra minha mãe.

- Sim, os desmaios dela pioraram e ela está tão fraquinha e pálida... – Minha mãe afagou meu rosto.

- Certo... – O médico me analisou. - Vamos pra sala de exames.

(...)

- E então doutor? Está tudo certo não é? – Minha mãe perguntou visivelmente preocupada.

- Bom... – Dr Peter disse olhando para a prancheta em suas mãos. – Não exatamente.

- Como é??? – Minha mãe se desesperou e eu senti meu estomago embrulhar.

- De acordo com os exames, Heby está com anemia. Por enquanto é uma anemia fraca mas se não ficar internada pode piorar. – Ele disse e minha mãe me abraçou e começou a chorar baixinho.

- Internada??? – Eu repeti estática. EU NÃO VOU FICAR INTERNADA! – Berrei

- Heby sua doença não é brincadeira ela é coisa séria! Você tem que entrar em tratamento hoje mesmo. – O Dr falou.

- EU NÃO QUERO!

- Filha por favor, não dificulte as coisas... – Minha mãe implorou com o rosto todo molhado pelas lágrimas.

- Venha Heby, eu vou te mostrar seu quarto enquanto sua mãe volta pra casa e pega suas roupas. –

- NÃO! – Eu me levantei da cadeira.

- Se acalme Heby. – O médico pediu pacientemente.

- VOCÊ NÃO PODE ME OBRIGAR! – Eu gritei e saí correndo.

Corri o mais rápido que pude pelo grande hospital e acabei esbarrando em alguém.

- Ai! – A pessoa resmungou caída no chão. Eu nem fiz questão de olhar quem era e comecei a correr novamente.

De repente dois braços fortes me envolveram por trás. Eu comecei a me debater feito uma louca enquanto outros médicos vinham correndo para me segurar.

- AAAAAAAAAAA! – Eu berrei tentando me livrar deles.

Minha respiração foi ficando ofegante, a minha visão estava embaçada. Eu já sabia o que iria acontecer, mas eu não podia desmaiar, não agor...

(...)

Pí... Pí... Pí... Pí... Pí...

Aquele barulhinho irritante invadia minha cabeça. Abri meus olhos lentamente  e dei de cara com um quarto de paredes pintadas em marfim e pérola.

Senti uma picada no meu braço e vi que uma agulha estava enfiada nele pra transportar o soro.

Droga. Eles conseguiram me trazer pra cá.

A porta se abriu lentamente e Dr Peter apareceu na sala.

- Oi! Está mais calma? – Ele perguntou mas eu não respondi. - Me desculpe Anna, eu sei que você não queria estar aqui, mas eu só estou tentando te ajudar.

- Tanto faz. – Falei indiferente.

- Bom... Quando você terminar de tomar o soro eu deixo você andar um pouco pelo hospital. Mas tem que prometer que não vai fugir!

- Andar pelo hospital pra que? Pra ver gente doente? Não muito obrigada. – Disse seca.

- Esse hospital tem gente doente sim, mas eles são fortes e dão valor a vida. Os pacientes daqui lutam contra suas doenças como se fossem barreiras que encontramos na vida. Todos tem problemas Heby..

(...)

Eu fiquei por um bom tempo tomando aquele soro, ai enfim ele acabou.

Aquele quarto estava um verdadeiro tédio. Não tinha nada pra fazer. Então resolvi fazer o que o Dr sugeriu, andar pelo hospital.

Me levantei da cama e sai do quarto. Caminhei pelos corredores de cores claras. Até que ali não era assustador, pelo contrário era até agradável...

Todas as salas do corredor estavam fechadas. Mas uma estava entreaberta.

Eu cheguei perto da porta e abri mais um pouco pra poder olhar. Então vi um garoto sem camisa sentado na cama e uma enfermeira ouvindo as batidas do coração dele com um esteto. O garoto tossia muito e passava a mão no peito constantemente. Devia ter algum tipo de doença respiratória.

Ele parecia ter mais ou menos a minha idade. Tinha a pele bem branquinha e o cabelo castanho claro.

Era a primeira vez que eu estava vendo um adolescente nesse hospital. Ou deve ser porque eu nunca procurei.

Continuei olhando pra eles e vi o garoto falando algo no ouvido da mulher, ela sorriu e fez um não com o dedo. Ele segurou a cintura dela, mas a enfermeira logo se afastou e brigou com ele. Eu ri um pouco alto com a situação e ele olhou em minha direção. Abaixei minha cabeça rapidamente e sai de lá correndo.

Continuei andando pelo hospital e encontrei um monte de velhinhos jogando xadrez.

Um senhor de barba e cabelo branco tacou sua muleta no meu pé.

- Ai!! – Reclamei de dor.

- Olha por onde anda menina! – Ele resmungou como se eu fosse a culpada. Mas que velho mal-humorado!

- Até que enfim te achei! – O Dr Peter veio correndo até mim.

- Oi!

- Parece que seguiu meu conselho e veio dar uma volta pelo hospital não é?

- Se eu vou ficar internada aqui, então tenho que pelo menos conhecer o lugar.

- Certo. Mas agora você vai voltar para o seu quarto. Você não esta totalmente recuperada e precisa descansar.

- Ta... – Concordei e fui andando para o meu quarto.


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Notas finais do capítulo

Se alguem estiver lendo isso, dê sua opnião ;)