Pov JAKE

– Perdemos nossas identidades para prosseguir no que dizemos. Mas se permanecemos orgulhosos não vemos o que os outros querem que nós vemos - disse o Sr. Finn em uma de suas aulas sobre a vida, o sentimento. Onde tudo fazia parte da história, como ele mesmo dizia.

Hamilton e eu estavamos sentados um do lado do outro e não paravamos de nos olhar. Faziamos isso a toda hora, desde que ele descobriu a verdade sobre mim. De que eu era uma garota e não um garoto, como eu estava vestida no momento.

A questão era que deviamos manerar e se comportar de modo diferente na presença de outras pessoas, para que estas não desconfiassem de nada, ou entendessem mal. Mas o caso era que não conseguiamos fazer isso. Simplesmente nos olhavamos descaradamente.

Naquela mesma tarde, depois do banho, pensei em verificar meu e-mail, Talvez tivesse algo para mim, fazia muito tempo que eu não olhava. Sentei na cadeira e apertei para sair do protetor de tela, onde aparecia um slide com foto minhas e da minha mãe famosa. Eu estava com saudades dela, não podia negar.

Entrei na minha conta de e-mail e depois que esperei carregar, me peguei em frente ao notebook e vi uma mensagem da minha mãe. O que será que ela queria? Cliquei e li o que estava escrito. Meus olhos arregalaram-se. O mouse escorregou dos meus dedos trêmulos e eu percebi que estava tremendo.

Não! Isso não está acontencedo!

Não consegui acreditar no que eu havia acabado de ler. E se isso fosse verdade eu estava ferrada.

Relutante, levantei da cadeira e sai correndo do quarto, desci a escadaria principal e segui depressa, em direção a sala de video, onde savia que Hamilton estava.

Pov HAMILTON

Não estava passando porcaria nenhuma na televisão, e eu não tinha nada para fazer. Jake havia ido tomar banho e eu não estava afim de ficar jogando bola com os garotos lá fora.

Enquanto tentava mudar de canal para ver se estava passando alguma coisa, ouvi passos correndo pelo corredor, então a pessoa entrou como uma louca dentro da sala de video.

– Oi - disse surpreso, mas também não liguei de Jake ter entrado correndo.

– Minha mãe está vindo!

Com isso ela conseguiu chamar toda a minha atenção. Eu me virei para Jake.

– Meu Deus! - só consegui dizer isso.

– Ela abriu mão dos ensaios para vir me ver. Mas não sou eu! - disse Jake ofegante - Sou alguém que me inventei para confundi-lá, para se sentir culpada por não me conhecer. Por isso fiz isso, para ela saber que eu existo!

– Acha que ela sabe? - perguntei, querendo dizer se ela sabia de que Jake estava fingindo ser um homem.

– Não. Acho que não.

– Mande um e-mail dizendo para ela não vir - tentei aconselhar - Ela não podera te ver.

Ela acha que estou na Rawley para garotas - disse Jake desesperada, mal ouvindo o que tinha acabado de falar - O que eu posso fazer?

– Fugir - disse, mas depois me arrependi. Não queria que Jake fosse embora.

– Espera! - disse ela, de repente - Meu Deus! Eu tenho que me depilar.

– O que? - perguntei, mas ela já havia corrido para fora da sala de video.

Pov JAKE

Enquanto me vestia como uma garota, mandei Hamilton ficar com os olhos fechados. Ele pediu para poder ficar na quarto, esperando, enquanto eu me arrumava. Então pedi para ele tampar os olhos.

Coloquei um vestido rosa que eu havia trazido para emergências, como esta que eu tinha agora. Eu adorei esse vestido, não só porque ele era rosa, mas também porque me fazia lembrar da minha mãe. Ela adorava quando me vestia assim.

Depois que terminei pedi para que Hamilton abrisse os olhos. Fiquei parada, esperando para ver o que ele achava.

Pov HAMILTON

Já estava farto de ficar com a mão nos olhos, então fiquei feliz depois que Jake disse que já podia abri-los. Estava muito curioso para vê-la de garota. Já não era sem tempo.

Comecei pelos pés e fui subindo devagar. Não conseguia acreditar no que estava vendo. Ela era linda.

– O que? - disse ela, sorrindo e pela primeira vez prestei atenção em seu rosto. Era tão feminino. Como pude não perceber isso antes?

– Uau! - foi o que consegui dizer.

– É serio? - perguntou Jake, ainda com o sorriso no rosto, indo até o espelho - Hm. Uau. É o único que encontrei nessa cidade.

Eu não consegui nem ouvir direito o que ela estava falando. Estava hipnotizado. Levantei da cadeira sem tirar os olhos da mulher que estava na minha frente.

– Uau! - disse de novo. Poderia dizer isso quantas vezes ela quisesse que eu não me importaria.

Jake começou a rir e percebi que sua risada, que tantas vezes ouvi, também era bem feminina. Agora eu estava enxergando ela como uma mulher que ela realmente era.

– Bom? - perguntou Jake, me mostrando um colar pratiado e o colocando no pescoço para que eu vesse.

– Sim - respondi.

Jake colocou o colar e eu só fiquei admirando-a.

– Na semana passada pensei que nunca a veria de garota - contei a ela. Com Jake vestida de cara eu pensei que não iamos ter a oportunidade de namorar como um casal normal.

Ela riu de novo e eu simplesmente adorava quando ela fazia isso. Jake ficava ainda mais linda.

– Minha mãe gostava de me ver com vestidos - disse ela pensantiva - Tive um vestido quase igual a esse quando tinha seis anos. Minha mãe me mandou de Paris - ela deu uma pausa - Eu pensei que ela me esperaria na Europa, mas quando vi ela já tinha voltado.

Senti que isso a magoava entao tentei animá-la.

– Uma história encantadora - fiz uma careta - Vem aqui.

Me aproximei dela e a beijei. Afinal não tinha coisa melhor que isso. Ainda mais agora com Jake vestida de garota.

Pov JAKE

Quando acordei na manhã de sábado, fiquei deitada na cama alguns segundos. Era hoje que eu veria a minha mãe. Eu estava feliz, é claro. Afinal fazia mais de um mês que eu não à via. Mas também estava preocupada. Eu teria que fingir que era da Rawley para garotas, sendo que eu não era e enrolar minha mãe até esse ponto ficaria um pouco mais complicado. Mas eu ia tentar.

Estava preste a dar o horário que combinamos de nos ver, e eu já estava lá, na frente da Academia Rawley para garotas, esperando por ela, no meu lindo vestido rosa.

Era três e meia e vi o carro KIA, vermelho, da minha mãe estacionando no lugar onde havia uma placa dizendo.

"NÃO ESTACIONE"

Ri olhando aquilo. Estava claro que ela não tinha nem prestado atenção na placa, pois estava com o bendito celular na orelha - ela ja havia levado não sem quantas multas por falar no telefone enquanto dirigia. Me aproximei dela e esperei que ela saisse do carro.

– Eu ainda vou te ver. Eu estarei em Nova York domingo, então nos falaremos - disse ela ao telefone, enquanto saia do carro - Está bem? - sussurrou ela pra mim. Eu afirmei com a cabeça, rindo.

Sentia tanta falta dela que nem liguei para isso.

– Eu tenho que desligar. Sim. Algo mais importante - ela olhou pra mim e desligou o telefone.

Mas antes que qualquer uma das duas pudesse dizer algo, o celular tocou de novo.

– Olá - disse ela. Eu esperei com um pouco de raiva e impaciência. Então ela desligou o telefone e olhou para mim de novo - Seu cabelo. Está curto.

– Ah, é - disse passando a mão nos pequenos fios da minha cabeça. A última vez que nos vimos eu ainda tinha cabelo.

– É bem exótico, eu gostei - é claro que gostaria. O cabelo dela também era curto.

Minha mãe me olhou de cima a baixo.

– O que foi? - perguntei.

– Nada. Não te vejo a algum tempo, estou com saudades - ela me deu um abraço - Sentiu minha falta?

– Sim - afirmei.

Ela se afastou e então disse o que eu tinha certeza que aconteceria em alguma hora.

– Porque não vamos lá dentro - ela pegou o meu braço - Quero conhecer sua companheira de quarto...

– Não, é que... - eu não tinha idéia do que dizer, foi então que ouvi uma voz que salvou a minha vida.

Pov HAMILTON

– Sra. Pratt - gritei, vendo que Jake estava precisando de ajuda.

– Sim - respondeu ela virando-se para mim.

– Seja Bem-Vinda - estiquei minha mão - Eu sou Hamilton Fleming. Me pediram para que acompanhasse você e Jake...

– ...Line - disse Jake, de repente - Jacqueline.

– Jacqueline - me corrigi. Ela não tinha me contado esse pequeno detalhe - Oou. Você e Jacqueline para ver as instalações.

– Oh, claro. Então vamos - disse a mãe de Jake e reparei que ela ficara mais aliviada.

Então nós seguimos para o campus das garotas.

Pov JAKE

Eu estava agradecida por Hamilton ter me ajudado, ele salvou a minha vida. Só que minha mãe deu toda a atenção para ele, se esquecendo de mim; sua filha.

Os dois conversaram o caminho inteiro, desde o prédio das garotas até o enorme lago de Rawley, voltando para o prédio das garotas. Simplesmente eles andaram na frente - minha mãe com o braço entorno do de Hamilton - se esquecendo de mim que estava andando atrás deles, como uma sombra inútil.

Já de saco cheio, decidi interferir de uma vez por todas.

– Olha, Hamilton - estendi minha mão - Obrigado. Por tudo.

– Sem problemas - respondeu ele, olhando em meus olhos. Eu sorri, não conseguia ficar brava com ele - Foi um prazer conhêce-la senhora...

– Mônica - se apressou a dizer minha mãe.

– Mônica.

– Digo o mesmo. E Hamilton não esqueça de me mandar as fotos para que eu possa ver de Nova York.

Minha mãe se referia as fotos que Hamilton gostava tirar na sua câmera profissional, eles conversaram sobre isso o passeio inteiro.

– Claro - respondeu ele.

– Para que possa verificar seu talento artistico, algo que é sua paixão. Sempre digo isso a Jacqueline.

E lá vem ela. Minha mãe adorava me comprar com os outros.

– É, isso é facil dizer para você que já faz tudo tão bem - impliquei - Ela fala três idiomas diferentes.

– Uau - disse Hamilton surpreso.

Minha mãe se fez de sem graça e depois perguntou:

– Então, se não tem outros planos por que não se junta a Jacqueline e a mim amanhã no lanche para garotas, pela manhã?

– Amanhã? - perguntamos, Hamilton e eu ao mesmo tempo.

Amanha não podia ser. Era impossível!

– O que foi? - perguntou ela, sem entender o nosso espanto.

– Disputamos a primeira eliminatória de largada justo a essa hora.

Hamilton se referia a competição de Remo que teriamos amanhã. Era o fim de semana da Regata Anual da Academia de Rawley, a mais importante competição do ano para toda a equipe. E eramos obrigados a comparecer ou o Sr. Finn fazeria picadinho de nós.

– É, ele está certo - confirmei - Sabe, mãe. Por que não muda para a hora do almoço? Às duas às três...

– Querida isso é breakfast. Um evento social.

– Certo - desisti. Ela nunca mudaria de idéia. Eu estava ferrada.

– Bom. Tenho que ir - disse Hamilton - Tomara que nos vemos de novo - ele comprimentou minha mãe e depois foi embora.

– Ele gosta de você - disse minha mãe quando Hamilton já estava longe.

– Mãe, eu não sei se é uma boa idéia... - Eu ia falar sobre o lanche para garotas, quando me dei conta do que ela tinha falado - Espera!

Andei até o carro, onde ela já estava entrando.

– Você acha? - perguntei querendo saber se ela realmente pensava isso.

– Claro - respondeu, sorrindo - Amanhã de manhã serei toda sua. Prometo.

E falando isso ela entrou no carro e seu celular tocou de novo.

– Olá.

– Tchau mãe - fechei a porta do carro, rindo.

– Tchau.

Esperei até que ela estivesse longe e corri para o lado da Academia Rawley para garotos.