A Esperança Dos Renegados escrita por Aldneo


Capítulo 19
CAPÍTULO XVII: Dissonância




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Alguns tiros são ouvidos, uma rajada e mais alguns disparos, acompanhados dos conhecidos urros de infectados. “Existem mais pessoas por aqui?!”, um dos Caçadores questiona; ao que Alan pensa consigo mesmo: “Ezequiel?”.

 

Ruas à frente deles, Deborah e Ezequiel enfrentavam a um bando de infectados, a garota, com sua Uzi, disparava em curtas e letais rajadas, que geralmente estouravam o tórax e a cabeça das criaturas que investiam dela, enquanto o jovem, com sua recém-adquirida pistola, descarregava o pente em uma criatura até abatê-la, depois se voltava para outra, conseguindo melhorar a precisão e eficácia a cada criatura abadita. Após todas as criaturas terem sido eliminadas, Deborah comenta: - “Mas que bosta, estas coisas estão surgindo do nada!”, depois, voltando-se novamente para a coluna de fumaça ascendendo para o céu a alguma distância, ela completa: - “Vamos temos que continuar, já estamos quase.” Porém, com a atenção chamada pelo som de tiros, Alan e os Caçadores também estavam indo de encontro deles.

 

Os dois jovens seguem ao longo da rua em que estavam, que se mostrava paralela a direção em que se elevava a coluna de fumaça que avistavam. Cruzando uma esquina e seguindo por uma rua larga na direção da fumaça, se deparam com uma área mais aberta e uma ponte, ainda com alguns veículos abandonados por sobre ela, que atravessava o leito seco do que um dia fora um rio. Apressadamente os dois atravessam a ponte, por debaixo da mesma se via o solo ressecado e rachado que em algum tempo passado fora coberto de água, sendo que ainda se viam, nas margens, alguns troncos secos, enraizados no solo (os restos das árvores que existiam ao longo do curso d'água). Após atravessarem a ponte e desviarem um pouco para a esquerda, buscando se alinharem novamente à direção que seguiam, eles se aproximar de um terminal de ônibus, com cerca de uma dúzia de plataformas de embarque.

Um pouco a frente deles, do outro lado da estação, Alan descia uma rua que conduzia a ela. Em pouco tempo os dois grupos percebem as movimentações em lados opostos do terminal, usando a mira telescópica de seu rifle, Wlademir confirma: - “Não são infectados, dois jovens...”. Eles se encontram, Alan e seus companheiros saem do meio da área comercial (onde ficavam as 'lojinhas' da estação rodoviária) de frente para os dois que estavam chegando a entrada do local, e percebe-se o reconhecimento amistoso entre Alan e Ezequiel, ao que se ouve a garota comentar: - “Nossa, que bom que tudo terminou bem...”, porém ao ouvir tal voz a face de Alan se transtorna e, ao encará-la, ocorre um reconhecimento negativo: - “Você...”, - “Ai, droga...”, é a única coisa que garota consegue expressar antes de Alan empunhar sua espingarda, tendo-a em sua mira. “Alan não!”, o jovem grita, tentando chamar-lhe a atenção, enquanto os três Caçadores entrecruzam olhares confusos, sem entender o que estava ocorrendo. Vendo que conseguira a atenção de seu, até agora considerado, amigo, o jovem se explica: - “Ele me salvou...”, ao que o homem censura: - “Você não entende... Ela é só uma ladra, e é a forma de eu poder voltar para minha casa...”

 

Enquanto os dois divergiam em suas opiniões sobre a garota que permanecia atônita sob a mira da .12 de Alan, David volta sua atenção à algo que parecia ter percebido uma esquina à frente deles, fora do terminal rodoviário. A discussão prosseguia, sem que os outros percebessem, David descobre que já não estavam sós, e que haviam sido percebidos. O Caçador interrompe a situação com o alarme desesperador: - “Carnivalos!” A atenção de todos se voltam para a direção apontada por ele, a marginal que conduzia àquela estação. Uma tropa de criaturas negras, galopando em direção a eles, enquanto emitindo urros, extremamente agudos e arrepiantes.

 

As criaturas hipomorfas eram negras e grandes, um tanto mais altas que qualquer uma das pessoas ali. A cabeça era alongada, com mandíbulas compridas que tinham um grande grau de abertura, quando as escancaravam, se criavam filos de saliva interligando-as. A língua era comprida e visualmente viscosa, de um vermelho vivo e muito móbil, não possuíam dentes, mas as bordas dos maxilares eram formadas por uma especia de placas cortantes, que se entrecerravam como lâminas, na ponta do focinha, a maxila superior terminava em uma afiada ponta, que se encaixava na ponta da mandíbula inferior, que possuía duas pontas (formando um recorte em forma de V), justamente para se juntar a superior. Os olhos não eram visíveis, percebiam-se duas fendas das narinas sobre o focinho e tinham orelhas curtas. Ao longo do corpo da besta se estendia algo como uma carapaça, formada por diferentes placas aneliformes e articuladas, que permitiam os movimentos do animal, o corpo era desprovido de pelos, menos a parte superior do pescoço, de onde pendia uma crina emaranhada de pelos cinza-amarronzados. Cada uma das longas patas terminavam em um groso casco, com bordas cordantes, e possuíam um cauda relativamente curta, acinzentada e terminada em um aguilhão.

 

Rajadas logo são disparadas contra as criaturas que se aproximavam à veloz galope, porém os tiros não pareciam surtir muito dano nelas. Uma delas rapidamente alcança o grupo, ao que Alan se põe de frente a criatura e lhe dispara à curta distancia. A carga de chumbo da espingarda estoura a cabeça da besta que se precipita ao chão, Alan gira para lado, saindo do rumo da queda da besta, enquanto bombeava a telha para recarregar a arma. Wlademir grita aos seus companheiros: - “Não desperdicem munição, o ponto fraco deles é no topo da cabeça!”

 

Uma segunda criatura investe contra Alan, este lhe dispara, atingindo-a na parte frontal do tórax e lhe fazendo desequilibrar, ele esquiva dela, bombeia a arma e, quando a besta tentava se levantar novamente, lhe acerta um segundo tiro no corpo, mantendo-a no chão até ele conseguir mirar melhor e desferir o tiro derradeiro na cabeça. Após eliminá-la, ele se volta novamente para os companheiros que enfrentavam as demais criaturas, bombeando a arma e disparando rapidamente contra uma terceira que estava em suas proximidades. Um pouco distante dele, Oshiro abate um dos Carnivalos, mas acaba percebendo que outra destas bestas se aproximara demais dele apenas quanto já estava a ponto de ser atacado. Entretanto, em um reflexo, ele consegue se defender com seu rifle, que é abocanhando pela criatura, cuja mordida quase parte a arma em dois pedaços. A besta empina diante do Caçador e lhe acerta no peito com os cascos dianteiros, jogando-o ao chão. O grosso sobretudo que ele trajava é rasgado, porém, este lhe salvara a vida, sofrendo a maior parte do dano, fazendo com que os cortantes cascos do animal apenas produzisse escoriações superficiais no homem. David, ao ver o companheiro em apuros, rapidamente empunha seu rifle, mira e acerta um rajada letal no topo do crânio da besta, que, morta, cai por sobre Oshiro. O ultimo carnivalo escancara as mandíbulas e se lança contra Deborah, emitindo um agudo e perturbador guinado. A garota lhe dispara com sua submetralhadora, porém o pequeno calibre da arma não causa dano à besta, que, se aproximando mais, faz com que, em uma reflexo, a garota desembainhasse sua katana e a enfincasse na garganta do animal, de forma que a lâmina lhe transpassasse o crânio. Girando o corpo, ela retira a lâmina do animal enquanto se retira de seu caminho rumo ao chão, Ezequiel que observara a cena, apenas a olha admirado enquanto deixa escapar um “Uau!”. Ela se distraí encarando-o de volta, ao que não percebe que a criatura recém caída em sua proximidade volta a se levantar e se lança novamente contra ela. A jovem sente o desagradável halito da criatura soprando contra seu rosto a uma distância ínfima, quando, no último instante, se ouve um tiro e a cabeça da criatura é estourada, ela se volta para a direção de onde teria vindo o disparo e vê que quem acabara de salvá-la fora Alan. - “Nossa, valeu.”, a garota agradece. Porém, enquanto ela ainda dizia isto, o homem bombeia a arma e volta a mira novamente contra ela, apertando o gatilho em seguida.

 

Porém, para o azar de um e a sorte de outro, tudo o que se ouve é o clic seco da arma descarregada. O justiceiro, por um instante volta a atenção para a arma, reclamando de sua má sorte, ao que a garota percebe sua chance e dispara numa rápida carreira. Ela salta por sobre um mureta, pouco para trás de onde estavam e, seguindo velozmente pelo terminal, busca sair da linha de visão de Alan. Ao vê-la tentar fugir, ele deixa a espingarda de lado e saca seu revólver, chegando a disparar três vezes contra ela. O primeiro acerta a mureta que ela pulara, o segundo se perde dentro do terminal, acertando alguma das paredes, e o terceiro acerta a quina de uma coluna para atrás da qual ela passara ao sair de seu campo de mira. Ele considera ir atrás dela, porém Ezequiel lhe pede que esperasse. Alan pensa por alguns instantes e acaba considerando melhor ficar.

 

Enquanto Wlademir e David ajudavam seu companheiro ferido a se recompor de seu azarado combate, Alan censurava a Ezequiel, que insistia em defender Deborah por esta lhe ter salvo a vida, - “Você é muito ingênuo, provavelmente ela te salvou apenas para depois vendê-lo como escravo ou qualquer coisa do tipo... essa raça é assim, só o que sabem fazer é roubar, mentir, trair e coisas do gênero...” Porém o jovem insistira em não acreditar no que Alan lhe dizia, ao que o homem concluí, num tom que demonstrava certa preocupação: - “Acho que é melhor você não continuar me acompanhando...”, o jovem então questiona o que ele queria dizer com isto, ao que ele lhe diz: - “Vou levá-lo ao campo de onde sai, lá poderão lhe ensinar como as coisas são. Assim você poderá estar mais preparado para enfrentar as pessoas que encontrará por estas bandas, e fazer com que essa sua ingenuidade não lhe custe a vida...” O jovem tenta argumentar, mas quase como que ignorando-o, Alan se volta para os Caçadores, questionando-lhes se estavam bem, ao que a resposta é positiva.

 

O grupo busca rapidamente deixar a cidade. Após chegar a seus limites, eles se despedem: - “Está na hora de retornarmos para nossa casa, mostrar para nossas famílias que ainda estamos vivos e prestar nossas condolências às de nossos companheiros que não tiveram a mesma sorte.”, Wlademir diz visivelmente abalado. - “Vão em paz, que o caminho lhes seja seguro”, Alan se despede, ao que Wlademir lhe diz: - “Típica despedida de um Imortal...”, ao ser encarado com uma curiosa expressão, o Caçador completa:

 

— “Não pense que não percebi que é um deles. Estudado e bom combatente... só pode ser um destes monges que vivem enfurnados em seus mosteiros tentando descobrir o que aconteceu para decidir o que vão fazer.”

 

— “Já não o sou mais...” - Alan responde de forma insípida.

 

— “O que?! Foi excomungado?”, o Caçador fala com certo tom de humor, “Não entendo muito de religião, mas creio que isto tem mais a ver com o que você acredita e segue, do que em pertencer ou não a um grupo ou outro... E creio que você deve seguir bem o que acredita...”

 

Novamente Alan demonstra certa estranheza diante da fala de Wlademir, ao que este lhe censura com irônia: - “Hum, está surpreso por um 'Caçador' mostrar alguma sabedoria?”, após algumas risadinhas, ele concluí: - “Você parece ser boa gente, Alan, mas me parece que algumas vezes você julga demais as pessoas, deveria repensar um pouco sobre isso.” Alan apenas sorri com certa descrição e deixa um “Talvez” como resposta. Os dois grupos se despedem e seguem seus caminhos, os Caçadores de volta a seus lares, e Alan e Ezequiel para o campo de sobreviventes do qual já a um bom tempo Alan teria saído.


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