A Esperança Dos Renegados escrita por Aldneo


Capítulo 17
CAPÍTULO XV: Novo Amanhecer




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/178257/chapter/17

 

Na cidade, no prédio abandonado, Ezequiel desperta da noite de sono que tivera. Enquanto abre lentamente os olhos, com a visão ainda embaçada, ele se depara com uma estranha criatura de frente para ele. Tratava-se de algum tipo de artrópode, porém maior que a cabeça do jovem. De coloração cinzenta, possuíam corpo alongado, pelo menos uns três pares de longas pernas, um par de grandes membros à frente do corpo com a forma de garras, que eram visivelmente adaptadas para agarrar, da parte anterior da cabeça saiam duas longas antenas que se moviam sem cessar, explorando os derredores, sobre o que parecia ser a cabeça da criatura (embora esta não possuísse qualquer divisão visível do restante do corpo) haviam 6 olhos simples (quatro maiores voltados para frente e mais dois pequenos de cada lado), enquanto que do final do corpo (que ia se estreitando bruscamente a medida que se alongava) se projetava um longo e fino espinho. Ao perceber a presença de Ezequiel a sua frente, o artrópode começa a levantar o abdômen, mostrando o longo esporão de seu final e adotando uma postura intimidadora (que lembraria a que os escorpiões fazem), como se preparasse para usar o espinho como um ferrão.

 

A criatura se mostrava pronta para o ataque quando uma lâmina atravessa seu corpo e a enfinca no chão, lhe impossibilitando de se mover. Deborah, então, recolhe sua katana, com o artrópode preso na lâmina (e se debatendo), o observa por alguns instantes, depois encara Ezequiel e comenta: “É, já temos o café da manhã, agora levanta dorminhoco.” Ela, então, enfinca a espada em uma mesa improvisada nas proximidades, que nada mais era que um tábua larga sobre dois cavaletes, com a criatura ainda atravessada na lâmina. Em sua bolsa ela apanha um seringa e alguns frascos, um cheio e outro vazio, ela então carrega uma pequena quantia do líquido do frasco cheio no vazio e o encaixa na seringa, injetando-o em seguida no animal, que após, algumas bruscas contrações e espasmos, desfalece. “Isto é a vacina, não é?”, Ezequiel questiona, ao que lhe é respondido: “Bem, é, apesar de chamarem de 'vacina', na verdade é só um germicida, ele elimina os germes que nos infectam, e tem a mesma reação em outras criaturas... Ele purifica o corpo destes germes e, como efeito colateral, mata todas as células que foram contaminadas por eles. Logo, se você estiver muito infectado, bem já imagina né...” “então isso poderia ser usado como uma arma...”, o jovem concluí, ao que se lhe informa: “Talvez, se não fosse o fato disto estar ficando cada vez mais difícil de conseguir... Ninguém sabe como ou onde são feitas as doses, e os comerciantes estão cobrando cada vez mais caro... Além disso, não é tão forte, para estes artrópodes menos de um oitavo de dose é letal, mas, para seres mais fortes, seria preciso bem mais, mesmo um vira-latas infectado precisaria de, ao menos, umas duas ou três doses inteiras para ser abatido...”

 

Pouco tempo depois, a criatura já está sobre o fogo, assando. Um pouco maios, e estava servida sobre a “mesa”. “Não é tão ruim quando parece e também não sou tão má cozinheira... Vamos, experimente.”, Deborah insiste com Ezequiel, que acaba por apanhar uma das pernas do animal e a morde, visivelmente enojado. Ele mastiga um pequeno bocado lentamente, a carapaça do animal se partindo entre seus dentes faz o tipico barulho de algo seco (e crocante, diga-se de passagem) sendo despedaçado. “É... até que não é tão ruim...”, ele comenta enquanto estende a mão para apanhar outro pedaço, porém quanto o ia apanhar, ela o alarma: “Não coma as pinças!”, o jovem recolhe a mão em um reflexo assustado, indagando o por quê, ao que ela satiricamente lhe responde: “Oras, por que é minha parte favorita, não vou deixar você comê-las, dã!” Após o café da manhã, ela se levanta e lhe diz: “Bem, foi bom conhecê-lo, mas vamos, temos que achar seu amigo... Não quero ter que ficar cuidando de você, já tenho preocupações demais...” Os dois, então, arrumam as coisas e partem do local.

 

Eles caminham por algumas horas, buscando pelas ruas daquela cidade deserta qualquer indício de Alan, ou qualquer outro ser humano, porém sem sucesso. A medida que caminhavam, Ezequiel tenta quebrar o silêncio: “Bem... lhe contei como terminei aqui... mas qual a sua história?” Deborah se detêm por alguns instantes, se pondo pensativa, ao que retruca, após alguns segundos: “Bem, eu sei sua história? Você mesmo não sabe quem é, e tudo que lembra é que um estranho te 'ressuscitou' a algumas semanas, e desde então você o acompanha... agora você se perdeu dele... não sei se posso dizer se realmente sei algo sobre você, por que lhe contaria algo sobre mim...” Ela o encara cinicamente após tais palavras, e o percebe um tanto constrangido. “Desculpe, só tentava conversar...”, ele se justifica, ao que ela demonstra mudar de ideia ao vê-lo encabulado: “Tá tá, acho que conversar um pouco não faz mal... Mas antes de lhe contar algo sobre mim, quero saber um pouco mais de você...” O jovem porém reforça o fato de não possuir lembranças, ao que ela lhe corta: “Não com isso, sei lá, qualquer outra coisa... tipo... qual sua cor favorita?” “Cor?!”, o jovem estranha a pergunta, porém para para pensar um pouco mais e responde: “Hã... acho que... cinza?!” A garota sorri e comenta: “Boa cor favorita, é a que mais se vê por aqui!”

 

“Tá, bem... agora é minha vez de contar algo...”, a garota comenta enquanto volta a caminhar, sendo seguida por Ezequiel, “...bem, se vou lhe contar sobre mim, comecemos do começo, né... Hã, eu nasci num campo de sobreviventes, pelo menos é o que eu acho, minhas lembranças mais antigas são estas... nossa, era muito chato, meu pai trabalhava o dia todo e eu ficava fechada em casa sem ter nada o que fazer... Até que aconteceu... aquelas malditas criaturas atacaram o campo... eu era pequena, mas lembro da gritaria e tudo mais, um inferno, todos correndo, armas sendo disparadas... Meu pai mandou que eu fosse com uma mulher que morava perto de casa, acho que ele foi enfrentar os infectados... ou talvez tenha fugido e me abandonado, nunca se sabe, né... Não sei ao certo tudo que se passou, só sei que, no meio da confusão, acabei me perdendo... Daí, foi tentar procurá-lo, algumas pessoas quase me atropelaram e outras me puxaram até um abrigo... Ficamos lá por muito tempo, não faço ideia se foram horas ou dias. Acabamos sendo achados por um grupo de ladrões que vasculhavam o local em busca de qualquer coisa útil. Entre eles tinha uma mulher, um casal na verdade, eles me pegaram, não sei porque, ela parecia ter gostado de mim, ou sei lá, se ofereceram para me ajudar, procuramos meu pai por alguns dias, mas não achamos qualquer sinal dele, então ela me ofereceu ficar com eles. Os outros sobreviventes eu não sei, provavelmente foram vendidos como escravos, ou qualquer coisa do tipo, bem eu tive sorte, eu acho...” Deborah faz uma pausa em sua narrativa, tentando forçar um sorriso, mas estando visivelmente abalada por tais lembranças.

 

“Você foi adotada por ladrões?”, Ezequiel comenta, numa tentativa de quebrar o silêncio em que a garota se colocara. “Não entenda mal”, ela comenta balançando a cabeça e retomando seu jeito debochado de falar, “Apesar de serem chamados de Ladrões, não somos criminosos ou bandidos, somos apenas sobreviventes, e fazemos o que for preciso para sobreviver.” Deborah então é encarada por um olhar indagador de Ezequiel, ao que ela passa a explicar: “É como Jean Carllos me disse quando fui iniciada no clã...”, “espera, quem é esse tal de Jean Carllos?”, Ezequiel questiona ao que lhe é respondido antes de continuar o relato: “Ah, era o líder no clã quanto entrei nele oficialmente... Mas bem, como eu falava, ele dizia que não faz sentido nos apegarmos as regras e leis do passado, por que elas regiam a sociedade que existia, e essa sociedade não existe mais, e nem vai voltar a existir. Logo, se a sociedade não existe mais, as regras criadas por ela também deixam de existir. Então, tudo o que devemos fazer é sobreviver, fazendo o que for necessário para isso. Somos como uma antiga história que ele contava, um tal de Robin Hood, que roubava dos ricos e dava aos pobres, só que, no caso, os pobres somos nós mesmos.”

 

“Isto até faz sentido”, Ezequiel comenta, “Mas como veio parar aqui, nesta cidade, e sozinha?” Ao que a garota lhe responde: “Ah bem, isto é uma história um pouco complicada... Bem primeiro, você deve saber que Jean não é mais o nosso líder, ele foi morto por aquele maldito psicopata do Al-Naum. Dizem que foi em represália ao assalto de um carregamento. Mas, foi aquele idiota do Hugo que roubou. Como ele se negou a devolver, o psicopata mandou os Assassinos dele matarem o nosso líder, como uma forma de punição exemplar... Daí, o Hugo assumiu a liderança e declarou guerra aos Assassinos, segundo ele, pra vingar a morte de Jean... Mas, deixando isso e voltando pra mim, até algumas semanas atrás, eu estava com uns amigos, até que... bem... fizemos um 'trabalho' em um campo de sobreviventes e conseguimos boas coisas. O problema era que o campo em questão era território dos 'Imortais', fanáticos religiosos do pior tipo, e eles mandaram uns justiceiros atrás de nós para recuperar o que pegamos. Nós não somos idiotas e deixamos tudo pra trás, pra eles pegarem de volta e nos deixarem em paz... Mas um deles continuou nos perseguindo, e eliminou uns três de nós. Ai fomos pedir ajuda para o infeliz do Hugo, ele simplesmente disse que todos do clã estavam ocupados em sua guerrinha particular contra Al-Naum, e não poderia desperdiçar 'recursos' conosco, a menos que nós mostrássemos que isto valeria a pena. Foi o que fizemos, eu e meus quatro amigos restantes fizemos o que todos falavam que era impossível... invadimos a fortaleza dos Cavaleiros e roubamos algumas coisas de lá. Pensávamos que isto mostraria nosso valor a Hugo... Mas meus amigos acabaram todos mortos. Como acabei sozinha, decidi continuar assim, e vim pra esta cidade ver se achava algo útil...”

 

Por alguns instantes, Ezequiel se atém a seus pensamentos: “Então ela é uma ladra, perseguida por um justiceiro... Alan disse que vinha nesta direção porque perseguia alguém...” Porém seu momento pensativo é interrompido pela garota o indagando: “Hei, porque o silêncio? Acaso tá pensando se acredita ou não em mim é?!” Antes que ele pudesse responder, os dois são surpreendidos com o som de explosões ao longe. Ambos buscam com o olhar a direção de onde viria tal ruído, até que, após alguns instantes, surge no horizonte, por detrás de alguns prédios, uma coluna de fumaça ascendendo lentamente para o céu. “Vamos lá, só pode ser o seu amigo!”, Deborah grita para Ezequiel, enquanto dispara numa corrida à direção em que vira a fumaça. Ezequiel tenta inutilmente chamar sua atenção lhe pedindo que esperasse um pouco e a segue alguns passos atrás.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Esperança Dos Renegados" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.