Awake And Alive escrita por Dean Winchester LC


Capítulo 6
Capítulo 6: O novo melhor amigo




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Dean cutucou seu almoço com o garfo, sem coragem de levantar os olhos, sem vontade de fazer nada.

-Dean Winchester, se você não começara a comer esse almoço agora, eu vou obrigá-lo à isso! - Jo o encarava, os braços cruzados, a expressão dizendo que ela não o deixaria em paz enquanto ele não comesse nada.

-Eu não estou com fome, Jo. - murmurou o Winchester, olhando para o outro lado do salão.

Adam, Ruby e Castiel assistiam a cena em silêncio. Nenhum deles sabia muito bem o que estava acontecendo, uma vez que, durante o dia inteiro, Jo não saíra de perto de Dean nem uma única vez nem mesmo para falar oi para alguém. Cada um reagia à cena à seu modo. Adam franzia a testa de tempos em tempos. Sabia que Dean odiava ser vigiado, e por isso, uma hora ou outra acabaria irritando-se com Jo – o que ele apostava, ninguém gostaria de assistir -, mas, até o momento, o irmão de Sammy não demonstrara nem a mínima irritação, o que era bom. Ruby... Bem, Ruby apenas observava a cena, como sempre. Ela sabia que Jo não ficaria grudada assim em Dean se não houvesse motivo, o que significava que o garoto fizera uma enorme besteira, algo besta o suficiente pra que Jo ficasse preocupada a ponto de não comer o próprio almoço. E Castiel, que apenas os observava, aparentemente desinteressado. O garoto não parecia nem um pouco preocupado com o fato de Jo estar brigando com Dean por algum motivo que nenhum deles conhecia.

-Ei, Castiel.

Todos se viraram ao mesmo tempo, encarando quem quer que tivesse dirigido a palavra à Castiel.

Dean não o conhecia. Era um garoto alto e negro, com olhos castanho-escuros. Não parecia o tipo de pessoa “bad boy”, mas, mesmo assim, o Winchester não gostou dele logo de cara. Havia alguma coisa estranha nele, alguma coisa que de imediato o afastou. Ou seria apenas raiva pelo garoto chamar Castiel tão naturalmente, enquanto ele mesmo não podia fazê-lo?

-Uriel. - cumprimentou Castiel, acenando com a cabeça para o garoto.

Uriel? Jo não havia dito que Castiel agora tinha um novo melhor amigo chamado Uriel McKenna? Dean cerrou os olhos, torcendo a boca. Fosse o que fosse, o garoto o irritava.

-Olá, Uriel. - disseram Jo, Adam e Ruby, quase ao mesmo tempo. Nenhum deles parecia gostar muito dele, mas talvez fosse apenas o ciúmes de Dean cegando seu julgamento.

-Olá. - respondeu Uriel simplesmente, sem olhar diretamente na cara de nenhum deles. Ele estava quase voltando os olhos novamente para Castiel, quando se deparou com o olhar desconfiado de Dean. -Ora, ora! Mais um palhaço veio para essa escola e eu não fiquei sabendo?

-Como é? - Dean já estava quase levantando-se quando Jo o segurou pelo braço e lhe lançou um olhar de “Não ouse brigar aqui, Dean Winchester!” que ele tanto conhecia. Contrariado, sentou-se novamente, mesmo que o sangue lhe tivesse subido à cabeça.

-E a namorada ainda manda nele! - Uriel riu baixinho, balançando a cabeça com desdém. -Podia pelo menos escolher uma garota bonita. - concluiu, analisando Jo.

-Escuta aqui, seu...

-Dean, deixa pra lá. - para a surpresa do Winchester, que já se levantara, quem o interrompeu dessa vez foi Adam, que encarava a mesa, suspirando. -Não vale a pena brigar aqui.

Dean respirou fundo duas, três vezes, e então bufou, sentando-se novamente e cruzando os braços. Não podia acreditar que seus amigos estavam lhe pedindo que tolerasse aquele idiota de marca maior. Não podia acreditar que esperassem que ele ouvisse quieto enquanto Uriel insultava Jo. Acima de tudo, não podia acreditar que Castiel agora era amigo de gente como aquele cara.

-Pelo menos um tem cabeça. - Uriel voltou a rir, e se virou para Castiel, que não pronunciara uma única palavra. -Sua namorada tá te procurando, cara. Vamos logo antes que ela tenha um ataque de nervos. - ele virou as costas para a mesa deles, e acenou com a mão. -Até mais ver, idiotas.

Castiel franziu a testa, levantando-se.

-Eu tenho que ir agora. - murmurou, sem olhar na cara de nenhum deles. -Desculpem ele ter falado desse jeito com vocês. Vou falar com ele depois. - o Novak torceu levemente os lábios, e se virou.

-Não precisava falar com ninguém, Castiel. - Adam revirou os olhos e sorriu. -Não é culpa sua. Agora vai lá encontrar sua namorada, vai.

O moreno de olhos azuis sorriu, balançando a cabeça, e logo em seguida, foi atrás de Uriel. Assim que estava longe o suficiente, Dean socou a mesa, com tanta força, que os copos que estavam sobre ela balançaram.

-Eu não acredito nisso! - exclamou o Winchester, indignado, olhando de Jo para Adam. -Por que estavam protegendo aquele idiota?! Eu não acredito nisso!!

Jo e Adam se entreolharam, ambos sem-graça.

-Bem, Dean, tente não ser muito duro com eles. - Ruby retrucou, suspirando, enquanto observava suas unhas recém-pintadas. -Afinal, os dois só estavam pensando no seu bem quando disseram pra não se importar.

-Eu... - Dean balançou a cabeça, sem entender. As palavras de Ruby o haviam confundido. -Como assim “estavam pensando no seu bem quando disseram pra não se importar”? Mas que raios de bem é esse?! Ver meus amigos sendo humilhados por um idiota não me parece muito “bem”!!

-Dean Winchester – pronunciou a Henricksen, com a voz calma, porém, um tanto assustadora, enquanto o encarava, séria. - se eu fosse você, calava a boca e prestava atenção nas coisas antes de dizer alguma coisa. Você por acaso se olhou no espelho hoje de manhã?

Dean abriu a boca para responder que, na verdade, não, mas achou melhor ficar quieto. Não era inteligente irritar Ruby, principalmente enquanto ela o olhava daquela maneira séria – o que era quase uma ameaça de morte para alguns.

-Eu aposto que não. - continuou Ruby, ainda encarando o garoto, sem piscar. -Então, faz um favor, e acha um pra encarar a si mesmo. Fala sério, você tá com cara de doente, Winchester.

-Eu... Mas hein? - Dean franziu a testa, balançando a cabeça, completamente confuso. -Eu estou o quê com cara de quem?

-Você está com cara de doente, Dean. - repetiu Adam, ainda encarando a mesa. -Desde que chegou na escola, pra falar a verdade.

-Você achou mesmo que eu ia te deixar brigar com aquele cara quando nem come nada desde ontem? - Jo o encarou, indignada. -Fala sério, Dean, você ia ser massacrado! Não que eu não acredite que você poderia causar uns bons estragos na cara dele, acredite, eu sei que você pode, mas como eu poderia te deixar brigar se nem ao menos sei como você está? - os olhos da garota ficaram marejados, o que fez com que Dean imediatamente se arrependesse do que tinha dito antes. -Fala sério, Dean, somos melhores amigos desde que eu me conheço por gente, e você nunca escondeu nada de mim, e, de repente, agora está cheio de segredinhos! - a garota fungou, secando as lágrimas com as costas das mãos. -Eu sei que você provavelmente não quer falar sobre isso aqui, na escola, mas se falar na frente dos nossos amigos é o único jeito de te fazer contar, então que assim seja! Eu não estou te reconhecendo, Dean! Sério! Nunca tive que fazer isso antes pra você me contar alguma coisa!

-Eu... Olha, Jo, eu... - Dean se calou, torcendo os lábios.

-Dean, o que ela está dizendo é verdade.

-O quê? - o Winchester levantou os olhos para Adam, que imediatamente girou os olhos em outra direção. Mas ele tinha certeza que havia sido o louro que lhe dissera aquilo.

-A Jo tem razão. - repetiu o garoto, e começou a falar. Quanto mais falava, mais ia perdendo o nervosismo e mais suas palavras soavam sinceras. -Dean, desde que chegou aqui, você realmente não tem sido mais a mesma pessoa. Eu não sei o que aconteceu com você três anos atrás, cara, e eu sei que eu não devo te julgar sem saber de tudo, mas você não conta pra ninguém! Nenhum de nós te conhece há tanto tempo quanto a Jo, e eu sei que você a considera sua melhor amiga, mas que eu, Ruby, ou qualquer um que você tenha conhecido. Mas nem ela sabe o que está acontecendo com você! Nós só queremos te ajudar, cara. Sério. Você não precisa se fechar para o mundo. Você não precisa deixar de ser quem você era antes.

-E quem disse que eu quero? - sussurrou Dean baixinho, encarando o chão, voltando a franzir a testa.

-O quê? - foi a vez de Adam encará-lo, confuso.

-E quem disse que eu quero voltar a ser quem eu era antes? - Dean levantou o rosto, encarando Jo, Adam e Ruby. O garoto não parecia irritado; pelo contrário, parecia ainda mais triste. -Escuta, eu sei que vocês estão tentando me ajudar, sei que estão tentando fazer com que eu me sinta melhor, mas... A questão é justamente essa. Eu não posso voltar ao normal. Eu não consigo mais. - ele encarou o chão, enquanto se levantava. -Eu nunca vou voltar a ser quem eu era antes. Aquele Dean Winchester morreu três anos atrás, e foi enterrado junto com meu pai. - ele levantou os olhos, talvez com uma pontinha de irritação surgindo no rosto. -Esse sou eu agora. Sem mentiras. Sem fingimentos. Ou vocês me aceitam como eu estou, ou vão ficar aí lamentando como um bando de crianças que perdeu um doce.

Apesar de não ser sua intenção, as palavras saíram tão rudes que assustaram todos eles. Novamente, ele sentiu o peso do remorso em seus ombros ao ver os olhos castanhos de Jo encherem-se de lágrimas – nunca fora sua intenção magoá-la. Mas a besteira já estava feita, e agora não havia como voltar atrás.

-Desculpe. - sussurrou, virando-se e andando pra longe da mesa, em direção à saída do refeitório.

Não ousou olhar para trás. Não ousou se virar para ver como estavam as expressões de seus amigos. Não eram como num jogo. Era a vida real. Não seria divertido se eles começassem a odiá-lo. Na verdade, só serviria para destruí-lo ainda mais. Ele insistia em negar pra si mesmo, e até mesmo para eles, mas a verdade era que precisava de seus amigos. Sem eles, como se prenderia ao solo, como impediria seu corpo de se jogar do precipício? Sam – a corda de ferro – o prenderia, mas aquilo não podia continuar para sempre. Um dia, Sam cresceria, encontraria uma pessoa que o amasse, e seria feliz. Um dia, deixaria de depender de Dean para fazer as coisas. E aí, o que o Winchester faria? Se Sam deixasse de depender dele, e se seus amigos o odiassem, qual seria sua função? Era isso que o atormentava.

Pois não havia função. Sem Sam, e sem os amigos, tudo que restava dele era um grande nada. Um grande vazio contra o qual ele vinha lutando há anos.

A verdade era que estava cansado demais daquilo tudo. Aquelas responsabilidades o torturavam à muito tempo, empurrando-o para os limites de sua sanidade. Por isso os pesadelos não o surpreendiam. Por isso sua imensa vontade de simplesmente deixar de existir.

Porque no fim - ele sabia – Dean Winchester se tornaria um nada – sem sentimentos ou emoções. Exatamente como ele havia contado à Jo.

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-Idiota. - murmurava consigo mesmo. -Idiota. - repetiu duas, três, quatro vezes.

Não importava o quanto repetisse aquelas palavras à si mesmo, nem quantas vezes se auto-mutilasse por causa daquilo. Não estava impedindo nada. Não impedia a dor, o remorso, a culpa.

Não impedia nada dizer à si mesmo o que ele já sabia: que era um grande idiota.

Lentamente, as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto, em silêncio. Se lhe perguntassem, quatro dias atrás, se ele choraria na escola, sua resposta imediata seria que não. Agora, ele não se importava. Porque estava chorando por seus amigos, e isso não era nenhuma vergonha.

Ele não acreditava que realmente tivesse dito aquilo à eles. Só estavam tentando ajudá-lo! Ruby, Adam, Jo... Ah, Jo! Ele tinha sido tão... Tão... Estúpido com ela! Ainda não acreditava que pudesse ter dito tudo aquilo à garota que sempre o ajudara nas horas difíceis, que sempre o apoiara, até mesmo quando tinha certeza que estava errado.

Ah, Jo, se eu pudesse consertar tudo isso!” pensou, angustiado. “Se eu pudesse consertar tudo isso, nunca teria feito você chorar! Eu fui tão idiota! Não acredito que estou cometendo com você os mesmos erros que provavelmente cometi com o Cas!”

-Castiel. - corrigiu-se verbalmente, lembrando que o Novak não queria que ele o chamasse de Cas. -Ah, que DROGA! - irritado, o garoto socou o espelho do banheiro, o que não serviu para muita coisa. Além de machucar sua mão e causar um dano à propriedade da escola, aquilo só servira para deixá-lo mais irritado consigo mesmo. Como se socar um espelho fosse resolver seus problemas!

-Dean?! Mas o que é isso?! - ouviu uma voz conhecida exclamar, e se virou para a porta do banheiro masculino.

Lá estava Adam, os olhos arregalados, alternando o olhar horrorizado de sua mão ensangüentada para o espelho quebrado.

-Adam! - exclamou o irmão de Sam, tentando desesperadamente encontrar alguma coisa para poder secar o sangue da mão. -Não é nada, eu só... !

-Seu idiota! - Adam caminhou até ele, quase correndo, e agarrou seu braço. -Mas que droga, Dean! Não podemos te deixar sozinho por trinta segundos que você já tenta se matar? Já pensou no que a Jo vai fazer comigo se te encontrar desse jeito?! Droga! - Adam olhou para a mão de Dean, e suspirou, aliviado. -Felizmente, foi só um corte. Agora lava isso!

-Ok, ok! - confuso com a reação do louro, Dean abriu a torneira mais próxima, e colocou a mão sobre a água. -Ai! - o Winchester puxou a mão, surpreso, quando a água ficou levemente rosada por seu sangue e uma pontada de dor atingiu seus dedos. Observou cada um deles com a testa franzida, antes de, com a outra mão, tirar um resquício de vidro do ferimento; nada mais que um pequeno corte de 1,5cm nas costas de sua mão direita, bem próximo dos dedos. -Ai. - murmurou consigo mesmo, surpreso com o que conseguira fazer consigo mesmo, e por acidente.

Sem enrolar novamente, Dean colocou a mão sobre a água outra vez, mordendo a língua para não reclamar de dor. Enquanto isso, Adam tentava juntar algumas lascas do espelho que haviam caído no impacto.

Quando o corte finalmente estava limpo – e principalmente, apresentável -, Dean fechou a torneira e secou o ferimento cuidadosamente com uma ponta de sua camiseta. Adam, que já havia terminado de juntar o vidro, o encarava, em silêncio.

-Vamos. - disse o Milligan por fim, fazendo um aceno para que Dean o seguisse. -Se a gente demorar muito, é capaz de a Jo me matar.

-Ei... Adam. - Dean encolheu os ombros, envergonhado, quando o outro se virou para ele. -Desculpa por tudo que eu disse, tá? Foi... - ele abriu a boca, sem conseguir pensar numa explicação que fizesse sentido. -Eu só fiquei com raiva por vocês estarem se preocupando demais comigo, e acabei falando coisa que não devia. Desculpe por isso.

-Tudo bem, cara. - Adam balançou a cabeça e, ao receber um olhar confuso de Dean, deu de ombros. -Sério. Tudo bem mesmo. Quer dizer, você precisava de um tempo, certo? A gente devia ter respeitado isso, e não respeitou. Acho que acabamos invadindo seu espaço. Você tinha todo o direito de ficar irritado. Você pisou um pouquinho na bola. - admitiu, quando Dean revirou os olhos e murmurou algo como “eu não acredito que eles querem culpar a si mesmos”. -Mas não foi tão sério assim. Afinal, nós te irritamos primeiro.

-A Jo ainda vai me matar. - disse Dean, balançando a cabeça, e fazendo Adam sorrir.

-É, acho que sim! Vamos logo!


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