She Is A Rebel escrita por SaintGi


Capítulo 2
The Saints are coming




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Lá pelos 12 anos, incluí dois projetos a minha vida. Um piercing e uma tatuagem, ao menos.

                Aos 16, contei isso a minha mãe. “Só o dia que você sair de casa, enquanto vive aqui, obedecerá as minhas regras!”. Mais um plano de vida, sair de casa aos 18 anos.

                Sempre fui meio nerd. Ok. Muito nerd. Passei em todas as bolsas que prestei e comecei a estudar loucamente.

                Fiz 18 anos. Arranjei um emprego e juntei uma grana.

                Meu primeiro salário. Agendei um horário em um estúdio da cidade. Fiz logo uma tatuagem e um piercing de uma vez. Um coração com fones de ouvido e linhas de batimento cardíaco dentro dele, simbolizando minha paixão pela música, no ombro direito e um transversal na orelha direita. Não sabia qual seria a reação em casa e nem me importei com isso. Assim que pisei em casa minha mãe “Onde você estava até agora?”. “Acabei de chegar do estúdio mãe.”.

                O segundo olhar de decepção profunda da minha mãe ao ver a tatuagem e o piercing. E esse olhar se tornou de ódio, uma veia saltou em seu pescoço. Ela começou a gritar loucamente comigo, falou palavras que me machucaram para sempre “sua vagabunda, maloqueira, você quer acabar comigo e com seu pai? É isso mesmo? Será que você não tem juízo? Sua drogada inconsequente!” e palavras muito piores que eu prefiro bloquear da minha memória.

                Não tive dúvidas. Juntei todas as minhas coisas, peguei meu salário, joguei 150 reais na mão dela que era o “aluguel” que ela me cobrava e saí. Não sabia para onde e nem o que eu faria, mas foi a última gota que pude aguentar. Eu tenho sangue correndo em minhas veias e não água como ela e todos os outros em casa. Ela acabou com a minha alma naquela hora. Eu não poderia mais viver assim.

                Com minha mãe xingando atrás de mim, saí porta a fora com meus pertences. Ela xingava, chorava e me pedia desculpas, tudo ao mesmo tempo. Eu não ouvia nada. Só o eco das palavras lixo, perda de tempo, pior erro da minha vida e viciada ficavam na minha cabeça. Eu tinha chego ao meu limite e antes de fazer qualquer merda pior, precisava sair dali.

                Eu precisava me afastar, precisava viver e me encontrar no mundo. Cansei de fingir que estava tudo bem, que eu era uma boa filha e que eu não me importava. Eu me importava e importo muito com tudo aquilo. Fodam-se os problemas deles, eles estavam passando por cima de mim pra isso e eu não nasci para aceitar e aguentar a mesmice. Eu não sou e nem nunca fui assim. Deveriam ter se acostumado com isso. No fundo eles sabiam que esse dia ia chegar.

                Desliguei meu celular. Não queria que eles tentassem me achar. Nem sei se fariam isso, mas enfim. Sai por ai com minha mochila, minha guitarra, meu cubo e só. Era tudo o que eu tinha. Só não tinha onde ficar. Com o dinheiro que eu tinha, eu poderia sobreviver, mas não pagar um quarto durante todo mês. Achei uma hospedaria bem simples, tipo uma casa com vários quartos.

                - Senhora, eu gostaria de um quarto, por favor – Ela olhou nos meus olhos, nas minhas malas e percebeu algo na hora. Eu não deveria ser a primeira “fugida” a aparecer por alí.

                - Expulsa de casa? – Ela nem olhou para mim, estava com a cabeça baixa verificando qual chave me daria.

                - Não exatamente, fui eu quem sai... – peguei a chave e fui em direção ao quarto. Não era um momento para conversar, não sobre esse assunto.

                Era um corredor estreito, com várias portas simples. Cada porta com seu número, como o esperado. Achei a minha. A última do corredor. Número 9. Talvez fosse um sinal, afinal era meu número da sorte. Sorte. Nem sei se tive algum dia isso... Pousei minhas malas no chão e abri a porta que deu um rangido baixo. Uma cama, um criado-mudo, uma TV e um banheiro. Não ia precisar mais que isso no momento.

                - O café da manhã é servido no refeitório das 7 horas até as 11 da manhã. Não servimos almoço aqui. O café noturno vai das 8 até as 11 horas. – A senhora do balcão vinha trazendo toalhas limpas e sabonetes para o banheiro – Se precisar de alguma coisa pode ir buscar na recepção.

                Agradeci a ela com um olhar e um aceno de cabeça. Entrei, coloquei minhas malas no canto do quarto e ela logo saiu e fechou a porta. Deitei na cama e olhei para o teto. Que merda vai ser da minha vida agora? Preciso me acertar em algum lugar. Tudo vai ser mais difícil do que pensei...

                Fiquei um tempo alí, parada olhando para o teto. Tentando colocar meus pensamentos em ordem, mas não ia dar. Voltei do meu devaneio depois que minha barriga roncou alto. Eram 9 e meia da noite. Decidi ir comer algo.

                No refeitório tinham umas 4 mesas pequenas, era bem aconchegante até o lugar. Peguei um pão, frios e leite. Sentei de frente para a TV, precisava relaxar um pouco.

                - Olá, posso me sentar? – um rapaz alto, meio loiro de olhos esverdeados estava parado a minha frente.

                - Ahn, claro! À vontade. – disse tentando disfarçar um sorriso simpático. Não estava muito em condições disso.

                - Viajem de negócios? – ah merda. Ele estava tentando puxar assunto. Ele era muito bonito e atraente, mas não estava querendo falar com ninguém...

                - Antes fosse... – tentei ao máximo não parecer grossa, mas quer saber? Foda-se, já entrei em um diálogo mesmo – acabei de sair de casa. – Completei a frase forçando um sorriso do tipo “está tudo bem, nada de ruim aconteceu”.

                - Benvinda ao clube – ele praticamente sussurrou isso. Como assim? Alguém como ele não tem cara de fugir de casa! Ele estava bem vestido, com um óculos grande bem típico de nerd. Eu era uma “rebelde sem causa” segundo toda a minha família e “amigos”.

                - Desculpa falar, mas você não tem cara de quem foge de casa!

                - Pois é. Faz uns dois dias já. Meus pais queriam que eu fosse para o exercito e bom, aqui estou eu! – Ele tinha um sorriso iluminador, sinceramente eu precisava de alguém assim no momento.

                - E quais são seus planos? Morar em uma hospedaria para sempre? – eu ri da minha própria piada, só porque eu também não fazia ideia do que iria acontecer daqui para frente.

                - Na verdade, ainda não sei. Tenho um emprego, então consigo me manter, acho que vou tentar uma faculdade e dar um jeito de sumir daqui... – ele se perdeu em um devaneio, quase chamei pelo nome dele, mas... ei, qual é o nome dele??

                - Ah, me desculpa, mas qual o seu nome? – fiquei sem graça, admito. Estávamos desabafando sobre nossas crises de vida e nem sabíamos o nome um do outro, era estranho.

                - Nossa, me desculpa a grosseria! Nem me apresentei. Muito prazer sou Sam. Sam Milligan – Ele estendeu o braço, estendi o meu de volta para apertar a mão dele e ele o puxou em direção a boca e beijou minha mão. Ok, de que filme de comédia romântica barata ele saiu?? Não era normal isso...

                - Muito prazer, Sam. Eu sou Amy. Amy Adams. – Esbocei um sorriso sincero para ele. Ok, odeio comédias românticas, mas ele me conquistou. – Você não é daqui de Lawrence, não? – ele era muito cavalheiro para isso...

                - Não, me mudei aqui para o Kansas quando eu era meio novo ainda, tinha uns 12 ou 13 anos mais ou menos... Fazem uns 7 anos mais ou menos... – estava calculando a idade dele mentalmente e ele percebeu – tenho 20 anos já! – sorriu e piscou alegremente para mim. Fiquei vermelha. Que merda, ele precisava ser tão lindo assim?

                - Ah, sim. Eu nasci e vivi aqui minha vida toda... Faz 19 anos já... – ele olhou com cara de quem ia perguntar minha idade, resolvi evitar que ele ficasse constrangido. Surgiu um olhar inquietantemente surpreso nele, não gostei. – o que foi?

                - Não me leve a mal, mas achei que você tinha uns 23 anos mais ou menos... – ele enrubesceu. Achei fofo. – Não que você tenha cara de velha, mas você parece ser tão madura e...

                - Eu te entendi, relaxa. Já ouvi muita gente me falar isso. Acostumei! – pisquei para ele e quebrei o gelo. Coitado, ele tentou ser simpático.

                - E você, quais seus planos agora?

                - Sinceramente, ainda não sei...

                Ambos ficamos em silencio. Cada um preso em seu próprio devaneio. É, a vida não seria fácil... E quando vi, estávamos olhando um no olho do outro. Os dois perceberam. Desviamos os olhares e mudamos de assunto. Foi meio estranho.

                - Acho que vou deitar, tenho que acordar cedo amanhã para trabalhar... – tentei disfarçar o olhar, aqueles olhos verdes eram muito atraentes...

                - Trabalha no centro da cidade? Trabalho por lá, saio daqui às oito mais ou menos. Se quiser uma carona. – Ele sorriu. Ele parecia ser perfeito. Isso me assustava.

                - Ah, claro. – carona é carona. Nada melhor do que acordar mais tarde do que o necessário. – Te encontro às 7:30 aqui?

                - Combinado!

                Levantei-me da mesa, dei um beijo, mais demorado do que o normal, no rosto dele e fui em direção ao meu quarto. Quem sabe a tal da sorte decidiu me visitar né? Tomei um longo banho enquanto pensava na vida. O que o Sam havia falado sobre a faculdade fazia sentido. Morar em uma república, trabalhar no campus e curtir a vida. É uma ideia bem agradável, acho que vou tentar também... Mas antes de qualquer coisa, preciso mesmo é de uma boa noite de sono para botar todas as ideias no lugar.


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